APRENDIZAGEM E SUAS VICISSITUDES



Nossas práticas pedagógicas devem levar em consideração o aluno como sujeito e perceber que toda a criança, independentemente do país em que vive e da língua que fala, passa por vários estágios na hora de se alfabetizar e constrói esse novo conhecimento passo a passo, num processo evolutivo.

Emília ferreiro, psicóloga Argentina, que estudou com Jean Piaget e hoje mora no México, classifica em estágios esse processo: num primeiro momento a criança só faz rabiscos e garatujas no papel – é o nível pré-silábico. No próximo estágio, que Emília batizou de silábico, já aprendeu que é preciso usar as letras, mas emprega uma para cada sílaba. Finalmente, chega o momento de compreender que a escrita é uma representação da fala, é o nível silábico-alfabético. O nível alfabético é quando a criança compreende que existem regras específicas, razão pela qual grafamos "exame" com "x" e "casa" com "s", mas ambas as palavras são pronunciadas com som de "z".

O Fracasso Escolar

Ignorar essas etapas do conhecimento é o primeiro passo para produzir o fracasso escolar. Deve-se levar em consideração, também que para evitar o fracasso escolar há que se trabalhar a leitura e a escrita em sua função social, assim acredita-se, o educador vai efetivamente formar leitores e escritores e não apenas decifradores de letras e palavras, pois essa é a única forma de inserir uma pessoa na sociedade. O significado real desses textos, dentro de um contexto, ajuda o aprendiz o aprendiz a entender para que serve aquilo que está aprendendo. Mas isso só será possível se as práticas pedagógicas tiverem o objetivo de dinamizar as ações educacionais e melhorar as interações entre professor, aluno e objeto de conhecimento.

Como se pode ver, o trabalho e os conteúdos por trás dele são bastante complexos. Esse tipo de trabalho pressupõe um ensino mais determinante, onde exige maior emprego das inteligências e não só da memorização. Esse processo é longo e desgastante e tem-se que buscar na teoria o suporte para seguir em frente. É preciso descobrir uma maneira de envolver o aluno e torná-lo mais autoconfiante. Errando ou acertando, os alunos vão conseguir avançar, cada um no seu ritmo.

Segundo Alicia Fernandes "nós somos um todo relacionado: organismo, corpo, inteligência e desejo. Quando uma parte falhar haverá dificuldade na aprendizagem e para que ela aconteça esses aspectos devem estar conectados."

Para desempenhar bem o papel de professor nesse contexto, a postura frente ao aluno tem que mudar. De dono absoluto do saber, o educador passa a ser intermediário entre o conhecimento acumulado e o interesse e a necessidade do aluno. Mais do que isso, ele se torna o elemento que desencadeia (e sacia) a curiosidade do aluno, ao mesmo tempo em que aprende com ela. O novo educador é um profissional em constante mudança, pronto para transformar em saber as ansiedades do aluno. É o fim da decoreba e das fórmulas prontas.

Segundo Rubem Alves, psicanalista e educador, "nossas escolas dão a faca e o queijo, mas não despertam a curiosidade das crianças".

Esse educador pensa que a educação teria completado sua missão se conseguisse despertar no aluno o prazer de ler. A leitura deve ser uma coisa solta, sem ter que fazer relatório. Ler um texto só para responder a um questionário de compreensão ou realizar um trabalho é uma das inadequações da escola e também uma das formas de exclusão. A grande preocupação de quem educa deve ser o aluno, não a disciplina. E ele deve estar atento ao movimento do pensamento da criança. A primeira tarefa da educação é ensinar a ver, ou seja, o educador é parte de uma tarefa mágica, capaz de encantar crianças e adolescentes, e que é bem diferente de simplesmente dar aula. Dar aula é só dar alguma coisa. Ensinar é muito mais fascinante.

Vergonha Nacional

A repetência é o maior problema da educação brasileira, mas parece que pouco se faz para combatê-la.

A pesquisadora Argentina sara Pain, diz que "se não houver uma forma clara de avaliar o que os alunos aprendem a escola vai fracassar".

A única maneira de fazer o sistema escolar funcionar é graduar o que é ensinado. É a melhor forma de o professor avaliar seus alunos e saber se eles realmente aprenderam.

Quando os alunos não conseguem aprender, quando percebem que esse é um ensino que escapa completamente ao seu controle, transformam essa impotência em violência. É uma questão muito complicada. O discurso da escola é sempre bom, positivo. A imagem que ela passa para essas crianças e adolescentes é de um mundo bom, o mundo do conhecimento. Só que eles não chegam lá e explodem. Esse tipo de violência surge por volta dos 12, 13 anos e atinge seu auge aos 16, 17 anos de idade.

É como se existisse um nó na educação que precisasse ser desatado. A educação precisa crescer com qualidade. A maioria das crianças não está aprendendo, estamos criando analfabetos funcionais em potencial. Através da incapacidade de aprender, explode a violência dentro da escola e surge a exclusão. É preciso que a formação forneça os instrumentos para os docentes solucionarem esses problemas. Para isso, faz-se necessário que a universidade esteja mais próxima das redes de ensino e o professor do universo cultural dos alunos.

A escola brasileira admite internamente um padrão de desigualdade imenso, que se cristaliza nas disparidades de desempenho dos estudantes, como se nada pudesse ser feito.

É chocante saber que mais da metade dos alunos da 4ª série, como demonstram os levantamentos, não possam interpretar um texto adequadamente. Pensamos nesse sentido, que a escola deveria parar tudo e ajudar os alunos com dificuldades, pois, de outro modo, estará ocorrendo apenas um ritual vazio. Em certo sentido, a escola brasileira não tem compromisso com fortes padrões de igualdade.

Inclusão: Utopia ou Realidade?

Crianças com necessidades mentais especiais precisam de atenção especial. Casos essas crianças não tenha, o acompanhamento indicado, dificilmente poderão progredir na escola, havendo o sério risco de ter o quadro agravado. Um professor com 35 alunos, em média, dentro de uma sala de aula de uma escola pública, não tem condições de dar a atenção que essa criança necessita. Incluir crianças que apresentam necessidades físicas é bem menos utópico do que crianças com necessidades mentais. A criança que tem dificuldade de locomoção, por exemplo, é ajudada pelos colegas e tratada como uma criança normal, pois a atividade mental dela está de acordo com a dos colegas.

Valorizar as peculiaridades de cada um, atender a todos na escola, incorporar a diversidade sem nenhum tipo de distinção é um desafio capaz de ser vencido. As diferenças não só devem ser aceitas como acolhidas como subsídio para completar o cenário escolar. Mas, para isso, a escola precisa oferecer serviços complementares, adotar práticas criativas, adaptar o projeto pedagógico, rever posturas e construir uma nova filosofia educativa.

Mudar é difícil e complicado. A maioria dos professores afirmam não estar preparados para isso. A inclusão é um processo cheio de imprevistos e não deve ser feita só para cumprir a lei, admitindo a matrícula desses alunos. Tem de ser consciente. Sempre que a matrícula de um deficiente é solicitada, cabe ao corpo diretivo da escola buscar orientação e suporte das autoridades médicas e educacionais. Do ponto de vista pedagógico, tem que haver uma transformação na escola. Começando por diminuir o número de alunos por turma e o número de turmas por professor, para que ele possa dar a devida atenção a esse aluno. A construção desse modelo implica uma mudança no currículo e na avaliação.

Há que se ter um cuidado especial para cada tipo de deficiência. Na educação inclusiva não se espera que a pessoa com deficiência se adapte à escola, mas que esta se transforme de forma a possibilitar a inserção daquela.

A inclusão de estudantes com deficiência nas classes regulares representa um grande avanço em relação ao movimento de integração que pressupunha algum tipo de treinamento do deficiente para permitir sua participação no processo educativo comum. A inclusão postula uma reestruturação do sistema de ensino, com o objetivo de fazer com que a escola se torne aberta às diferenças e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero ou característica pessoais.

O papel da educação não pode ser confundido apenas com a sua ligação fundamental e intrínseca com o conhecimento e, muito menos, com a pura e simples transmissão de conhecimentos. Educação no mundo globalizado tem função menos lecionadora e mais organizadora de conhecimento. Numa época em que o conhecimento é difundido em muitos espaços de formação, a educação precisa, muito mais, dar sentido ao conhecimento socialmente valorizado, e, numa perspectiva emancipadora, ela se constitui num processo que precisa ser estendido a todos. Portanto, se quisermos que a educação possa contribuir na construção de um outro mundo possível, temos que fazê-la essencialmente inclusiva.

BIBLIOGRAFIA

GENTILI, Pablo (org.). Pedagogia da exclusão: o neoliberalismo e a crise da escola pública.Petrópolis, RJ. Vozes, 1995.

http:/ www.rubemalves.com.br – acessado em 10.06.04.

http:/www.novaescola.com.br – Entrevista a Gabriel Pillar Grossi em out/93 - acessado em 10.06.04.

MAZZOTA, Marcos. Educação especial no Brasil. São Paulo. Ed. Cortez,2000.

MITLLER, Petter. Educação Inclusiva: Contextos sociais. Ed. Artmed, 2000


Autor: Dorisa Luz


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