Uma História sem Fim



Vou-lhes contar uma história monótona, sem clímax algum. Essa história fala de uma menina que mora com a avó, pois seus pais haviam morrido em um acidente de carro.

Sua vida com a avó é monótona como essa história: ia à escola, depois ajudava sua avó com costura e confecção, o sustento das duas, fazia lição de casa, ajudava na limpeza na cozinha e às vezes passeava, no máximo ao parque ou ao cinema.

Sua avó a criava como nos tempos antigos, acostumada com seus tempos de juventude. Condenava o uso de piercings ou tatuagens, e detestava essas músicas chamadas de rap ou eletrônica. E também não achava utilidade nos chicletes. Então, é possível deduzir que a menina, chamada Melanie, também vivia sob esses pensamentos, e alguns entravam realmente em sua mente.

Melanie, embora sob cuidados antiquados e comuns de uma avó, aproveitava a vida. Mesmo sendo difícil encontrar forças depois da perda de ambos os pais, ela era uma menina forte, segura. Mesmo tímida, ou com a mente mais madura e incomum para a época em que vivemos, sabia que ela estava aqui por uma razão, e que ela iria aproveitar tudo que tinha.

Morava com a avó em uma casa de um dormitório, relativamente pequena. A mobília era clássica, a casa arrumada, um perfume de canela no ar. A casa térrea era charmosa, com flores em todos os lugares, quadros de família e variados, nada abstrato, isso, não. A cozinha era apertada, tal como o banheiro. Mas a sala, oh, que sala. Era grande, se comparada com os outros cômodos da casa. Havia um belo sofá, tapetes, um móvel com uma televisão, mesa com quatro lugares, um canto para a costura, e um belíssimo piano de cauda preto. Esse piano era tocado todos os dias pelas duas habitantes da casa, e sempre havia em seu apoio para partituras a música The Entertainer, a coisa mais animada da residência.

Suas tardes eram exatamente assim: chegando da escola, ajudava sua avó com o almoço. Comiam, enquanto conversavam sobre qualquer coisa que surgisse no momento. Depois cada uma seguia seu dever: Melanie, lição de casa, e a avó, ia costurar.

Vou lhes informar o nome da avó, para não ter que usar esse substantivo a todo o momento em que menciono sua existência. Seu nome era Elizabeth.

Então, depois de terminada a lição de Melanie, ela ia ajudar sua avó a produzir roupas. As duas raramente iam comprar roupas, pois 86% do que elas vestiam era feito em casa.

Vou citar o exemplo que ocorreu ontem: Elizabeth estava costurando, e sua neta, tocando piano. Elas revezavam as teclas do piano com a máquina de costura.

A cada dois dias elas forneciam as roupas para uma venda no centro da cidade, onde ganhavam o “pão-de-cada-dois-dias”. Não ganhavam pão, é óbvio.

O jantar era feito pelas duas, que ouviam um disco de vinil, da época da juventude de Elizabeth. Alguns dias, elas revezavam as teclas do piano com as facas e panelas. Depois de um jantar, talvez uma olhada no jornal televisivo, e um belo banho, as duas iam dormir. Melanie dorme na mesma cama de sua avó, uma coisa de que não gostava muito, pois Elizabeth roncava, segundo Melanie. Mas, segundo Elizabeth, ela simplesmente “respirava alto”. Isso nunca fora comprovado, embora Melanie já tenha tentado gravar sua “respiração” durante a noite.

Depois de oito horas aproximadamente de sono, elas repetiam o dia, e sempre estava sobre o piano a partitura de The Entertainer.

E aqui acaba a história.

Devem estar se perguntando por que leram isto. É uma história sem graça e sem clímax, que só gastou meu tempo.

Pois eu lhes digo:

Leitura nunca é perda de tempo, e sim, perda de ignorância.

                         FIM


Autor: Barbara M.F.Monfrinato


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