REALIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE TRAÇOS phi NOS VERBOS



REALIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE TRAÇOS phi1 NOS VERBOS – O FENÔMENO DA CONCORDÂNCIA VERBAL EM FRASES COM/SEM SUJEITO LEXICAL EM PORTUGUÊS BRASILEIRO FALADO E ESCRITO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com uma das definições apresentadas pela Gramática Tradicional (GT), a Concordância Verbal se dá n' "a solidariedade entre o verbo e o Sujeito 2, que ele faz viver no tempo, (...) na variabilidade do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do Sujeito"; "a concordância evita a repetição do Sujeito, que pode ser indicada pela flexão verbal a ele ajustada" (CUNHA E CINTRA, 2001, p. 496).

Essa definição daria conta de explicar alguns exemplos de manifestação de concordância, como os acima relacionados 1 (a), 2 (a), 3 (a). Entretanto, traz à tona alguns problemas:

a)O verbo pode não apresentar sufixo flexional em concordância com o Sujeito (exemplo 2 (b));

b)O Sujeito pode não estar presente fonologicamente na frase (ou porque está correferencializado no contexto, ou porque, de fato, é um sujeito não-referencial – exemplos 1 (b), 2 (b), 3 (a), 3 (b) e 3 (c)).

Essa discrepância entre a teoria e a prática leva-nos a questionar o status da realização morfológica dos traços de concordância de número e pessoa (traços phi, de acordo com a teoria gerativa) nos verbos.

Os problemas explicitados acima, relacionados à abordagem da GT para o fenômeno flexional da Concordância, coincide com os problemas apontados por Corbett (1998, pp. 191-205). Segundo esse autor, o elemento que determina a concordância (o Sintagma Nominal Sujeito) é chamado de controller. O elemento cuja forma é determinada pela concordância é o target. Para citar um de seus exemplos, observe:

Mary laughs.

Aqui, laughs está no singular porque Mary está no singular. A concordância, então, captura esta intuição diretamente pela cópia das especificações de traços do controller para o target. Mas:

a)o controller pode estar ausente (como em línguas pro-drop);

b)pode estar presente, mas inespecificado;

c)os traços de especificações sobre o controller e o target podem simplesmente não combinar.

O Português Brasileiro é uma língua que tem apresentado, a partir do século passado, na forma oral, um enfraquecimento do paradigma flexional de número e pessoa.

Confira:

Tabela: Evolução de paradigmas flexionais no Português Brasileiro (adaptada da tabela 1, de DUARTE, 1996):

Pessoas do discurso

Paradigma 1

Paradigma 2

Paradigma 3

Eu

Pulo

Pulo

Pulo

Tu

Pulas

PulaØ

PulaØ

Ele/ela

PulaØ

PulaØ

PulaØ

Nós

Pulamos

Pulamos

PulaØ

Vós

Pulais

Pulam

Pulam

Eles/Elas

Pulam

Pulam

Pulam

Pela demonstração, é notoriamente observável, do paradigma 1 ao 3, a redução de seis flexões distintas para três. Não há distinção flexional sequer de variação de número da 2ª e 3ª pessoas do singular para a 1ª pessoa do plural.

Com o funcionamento do Paradigma 1, o Sujeito, mesmo estando ausente, podia ser identificado pela marca morfológica, apesar do controller não estar presente. Mas, com o enfraquecimento e perda dos traços morfológicos, como identificá-lo?

Esses dados motivam uma pesquisa que tenciona investigar as seguintes questões:

a)Como ouvintes/leitores interpretam a Concordância em frases desprovidas de Sujeito lexical e marca morfológica nos verbos?

b)É a flexão de Concordância domínio da Sintaxe, apesar de, em certos casos, não desencadear relação entre constituintes?

c)Esse fenômeno, então, se não exclusivo da Sintaxe, localiza-se num nível de interface? Qual?

d)Seria a Concordância produto de um processo morfolexical, ou morfossintático, no sentido de Sadler e Spencer (1998)?

O trabalho a ser desenvolvido busca, então, respostas para essas questões.

Para isso, utilizaremos os pressupostos do Programa Minimalista, de Chomsky, através da checagem de traços; para os casos que não puderem ser resolvidos à luz do Programa Minimalista, utilizaremos, também, os pressupostos da Morfologia Distribuída, de Halle e Marantz.

O estudo apresenta a seguinte organização estrutural:

A primeira parte apresentará, resumidamente, a definição, forma de abordagem e objetivos da Morfologia Distribuída.

Em seguida, introduziremos uma noção a respeito de processos morfolexicais e morfossintáticos, apontando, também, as grandes tensões existentes entre derivação e flexão.

O fenômeno da Concordância Verbal será explicitado na terceira parte do estudo, apresentando a versão de variados lingüistas quanto à sua definição. Além disso, essa seção também apresentará a realização da Concordância no Inglês, e o enfraquecimento do paradigma flexional do francês, que será comparado com o enfraquecimento do paradigma flexional do Português Brasileiro.

Na quarta parte do trabalho, apresentaremos os dados com suas respectivas análises.

No final, apresentaremos as possíveis respostas encontradas para as variáveis do problema focalizado.

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Autor: Christiane Miranda Buthers


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