Indigesto Almoço



Existem duas academias de letras na cidade em que morava, sendo que na única ocasião em que se entendiam era em um almoço anual e foi justamente para esse almoço que fui convidada.

Já me imaginaram no meio da elite cultural? Por favor, não me respondam...

Pois é, lá estava eu, sentada entre dois senhores acadêmica de significativa representação no meio cultural.

A média de idade dos presentes girava em torno de 80 anos e posso assegurar que toda a elite estava presente.

Era preleção que não acabava mais, razão pela qual lá pelas tantas, em torno de 15, 30 horas, o buffet começou a servir enquanto os senhores e senhoras ocupavam a tribuna discursando.

Serviram pratos típicos nordestinos, um tanto indigestos e nada recomendáveis para o calor que fazia motivo pelo qual se notava que havia diversas pessoas ressonando já quando serviram a sobremesa.

Era canjica baiana com amendoim e eu gostava muito, mas eis que de repente, um pedaço de amendoim entala na minha garganta.

Tentei disfarçar e nada de conseguir.

Os mais próximos perceberam e logo trataram de me dar pão e água, que desciam raspando e nada de desgrudar o amendoim.

Levantou-se um senhor e veio dar uns tapas nas minhas costas, não surtiu efeito algum e na hora pensei que tinha me trincado algumas costelas.

Uma distinta senhora, toda besuntada de maquilagem que, naquela altura derretia; misturando rímel com batom, veio em meu auxílio levantando-me os braços.

Pobre de mim! Quando a mulher ergueu os braços quase desfaleci. Ela deve ter percebido tanto que disfarçou e saiu de fininho.

Alguém se lembrou de São Braz e começou a benzer minha garganta dizendo: São Braz, São Braz, acuda esse rapaz, como se eu fosse homem.... deve ter sido por isso que o São Braz nada fez.

O distinto cavalheiro do meu lado pegou o programa e sem a menor discrição começou a me abanar.

O murmurinho já estava ficando irritante e parecia que todos, indistintamente, olhavam-me, quando sem mais nem menos, o palestrante que tentava falar cada vez mais alto para chamar a atenção falou em alto em bom tom, apontando-me: - Ela está ficando roxa, assim vai morrer!!!

Ouviu-se então barulho de cadeiras e exclamações...

Fui retirada de lá e encaminhada ao pronto socorro de um hospital e com isso terminou a minha chance de ser acadêmica e até mudei de país.

Estou retornando agora, mas, penso que nunca mais serei convidada.

Autor: Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda


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