Resenha de Introdução da Obra: O TRABALHO DOCENTE



FICHA TÉCNICA

Título: O TRABALHO DOCENTE

Autor: TARDIF,Maurice

Editora: EDITORAVOZES

Cidade: Petrópolis-RJ

Ano: 2005

Número de páginas: 317

ISBN: 85 326 3165-7


Resenha das Páginas: 7-14

 


INTRODUÇÃO – Resenha

O autor coloca inicialmente, que num período de quatro séculos, esta atividade social chamada instruir vem-se constituindo, progressivamente, numa dimensão integrante da cultura da modernidade, sem falar de seus importantes impactos sobre a economia e os demais aspectos da vida coletiva, sobre tudo políticos, tanto é verdade, afirma o autor que o conceito moderno de cidadania é indispensável sem o de instrução.

Neste momento a autor coloca que o conceito de cidadania trás implícito o de instrução, porém ao que aprece é a política que gera o conceito que deseja de cidadão e impõe a educação sua formatação, tanto que ela coloca a idéia de cidadania na íntegra, mas em sua prática as escolas ficam no meio do caminho, pois construir um cidadão é bem mais do que oferecer a ele oportunidades sem comprometimento, como muito temos assistido no ambiente docente. Sofrem com isto professores preocupados com a educação e fazem uso desta situação alunos cada vez menos preparados para freqüentar o ambiente de ensino, carentes de toda modalidade de educação básica, quer seja no falar, quer seja em suas atitudes.

Acrescenta o autor que dificilmente poderemos compreender o mundo social, no qual hoje vivemos se não nos esforçarmos por reconhecer, antes de tudo, que a grande maioria de seus membros é escolarizada em diferentes graus e sob diferentes formas.

Durante a introdução o autor cita que na " Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel (1843) , Marx afirmava que " o homem é raiz do homem"; assim o autor realiza uma paráfrase quando coloca que " a criança escolarizada é a raiz do homem moderno atual", ou seja, de nós mesmos.O autor pretende através desta obra, penetrar no coração do processo de escolarização, analisando o trabalho do atores que a realizam no cotidiano os professores interagindo com os alunos e os outros atores escolares. Pretende ainda o autoranalisara o trabalho docente observando as tantas disciplinas e teorias relacionadas entre si:sociologia do trabalho e das organizações, ciências da educação, ergonomia, teorias da ação, ciências cognitivas, etc.

Cita o autor o resultado de pesquisas realizadas nos estados Unidos, investigando: interação com os alunos, planejamento e gestão do ensino, avaliação, relacionamento com os colegas, transformações curriculares, (Doyle, 1986; Houston ,1990; Richardson, 2002; Sikula,1996; Shulman, 1986, etc). O autor coloca que assim estamos distantes das antigas abordagens normativas ou experimentais, inclusive behavioristas, que prevaleciam, sobretudo, antes dosanos de 1970, as quais confinavam a análise do ensino a varíáveis mensuradas em laboratório, ou ainda, a normas tiradas da pesquisa universitária- por exemplo, apesquisa na psicologia da aprendizagem- desconectadas da realidadeda profissão docente e da ocupação de aluno. Considera o autor que a ergonomia está atualmente (2005) em pleno desenvolvimento, particularmente na Europa Francófona; assim os pesquisadores dentro desta abordagem possuem instrumentos de análise bastante completos para estudar o trabalho dos agentes (ou "operadores") no contexto escolar (Durand, 1996; Messing et al., 1995; Ria, 2001), assim como a sociologia do trabalho, das profissões das organizações que há muito tempo abandonaram o conforto do pensamento meramente teórico, engajando-se, também elas, nas pesquisas de campo e considerando as sutis interações entre os atores escolares.Ainda podemos acrescer contribuições na área da psicologia e da psicossociologia do trabalho, bem como na antropologia da educação (Henriot et al.,1987; Wulf, 1999; 2002). Desta forma, esta obra, explicao autor, procura fazer uso de uma sólida base de conhecimentos para estudar a docência no âmbito escolar. Esta obra procura mobilizar tal base de conhecimentos, amplia-la e aprofundá-la, e criticá-la dentro do necessário, a fim de aplicá-la ao estudo da docência, e neste momento o autor descreve docência: ... Essa compreendida como uma forma particular de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em que o trabalhador se dedica ao seu objeto de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no modo fundamental da interação humana. Podemos chamar interativos trabalhos realizados sobre e com outrem. É nesta análise de interatividade docente que se constitui o objeto desta obra, examinando questõescomo : o fato de trabalhar sobre e com seres humanos repercute sobre o professor, sobre os seus conhecimentos, sua identidade, sua experiência profissional?

Nesta obra são examinadas algumas questões como:

·Em quais condições, sob quais pressões, com ajuda de quais recursos se realiza hoje esse trabalho sobre o outro?

·Como ele é vivenciado internamente por aqueles e aquelas que o realizam?

·De que modo os dispositivos da organização do trabalho em âmbito escolar (divisão do trabalho, classes fechadas, isolamento dos professores, burocracia, etc.) os afetam?

·Admitindo-se que todo trabalho possui instrumentos e tecnologia em sentido amplo, quais são eles na docência?

Para fundamentar estas e outras questões, esta obra se fundamenta em 150 entrevistas realizadas junto aos professores, complementadas com uma centena de outras entrevistas a outros agentes escolares e educadores: administradores, diretores de escolas, funcionários, orientadores pedagógicos, professores de educação especial, técnicos, universitários em formação para o magistério, etc. Estas entrevistas abordavam a história da carreira docente, suas relações dentro do conjunto dos demais atores da educação, quanto os temas diversos que embasam esta obra. Com relaçãoaos professores, as informações nas classes e no ambiente das escolas ,e também pro gravações de vídeo feitas em diferentes momentos do ano escolar emalguns anos.Também foram utilizados outros trabalhos disponibilizados por outros pesquisadores.Foram utilizados tanto dados quantitativos nacionais como internacionaisa respeito das tarefas dos professores aliados a dados qualitativos, provenientes de pesquisas européias,anglo-saxão e latino-americanas. Enfim, foi realizada uma síntese sistemática e critica dos principais trabalhos de pesquisa (teórica e empírica) produzidas sobre a docência durante as duas últimas décadas (citados na bibliografia).

O autor explica que em ciências sociais , é evidente que uma pesquisa com base empírica, por mais imponente e rica de informações que seja, é, essencialmente, local: não existem dados universais, na medida em que os "fatos sociais" estudados pertencem a uma situação social particular dentro da qual eles são história e socialmente produzidos. Além disso, os instrumentos, os métodos e as teorias pelas quis os dados são coletados, estruturados e interpretados pertencem, eles mesmos, a uma situação local, como por exemplo, essa ou aquela tradição de pesquisa, colocando autor sobre os regionalismos teóricos: sociologia britânica do currículo, teorias americanas das organizações, sociologia anglo-saxão das profissões, ergonomia francesa, neo-estruturalismo parisiense. O autor coloca que estas questõesregionais, não conduzem a inconvenientes nem obstáculos, mas sim falando como Kant, de condições a priori de qualquer conhecimento possível em ciências sociais, se estas, pelo menos,aceitam falar de alguma coisa realmente existente, e não somente divagar no universo de uma escuridão teórica que ,como dizia Hegel, tem a propriedade de tornar todas as vacas igualmente pardas, impossíveis de distinguir-se.

Coloca o autor da questão e cair em caricaturas teóricas, e sugere para evitar isto que a maneira de escapar está em confrontar teorias rivais entre si, tornando fatos produzidos por diferentes sistemas sociais a fim de compreender, para além de sua aparente diversidade, a semelhança de funções e de significados que eles possuem.

A obra inicia com apresentação e a discussão do quadro teórico que fundamenta o desenvolvimento analítico (capítulo 1). Na seqüência do trabalho, o autor realiza um empenho no estudo do processo total do desdobramento do trabalho docente, partindo, inicialmente, dos seus contextos mais globais tais como aqueles que se referem à organização do trabalho escolar, contexto global, seguindo-se da situação cotidiana de interação entre os atores escolares e, finalmente, num nível de análise mais completo, entre os professores e os alunos no momento das atividades em classe. O autor adota este modo de exposição, seguindo o que diz Marx em "O capital", quando analisa o processo total de transformações das coisas naturais e dos homens em mercadorias, ou seja, em formas abstratas socializadas que só existem através do mercado e dos intercâmbios econômicos capitalistas, reconstruir o processo ao mesmo tempo vivo e global do trabalho dos professores, tanto nas escolas quanto nas classes. Lembremos que, para Marx, a análise das situações concretas, das operações específicas e dos postos de trabalho particulares na indústria não era um fim em si: ela se destinava a esclarecer um processo de trabalho mais global de produção da vida econômica social. O objetivo na obra é compreender como seres naturais mas em parte já socializados pela família- tornam-se através do sistema de práticas dos agentes escolares e educativos," entidades sociais":um trabalhador qualificado, um cidadão esclarecido, um adulto instruído e educado, ou ainda, um excluído, um marginal, um assistido social, etc. Coloca o autor que talvez um dia possamos enxergar melhor de que modo a escolarização, enquanto atividade social fundamental, chega também a produzir essa"forma social" que é o adulto instruído como membro básico de nossas sociedades contemporâneas.

O capítulo 2 analisa as relações entre algumas características sociorganizacionais da escola e as formas de realização e de organização do trabalho docente e, mais amplamente, do trabalho escolar, ou seja, do conjunto de tarefas realizadas pelo conjunto de agentes escolares.

O capítulo 3 dá prosseguimento na análise da organização do trabalho escolar, encarando seu desenvolvimento recente através da crescente burocratização, da multiplicação de equipes de agentes escolares e a divisão /especialização do trabalho dentro de sistemas de ensino.

O capítulo 4 analisa as condições d e trabalho dos docentes.

O capítulo e enriquece e contempla esta análise da organização do trabalho escolar, enfrentando os dispositivos e as rotinas básicas da docência nas escolas, o autor coloca quecontexto do trabalho e atividades se encaram e se reproduzem. Neste momento o autor esse estudo deve procurar também recompor o processo pelo qual destes planos e estruturas se instalam e perduram através do tempo escolar, graças à atividades desses mesmos atores. Assim ele descreve o tempo escolar como uma categoria central na análise do trabalho docente. Destaca esta idéia como sendo muito importante uma vez que a chamada escolarização é, antes de qualquer coisa, o produto das atividades de ensino e aprendizagem que se instalam e desenvolvem exatamente através do tempo, ecujos efeitos fundamentais sobre as crianças são percebidos apenas ao longo do tempo.

O capítulo 6 aborda a questão dos objetivos do trabalho docente.

O capítulo 7 trata das representações e das expectativas dos professores com relação aos alunos.

No final da introdução , o autor relata que  este livro revela a esperança denão só  dar a conhecer melhor a realidade do trabalho dos professores, mas também de demonstrar a importância de se analisá-lo para compreender mais amplamente nossas sociedades, onde o ser humano se assume mais e mais a si mesmo como objeto de ação e projeto de transformação.


Autor: Marlúbia de Paula


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