América Espanhola: Conquista e Colonia



Os Mecanismos da Conquista Colonial.

As formas de conquista.

Os Fatos

Estudando a cronologia da conquista, podemos perceber que os acontecimentos, expedições, batalhas, ordem de ocupação dos diferentes territórios, estão pré determinados há muito tempo, o que nos vai ser mostrado daqui por diante, são os mecanismos que desenvolveram os acontecimentos, como se relacionam, que choques provocam, e ainda como a partir disso tudo nasceu este novo mundo, importante porem deslocado, disforme, onde na maioria das vezes as possibilidades de desenvolvimento aparecem sufocadas.
Podemos atenuar que a conquista foi construída sob a, injustiça, violência e a hipocrisia, esses métodos da conquista não continham em si nenhum germe de desenvolvimento positivo e assim destinados a uma completa involução, e as conseqüências deste movimento, vencidos e vencedores, teriam suportados juntos.
“La espada la cruz y el hambre iban diezmando la familia salvaje”. (Pablo Neruda).

La espada

A espada se configura na conquista no seu mais puro sentido e aspecto, militar, belicoso e sangrento, a desproporção dos armamentos entre as duas partes constantemente é posta em relevo: Aço contra madeira, armas de longo alcance contra armas de alcance curto, táticas, estratégias, contra princípios bastante rudimentares, dada essa superioridade dos armamentos dos conquistadores ante os nativos podemos sublinhar três pontos cruciais :

1º - Armas de fogo

Dava uma grande vantagem devido ao seu potencial de combate a distancia, e uma superioridade também na ordem psicológica.

2º - Emprego do aço

Este dava as armas de ataque e de defesa uma vasta vantagem pois proporcionava mais resistência as armas nativas.

3º - Meios de transporte

O cavalo sobre tudo dava para os espanhóis uma grande mobilidade de batalha e tinha influências também no aspecto psicológico, tanto para os conquistadores e principalmente para os nativos.
Dizia Fernão Cortéz: “Nós não tinhamos, afora Deus, nenhuma segurança além dos nossos cavalos”
Já por parte dos nativos os embaixadores de Montezuma (imperador local), relatavam sobre os cavalos “Seu tamanho é da altura das casas”, e então a vantagem era tirada dessa situação pois, fazia-se crer que os cavalos faziam a guerra por vontade propria e cólera, tanto que os nativos acreditavam nisso que faziam de tudo para matar um cavalo em vez de quatro cristãos.( Varciliano de la Vega).
Por sua vez se os cavalos tiveram influencia na conquista, os cachorros também deixaram suas contribuição, apesar de não serem meios de transporte foram usados como armas bélicas, entre eles, Bacerrillo e seu filho Leoncillo, que cobertos por couraças espessas se protegiam das fléchas inimigas, esses animais faziam seu próprio combate isolado, sem ordens particulares de seus mestres, assim que o ódio dos indígenas era destilado em seus sentidos, então temos a compreenção de questes animais foram fundamentais para a conquista.
Entretanto, em outras regiões o papel destes animais no sentido bélico foi praticamente nulo, devido a falta de ação em áreas desprotegidas, e regiões íngremes onde o cavalo, por exemplo, não podia dar o melhor de si, os conquistadores também enfrentaram limitações impostas pelo clima, armas de metal e de fogo tinham grandes tendências a enferrujarem a pólvora de molhar em climas mais úmidos, e por sua vez as couraças e capacetes eram mais difíceis de usarem devidos as altas temperaturas tropicais.
Cria-se então o emprego de outra vantagem, a alarbada e o escaupil, ( espécie de túnica forrada de de algodão), que dá uma conotação curiosa na história, pois na verdade o escaupil, também era comum ao uso dos indigenas, e era eficaz sim aos brancos e aos índios para protege-los de flechas inimigas, mas por outro lado, não protegia esses nativos contra o tiro das armas de fogo espanholas como a (alarbarda).
Sobretudo não podemos empregar a conquista somente aos armamentos, pois nas conquistas os espanhóis também contaram com o apoio nativo de tribos rivais, podemos citar como exemplo a vitória de Cortés sobre Montezuma, no México, que se deu com a aliança com Xicoténcatl, (líder Tlaxtaltecas), inimigos tradicionais dos mexicanos, podemos citar também a importante aliança de Pizarro na conquista do Peru com o cacique Quilimasa, entre outras feitas.
Mas essas alianças mais tarde seriam problemas para os espanhóis, pois esses grupos indígenas em contato com armas e cavalos, mostram uma extraordinária capacidade de assimilação da ciência militar espanhola, fato este excepcional, contando que estas realizações são de grupos que estavam praticamente saindo da idade da pedra e que conseguiram em1553 bater os espanhóis em tucapel e em 1558, libertar toda uma parte de suas regiões, apesar de todas essas aparencias a conquista pelas armas permaneceu frágil por muito tempo, então para assegurarem essa conquista obtida por meios bélicos, foi preciso empregar outros meios.
Vimos então que já haviam sido empregados na comquista meios, bélicos, e tratados e alianças com póvos que viviam subjulgados aos impérios resistentes a conquista, povos estes que viram nos espanhóis uma forma de se libertar da opreção que viviam até então, porem não estavam se libertando ao se unirem com os conquistadores, mas sim apenas substituindo seus opressores.


La Cruz

O primeiro gesto de Cristóvão Colombo, ao tomar posse da terra, foi fincar uma cruz, tomada de posse com a bandeira dos reis de Espanha, justifica-se este instrumento como a conquista espiritual das Américas.
A chegada dos brancos foi ligada a antigas professais e premonição indígena que assegurava a chegada de novos deuses ou calamidades, isso impactou muito na chegada dos conquistadores, causando um sentimento de medo apreensão ou de confirmação das antigas professais, que mexia muito com o psicológico desses nativos, seria isso inocência, ingenuidade, “selvagens”, é fácil julgar dessa forma, porem já no séc XX, mas precisamente em 1939 uma forma comparavél de terror tomou conta dos cidadãos norte americanos, por conta de uma transmissão radiofônica de Orson Welles, que anunciava: “Os marcianos estão chegando…Os marcianos estão chegando” ! Este caso pode explicar o terror que assolava essa cultura nativa, pois se alastrou em meio de uma sociedade já civilizada, a princípio os espanhóis usaram e muito essa vantagem psicológica sobre os ameríndios.
Com a conquista, se deu certa falência das religiões indígenas facilitando assim a penetração da cruz, os batismos se sucederam e se multiplicaram, pois basta que a classe dirigente ceda e aceite a nova religião para as massas a sigam, surgem então, os altares, capelas, igrejas muito frequentemente nas ruínas dos velhos templos.
Uma questão é levantada, era realmente preciso evangelizar as populações americanas? O problema foi debatido, havia uma necessidade grande de debate, pois chegou a considerar os índios como: “casi monos”, (quase macacos), evangelizam-se macacos? O consenso foi de evangelizar essas massas porem o equivoco de considerá-los quase macacos ainda persistia, sendo assim tiveram freqüentes fracassos, pois a violência dominava essa evangelização, como oferecer uma religião onde seu fundamento está empregado na paz e amor quando se considera ao mesmo tempo em que: “A pólvora contra os infiéis é como incenso para o Senhor” (Oviedo), como obter sucesso na obra de evangelizar, quando ao mesmo tempo se discute o fato de terem ou não os índios capacidade de receber os sacramentos? Podemos considerar que a evangelização nessa América espanhola foi mais uma forma de agressão e confirmação de conquista por meio da cruz.
Os índios, por sua vez organizaram de modo velado sua defesa ante a cruz, defesas ingênuas porem eficazes, na atual Bolívia e no sul do Peru, o culto a velha divindade pagã, Pacha-mama (Terra mãe), continua vivo, pois o assimilaram a virgem; Apu-Illampu (senhor dos relâmpagos), revive em San Tiago, Inti-huyana Capac (Sol jovem chefe), no Cristo.
No México o culto a Virgem de Guadalupe se dá nas raízes do culto da Deusa Tonantzin, (mãe dos deuses), se certa representação do universo religioso desses povos foi destruída uma nova foi imposta pela conquista, e essa ultima carregara com sigo os fragmentos da anterior até nossos dias.

Y El Hambre …. ( E a fome)

Este termo não é empregado ao sentido da alimentação, e sim a ansia, os valores que cercam os mecanismos das conquistas, e a cultura material que fora levantada por ela, a espoliação e divisão da cultura indígena que ocasionaram uma desestruturação no sistema desses póvos desestruturação essa que acarretou uma grande mortandade e baixa demográfica dos índios.
“Roubar brutamente os súditos”, daqueles que, mais tarde, os próprios espanhóis chamaram de senhores “naturais” dos índios, tem um duplo significado: crime ou erro” (Alonso de Zurita).
Sem citar os detalhes dos números, é possível afirmar que a metade, senão, dois terços, da população indígena desapareceram em cerca de cinqüenta anos, é preciso lembrar que não foi exatamente apenas uma matança ou assassinatos premeditados, mas a simples transferência da população da costa para o planalto acarretava uma série de modificações que resultava em mortandade, a imposição de ritmos mais acelerados de trabalho também contribui para esse fenômeno, sem contar o simples contato do nativo com o homem branco, o que era um simples resfriado, para o indígena era mortal, devido sua falta de imunização, A fome de ganho gerou uma desestruturação que foi fundamental na conquista.
Podemos então insistir, nos laços estreitos que se estabelecem entre a guerra e a evangelização, a primeira encontra sua principal justificativa no principio da difusão da fé, soldado e pregador vão juntos, e sua ação encontra nessa aliança entre a espada e a cruz, que andaram de mãos dadas e muito juntas na colonização,e foram elementos necessários para a conquista e assim neste mecanismo complicado foi possível conquistar.

A Evolução da Conquista

Para entendermos melhor a conquista e principalmente sua evolução, precisamos entender os conquistadores.
Quem são eles? O que se tornam? E qual o caminho que eles precisam percorrer entre o “Ser” e o “Tornar-se”?

Quem são?

Cortéz por exemplo era de Medelim e filho de um escudeiro muito pobre, e muito humilde, embora fosse, velho cristão, e segundo dizem, “hidalgo”( hijo d’ algo)- (filho de Algo).

O que se tornaram?

Após a conquista que os rende glória, sua descendência torna-se segundo relatos do seu capelão, (Francisco López de Gómara) nobre, seu pai, Martín Cortéz de Monroy e sua mãe Doña, Catalina Pizarro Altamirano, eram ambos hidalgos, pertencentes a linhagens nobres muito antigas e cheias de honrra, ai está o que era duvida se torna realidade a hidalguia era coisa que poderia ser adquirida.
O que é importante saber realmente é que na maioria das vezes esses conquistadores eram pobres diabos, caçulas, de familias de media, pequena e bem pequena nobreza, nobreza essa muitas vezes imaginaria até, então a aventura na nova terra era de “ir a valer mais” (partir para valer mais), nessa conotação de valor não está apenas relacionado ao ganhar, mas sim, ganhar mais glória valer mais no sentido de nobreza.
Encontramos muitas influências nos modos de pensar e agir dos colonizadores, nas grandes obras literárias de época, dentre esses valores, os mais frutíferos estão nos livros de cavalaria.
Irving A. Leonard estudou admiravelmente o impacto dessas obras e suas idéias na mentalidade dos conquistadores, através dos livros ele sublinha uma repetição dos combates, e das mesmas aventuras, tiradas dessas obras, e davam um ar de cavaleiros míticos, aos embates aqui desenvolvidos.
A enorme possibilidade que o globo terrestre parecia oferecer recriava o imaginario dos leitores ibéricos, não foi difícil recrutar voluntários para as expedições, que se organizavam, para a conquista do novo mundo, um exemplo típico de reavivamento de abras literárias em combate foi a chegada de Bernal Diaz de castillo, chegando com seus companheiros á altura da grande “calzada”, (levantamento de terra que levava de Iztapalapa ao México), segundo seus relatos: “Ficamos maravilhados, e dizíamos que tudo isso lembrava “las cosas de encantamiento” (os fatos de encantamento), contado no livro de amadis, e alguns de nossos soldados se perguntavam se não era sonho”.
Para avaliarmos, sobretudo o sentido mítico desses fatos, temos que avaliar as condições internas da Espanha no final do séc. XV e começo do séc.XVI, e sua estagnação, uma sociedade em que existe um número importante de homens, disponíveis para qualquer aventura, prontos a aceitar qualquer horizonte geográfico, sobretudo quando o horizonte espanhol lhes parece tão obscuro, como deixarmos de lado ou esquecer então numerosos traços, costumes, hábitos da estrutura mental da Espanha nessa determinada época.
Estes homens que partiram em busca da glória e de riquezas foram dando passos importantes para evolução da conquista, disputas internas entre esses conquistadores foram se criando, ao ponto de observarmos a seguinte frase: “Dios esta en el ciello, el Rey esta lejos, y yo mando aqui” ( Deus está no céu, o rei está longe, e aqui mando eu).
Novas cidades são criadas ao custo de miscigenação, flagelo indígena, entre outros atos cometidos pelo colonizados, mas com a cada vila erguida a cada pedra edificada, se confirma de fato a evolução da conquista, o estado que se forma nos territórios da América são fracos, e dominados por um número incrível de contradições, devido a ruptura, o desentendimento dos colonizadores quie travavam praticamentes guerras civis entre side e buscando seus interesses individalmente, e dificilmente chegam a encontrar um certo equilíbrio.
Este equilíbrio, de resto, é menos resultante de um componente de forças que a manifestação, de uma soma de fraquesas, e a herança da conquista será difícil de carregar.


Referencias Bibliográficas


ROMANO. Ruggiero, Os mecanismos da Conquista Colonial, Editora Perspectiva, São Paulo, 1995

Autor: Andre Benitez


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