A Construção da Afetividade par Jean Piaget



O que podemos esperar da colaboração e contribuição escolar? Espera-se cada vez mais que promova também o desenvolvimento afetivo e moral de crianças e jovens. A esse respeito é preciso ter bom senso. Ela pode colaborar para formar pessoas do bem, mas não fará isso sozinha. Sua maior contribuição será criar oportunidades de aprendizagens que ajudem na constituição de uma auto-imagem positiva. Crianças que são bem-sucedidas na escola gostam mais de si mesmas, são confiantes e abertas para interagir afetivamente com os demais. É difícil gostar dos outros quando não se ama a si mesmo.

Jean Piaget relata uma série de experimentos os quais demonstram que a moralidade se desenvolve com o passar do tempo, à medida que novas aquisições no campo cognitivo e afetivo são conquistadas pelo sujeito. Citado por Aranha (2003): "(...) compreendemos a construção das afetividades de acordo com a teoria de Jean Piaget citado por Aranha (2003): "(...) o desenvolvimento intelectual é considerado com tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo, para ele o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao cognitivo e tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget o aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode influenciar que estruturas modificar.

Se o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao desenvolvimento cognitivo, as características mentais de cada uma das fases do desenvolvimento serão determinantes para a construção da afetividade. Quando examinamos o raciocínio das crianças sobre questões morais,

Citado por Aranha (2003): "(...) na evolução da lógica e de moral, a psicogênese se dá em estágios de desenvolvimento mental desde o nascimento até a adolescência.

Uns dos aspectos da vida afetiva perceberam que os conceitos morais são construídos da mesma forma que os conceitos cognitivos. Os mecanismos de construção são os mesmos. As crianças assimilam as experiências aos esquemas afetivos do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas.

Citado por Aranha (2003): "(...) segundo Piaget, são quatro os estágios do desenvolvimento mental:

a) Estágio sensório - motor

Que é o primeiro estágio (de zero a dois anos). Sendo o primeiro mês de vida de um bebê é um período de atividade reflexiva, um período dominado por impulsos reflexos e instintivos com os quais buscam alimentação e a libertação de desconfortos. Durante este período o afeto é associado com reflexos. Isso basicamente não muda até o 4o mês de vida. O corpo do bebê permanece o foco de toda atividade e afeto porque ainda não diferencia o eu como um objeto distinto dos outros objetos.

Após o 4o mês a criança começa a apresentar um comportamento dirigido a um fim (intencional), que evolui de uma repetição de eventos incomuns e interessantes (reações circulares), na qual as intenções só se estabelecem durante as repetições do comportamento para uma intencionalidade presente no início da ação.

b) Estágio intuitivo ou simbólico

Sendo o segundo estádio que é de (dois aos sete anos), podemos dizer que durante o segundo ano de vida os sentimentos começam a ter um papel na determinação dos meios usados para alcançar os fins tanto quanto na determinação dos fins. As crianças começam a experimentar o "sucesso" e o "fracasso" do ponto de vista afetivo e a transferir afetividade para outras pessoas. Com a diferenciação cognitiva que ela faz de si em relação aos objetos, sentimentos com gostar e não-gostar podem começar a ser dirigido para os outros, constituindo-se assim uma porta para o intercâmbio social. A criança de dois anos (final do período sensório motor) é afetiva e cognitivamente muito diferente do recém-nascido.

Por exemplo: mesmo sabendo ir à casa da tia, a criança ainda é capaz de reproduzir o caminho em um conjunto de pequenos objetos tridimensionais de papelão (representando casa, ruas, igrejas, farmácia, etç.). Isso acontece porque suas lembranças são motoras, e a representação implica a descentralização da experiência, ainda centrada no próprio corpo da criança quando ele caminha de fato à casa da tia.

Citado por Aranha (2003): "(...) trata – se de uma forma de inteligência egocêntrica, mas o egocentrismo infantil não pode ser constituído um defeito da criança e sim a própria condição humana nesse estágio. Egocentrismo significa estar centrado em si mesmo, tanto no aspecto da afetividade como no do conhecimento. A criança é seu próprio ponto de referência, ela pensa, sente e age a partir de si mesmo.

Ela fala ainda "(...) afetivamente, a criança acha que o mundo gira em torno dela, quer todas as tensões, prefere não repartir brinquedos, quer o seu desejo satisfeito no instante em que se manifestar.

Do ponto de vista moral, de início não se pode dizer que exista introjeção de regra alguma: a criança vive no mundo pré – moral, em que predomina a anomia (ausência de leis), tanto é interessante lembrar que a criança não está pronta para jogos de regras.

Tanto é que os três ou quatro anos, começa a torna-se capaz de heteronomia, ou seja, de aceitar a norma exterior, tornando-se mais sociável.

Para lembrar ainda mais o advento do período pré-operacional surgem os primeiros sentimentos sociais em decorrência da linguagem falada e da representação. A representação permite a criação de imagens das experiências, incluindo as experiências afetivas. Assim, os sentimentos podem ser representados e recordados o que não ocorria no estágio sensório-motor. Enquanto uma criança sensório-motora pode "gostar" de um objeto ou pessoa hoje, mas não amanhã, a criança pré-operacional mostra maior consistência no gostar e no não-gostar.

Jean Piaget concebeu o desenvolvimento do raciocínio moral com uma conseqüência do desenvolvimento cognitivo e afetivo. Ele sugere que a norma moral apresenta três características: é generalizável a todas as situações análogas, não apenas às idênticas; dura além das situações e das condições que a geraram; está ligada a sentimentos de autonomia. Estas normas do raciocínio moral não estão plenamente realizadas até o estágio operacional concreto. Por exemplo, uma criança pré-operacional acha errado mentir a seus pais e a outros adultos, mas não a seus colegas. Durante este período o raciocínio moral é pré-normativo, ou seja, baseia-se na obediência à autoridade mais por medo do que por respeito mútuo.

Embora o pensamento pré-operacional represente um avanço em relação ao pensamento sensório-motor, ele ainda é restrito em muitos aspectos. A criança é incapaz de reverter às operações e não consegue acompanhar as transformações, a percepção tende a ser centrada e a criança é egocêntrica, ou seja, não pode assumir o papel ou o ponto de vista do outro, acredita que todos pensam como ela. Conseqüentemente o conceito de intencionalidade ainda não foi construído e a criança não consegue compreender comportamentos acidentais de outras crianças. Acreditam firmemente na moral do "olho por olho, dente por dente" e em sua aplicação em todos os casos. Acredita na necessidade de punições severas como forma de impedir desobediências futuras e preferem castigos arbitrários.

Assim como o raciocínio durante o período pré-operacional é semilógico, assim também é a compreensão infantil sobre regras e justiças e outros aspectos do raciocínio moral semilógico.

c) Estágio operações concretas

Para Aranha (2003): "(...) no estágio operacional concreto (de sete a doze anos), a lógica deixa de ser puramente intuitiva e passa a ser operatória, isso que dizer que o raciocínio e o pensamento adquirem maior estabilidade. A capacidade para raciocinar torna-se gradativamente lógica e menos sujeita às influências das contradições perceptuais aparentes. Os afetos adquirem uma medida de estabilidade e consistência que não apresentavam antes.

Com a aquisição da reversibilidade a criança torna-se capaz de coordenar seus pensamentos afetivos de um evento para outro. Se no estágio pré-operacional o afeto não reúne qualquer dos três critérios para ser normativo, durante o estágio operacional concreto estes critérios passam a ser encontrados na medida em que as capacidades de julgamentos infantis tornam-se "operacionais".

Isso quer dizer que a criança é capaz de interiorizar a ação, (trazer para dentro de si)

Por exemplo: processo que não ocorria na relata uma série de experimentos os quais demonstram que a moralidade se desenvolve com o passar do tempo, à medida que novas aquisições no campo cognitivo e afetivo são conquistadas pelo sujeito visita da tia. Esse processo lhe permite realizar operações matemáticas, perceber a relação lógica do sistema de parentesco, classificar, tornar as intuições móveis e reversíveis.

Exemplo: Quando invertemos mentalmente a nossa posição, colocando-nos no lugar do outro

Piaget destaca dois elementos fundamentais no desenvolvimento do estágio operacional concreto: que são à vontade e a autonomia

A vontade é considerada como uma escala permanente de valores construída pelos indivíduos e a qual sente obrigado a aderir. A presença da vontade indica que a pessoa já tem capacidade de raciocinar sobre problemas afetivos sob uma perspectiva coordenada e reversível.

A autonomia de raciocínio consiste em raciocinar de acordo com um conjunto próprio de normas. Durante o estágio pré-operacional as crianças percebem as regras como provenientes de uma autoridade. É a moralidade da obediência ou respeito unilateral. A medida que as crianças vão se tornando capazes de se colocar no ponto de vista do outro começam a ser capazes de fazer suas próprias avaliações morais. Começam a fazer avaliações a respeito do que é justo e do que não é justo, o que não significa que as avaliações sejam corretas. O estágio operacional concreto é um período chave para o desenvolvimento contínuo da autonomia afetiva, quando as crianças mudam de uma perspectiva moral baseada no respeito unilateral para uma perspectiva baseada no respeito mútuo.

Com o desenvolvimento da vontade e da autonomia, ocorrem mudanças significativas e claras nos conceitos infantis de regras, acidentes, mentira, justiça e julgamento moral. Se no estágio pré-operacional percebem as regras como fixas e permanentes e exigem dos outros uma adesão rígida, em torno dos sete ou oito anos começam a compreender a importância das regras para um jogo correto. A cooperação começa a se manifestar e as regras deixam de ser vistas como absolutas e imutáveis.

Com o desenvolvimento da capacidade de se considerar o ponto de vista do outro as intenções começam a ser compreendidas e consideradas nos julgamentos. A compreensão das intenções não podem ser "ensinadas" a crianças mais novas. De acordo com Piaget, cada criança deve construir este conceito através das interações com os outros. Enquanto não for capaz de compreender o ponto de vista do outro não pode construir o conceito de intencionalidade.

A aquisição da intencionalidade muda o conceito de justiça. A punição severa e arbitrária gradativamente dá lugar à punição por reciprocidade, ou seja, aquela que guarda alguma relação com o comportamento a ser punido. A moral deixa de ser quantitativa e passa a ser qualitativa. A intenção passa a ser mais importante do que o comportamento em si.

d) Estágio das operações formais

Durante o estágio das operações formais que em média começa em torno dos onze ou doze anos, uma criança desenvolve o raciocínio e a lógica necessária a solução de todas as classes de problemas. Após o desenvolvimento das operações formais, as mudanças nas capacidades mentais, no que se refere às estruturas e operações lógicas, passam a ser quantitativas e não mais qualitativas. A qualidade do raciocínio que uma pessoa é capaz de realizar não progride após este estágio, mas o conteúdo e a função da inteligência podem progredir.

O desenvolvimento afetivo durante o estágio das operações formais é caracterizado por dois fatores principais: o desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a continuação da formação da personalidade.

A capacidade de raciocinar sobre o hipotético - o futuro - e de refletir sobre o próprio pensamento torna o adolescente invariavelmente idealista. Este idealismo pode ser visto como um idealismo falso ou incompleto, resultado de um raciocínio baseado no uso egocêntrico do pensamento formal. Faz julgamentos com base no raciocínio e suas conclusões são lógicas. Parecem idealistas porque não podem levar em conta a realidade de comportamento humano que nem sempre tem a ver com a lógica. Por exemplo, a sociedade confirma o mandamento "não matarás" apesar de historicamente ter aprovado as guerras.

Durante a formação das operações formais as crianças começam a ter seus próprios sentimentos ou pontos de vista sobre as pessoas. Estes são sentimentos autônomos cujas raízes se encontram no desenvolvimento da autonomia durante o estágio operacional concreto. De acordo com Piaget os aspectos finais da formação da personalidade não começam a se desenvolver antes da transição para a vida adulta. A medida que o adolescente inconscientemente procura se adaptar à sociedade e ao mundo do trabalho a formação da personalidade vai se consolidando. A personalidade é resultado dos esforços individuais autônomos para se adaptar ao mundo social adulto.

No início das operações formais, a maioria das crianças constrói uma compreensão de regras sofisticada. As regras passam a ser vistas como fixadas a qualquer momento por um acordo mútuo. Reconhecem as regras cooperação e participação efetiva.

O conceito de "punição justa" começa a ser construído apenas depois que emerge a compreensão das regras, paralelamente ao aumento da capacidade de ver os pontos de vista dos outros. Por volta dos onze ou doze anos, a reciprocidade permanece a base para os julgamentos sobre punição, mas agora as crianças consideram as intenções e as circunstâncias atenuantes, ao formular julgamentos, ao que Piaget chamou de equidade. A punição não precisa mais ser, do ponto de vista quantitativa igualmente atribuída.

Por exemplo: as crianças mais novas não podem ser consideradas tão responsáveis quanto as mais velhas. O julgamento com base na disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um é uma implementação mais efetiva da igualdade.

Considerações finais

Para concluir, não se pode deixar de apontar a contribuição da obra de Jean Piaget para o estudo original da socialização, do simbolismo e da afetividade humana. Na concepção desse autor, a socialização significa a possibilidade de o indivíduo trocar e compartilhar, efetivamente, significados e de submeter-se racionalmente às regras morais. Outro elemento que irá exercer influência sobre a afetividade, a interatividade e a aprendizagem é o intercâmbio social. No momento em que os alunos adquirem afeto e consideração por seus pares (colegas e professores), as relações interpessoais começam a se formar. Com suas capacidades cognitivas expandidas, as relações uns com os outros tendem a tornar-se mais estruturadas e mais estáveis por que não mais colaborativas. A afetividade, assim, gera autonomia, pesquisa, conhecimento, interesse, afetividade, em uma espiral contínua e inacabada. No âmbito da educação não há atos de inteligência, mesmo de inteligência prática, sem interesse no ponto de partida e regulação afetiva durante todo o processo de uma ação, sem prazer do sucesso ou tristeza no caso do fracasso. Os não há atos de inteligência, mesmo de inteligência prática, sem interesse no ponto de partida e regulação afetiva durante todo o processo de uma ação, sem prazer do sucesso ou tristeza no caso do fracasso. Os aspectos afetivos devem ser considerados tão importantes quantos aspectos cognitivos

Referencias Bibliográficas:

ESPÍNDOLA, Matilde. http://www.espirito.org.br/portal/palestras/piaget/afetividade.html, acessado, no dia 14/10/08.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando Introdução à Filosofia.. 3. Ed. São Paulo, 2003.


Autor: Lindací Alves de Souza Scagnolato


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