O PAPARAZZO E DONA SAÚVA



Era uma vez uma formiga operária chamada Saúva Porcristus. Como o seu nome diz, ela era uma tremenda trabalhadora de todas as horas (como o povo diz, pau pra toda obra), além de ser uma serva de Jesus, salva pelo sangue do Cordeiro derramado na cruz.

Um belo dia ela ia atravessando uma grande ponte (na verdade o enorme tronco de uma árvore caída na floresta) e, no meio do caminho, pousou um grilo falante com crachá de jornalista cristão. Como ele já vinha de microfone ligado, dona Saúva imediatamente soube que ele queria fazer-lhe mais uma das suas intermináveis entrevistas, que a floresta inteira já conhecia. Assim sendo, ela deixou claro para ele que aquela seria uma entrevista curta, pois ela estava com pressa para um serviço de emergência no formigueiro da cidade.

Então começou o grilo (cujo nome era Kid Papus):

KP – Dona Saúva. Estamos publicando uma entrevista com crentes num grande jornal nacional e o seu nome foi escolhido por sabermos que você é uma cristã genuína, que além da fé inabalável em Cristo, tem também um dos melhores testemunhos de vida entre os salvos por Jesus. Então, a Sra. aceita conceder uma palavrinha para o nosso jornal?

SP – Sim. Claro. E alguma vez alguém pode recusar-lhe uma entrevista?...

KP – Pois bem. Trata-se da simples pergunta: a Sra. diz que está salva. Então explique: por que você está salva?

SP – Em primeiro lugar a pergunta não é simples, e por isso minha resposta também não vai ser simples. Eu estou salva porque Deus me ama.

KP – Mas, é só isso?... Ora, se é só isso, então TODOS estão salvos porque Deus ama a todos!

SP – Sim. Deus ama a todos. Mas você não deixou eu completar minha resposta. Eu sou salva porque Deus me ama e porque eu amo a Deus!...

KP – Ah! Êpa! Espera aí: mas como o seu tão minúsculo coração pode significar alguma coisa para Deus, já que Ele não precisa de nada e muito menos de nós pobres mortais? (Ora, se o maior de todos os amores angélicos não passa de uma migalha insípida para Deus, como o amor frágil e até certo ponto imundo de uma formiga poderia ajudar na sua salvação?)...

SP – É justamente aí que a barata se esconde! E só posso explicar a sua ignorância por um erro lógico de sua teologia. Veja. Deus é, além de onipotente, onisciente e onipresente, o grau mais elevado, aliás, o infinito, da humildade! E então cabe a você me responder agora: O que interessa infinitamente à humildade perfeita?

KP – É. Creio que estou começando a ver agora. A humildade perfeita não se interessa por pompas e templos suntuosos, feitos por mãos humanas! Tá escrito no início do sermão profético.

SP – Sim. A humildade infinita prefere uma igrejinha pobre e mal pintada. Assim, ela se compraz perfeitamente com amores frágeis, pobres, precários e sem brilho, do tipo que homens ricos e anjos rebeldes desprezariam. Então posso dizer que Ele se alegra de receber o mínimo de quem só pode dar o mínimo, mas faz desse mínimo a alavanca do ágape e o vínculo da perfeição! É muito diferente de quem pode dar mais e só dá o mínimo: Não estou falando disso. Estou mostrando que o gigantesco amor do coração de um anjo, que tem tanta luz que ilumina seu sidéreo inteiro, tem o seu lugar e é bem-vindo com toda alegria; mas o tênue amor do coração de uma pulga, cuja luz é tão ínfima que aparenta externar o inferno, satisfaz de modo particular o infinito coração, pois a ausência total de arrogância na alma de Deus fá-lo desejar ser amado por umas débeis criaturinhas como as pulgas e as formigas. É a mesma coisa que acontece com o louvor. Você pensa que os louvores das grandes orquestras de adultos "tocam" mais a Deus do que o louvor baixinho e desafinado de um menininho pobre que mal sabe falar? Ora; pense em qual louvor agradaria mais a humildade infinita! Você já havia pensado nisso?

KP – Puxa! É verdade. Então Deus também leva em conta o nosso amor?...

SP – Claro! É a única parte que nos cabe! Pois isto faz parte da "mecânica" ou da infra-estrutura do amor, que não satisfaz quando não é recíproco. Um amor sem liberdade não pode ser amor, e só a liberdade dá ao amor uma qualidade do próprio Deus, que é a voluntariedade. Deus não desejaria nem veria valor algum num amor escravizado, que o amasse por obrigação. Então, quando amamos a Deus estamos dando a Ele a única coisa que Ele não teria se não existíssemos ou se não fôssemos livres. De fato, Ele não precisa de nada, de absolutamente nada, mas por seu infinito amor e humildade, passou a desejar receber algo que Ele só teria se viesse de uma criatura, e de uma criatura livre. Portanto em nós se realiza a perfeita exceção cósmica, pois somos a única coisa que Ele deseja e que não pode realizar sozinho!... Você enxerga um milagre maior do que Ele nos criar com livre-arbítrio?

KP – Mas os cristãos vivem dizendo que a salvação depende apenas dEle; e também está na Bíblia que todas as nossas obras são trapo de imundícia!...

SP – De fato, nada que eu faça alcança a infra-estrutura de Deus. Neste sentido, tudo o que eu faço é realmente inútil. Mas Ele tinha um desejo e um objetivo maior ao planejar a Criação: ser amado por alguém que não fosse Ele mesmo. Então, como esse amor poderia se realizar, a não ser vindo de fora dEle, por alguém que O amasse espontaneamente? Ou então, como esse amor poderia se traduzir, a não ser em atos exteriores a Ele? Não foi Ele quem disse que uma árvore boa produz bons frutos?... Mas cuidado! Veja que a árvore boa vem antes dos bons frutos! Assim sendo, é preciso que cheguemos a ser bons por dentro para poder darmos a Ele o amor que Lhe vale a pena. Os frutos nada são sem a árvore boa.

KP – E como se tornar uma árvore boa? Alguém pode se tornar bom apenas pela fé?

SP – É aqui que a coisa "pega". Eu lhe disse que não poderia lhe conceder uma entrevista maior porque estava com pressa. E avisei também que a resposta não era simples.

KP – Mas, por favor! Só essa. Por favor. Prometo encerrar aqui...

SP – Uma árvore não se torna boa facilmente. Comece lembrando que quanto mais alta a árvore, maior a queda. Quando nós pecamos, caímos tão fundo no lamaçal da presunção que seria preciso Deus anular a lei do livre-arbítrio para impedir a nossa 'desintegração' ou atrofia anímica. Mas Ele não faz isso. Ele não desobedece as próprias leis que cria. É o pecador quem precisa, voluntariamente, dar a si mesmo as condições de qualidade necessárias ao amor desejável por Deus. Então ele precisa ir nutrindo sua alma das virtudes que a qualificam até alcançar o ponto onde consiga amar a Deus com o ágape, e esta "nutrição" se dá pela transformação do coração de pedra em carne.

KP – E como se transforma pedra em carne?

SP – É preciso ser algo diário, seqüenciado e contínuo, até "viciar" a alma na prática das virtudes, de tal modo que ela, enfim, se torne boa, de tanto praticar a bondade. E só há um meio de fazer isso: é tomando as decisões certas na vida, ou melhor, é fazendo as boas escolhas que o destino oportuniza a cada alma, ao invés das más escolhas. Assim, desta feita e com efeito, aquele coração vai ficando a cada dia melhor, a cada dia mais semelhante ao seu salvador, até ao ponto de retribuir-LHE o amor que fez valer todo o sacrifício da cruz!... Você compreendeu agora?

KP – Sim. E me dou por feliz... Feliz de poder ouvir isso neste mundo, pois o que se ouve por aí a 3x4 são os defensores das boas ações dizendo que as obras salvam e os defensores da fé dizendo que a Graça dispensa o amor a Deus! Sim. Só agora começo a entender porque a Escritura diz que "o amor cobrirá multidão de pecados" e porque Jesus disse "aquele que muito amou muito se perdoará". Esta entrevista foi a melhor porque ela vai aferventar as discussões que meu editor pediu para o nosso jornal. Muito obrigado por dar-me um pouco do seu tempo e perdão por retardar a sua tarefa. Tudo de bom, siga em paz, e até outro dia.

SP – Ok. Eu também lhe agradeço. Fique com Deus. Tchau-tchau.

Prof. João Valente de Miranda.


Autor: João Valente


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