Extravase suas emoções



Dia desses eu ouvi a seguinte frase recorrente entre os profissionais de Recursos Humanos: "o colaborador é contratado pelas sua habilidade técnica, mas acaba sendo demitido pelas sua inabilidade emocional".

E essa é a mais dura realidade. O componente emocional é hoje tanto um critério de desempate entre dois bons candidatos numa seleção, quanto um dos principais motivadores para um desligamento.

Mas por que será que é tão difícil para o ser humano lidar com suas próprias emoções?

Talvez um dos principais culpados é que somos ensinados desde o primeiro ano de escola que devemos reprimir nossos sentimentos para facilitar nossa aceitação pela sociedade.

Felizmente essa visão equivocada do papel das emoções está mudando.

Pesquisas recentes comprovam a importância do reconhecimento e da expressão das emoções - até as negativas. Levantamento da Harvard Medical School, dos Estados Unidos, concluiu que quem reprime frustrações tem três vezes mais chances de se tornar vulnerável no trabalho.

Outro estudo realizado nos Estados Unidos pela Columbia Business School, pela California University e pela Duke University defende que as emoções podem ser mais confiáveis do que a razão em momentos de decisão. Publicada no mês passado, a pesquisa O papel das emoções nas escolhas sustenta que os sentimentos são um conjunto de programas que nos ajudam a resolver problemas recorrentes, como por quem vamos nos apaixonar ou se devemos escapar de um predador.

A apologia à racionalidade ignora o poder dos sentimentos. São eles que levam o indivíduo à ação, permitem sonhar, possibilitam o afeto, a generosidade e conduzem o mundo às grandes mudanças ideológicas

Um estudo do ano passado do departamento de psiquiatria da Wisconsin University, nos Estados Unidos, comprovou que os tímidos são mais suscetíveis ao stress. A dificuldade em colocar para fora os sentimentos os torna mais ansiosos, mesmo em situações simples e seguras.

Há uma certa unanimidade sobre os benefícios da expressão de emoções positivas, como felicidade, amor, alegria, prazer, entusiasmo. Mas, quando se fala em raiva, ódio, angústia, mágoa, ressentimento, há um consenso implícito de que elas devem ser escondidas, evitadas. As pesquisas estão derrubando esta crença e os psicólogos afirmam que as emoções negativas têm o seu valor.

Além disso, já é consenso que os muito racionais perdem grandes oportunidades. É a emoção que nos ajuda a enxergar os caminhos alternativos aos problemas. Não é como age boa parte das profissionais. Uma pesquisa realizada com 1.503 latino-americanas entre 18 e 35 anos, encomendada pela Rexona e recém-divulgada, revela que 65% procuram deixar de lado as emoções no trabalho. As brasileiras são as mais racionais: 83% agem desta forma.

Nas grandes empresas, a emoção é um ativo valorizado hoje em dia, um dos pontos altos dos questionários de avaliação.

Pesquisa da Universidade de Economia de Washington, nos Estados Unidos, confirma a tendência e mostra que os emocionalmente ambivalentes são mais inovadores. Após entrevista com 140 estudantes, o estudo indicou que quem tem emoções positivas e negativas ao mesmo tempo é mais criativo do que quem se sente apenas feliz ou triste ou não sente nada. Isso ocorre porque as pessoas ambivalentes desenvolvem habilidades criativas para lidar com o ambiente", acredita a autora do estudo. A sensibilidade para reconhecer associações pouco usuais, dificilmente detectadas pelos muito felizes ou tristes, é o que favorece a criatividade no trabalho.

Portanto, para usar a letra de uma música da moda: "Extravase" (mas não exagere).

Bibliografia:
Revista Isto É, edição 2.054 de 25 de março de 2009


Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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