Comemorando 15 anos do Plano Real
Quem tem menos de 30 anos talvez não se entenda que houve uma época em que os preços aumentavam 1,5% ao dia - quase três vezes a inflação de fevereiro. Os supermercados punham funcionários a remarcar o valor dos produtos praticamente de hora em hora. Em dezembro de 1993, um alimento comum na mesa dos brasileiros, o tomate, registrou um reajuste de preço recorde de 100%.
Era a inflação, verdadeiro sumidouro de dinheiro que corroía salários e consumia cifras assustadoras da riqueza nacional. Em 2009, o dragão da inflação é uma realidade contada apenas em livros de história, a ponto de apagar-se da memória coletiva. O mérito por esta proeza foi do Plano Real, que foi o único programa anti-inflacionário que obteve o êxito de controlar a inflação e estabilizar a economia.
De 1986 a 1994, foram seis tentativas de conter a inflação: Cruzado 1 e 2, Bresser, Verão, e Collor 1 e 2.
Implantada em três etapas, a estabilização se iniciou em junho de 1993. O Programa de Ação Imediata (PAI) foi a medida para a redução e organização dos gastos da União, primeiro passo na arrumação da casa.
Em um segundo momento, já em 1994, veio o golpe de mestre na inflação com a desindexação dos preços. Seu nome era URV (Unidade Real de Valor) e serviu de referencial de valores até a desmonetização da velha moeda (o cruzeiro real). Salários, contratos e preços foram fixados por este indexador publicado diariamente com base em uma cesta de índices e muitos cálculos. Finalmente, em 30 de junho de 1994, foi editada a medida provisória 542, a MP do Plano Real. Pela primeira vez em 60 anos, o dinheiro nacional não começava com a letra "C".
O Real estabilizou a economia e resgatou o papel da moeda. As três funções básicas do dinheiro, unidade de conta, reserva de valor e meio de pagamento, haviam se perdido.
Mas os anos do Real não foram um mar de rosas, muito longe disso. O Brasil teve que recorrer por três vezes ao Fundo Monetário Internacional enquanto enfrentava as crises cambiaisque partiram do México, da Ásia, da Russia e do próprio país, em anos alternados.
Em todas as crises o Brasil enfrentou o ataque voraz dos especuladores porque não dispunha de reservar internacionais e estava atrelado a uma política cambial que valorizava o real em relação ao dólar. Hoje existe um certo consenso que o plano exagerou na âncora cambial e acabou deixando o País muito vulnerável.
Livros sobre a época contam que, em outubro de 1994, o câmbio provocou uma forte discussão interna entre os membros da equipe econômica Gustavo Franco e Pérsio Arida, ex-presidente do BNDES. "Você está maluco, esse processo de valorização tem que parar", dizia Arida de um lado. Do outro Franco argumentava que uma desvalorização do Real implicaria a volta da inflação.
Hoje Franco, Malan e FHC admitem que o câmbio poderia ter sido menos valorizado, para desgosto dos exportadores brasileiros, os mais atingidos com um real forte em relação ao dólar.
Outro ponto fraco do plano foi a questão dos juros. A média da taxa Selic na gestão FHC (1995-2002) girou em torno dos 26,5%. Nos momentos mais críticos a taxa de juros chegou a incríveis 54% ao ano.
Embora depois de 15 anos a polêmica sobre os juros pareça ser a maior consequência das mudanças promovidas pelo Real, é preciso lembrar que o País cresceu quase 47% de 1994 a 2008.
Discussões econômicas e filosóficas a parte, é certo que o Brasil foi dormir de um jeito em 26 de fevereiro de 1994 e acordou um país completamente diferente no dia seguinte.
Bibliografia:
Revista Isto É Dinheiro, edição 599 de 1 de abril de 2009
Revista Isto É, edição 2.055 de 1 de abril de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto
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