Com crise ou sem crise: preserve os talentos



Em momentos de crise financeira como o atual, em que as companhias reforçam a equação do “mais com menos”, o valor de um colaborador mais talentoso aumenta consideravelmente.

Se é preciso cortar custos e enxugar os quadros, a prioridade deveria ser manter os quadros mais qualificados.

Analisando os números recentes de demissões no Brasil, que até pouco tempo se vangloriava de estar blindado contra a crise, roram 600 mil desligamentos em dezembro passado, recorde histórico para um único mês. Setores da indústria, principalmente montadoras de automóveis e siderúrgicas, estão na ponta dessa onda de desligamentos motivada por ajustes de caixa alegadamente “necessários e inevitáveis”.

Uma questão é: até que ponto os cortes vêm sendo feitos de maneira criteriosa?

A prática de sacar a tesoura e cortar a folha de pagamentos pode até resolver um problema pontual, mas produz efeitos colaterais perversos, como a deterioração do ambiente de trabalho e a motivação dos funcionários. Quando um bom profissional vai embora, a organização perde conhecimento, capital intelectual e domínio de processos. O principal erro que uma companhia pode cometer é fazer ajustes sem uma análise prévia da área escolhida e sem questionar a escolha feita.

É necessário considerar outro fator conjuntural que começa a impregnar o cenário corporativo: a perspectiva de uma agenda negativa que deverá incluir, nos próximos meses, o aumento da jornada de trabalho e o acúmulo de funções, justamente em função do enxugamento dos quadros. Haverá a busca incansável de práticas que possibilitem manter a produtividade com um contingente reduzido.As empresas vão priorizar profissionais com capacidade de exibir uma visão mais abrangente e apurada do negócio.  Em tal cenário, os mais qualificados têm maiores chances de sobrevivência.

Um estudo do Boston Consulting Group chamado Creating People Advantage, feito com 4,7 mil profissionais em 83 países, revela que um dos principais tópicos da agenda executiva nos próximos anos é engendrar todos os esforços para desenvolver e reter os indivíduos de alto potencial – independentemente da função ou cargo que ocupem em qualquer um dos níveis da organização.

Administrar corretamente o capital humano é condição fundamental não somente para superar situações de crise mas também para gerar futuros dividendos. Nos cálculos de bens intangíveis, a força intelectual aparece como fator determinante de competitividade, resultando na valorização de suas ações no mercado.

Em uma palestra recente na Universidade de Miami, Jack Welch, ex-CEO da GE, forneceu conselhos sobre como um presidente de empresa deve lidar com as dificuldades da crise mundial. Entre as recomendações, citou a necessidade de os líderes se comunicarem “como nunca” com os seus melhores profissionais. Eis os conselhos de Welch:

1) Tenha certeza de que você está cuidando direito de seus talentos;

2) Não se esconda em sua sala e procure visitar a mesa de trabalho dos comandados;

3) Fale com os funcionários o tempo todo. Diga qual o papel deles nesse momento, quais os planos da empresa e aquilo que você tem em mente para cada um quando a crise passar;

4) Transmita segurança;

5) Explique a razão por trás de cada decisão tomada;

6) Faça cada executivo entender que uma determinada tarefa lhe foi confiada porque ele é, sem dúvida, o mais apto a executá-la e

7) Procure entender que quando os talentos se sentem bem cuidados dificilmente aceitam propostas da concorrência.

Outro aspecto importante que não pode ser esquecido o estímulo à inovação. Líderes, daqui para a frente, deverão encorajar mais a criatividade, os debates e o compartilhamento de ideias entre os funcionários de vários níveis. Trata-se de uma medida imprescindível para a manutenção de um quadro qualificado. Você já deve ter presenciado, na sua empresa, uma nova ideia ser fuzilada sem o menor critério de avaliação – simplesmente porque ela parece de difícil execução (ou porque não foi o chefe que pensou nela antes). Para cada ideia criativa descartada, há um criador imaginando se vai ou não se arriscar a oferecer outras. Isso acaba por inibir as cabeças pensantes. Daí à fuga de talentos é um pulo. As respostas das empresas a todos esses anseios terão de ser certeiras, sob pena de ver aumentar consideravelmente o índice de rotatividade.

Bibliografia:
Revista Época Negócios, edição 24 de fevereiro de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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