REFLEXÕES ACERCA DAS CONTRIBUIÇÕES DE LABOV.



Willian Labov ocupou-se com estudos voltados para a relação entre língua e sociedade, com a intenção de sistematizar as variações existentes na língua falada por meio de pesquisas que consideram fatores extralingüísticos, tais como classe social, idade, sexo, escolaridade, entre outros que pudessem demonstrar a interdependência entre o conteúdo lingüístico dos falantes e o meio social em que vivem.

Essa concepção se consagrou a partir de sua primeira pesquisa, realizada em 1963, na Ilha de Martha's Vineyard, no Estado de Massachusetts (EUA), na qual passou a investigar sobre o inglês falado naquela ilha, constatando por meio da Teoria da Variação, e utilizando um método, até então inédito, para ressaltar o papel crucial dos fatores sociais na explicação da variação lingüística: o método teórico-metodológico, que propõe analisar e interpretar os fenômenos lingüísticos no contexto social por meio de estatísticas.

A pesquisa consistiu em desmitificar a tese que relaciona a privação lingüística às dificuldades de aprendizagem escolares, das minorias étnicas desfavorecidas e estigmatizadas socialmente, com o objetivo de demonstrar, por meio da Sociolingüística e a Teoria da Variação, as possibilidades de relacionamento entre a estrutura lingüística e os fatores empíricos que constituem e atuam sobre o domínio da língua.

A Ilha de Martha's foi escolhida por Labov, por se tratar de uma comunidade separada do continente norte-americano, além de apresentar uma complexidade social e geográfica, no sentido de possuir um registro de resistência lingüística, mantendo muitas características antigas e, provavelmente, típicas da Inglaterra do século XVIII, ainda preservadas depois de muitas gerações.

A ilha é, basicamente, dividida em duas partes: uma com características rurais, composta de fazendas, casas de veraneio isoladas, além de algumas aldeias indígenas. A outra, é composta por três pequenas cidades, uma área um pouco mais urbana, de um modo geral. Para Labov, o cenário cotidiano dos indivíduos participantes/objetos da pesquisa, é fundamental, haja vista a importância do estudo lingüístico por meio da prática oral cotidiana, particularmente da fala espontânea, natural, reveladas e estabelecidas das diversas formas lingüísticas, no momento da interação entre os grupos sociais.

Neste trabalho de pesquisa, a proposta de Labov era, primeiramente, contribuir para o entendimento dos mecanismos que revelam a variação lingüística, através da reconstrução sistemática da história da mudança sonora da comunidade da Ilha de Martha's, relacionada a história das mudanças sociais ocorridas naquela comunidade. Em outras palavras, até que ponto a mudança dos costumes sociais ocorridos na comunidade, seja por meio de influências extralingüísticas individuais (idade, sexo, escolaridade), ou por meio de influências político-sociais (religião, culturas externas).

Para alcançar tal objetivo, Labov valeu-se de uma característica lingüística muito freqüente, porém, pouco aparente para os falantes, no que diz respeito à consciência de variação durante a conversação espontânea entre eles: a centralização dos ditongos (ay) e (aw). Por esse motivo, o estudioso programou entrevistas nas quais induzia os entrevistados a falar palavras que corriam o uso dos ditongos (ay) e (aw), de forma casual, tanto na fala monitorada, quanto na leitura especial, utilizada na prática escolar, como um teste de habilidade de leitura que continham tais ditongos, além de induzir respostas que pudessem revelar seus julgamentos de valor e orientação social. Além das entrevistas também foram observadas a comunicação em ambientes casuais como, bares, ruas, lojas, etc.

Em conclusão, observou-se a ocorrência da centralização moderada das vogais (ay) e nenhuma centralização em (aw), fato que é uma importante prova de que, em Martha's Vineyard, há uma notável herança fonética dos colonos de Yankees, do século XVII, além de demonstrar que o uso centralizado ou não dos referidos ditongos, eram, de forma inconsciente, a maneira que determinados moradores tinham de se reafirmarem como nativos, renegando a pressão social feitas pelas culturas dos visitantes e veranistas, ou a revelação, também inconsciente de outros, de insatisfação, seja pela vontade de deixar a ilha, ou pela vontade de evoluí-la equiparando-a as outras cidades norte-americanas. Para Labov, os falantes nativos assumiam posturas lingüísticas que demarcavam sua identidade cultural.

A grande contribuição das idéias labovianas é, sem dúvida, o avanço dos estudos sociolingüísticos. A importância de estudar a língua como objeto de construção social, considerando a singularidade do ser humano, tanto como a língua. O respeito as variações sociais, regionais, geográficas, sem estigmas de "certo" e "errado" e sim, conferir a língua como o estudo do discurso enquanto expressão lingüística e social no ato da comunicação. Segundo Labov, o que sabemos, é que aprendemos as variedades às quais somos expostos e não há nada de errado com elas.


Autor: Rubens Camelô


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