À maneira pós-moderna: a crise do significado



 

Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo

que não sabemos ou sabemos mal?É necessariamente neste ponto

que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso

próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância

e que transforma um no outro. É só deste modo que somos determinados a escrever.

Gilles Deleuze

Diferença e repetição

 

 

 

 

À MANEIRA PÓS-MODERNA: A CRISE DO SIGNIFICADO

 

O que é o pós-modernismo? Ora, se não é esta era na qual estamos imersos, alienados e exaustos com a crise existencial da ruputura-significado.

Um signo é tudo aquilo que descrevemos, vemos, pensamos, falamos, representamos. E ele basicamente é formado por duas partes: significado e significante. Os conceitos de significado e significante podem ser melhor explicados nesta metáfora: duas faces de uma mesma folha de papel, o conceito (significado) é o anverso, a imagem acústica (significante) o verso; não se pode cortar um sem o outro. O significado é aquilo que é "dizível" e o significante é uma definição que não se pode separar do significado.

E neste século XXI, presenciamos uma carência do significado para quase todos os discursos vitais; saúde, moda, economia, política etc. Pense na cor vermelha de um semáforo, ela é o significante e o "pare" é seu significado.

Muitas coisas que presenciamos no âmbito da arte são simulacros, ninguém cria mais. Engraçado que com a virada da modernização para a pós-modernidade houve um aumento do poder de criatividade, mas será para qual favor estará sendo utilizada essa 'criatividade'? Deixo aí essa questão para você responder, ok?

O pós-modernismo depende de um modo particular de interpretar, experimentar e ser no mundo – o que nos leva talvez ao que seja a mais problemática faceta do

pós-modernismo: seus pressupostos psicológicos quanto à personalidade, à motivação e ao comportamento. Em oposição ao modernismo, no qual predomina a alienação e a paranóia, o pós-modernismo é marcado pela esquizofrenia como desordem lingüística, como ruptura na cadeia dos significados. Quando essa cadeia se rompe, temos a esquizofrenia na forma de uma reunião de significantes distintos entre si e sem relação entre si, ou sem significados.

Esta falta de correlação dos significantes ocasiona a ruptura-significante também. Já não basta não ter significado para as coisas, como também ter uma crise de significantes. Isto é lógico, se não tem mais significado a cor vermelha do sinal, não há motivos de tê-la mais como cor vermelha, melhor, não precisamos mais do objeto (o semáforo), que é o terceiro fator de composição da tríade semiótica.

Diferença esquemática entre modernismo e pós-modernismo
Modernismo/ Pós-Modernismo
Simbolismo/ Dadaísmo
Forma/ Antiforma
Propósito/ Jogo
Projeto/ Acaso
Hierarquia/ Anarquia
Presença/ Ausência
Centralização/ Dispersão
Paranóia/ Esquizofrenia
Seleção/ Combinação
Significado/ Significante
Metafísica/ Ironia

Ao analisarmos o esquema acima, podemos chegar a uma conclusão de que a crise do significado está implícita no pós-modernismo porque nesse movimento há sempre e constante um jogo que não é arquitetado, ele acontece como por acaso, se esse existe, e é anárquico, com apelo de um discurso da ausência a seu favor. Isto causa esquizofrenia, e quando falo de esquizofrenia aqui, se refere resumidamente a uma frase do filósofo Gilles Deleuze: "não há nada para explicar, para compreender, para interpretar." Isto é esquizofrenia, e é isto o que o capitalismo vêm causando às pessoas.

Muito facilmente os sujeitos inseridos na sociedade capitalista, possuem certas facilidades para consumir desenfreadamente objetos, e muitos deles sem utilidades alguma. O capitalismo cega o homem, o consome e o torna em ser super-consumidor sem explicação, sem compreensão, sem interpretação. É como chegar num shopping após ter recebido o salário e entrar na primeira loja, digamos que ela seja de roupas, e comprar mais uma peça de roupa sem necessidade.

Em nossa época pós-modernista, a moda varia de um dia para o

outro, assim como continuam a crescer o uso de drogas pesadas, o suicídio e desequilíbrio emocional. Tudo isto porque a pós-modernidade tem uma característica básica, senão a principal, que é a ausência de significado para a vida.

Nessa sociedade invertida, a solução para o massivo uso alienado e induzido de drogas é um bloqueado na mídia, com resultados tão embaraçantes quanto às centenas de milhões de gastos fúteis. Enquanto isso a TV, que é a voz e a alma do mundo moderno, sonha em vão atrair a atenção ao crescimento da ignorância e do que restou da saúde emocional através de propagandas de trinta segundos ou menos. Na cultura industrializada de depressão irreversível, do isolamento e do cinismo, o espírito será o primeiro a morrer, e a morte do planeta será apenas uma lembrança tardia. Assim será, ao menos que apaguemos essa ordem podre, com todas as suas categorias e dinâmicas. Como diria Edgar Morin, 'este é o espírito do tempo' e com ou sem significante e significado, a sociedade chegou num ponto crucial. O que faremos? Você tem a solução?


Autor: Fernando Raine


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