Manifesto de uma nova consciência



Em meio a um mundo que pede socorro, acuado diante de uma humanidade que esbanja alta periculosidade em todos os sentidos, novos paradigmas, visões de mundo e pensamentos vêm florescendo, sendo cultivados e discutidos por pessoas que querem o quanto antes salvar o planeta libertando-o da maldade que as sociedades humanas transformaram em convenção sociocultural e acordar o máximo possível de pessoas de modo que freiem o quanto antes o processo de autoindignificação e destruição própria e adjacente do qual vêm participando sem questionar.

Entre essas novas formas de pensar o planeta e a participação do ser humano na vida terráquea, destaco o que chamo de nova consciência, me arriscando a lançar este manifesto por um novo conjunto de ideias, ideais e hábitos socioculturais.

Demandando uma reforma no pensamento humano contemporâneo referente aos mais diversos âmbitos, como meio ambiente, relação humana com outros animais, educação, relações interétnicas e internacionais e responsabilidade sociopolítica cidadã, essa consciência vem sendo defendida parcial ou integralmente por um número crescente de pessoas que passaram a enxergar o quanto é destruidor o comportamento de várias maiorias sociais e agir em prol da divulgação desse novo jeito de viver e pensar.

Não é à toa que os pensadores da nova consciência anseiam, ainda que pacientes, a propagação dessa mudança, uma vez que muitos motivos inspiram urgência nessa reforma massiva de valores preconizada:

- O ambiente natural da Terra vem sofrendo horrores. A própria existência da humanidade aproxima-se de caracterizar por si só uma catástrofe. As sociedades urbano-industriais atuais ainda não sabem pensar ecologicamente, sendo generalizados os mais diversos costumes perniciosos.

Dos mesmos, são exemplos os desmatamentos para fins de expansão rural e urbana, poluição atmosférica cuja emissão poucas famílias ou indivíduos pensam em moderar, lançamento despreocupado de lixo no chão e em corpos d'água, cumplicidade dos consumidores para com corporações antiecológicas, etc. A humanidade é uma espécie de vírus HPV do planeta, um causador do fenômeno que chamo ecocâncer.

- A relação da espécie humana, mesmo em suas culturas mais avançadas tecnologicamente, com os animais não-humanos é tragicamente monstruosa, havendo toda a espécie de manifestações para a malignidade e bestialidade antrópicas, muitas vezes travestidas de ciência ou sofisticação.

São praxe as violências que abrangem da agressão gratuita de bichos em casa e nas ruas até o verdadeiro holocausto não-humano promovido em granjas, fazendas, fazendas-fábrica e tanques de aquicultura, passando por pseudoesportes como rodeios e vaquejadas, pesquisas científicas de vivissecção, coisificação da vida animal através de sua comercialização e massacres pesqueiros em corpos d'água. O fim em si mesmo dos animais não é reconhecido.

- O pensamento popular de partes significantes da população de muitos países, como EUA, Rússia e Israel, simpatiza a violência, as armas e a guerra, de modo que governantes belicistas e antidiplomáticos são eleitos sem dificuldades, o que demonstra o abraço a valores extremamente perversos que barram grande parte dos esforços de pacificação regional e global.

- As relações internacionais na atualidade costumam ser marcadas por tensões, impasses e deficiências de integração. Acordos mundiais dos mais diversos temas são descumpridos. O nacionalismo fanático ainda é forte em muitos países, acirra parcelas de certos povos à arrogância de superioridade patriótica e estimula a desunião e desarmonia entre as etnias do mundo.

- O capitalismo como conhecemos hoje vem patrocinando e motivando diversos abusos do ser humano contra o próprio ser humano. O comportamento consumista e os interesses econômicos provocam a semiescravidão nas indústrias de muitos países, limitam o interesse popular sincero de superar a estrutura de desigualdades sociais extremas e potencializam o efeito ecocâncer.

Não há uma disposição generalizada, nem dos ricos cuja maioria prefere que tudo continue como está, nem mesmo dos mais pobres castigados pelo infortúnio de terem nascido em classes socioeconômicas mais desfavorecidas, mas apenas vontades vagas e utopias, de reformar profundamente o capitalismo ou pensar e desenvolver um terceiro sistema econômico distinto dele e do malfadado socialismo.

- A alienação e o conformismo são adotados como filosofia de vida em países como Brasil e EUA. A consciência social torna-se algo raro nessas nações e manifestações cobrando mesmo o respeito a direitos básicos são menos que esparsas nas cidades. Atrações culturais de massa são veneradas em detrimento do debate sociopolítico. Patologias sociais gravíssimas crescem sem nenhum impedimento de uma população que não sabe ser cidadã.

As pessoas preferem se alienar e se abster de opinião sobre a repressão imposta a grupos étnicos e sociais, a opressão contra animais humanos e não-humanos, o peso das estruturas socioeconômicas no meio ambiente local e global e outros assuntos de extrema mas rebaixada importância.

- Há um sério desequilíbrio entre o senso de individualidade e o de coletividade na população de muitos países, causando um individualismo que alcança níveis pandêmicos e status de patologia social e inibe seriamente a disposição das massas populares à cidadania e aos protestos;

- O hedonismo deixou de ser uma opção inofensiva à sociedade e hoje adquire níveis muitos destrutivos. Diversos estilos musicais em vários países exploram letras que induzem a comportamentos irresponsáveis e nocivos, como alcoolismo, imprudência sexual, banalização do desrespeito mútuo e infidelidade conjugal, além de encorajarem implicitamente a alienação. Drogas como cigarro e álcool são muito populares, apesar de todas as histórias de pessoas que tiveram mortes precoces e muito sofridas por causa do seu consumo ou das implicações violentas desencadeadas pela alteração de comportamento característica da embriaguez.

- Não há zelo nem respeito à educação por parte da maioria das pessoas. Mesmo os métodos pedagógicos majoritários hoje contribuem mais para a alienação e a perpetuação da idiocracia social do que para a formação de pessoas conscientes e aptas a fazer a diferença positiva no mundo. Alunos(as) e professores(as) não parecem almejar melhorias em sua relação nem ajustes que tornem a escola e a universidade instrumentos reformadores de paradigmas e valores, derrubadores de mitos e promotores do pensamento intensivo.

- O lado nocivo das religiões tem grande adesão da população humana ao redor do planeta. Patologias sociais por elas pregadas como fanatismo, machismo, intolerância interreligiosa, homofobia, especismo e escravidão mental não são questionadas por quem abraça de forma imoderada uma fé e, em nome dela, rejeita a Razão e o pensamento livre e sóbrio.

- Diversos outros valores venenosos estão entranhados desde no comportamento social até mesmo na intelectualidade. Dois exemplos respectivos mais notáveis são a apreciação popular da violência através dos meios de comunicação de massa e a consideração do homem como ser humano padrão em detrimento do valor representativo da mulher.

Enfim, o que não falta no pensamento humano atual, em grande parte dos paradigmas vigentes, são valores absurdos e violentos tratados como normais, corriqueiros e até prazerosos. Comportamentos que, apesar de extremamente prejudiciais e destrutivos, estão enraizados no dia-a-dia da maioria das pessoas. Critérios morais que não condizem com o bem comum e com a ética. São, afinal, males graves que, em vez de serem dedicadamente evitados e combatidos pelas sociedades, são abraçados e adotados como parte preciosa da vida das mesmas.

Com um panorama tão sombrio, em que a humanidade mostra não ter aprendido a respeitar nem a si própria, quanto mais a outros seres vivos, e grande parte dela parece gostar de viver às custas de muita miséria de outrem e destruição, é absolutamente impossível ou inviável falar de paz.

As mesmas pessoas que adotam tantos paradigmas venenosos ainda têm uma ilusória esperança de que, mesmo sem mudarem mísero um por cento de seu comportamento, a espécie humana vai sobreviver ao tempo, resolver magicamente todos os problemas e entrar num período de harmonia eterna.

Também cultivam ilusórias perspectivas de prosperidade global, como se a população humana mundial pudesse alcançá-la sem deixar de ser capitalista como hoje, consumista e tão perdulária. Imaginam a economia mundial resolvendo num passe de mágica todas as suas limitações, mesmo sem mudar suas estruturas que hoje fomentam as injustiças, as desigualdades sociais e o caos ambiental, e alcançando um florescimento perpétuo. Pensam assim muito embora não façam a mínima ideia de como esse verdadeiro paradoxo encontraria condições de acontecer.

Pergunta-se com certa frequência: o mundo do jeito em que se encontra atualmente tem condições de alcançar paz e prosperidade? A nova consciência vem derrubar os mitos que geram a mentira do "sim" e responde enfaticamente que não, que nada vai melhorar enquanto não forem invertidas muitas das visões de mundo, valores, pensamentos e comportamentos que hipnotizam a maioria dos seres humanos.

Tal inversão é fundamental para que enfim haja perspectivas reais, em vez de ilusórias, de paz e prosperidade global para a humanidade e para o restante da biosfera, de modo que os dois bens se tornem enfim uma possibilidade evidente.

Para que paz e prosperidade sejam valores realmente possíveis, a nova consciência – que não tem um nome oficial, sendo simplesmente, como se autoexibe, uma nova consciência –, definindo-se basicamente como uma nova forma de pensar o mundo e a participação individual e coletiva do ser humano nele, torna-se imprescindível.

Pensá-la e adotá-la é aceitar prontamente a função de pessoa desperta; de cidadão; de sujeito ecológico; de pacifista; de defensor do respeito a todas as formas de vida senciente; de militante polivalente cuja vida traz para o universo o bem e a edificação, em vez de custo negativo e destruição; de educador extraescolar e educando de mente aberta; de inimigo da alienação e de pensamentos que atrofiem o pensamento, o intelecto e o potencial de agir positivamente.

Entendê-la é tanto abrir os olhos para a nocividade e insustentabilidade dos paradigmas, valores e ações vigentes para a maioria da população, os quais tantos(as) pensam e praticam atualmente como se fossem normais, regozijáveis, positivos e prazerosos, como compreender que existe uma outra forma possível de compreender o mundo, comportar-se e viver bem.

Aliás, enxerga-se que não há como viver bem alheando-se dos problemas nos quais a humanidade se envolve e adotando uma vida sustentada num falso conforto o qual só existe graças à predatoriedade e à alienação.

Desafiando e questionando uma miríade de paradigmas, essa crescente corrente de consciência defende visões éticas bastante – se não totalmente – diferentes, mais lúcidas e que oferecem um modo de vida muito mais saudável e compatível com nossa inteligência, racionalidade, bom senso e potencial de fazer o bem. Para cada âmbito, há valores a serem preconizados, que podem variar ligeiramente entre as pessoas mas cujos detalhes mais consensuais estão resumidos abaixo:

a) Meio ambiente: deve ser tratado como o mais importante dentre todos os âmbitos que sentem ou promovem a ação humana, acima de todas as demais questões. É ele que possibilita e permite nossa sobrevivência, mais essencial ainda que qualquer questão econômica, social e política.

Deve ser visto como um todo que envolve humanidade e natureza – ambientalismo globalizante –, não como algo separado de nossa vida cotidiana e reduzido aos ambientes naturais – pensamento naturalista –, por mais urbano, moderno, industrial e distante de paisagens verdes que seja nosso habitat, ou como um mero anexo de usufruto humano – antropocentrismo ambiental.

Em vez de o ambiente dever ser "adequado" às necessidades socioeconômicas humanas, o contrário deve prevalecer, embora devam ser evitadas atitudes extremistas e abruptas que visem a restauração de ecossistemas mas provoquem colapso social e desgraças econômicas irreversíveis.

O meio ambiente deve ser enxergado como algo passível dos cuidados de cada indivíduo, grupo social e sociedade, desde os detalhes mais simples e locais, como o abrir de uma torneira e o plantio de uma unitária árvore, até as questões globais de longo prazo, como a interferência das atividades antrópicas nas dinâmicas climáticas do planeta e os impactos de um sistema econômico global como o capitalismo na biosfera como um todo.

Cada indivíduo deve procurar melhorar sua interação com o ambiente desde os mais simples e negligenciados atos, como o banho, o acender de luzes e a escolha do combustível do carro. Faz-se recomendável a busca por educação ambiental, o que pode incluir da procura pelo esclarecimento de dúvidas simples sobre como proceder em certa ocasião até a pesquisa voluntária sobre como repensar os hábitos mais complicados. Propagar os conhecimentos adquiridos para outras pessoas, pelo boca-a-boca, também é uma atitude de importância máxima.

b) Direitos Animais: a vida de cada animal deve ser vista como um fim em si mesmo, não como se tivesse uma função utilitária atribuída pelo ser humano. Quanto mais visar a libertação dos animais não-humanos da exploração imposta pelo mesmo, quanto mais distante da visão de que eles existem para nos servir, tanto mais próxima da excelência ética é a visão relativa a Direitos Animais por parte da pessoa.

O respeito por todas as formas de vida senciente e o compromisso de evitar todas as mortes evitáveis de animais é regra. Isso inclui a adoção do veganismo como hábito moral de consumo, alimentar ou não; a oposição declarada a todas as formas de exploração animal, seja por diversão ou por pesquisa científica, e a adoção de animais domésticos em lugar da compra, com a devida vacinação, castração e trato com amor legítimo.

Nos casos em que o boicote vegano total tende ao impossível, como quando, por motivos de doença, síndrome ou lesão, se depende de determinado medicamento cujo princípio ativo havia sido testado em seres não-humanos antes de sua comercialização, deve haver uma compensação, a qual pode ser praticada como educação bioética boca-a-boca ou ativismo de rua, que faça pressão sobre a indústria farmacêutica e as instituições científicas de modo que desenvolvam com mais prioridade, ou importem, métodos alternativos de pesquisa livres de exploração animal.

c) Cidadania: o engajamento social por uma vida urbana e/ou rural melhor é uma ordem moral. Alienar-se dos problemas sociais, políticos e culturais do habitat – do bairro até o planeta – não é uma opção válida para quem pensa com a nova consciência. Valem as mais diferentes formas de ativismo: manifestações de rua, participação em debates sociais e políticos, escrita de artigos em jornais, revistas e sites, criação de abaixo-assinados, contato frequente com personalidades políticas, participação ativa em ONGs, boicotes, campanhas educativas, assistência social, fomento a atividades de arte, lazer e esporte, etc.

O(s) meio(s) de exercício da cidadania é/são da escolha do(a) cidadã(o) e depende também de sua disponibilidade de horas vagas – ou mesmo do próprio emprego que exerce, caso seja escritor, sociólogo, economista, advogado, assistente social ou algum outro cargo de maior envolvimento social.

Ser uma pessoa legitimamente engajada tem como interesse principal promover o bem comum. Ganhar dinheiro com tais ações, em vez de objetivo máximo, é uma consequência, ou no máximo um co-objetivo caso o engajamento seja inerente ao emprego.

A nova consciência também apregoa a participação política e o voto consciente.

d) Direitos humanos e trabalhistas: o ponto da cidadania estende-se a esta questão, com a adoção de medidas que visem proteger os direitos das pessoas, desde na comunidade local até no outro lado do planeta. Valem muitas das mesmas iniciativas já citadas, com destaque aos boicotes, dotados de um potencial de forçar empresas e governos estrangeiros a ajustarem sua conduta, sob pena de perda de receita financeira e respeito e credibilidade mundiais.

Atualmente os governos de vários países são rechaçados por negligenciar ou mesmo promover abusos aos direitos humanos e trabalhistas. Ditaduras oprimem povos inteiros, calam a livre expressão, interditam a liberdade e reprimem violentamente protestos e oposições; corporações proveem condições estruturais e salariais degradantes, muitas delas utilizando mão-de-obra infantil e reprimindo greves. Atos como o boicote enfraquecem o poder maléfico de tais entidades.

e) Cultura de paz: recomenda-se abraçar a não-violência, opor-se às culturas majoritárias que fazem apologia à violência. Muitas pessoas esclarecidas questionam desde a exaltação da pancadaria nos meios de comunicação de massa até costumes pouco contestados, como a veneração de hinos cívicos belicistas, passando pelo hábito de "resolver" problemas interpessoais pela agressão física e/ou verbal.

Políticos que exaltam a guerra e as armas e ridicularizam a diplomacia, como aqueles frequentemente eleitos em países como EUA, Israel e Rússia, são opções desconsideradas nas eleições.

f) Vida saudável e rejeição ao hedonismo: adotantes da nova consciência rejeitam vícios como cigarro e o álcool excessivo – muitos preferem ser abstêmios mesmo de cerveja. Adotam tal rejeição não porque "seu movimento desaconselha o uso de drogas" ou porque "a religião não permite", mas sim porque têm zelo próprio à sua vida, adotando a boa saúde, a vida saudável, por princípio pessoal, por discernimento próprio, de forma autônoma. Sexo não é tabu, mas faz-se questão de usar preservativos.

Também rejeitam viver tendo como fim principal os prazeres autodestrutivos, o hedonismo suicida. Antes de pensar em "prazeres" nocivos, dignificam a vida salutar e enxergam-se como pessoas úteis à sociedade, que precisam viver muito para cumprir o máximo possível de feitos benéficos.

g) Religião, Razão e livre-pensamento: não precisa ser vedada a religiosidade, mas deve sê-la sim a escravidão mental e a cegueira intelectual causadas pelo seguimento do lado nocivo das religiões. Ser um(a) religioso(a) lúcido(a) não é um mal, muito embora um número crescente de pessoas a abraçar a renovação de valores veja nas crenças religiosas nada além de um mero aparato artificial e perigoso de controle social e autoamparo psicológico, cujas divindades são apenas personagens de mitos.

A religião não deve bloquear a Razão e o livre-pensamento e deve-se vedar a reprodução dos comportamentos ditados pelo lado mau das religiões, tais como fanatismo, discriminação, intolerância, segregação e apologia à guerra.

h) Educação: bem sagrado da humanidade, deve ser sempre apologizada. Sempre que puder, o(a) cidadã(o) deve lutar, à sua maneira, por uma educação mais decente e competente universalizada. Também pode buscar inspiração pela leitura de livros relativos à educação, para poder sugerir transformações no ensino.

i) Outras questões: a nova consciência trata de forma crítica e não-convencional questões que até certo tempo atrás passavam despercebidas, como a consideração indevida do homem como ser humano padrão.

Os princípios acima são os mais comuns e a pessoa pode incluir em adição seus próprios pontos adicionais de atitude em prol do bem comum. A nova consciência não é uniforme e dogmática nem possui valores inquestionáveis e imutáveis, embora certos princípios que visam a promoção de uma cultura de paz, o respeito às formas de vida senciente e outros quesitos relativos ao bem comum sejam vistos, cedo ou tarde, como os mais coerentes.

Pensar em uma visão tão nova, embora proporcione uma importante reconfiguração positiva e tão avançada de nossa função individual e coletiva como parte integrante da sociedade e da biosfera e nos traga uma satisfação enorme, uma paz de espírito, uma sensação feliz de que estamos contribuindo muito mais para um mundo muito melhor, é algo precedido de uma assimilação difícil, vinda de um longo processo de conscientização e esclarecimento.

A nova consciência, assim como acontece com qualquer corrente filosófica, religiosa, política, ideológica ou de pensamento, precisa ser divulgada, explicada e esclarecida. Conscientizar é a atitude mais importante ao lado da própria adoção dos novos valores. É um ato que deve ser feito com sabedoria, prudência e, enfatize-se, paciência.

Recomenda-se não fazer proselitismo com seus valores e esperar que as pessoas os aceitem sem questionamento. Não é de uma crença mística que a consciência se trata, mas sim de um convite ao pensamento racional, lógico, coerente e questionador dos paradigmas em vigor. O que podemos fazer é mostrar a ideia e deixá-la ser entendida e avaliada pelo interlocutor. É apontar para a porta certa e dizer: "O caminho recomendado é esse. Cabe apenas a você escolher se vai ou não passar por ela algum dia. Minha função foi só mostrá-la para você."

As melhores formas de fazer isso são introduzir os assuntos devidos em momentos muito pertinentes, como em uma discussão saudável grupal ou uma conversa a dois, e propagar a ideia por escrito, via blogs, sites especializados e jornais permissivos.

Os meios de comunicação mais usados para essa divulgação são a internet e os livros, além da transmissão oral de pessoa a pessoa entre parentes, amigos e colegas, das manifestações de rua e dos debates realizados diante dos olhos e ouvidos de uma audiência. Quanto aos debates, é muito difícil que a batalha argumentativa mude os valores do debatedor reacionário de forma direta, mas há uma eficiência, aumentada quando o portador da nova consciência está em vantagem na qualidade dos argumentos expostos, em convidar os que assistem ao debate à reflexão sobre os paradigmas, valores e comportamentos que adotam.

Muito dificilmente podemos contar com a mídia convencional – emissoras de TV aberta, jornais e revistas de grande circulação e grandes portais de internet – para esse trabalho, uma vez que interesses publicitários e alianças político-econômicas inibem a propagação do novo pensamento por ela.

Outro ponto bastante raro é a divulgação de todos os temas tocados pela nova consciência num só livro ou site. Costuma-se fazer a conscientização fragmentada, através de veículos especializados – blogs de Direitos Animais, livros feministas, sites de suporte à cidadania, etc.

Contando-se com todos esses veículos alternativos, não é mais difícil como poucas décadas atrás divulgar essa vanguarda de valores. A parte mais complicada, no entanto, é obter mesmo a simpatia da maioria da população. Para muitos temas, o reacionarismo é fortíssimo.

Deboches, desdéns e até reações ofensivas são muito frequentes. Em menor quantidade estão aqueles que demonstram boa receptividade – concordando totalmente, parcialmente ou discordando com respeito – e arriscam contra-argumentar de forma racional quando não concordam com algo.

Quando um artigo tematizado em algum setor mais polêmico da nova consciência é publicado em um veículo que permite muitos feedbacks, como um blog muito visitado, a reação de grande parte das pessoas é considerá-lo ridículo ou tolo ou reafirmar os valores dogmáticos aprendidos em vida.

Por exemplo, quando o veganismo é divulgado em certo blog ou roda de conversa, é frequente ver vários leitores ou participantes dizendo que "comer carne é importante", "estamos seguindo a cadeia alimentar", "testar produtos e remédios em animais é muito necessário", "certos animais nasceram para servir ao homem (sic)" e outras afirmações que se configuram como dogmas inquestionados.

Vários outros que não possuem laços de simpatia com o argumentador tentam desqualificá-lo taxando sua ideia de ridícula, sentimentalista, tola, estúpida e outros impropérios e também, não raramente, com ofensas à pessoa do autor, numa tentativa de proteger com a força bruta seus tão tradicionais e prazerosos costumes – exemplo dos churrascos e da apreciação do sabor das carnes.

É de se relevar que os âmbitos do pensamento da nova consciência não são igualmente polêmicos. O teor de estranhamento pode ser medido pela força da proposta de rompimento dos paradigmas e costumes em vigor que o tema preconiza. Quanto mais radical é a ruptura apregoada, como o veganismo em relação à alimentação onívora enraizada nos hábitos socioculturais e o ateísmo discutido numa comunidade de muitos crentes em um deus pessoal, mais negativas e desdenhosas são as reações.

Tais reações adversas e agressivas a um valor que propõe inverter a tradição podem ser comparadas à época primordial da arte do Modernismo no Brasil e às artes de vanguarda pré-modernista na Europa. A população amante das belas artes, acostumada com o Parnasianismo, manifestou uma enorme rejeição. No Brasil, vaias se alternavam com aplausos na Semana de Arte Moderna e escritores pré-modernistas ou parnasianos esculhambavam a nova corrente artística. Na Europa da primeira metade do século 20, as vanguardas chocavam muito mais que encantavam.

Ao longo dos anos, o advento das vanguardas e o surgimento do Modernismo foram sendo reconhecidos como revoluções artísticas e ganharam a simpatia de grande parte da população admiradora da literatura e das belas artes. Assim também está acontecendo cada vez mais com a percepção da nova consciência por parte das pessoas.

Tentar desqualificar pela força da emoção ou por contra-argumentos conservadores a ideia "estranha" é a reação mais comum das diversas sociedades ao lidarem com um valor de vanguarda. Mas em grande parte das pessoas a ficha cai, ainda que leve anos. A demora e a gradualidade na assimilação dependem da receptividade do indivíduo a novas convicções inteligentes e da força do seu apego às tradições que as mesmas querem derrubar.

O envolvimento parcial de uma pessoa em uma causa incluída na nova consciência também termina levando-a à adesão completa aos novos valores e comportamentos do tema. É o caso de muitos defensores animais: começam defendendo a integridade física e a guarda responsável de bichos domésticos e fazendo oposição a pseudoesportes cruéis e terminam, depois de certo tempo de exposição a discussões sobre o veg(etari)anismo pelos animais, simpatizando-se com o veganismo e finalmente aderindo a ele, ainda que resistam à ideia por alguns meses ou anos.

Deve-se considerar também que hoje ainda é rara a adesão a todos os âmbitos listados da nova consciência. O mais comum é ver pessoas iniciando nela, ainda aderindo aos valores de apenas um ou dois temas. É muito frequente ver, por exemplo, uma vegana feminista não pensar no quesito da cultura de paz ou um cristão lúcido, adepto da não-violência e militante contra a alienação ainda consumir ovos e laticínios.

Não é, no entanto, um motivo de preocupação ou lamento, ainda mais quando consideramos que a vanguarda consciente ainda está nos seus primeiros tempos e tem muitos anos e décadas pela frente para crescer e ser totalmente aderida por mais e mais cidadã(o)s.

Embora a pressa do planeta, da humanidade e de bilhões ou trilhões de vidas não-humanas em ver a expansão da nova consciência seja uma realidade inquestionável e uma pressão imensa, ainda assim é necessária a paciência em sua propagação, nos esforços de esclarecimento das sociedades.

Não é nada fácil mudar valores, costumes, tradições e comportamentos culturais de bilhões de pessoas. Mas esse é um desafio que todos os que clarearam suas mentes e abraçaram um modo não-violento, engajado, ético e igualitário de viver e pensar aceitam, uma missão que se comprometem a cumprir com responsabilidade, sabedoria e amor. Quanto mais seres humanos entenderem e assimilarem a nova consciência, mais aliviado e melhor será este mundo.


Autor: Robson Fernando


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