A CONSTRUÇÃO DO PSIQUISMO



INTRODUÇÃO

A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da nossa vida e é um processo dinâmico em que intervêm diferentes fatores.Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de nos  tornar únicos em nossa maneira de ser e de desempenhar nosso papel social.

O vínculo entre mãe e filho é a fonte de onde irão provir, depois, todos os futuros vínculos que se estabelecerão pela criança e que constituirão a relação a ser formada durante o curso de vida da criança. Para toda a vida, a força e a qualidade deste laço influirá sobre a qualidade de todos os futuros vínculos que serão estabelecidos com as outras pessoas de seu convívio.

 
Capítulo 1 UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA

O homem tem cada vez mais conhecimento e controle sobre o mundo ao seu redor, mas se afasta cada vez mais de seu mundo interior. Ao mesmo tempo em que tem o desejo de ser o ápice e a finalidade da criação de todas as coisas, o que lhe daria o direito a ser o senhor de tudo, descobre que é mais infantil do que consegue suportar. O homem, imagem e semelhança de seu criador, recebe um primeiro golpe em seu inflamado ego, quando copérnico diz que o planeta em que vivemos além de não ser o centro do universo, é apenas um minúsculo ponto desse universo, igual a milhões de outros pontos. Não bastando essa destituição de senhores do universo, Charles Darwin destitui também o homem de seu reinado sobre os outros animais da terra, quando demonstra em sua teoria da evolução das espécies, que o nosso parentesco com os primatas é mais próximo do que o nosso arde superioridade gostaria que fosse. Restou ao homem, como último refúgio de seu ego ferido, voltar-se a si mesmo, como o único animal racional sobre a face da terra, o único que pauta sua vida sobre bases lógicas, e que implementa modificações em seu meio, buscando o aprimoramento de sua espécie.Para nossa angústia, e destruição final de nossa idéia de sermos a espécie escolhida para a perfeição, Freud descobre em seus estudos que não somos senhores nem de nós mesmos, que somos regidos pelos nossos sentimentos e pensamentos mais primitivos, e que não temos nenhum controle sobre esses sentimentos e pensamentos, restando-nos apenas o consolo de aprendermos a conviver com os mesmos.

Consideramo-nos seres evoluídos, capazes de vivermos em sociedade, construtores de civilizações, mas precisamos de normas externas a nós mesmos para que seja possível a convivência com nosso semelhante. Ensinamos nossos filhos a conhecer e a dominar as forças da natureza, mas não os ensinamos a conhecer e dominar a si mesmos.

1.1 Evolução biológica dos comportamentos humanos

O modo de vida caçador-coletor predominou por mais de 99 por cento da evolução humana, por este motivo, pode ser considerado o berço evolutivo do Homo Sapiens, ou seja, o contexto no qual o homem moderno foi selecionado e para o qual exibe adaptações naturais. Há 10 milhões de anos , período quaternário da era cenozóica , iniciou-se uma era de mudanças ambientais, associada a um processo de evolução por seleção natural, que culminou nas adaptações hominídeas conhecidas pelo termo hominização. Por hominização entende-se o processo através do qual os nossos antepassados pré-hominídeos, que nos são comuns com os antropóides, adquiriram características anatômicas e fisiológicas próprias dos hominídeos, até chegar ao Homo sapiens. Alterações ambientais e hominização interagiram, originando as formas mais complexas de comportamento.

O sucesso evolutivo de um indivíduo não depende somente de suas habilidades de sobrevivência ou reprodução, mas também da produção de descendentes que cheguem à vida adulta e se reproduzam. No caso do gênero Homo, como geralmente nascia apenas um filhote por prole, o investimento parental se tornava fundamental para o sucesso da espécie. E como então surgiu o investimento paterno nos cuidados da prole? Um dos fatores que pode estar relacionado é a perda dos indicadores de cio na fêmea. Assim, para que um macho tivesse garantias de paternidade, e então fosse vantajoso cuidar do filhote como um meio de perpetuar seus genes, era necessário que estivesse sempre perto da fêmea para garantir que nenhum outro copulasse com ela, e ele não cuidasse do filhote de outro. Mas isto não aconteceu de uma forma tão simples. Era necessário que o macho não soubesse quando do período fértil da fêmea e assim se mantivesse sempre perto dela. Desta forma, por seleção natural, a fêmea foi perdendo as características que indicavam seu período fértil, como o inchaço nos lábios vaginais e o cheiro característico pela liberação de hormônios que atraía o macho para a cópula. Com isto, a fêmea estava sempre pronta para a atividade sexual, garantindo a presença do macho e sua ajuda no cuidado dos filhotes. Além disso, como em diversas espécies monogâmicas, uma receptividade sexual permanente por parte da fêmea , e não somente durante o período fértil, favorece a permanência do macho, já que este tem menos informações sobre períodos reprodutivos. Mesmo assim, dentre os mamíferos, a espécie humana é uma das poucas espécies em que o macho apresenta investimento parental direto na prole.

Em comparação às outras espécies de animais, o ser humano é o que nasce menos maduro e o que demora mais para se desenvolver. Devido a isso, o comportamento de apego também leva mais tempo para aparecer do que nos outros animais. De forma geral, bebês de três meses de idade já respondem à mãe de maneira diferente e o comportamento de apego é desenvolvido por toda infância. O comportamento de apego na vida adulta é uma continuação do comportamento desenvolvido na infância. Vários estudos demonstram que os principais vínculos estabelecidos na primeira infância vão se estender por toda vida do indivíduo. A qualidade do cuidado vindo da mãe ou do principal cuidador, pode proporcionar condições mais favoráveis nos aspectos físico e afetivo-social da criança. A estimulação das relações interpessoais na infância é de suma importância, pois, ao se relacionar com adultos, com pares ou com animais, a criança adquire habilidades sociais de convívio como afeto, respeito e cuidado. O desenvolvimento do apego seguro é um indicativo para bom prognóstico de desenvolvimento infantil.

O amor parental é influenciado por vários indicadores provenientes dos pais, dos filhos e da situação, como o grau de certeza do parentesco genético pai-filho, certos atributos fenotípicos da criança, indicadores situacionais da aptidão da criança, das alternativas reprodutivas da mãe e oportunidades de investimento do pai e da mãe. Nota-se, portanto, que há vários determinantes biológicos e culturais para o investimento parental. Os estudos sobre o desenvolvimento de apego entre as sociedades coletoras são bastante sugestivos da rede afetiva humana básica e do valor adaptativo do apego.

Nossa mente se desenvolveu para resolver problemas dos nossos antepassados caçadores e coletores do pleistoceno. Foi o modo de vida deles que forjou grande parte das estruturas mentais que dispomos hoje, porque aquilo que conhecemos como história, em termos biológicos, representa umas poucas gerações, o que não é suficiente para gerar e consolidar as adaptações necessárias à vida social. As características funcionais complexas da mente humana se desenvolveram como respostas às demandas do estilo de vida de caçadores e coletores, mais do que nos dias de hoje.

1.2 O surgimento do vínculo afetivo

Até agora, explicitaram-se apenas os aspectos evolutivos e parentais da relação pais-filhotes. No entanto, o bebê, de maneira alguma, é um ser passivo. É importante salientar que, enquanto um comportamento modifica o ambiente, este ambiente modifica o comportamento. Assim, quando a mãe age sobre o bebê, modifica-o, e, conseqüentemente, o bebê agirá sobre a mãe, também modificando-a, e será nessas constantes relações que se dará o envolvimento afetivo.

Segundo Schaffer, doutora em psicologia da educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, citada por Cecília Casali Oliveira, no artigo "O apego infantil", o comportamento de apego tem uma função biológica específica de sobrevivência individual e da espécie. O comportamento de apego com a mãe - cuidadora principal - é mais precoce, mais intenso e mais sistemático, mas é uma resposta que se estabelece também com outros adultos familiares, que se constituem figuras secundárias de apego. Entre 6 e 9 meses há o reconhecimento do pai e a manifestação do comportamento de apego ligada a ele. Além do pai, crianças mais velhas, mesmo crianças pré-escolares, tornam-se figuras de apego secundárias. Quanto maior o número de figuras de apego da criança, mais intenso seu apego à mãe como figura principal.

Até o terceiro ano de vida da criança esses sistemas comportamentais continuam sendo facilmente ativados; a partir disso são ativados com menos facilidade e passam por outras mudanças durante a infância.

De acordo com Leakey, paleantropólogo britânico, citado por Plínio Marco de Toni, da Universidade Federal do Paraná, no artigo "Etologia humana - o exemplo do apego", em comparação com os demais primatas, "o período de gestação do Homo sapiens, cuja capacidade cerebral média é de 1.350 cm3, deveria ser de 21 meses e não de 9 meses como na verdade o é" (p. 53). Esta diferença de um ano no desenvolvimento torna o recém-nascido humano frágil, comparado com neonatos de outras espécies, mesmo os demais primatas. Salienta também que, em virtude da fragilidade ao nascer, os mamíferos necessitam de cuidados e proteção contra predadores por um período mais longo. No caso da espécie humana, tal fragilidade exige cuidados parentais ainda mais prolongados, e tanto o nascimento do apego quanto o desenvolvimento da instituição familiar têm suas origens neste artifício da natureza. Por uma questão de sobrevivência, maior investimento parental foi exigido e, ao contrário de muitas outras espécies, a presença fundamental do macho reprodutor também.

Como isso não devia ser muito fácil num ambiente hostil como eram as savanas africanas, então, mais uma vez, os processos de seleção natural voltam a agir. Para garantir os cuidados da mãe, e sua conseqüente sobrevivência, os bebês passam a apresentar mais persistentemente, durante o curso de sua infância até mais ou menos o início da vida adulta, formas características do início de seu desenvolvimento. Isto é conhecido por neotenia. Essa foi uma das formas que a natureza encontrou para manter as mães mais próximas de seus filhotes por períodos maiores, garantindo sua sobrevivência por uma atração inata para essas características. Considerando que nos primatas a reprodução se caracteriza por nascimentos de poucos filhotes e grande investimento parental e/ou grupal em cada filhote, o sucesso de nossa espécie só foi possível pela evolução de padrões comportamentais maternos e/ou paternos compatíveis com o aumento da demanda de cuidados da prole.

Dizer que um padrão de comportamento é produto de seleção natural, é o mesmo que dizer que este padrão foi selecionado por ter apresentado conseqüências adaptativas. Admite-se, por exemplo, que tenha ocorrido pressão seletiva sobre os padrões humanos de vinculação afetiva. No meio ambiente em que foi selecionado, o apego típico humano deve ter conferido vantagens de sobrevivência aos indivíduos, de tal modo que acabou sendo moldado geneticamente na espécie. A função do apego tem sido pensada em termos da proteção de predadores, da oferta de cuidados proporcional ao nível de imaturidade e de dependência dos bebês e da garantia de convivência sistemática com adultos representativos de uma determinada cultura, essencial à evolução cultural humana.

Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO

A conduta humana pôde ser melhor entendida a partir da aplicação das Teorias Etológicas, que traduziram os conceitos evolucionistas biológicos em termos de conduta. Quando John Bowlby, psiquiatra inglês, estudou o vínculo entre mãe e filho, concluiu que essa ligação era parte de um sistema de comportamento que servia à proteção da espécie, já que os bebês humanos são indefesos e incapazes de sobreviver sozinhos por um longo período de tempo. Deste modo, o apego dos bebês às suas mães ou cuidadores, é o que possibilitaria a sobrevivência da espécie. Dentre as muitas contribuições que as pesquisas em etologia trouxeram ao estudo do desenvolvimento humano, uma delas foi a de que em alguns períodos da vida, os indivíduos estão mais sujeitos a serem influenciados por determinados fatos, que em outros.

Muitos estudiosos acreditam que a formação do vínculo de apego começa antes mesmo do nascimento do bebê. Sabe-se que antes da concepção e durante a gestação, existem fatores influenciando a formação do vínculo, como por exemplo:

- O desejo inconsciente dos pais com relação ao desenvolvimento dos seus papéis de pai e de mãe;

- A existência do bebê enquanto possibilidade;

- A qualidade da relação do próprio casal.

2.1 O surgimento do apego

Foi Bowlby o primeiro a tratar do tema apego e vínculo. Para ele, o comportamento de apego mãe-bebê teria surgido para garantir proximidade segura entre adulto e bebê e é provocado pelo bebê desde seus gestos iniciais. É importante deixar claro que a vinculação afetiva não é somente o resultado automático da fisiologia, pois somos seres biologicamente culturais. O apego garante a proteção do bebê, mas é a interação entre mãe e filho que garante a construção do vínculo afetivo. Investigações minuciosas do comportamento de crianças pequenas têm revelado a presença de adaptações naturais para a interação social e para a formação de vinculações afetivas.

O apego está intimamente ligado ao investimento parental, e dele não pode ser dissociado, pois é a partir dos sinais emitidos pelo bebê e da resposta dos pais a ele que se forma o vínculo. Não se pode pensar um sem o outro. Como mostrado no exemplo acima, nota-se que o bebê age sobre o adulto e este responde ao bebê de uma forma que vai aumentando a vinculação afetiva pelas constantes respostas, pois, segundo John Bowlby, psiquiatra e psicanalista inglês , citado por Plínio Marco de Toni, um dos fatores determinantes para o surgimento e manutenção do comportamento de apego é a rapidez com que o adulto responde ao bebê e a intensidade da interação.

O comportamento de apego, além da função de proteção, propicia ao bebê uma série de interações sociais que colaboram para um desenvolvimento saudável da criança, além de lhe proporcionar oportunidades de treinar seus comportamentos sociais e perceber as modificações dele no meio. Assim, é graças a esta proximidade mãe-bebê que este terá oportunidades de ver e explorar o mundo de uma maneira segura, e assim desenvolver seu cérebro, aprender com os outros de sua espécie e sentir-se parte dela e seguro nela a partir do amor de seus pais.

Quanto mais forte o vínculo inicial mãe-bebê, maior a probabilidade de a criança tornar-se independente no futuro, pois é o apego seguro que permite a criança aventurar-se de maneira confiante no mundo. A mãe tem uma importância fundamental neste processo de formação de vínculo, pois a interação não acontece apenas de um dos lados, tanto a mãe quanto a criança se auto-estimulam a partir do contato que estabelecem e há uma receptividade da criança para a mãe. Segundo Bowlby, um vínculo bem formado vai proporcionar à criança segurança e bem-estar, e por isso este laço afetivo tem que ser estável e harmônico, sem ameaças questionadas. O vínculo é de importância vital já para o feto, pois precisa se sentir desejado e amado para propiciar a continuação harmoniosa e saudável de seu desenvolvimento.

A partir da primeira relação, segundo Bowlby , no artigo "Etologia humana - o exemplo do apego" de Plínio Marco de Toni, estabelece-se no indivíduo um modo de funcionamento, Modelo Funcional Interno. A criança que tem em sua experiência um modelo seguro de apego vai desenvolver expectativas positivas em relação ao mundo, acreditando na possibilidade de satisfação de suas necessidades. Já uma outra, com um modelo menos seguro, poderá desenvolver em relação ao mundo expectativas menos positivas.

2.2 O surgimento do vínculo afetivo

Muitos pesquisadores encontram no vínculo uma maneira particular pela qual o indivíduo se relaciona com o outro , criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento. Sendo assim, não existe um tipo único de vínculo, pois todas as relações estabelecidas com o mundo são mistas. Considera-se dois campos psicológicos no vínculo: um externo e outro interno, ou seja,a forma particular que o indivíduo tem de se relacionarconsigo mesmo e com as imagens internalizadas.

O aspecto fundamental da tese de Bowlby é de que existe uma forte relação causal entre as experiências de um indivíduo com seus pais e sua capacidade para estabelecer vínculos afetivos, e que certas variações comuns dessa capacidade, manifestam-se em problemas conjugais e em dificuldades com os filhos, assim como nos sistemas neuróticos e distúrbios de personalidade.

Segundo Bowlby (1990, p.),

[...] todo ser humano já nasce propenso a estabelecer fortes vínculos afetivos. Essa capacidade no entanto, pode ser diminuída devido a fatores externos que impedem ao bebê desempenhar esse potencial com as pessoas que o cercam. A capacidade é inata, mas precisa ser estimulada adequadamente para que se concretize[...].

2.3 A importância da relação familiar para a formação do vínculo

Ontem como hoje, a família não pode deixar de ser a estrutura fundamental que molda o desenvolvimento psíquico da criança, uma vez que é, por excelência, o local de troca emocional e de elaboração dos complexos emocionais, que se refletem no desenvolvimento histórico das sociedades e nos fatores organizativos do desenvolvimento psicossocial. Por isso, torna-se importante o estudo das eventuais variações psicológicas provenientes das modificações decorrentes no agregado familiar, sem desprezar o enquadramento espacial do mesmo: o meio físico, cultural e social.

Segundo as psicólogas Ferrari e Vecina, citadas pela psicóloga Rosana Luíza Destro Keppe, no artigo "A compreensão dos pais sobre a agressividade de seus filhos", o processo familiar e de sociabilização infantil, que tem início nas primeiras fases de seu desenvolvimento e segue ao longo da vida, é realizado e compartilhado por dois ou mais adultos, pois as crianças necessitam confirmar os conceitos que foram transmitidos, auxiliando-as na internalização daquilo que lhe está sendo ensinado. A criança necessita de uma figura afetiva estável, onde esta desempenha o papel de mediador da construção de sua identidade. Seu processo de identificação será conturbado, se neste contexto familiar que a recebe não for continente e protetor. Um bom vínculo entre pais e filhos, uma relação de confiança, espontaneidade e transparência, só são possíveis se cada um dos componentes dessa interação, puder realizar uma aprendizagem emocional satisfatória.

2.4 O vínculo mãe-bebê

A relação mãe – bebê se inicia com uma forte necessidade de contato entre ambas as partes. Progressivamente, tanto o bebê quanto a mãe vão ampliando suas relações, o pai por exemplo entra em jogo e essa díade inicial vai sendo rompida. Com a maturação, o bebê começará a ter condições de substituir a mãe concreta pela capacidade de recriá-la em suas fantasias e brincadeiras , desde que, tenha sido possível internalizá-la, ou seja, guardar dentro de seu universo mental uma imagem da mãe que possa ser relembrada, quando esta não estiver concretamente presente.

O sentimento do bebê em relação a seus pais é um apego, na medida em que ele sente nos pais a base segura para explorar e conhecer o mundo à sua volta. O sentimento dos pais em relação ao filho é mais corretamente descrito por vínculo afetivo, já que os pais não experimentam um aumento em seu senso de segurança na presença do filho, e tampouco o filho tem para os pais a característica de base segura.

Segundo Winnicott, também citado porRosana Luíza Destro Keppe, no artigo "A compreensão dos pais sobre a agressividade de seus filhos", a infância é um processo gradual de formação de crenças em pessoas e coisas, e esse período é elaborado aos poucos, através de experiências satisfatórias onde algumas necessidades são atendidas e justificadas, e de experiências ruins, onde a raiva, o ódio e a dúvida também podem surgir. Sendo assim, a criança tem que encontrar um lugar onde possa agir e a partir do qual possa construir um método pessoal para conviver com seus impulsos destrutivos. Ele diz também que uma criança normal emprega os recursos que a natureza lhe ofereceu para defender-se contra a angústia e os conflitos que não tolera, enquanto que uma criança não normal revela-se na limitação e na rigidez dessa capacidade.

A maioriadas pesquisas sobre apego e vínculo afetivo concentram-se na primeira infância e nas primeiras relações mãe-filho.Brazelton, pediatra português, citado por Maria Inês de Souza Gandra, do departamento de pediatria da Universidade Federal de São Paulo, em "A importância do apego no processo de desenvolvimento", descreve o vínculo afetivo entre pais e filhos como um processo contínuo que se inicia na gestação e vai se formando na medida em que as interações vão ocorrendo. Com o desenvolvimento das capacidades de locomoção, as crianças vão aos poucos distanciando-se da mãe, voltando sempre a procurá-la quando algo novo acontece no ambiente, e retomando suas atividades de exploração quando novamente sentem-se tranqüilas.

O vínculo entre mãe e filho é a fonte de onde irão provir, depois, todos os futuros vínculos que se estabelecerão pela criança e que constituirão a relação a ser formada durante o curso de vida da criança. Para toda a vida, a força e a qualidade deste laço influirá sobre a qualidade de todos os futuros vínculos que serão estabelecidos com as outras pessoas de seu convívio.

O sentimento e o comportamento da mãe em relação a seu bebê são também profundamente influenciados por suas experiências pessoais prévias, especialmente as que teve, e talvez ainda esteja tendo, com seus próprios pais. É este padrão de relacionamento parental que dará origem à forma como ambos os pais irão vincular-se ao filho, provendo ou não suas necessidades físicas e emocionais.

Nos primeiros estágios de desenvolvimento, uma ajuda contínua que em sua maior parte venha de uma só pessoa, parece ser essencial para que o desenvolvimento tenha sucesso. Neste contexto, a mãe seria a pessoa mais adequada para exercer esse papel, já que nenhuma outra mulher está tão pronta a se dedicar e entender as reais necessidades do bebê, tanto físicas quanto emocionais. Desde que o bebê nasce, a mãe procura estabelecer com o filho um modelo de comunicação, no qual busca compreender suas sinalizações.

Supõe-se que a falta de um vínculo significativo na primeira infância comprometerá os futuros relacionamentos desta criança, uma vez que na falta deste não terá como internalizar uma experiência gratificante e repetir o padrão satisfatório aprendido com outros indivíduos.

Klein, psicoterapeuta austríaca, citada por Juliana Alencar de Souza, Psicóloga, Especialista em psicologia da saúde; docente da Faculdade de Ciências Empresariais e Estudos Costeiros de Natal -FACEN e do Instituto Natalense de Educação Superior no artigo "A formação do vínculo afetivo: A questão do apego", ao falar do bebê e suas emoções, diz que o primeiro objeto de amor e ódio do bebê é sua mãe, ou seja, é ao mesmo tempo desejado e odiado com toda a intensidade. No início, ele ama a mãe assim que ela satisfaz suas necessidades de alimentação, que alivia suas sensações de fome e lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua boca é estimulada pelo sugar do seio. Essa "gratificação" faz parte da sexualidade da criança, é na realidade sua expressão inicial.

Mas quando o bebê sente fome e seus desejos não são gratificados, ou quando sente dor ou desconforto físico, então toda a situação subitamente se altera. Nele surgem sentimentos de ódio e ele se vê dominado pelos impulsos de destruir a pessoa mesma que é objeto de todos os seus desejos e que sua mente está ligada a tudo o que ele experimenta - seja de bom ou de mau. O meio imediato e primário para aliviar este bebê desses estados dolorosos de fome, ódio, tensão e medo é a satisfação de seus desejos pela mãe.

Este, para quem a mãe é antes de tudo apenas um objeto que satisfaz a todos os seus desejos, começa a corresponder a essas gratificações e aos seus cuidados por meio de crescentes sentimentos de amor para com ela como pessoa. Mas este primeiro amor já está perturbado em suas raízes por impulsos destrutivos. Amor e ódio lutam entre si na mente do bebê; e essa luta persiste, até certo ponto, durante toda a vida, podendo tornar-se uma fonte de perigo nos relacionamentos humanos.

O apego aparece como um dos aspectos constituintes da personalidade do indivíduo, que é influenciado por fatores como as características da mãe, o temperamento da criança e o meio social em que vive a dupla.

O comportamento de apego apresenta três características distintas e universais:

·busca constante de proximidade com seu objeto de ligação, podendo tolerar afastamentos temporários;

·estabelecimento de maior ou menor segurança, segundo o padrão de confiabilidade e previsibilidade do objeto; e

·reação de protesto pela separação ou perda e a conseqüente busca de recuperação da figura de apego.

2.5 A reciprocidade mãe-bebê na formação do vínculo

A reciprocidade da interação mãe-bebê dá a ambos a qualidade de agentes no processo, onde a mãe introduz na situação aspectos de sua história e momentos de vida. Uma mãe sob estresse, deprimida ou que não tenha estabelecido com seus pais um modelo de apego seguro, pode não estar pronta a responder adequadamente às necessidades de seu filho. Do mesmo modo, os bebês que são mais agitados, choram muito ou são difíceis de serem consolados, bem como aqueles que vivem ou viveram situações estressantes de hospitalizações prolongadas, abandono por parte dos pais ou qualquer outra situação de privação social ou afetiva, podem não apresentar comportamentos falicitadores de contato, como o olhar mútuo, o sorriso para o outro ou ainda serem menos responsivos quando chamados à interagir.

O comportamento de apego da criança, por sua vez, inclui todos os tipos de comportamento que promovem a proximidade com a figura materna. Assim, as formas de comportamento mediadoras do apego no primeiro ano de vida, são o sorrir e o chorar, o seguir e agarrar-se, o chamar e a sucção.

A qualidade dos cuidados que o bebê recebe tem um peso importante na forma como seu comportamento de apego se desenvolve, mas a própria criança participa dessa interação e influencia a forma como a mãe responde a ela. Alguns comportamentos iniciais do bebê expressam e promovem uma resposta pela mãe, que interage com ele a seu modo, fortalecendo o vínculo entre eles. A participação do bebê nessa interação é ativa desde os primeiros meses, através de suas exigências; as várias formas de chorar, chamar, sorrir, aproximar-se dela e chamar sua atenção, provocam, mantêm e dão forma à reação da mãe, reforçando algumas respostas e outras não. Um padrão de interação próprio se desenvolve entre a mãe e a criança e resulta da participação de ambas no processo.

2.6 O papel do pai

Freud, o pai da psicanálise, em seu trabalho Leonardo da Vinci , diz: "na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada".

Rohde, professor de psiquiatria da infância e da adolescência do Departamento de psiquiatra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, citado por Mariana Eizirik, do serviço de psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no artigo "Ausência paterna e sua repercussão no desenvolvimento da criança e do adolescente", conclui que a função paterna é fundamental para o desenvolvimento do bebê. Segundo o autor, tal função é dinâmica, já que o pai representa um sustentáculo afetivo para a mãe interagir com seu bebê e também, ainda nos primeiros anos da criança, deve funcionar como um fator de divisão da relação simbiótica mãe-bebê.

A criança necessita do pai para desprender-se da mãe e, ao mesmo tempo, também necessita de um pai e de uma mãe para satisfazer, por identificação, sua bissexualidade.

Além do papel crucial que o pai exerce na triangulação pai-mãe-filho, como já visto, Muza, psicóloga também citada por Mariana Eizirik, cita o outro momento em que o papel paterno é crucial para o desenvolvimento dos filhos: a entrada na adolescência, quando "a maturação genital obriga a criança a definir o seu papel na procriação".

Segundo Muza, crianças que não convivem com o pai acabam tendo problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e de aprender regras de convivência social. Isso mostraria a "dificuldade de internalização de um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo". Tal falta pode se manifestar de diversas maneiras, entre elas uma maior propensão para o envolvimento com a delinqüência.

O estudo de Mason, psicólogo também citado por Mariana Eizirik em "Ausência paterna e sua repercussão no desenvolvimento da criança e do adolescente", aborda os problemas de comportamento associados ao efeito dos pares e ao papel moderador da ausência paterna e da relação mãe-filho. O comportamento dos pares e a ausência paterna vêm sendo associados com maiores índices de distúrbios do comportamento em adolescentes. Pesquisas mostram que a ausência paterna geralmente tem um impacto negativo em crianças e adolescentes, sendo que estes estariam em maior risco para desenvolver problemas de comportamento.

2.7 O apego inseguro

Sabe-se que as crianças desenvolvem diferentes estilos de vinculação. As crianças seguras choram menos e têm menor ansiedade nas pequenas separações cotidianas, saúdam a mãe mais positivamente depois de ausência e ficam mais contentes de ser colocadas no chão depois de pegas no colo, ao mesmo tempo em que respondem positivamente ao serem carregadas. São mais facilmente acalmadas por contato corporal e pedem mais colo. Vistas à luz da perspectiva evolucionária, essas reações de ansiedade à separação involuntária da figura de apego podem ser entendidas como funcionalmente ajustadas.

Quando a mãe rejeita seu filho ou não se mostra confiável,responde de modo inconsistente, imprevisível, cria nele um padrão de apego ansioso, que expressa a insegurança na resposta que pode receber da figura primária e a dificuldade de lidar com seus sentimentos, especialmente aqueles considerados negativos e recusados pela mãe. O comportamento instável da mãe que não pode conter e tolerar as manifestações de raiva e de dependência dos filhos, nem diferenciar os sentimentos das ações ou mostrar que sentir não tem um efeito destruidor real, permite que a criança atribua um valor menor a si mesma e sinta-se obrigada a conter ou reprimir esses sentimentos sem aprender a lidar com eles. Essa situação desenvolve na criança um modelo interno de relacionamento em constante ameaça pela agressividade.

Umas das formas de apego ansioso é o apego evitante, que se manifesta como uma falsa independência, que não protege a criança da ansiedade. A necessidade de expressar sentimentos como raiva, fragilidade, carência, somada à recusa sentida pela criança quando a mãe não lhe oferece acolhimento e conforto, são traduzidas em sentimentos de desvalia, inadequação e levam a criança a reprimir sua necessidade de amor e dependência. A raiva provocada pelas frustrações de suas necessidades não pode ser expressa, pois só trará mais recusa e mais sofrimento, assim a criança aprende a reprimir seus sentimentos e passa a negar qualquer necessidade de apego, mostrando-se autônoma precocemente e desconsiderando todos os sinais de apego tanto internos como externos. Essa estratégia, eminentemente inconsciente, faz com que a criança possa manter-se próxima à mãe sem magoar-se tanto. No entanto, sua raiva pode manifestar-se com outras pessoas a quem não está vinculada. Isso torna o distanciamento afetivo o padrão de relacionamento da criança, que se estende a outras figuras, seguindo um modelo de recusa de aproximação em que a própria criança torna-se "agente de sua própria privação".

Outra forma de apego inseguro é o apego ambivalente, que se expressa por meio de comportamentos alternados entre ansiedade (proximidade) e raiva (afastamento) , busca de proximidade e hostilidade simultâneos, desenvolvendo um comportamento oscilante.

Uma outra categoria é a de apego desorganizado/desorientado, que mistura ambas as formas, resultando em um comportamento contraditório, inconsistente e inconstante. O resultado é que a criança age de modo confuso e frequentemente provoca raiva ou rejeição; ela não sabe como mostrar seu desejo de aproximação, pois o sentimento de amor fica fundido com a agressão. Mostra um processo confuso que promove reação oposta ao tentar encontrar satisfação de suas necessidades, criando respostas de raiva e falham nas relações interpessoais.

Mary Ainsworth, psicóloga norte americana, citada por Maria Inês de Souza Gandra em "A importância do apego no processo de desenvolvimento", desenvolveu um experimento, denominado "Situação Estranha", para identificar padrões de apego, em crianças entre 12 e 18 meses. Este estudo possibilitou a identificação de três padrões diferentes de apego.

  • Apego seguro: As crianças classificadas nesta categoria demonstraram ser ativos nas brincadeiras, buscar contato com a mãe após uma separação breve e serem confortadas com facilidade, voltando a se envolver em suas brincadeiras;
  • Apego inseguro/esquivo: nesta classificação incluiu aquelas crianças que após uma breve separação da mãe, evitou se reunir a ela quando de sua volta;
  • Apego inseguro/resistentes: essas crianças demonstraram, na situação experimental uma oscilação entre a busca de contato com sua mãe e a resistência ao contato com esta, além de terem se mostrado mais coléricos ou passivos que as crianças com os padrões de apego anteriormente descritospor Bowlby.

Vygotsky, professor e pesquisador russo, apresenta sua concepção do eu dizendo que,

[...] O EU se constrói na relação com o outro, em um sistema de reflexos reversíveis, em que a palavra desempenha a função de contato social, ao mesmo tempo em que é constituinte do comportamento social e da consciência. A constituição do sujeito passa, então, pelo reconhecimento do outro, mas fundamentalmente pelo autoconhecimento do eu, considerando que esses processos são idênticos, que acontecem pelo mesmo mecanismo, isto é, pelo mecanismo dos reflexos reversíveis[...].

2.8 O reflexo dos primeiros vínculos nos relacionamentos posteriores

Os modelos de funcionamento interno de uma criança tendem a se repetir durante toda sua vida, com comportamentos que indicam maior ou menor segurança em si própria e no ambiente. O padrão inicial de apego seguro parece favorecer nas crianças uma maior autoconfiança e competência social.

Os vínculos primários com pais e figuras de apêgo secundárias permite a formação de um modelo operativo interno ou representações internas que refletem e condensam sua história relacional e suas expectativas sobre o sentimento pessoal e relacionamento íntimo e próximo com as pessoas. É a partir dessa base que se definem as amizades entre pares, o envolvimento amoroso e a possibilidade de tornar-se pais e mães de um certo modelo.

Quando a figura de ligação é confiável e consistente em suas respostas ao bebê, este pode desenvolver uma resposta de apego seguro; o que corresponde ao estabelecimento de um padrão de vínculo em que o sentimento de auto-estima é positivo e a capacidade de confiança no outro é forte; a criança sente-se aceita e compreendida em seus sentimentos negativos, o que permite reconhecê-los e expressá-los sem medo da rejeição; a criança pode dessa forma manifestar suas dificuldades, suas necessidades e pedir apoio nos momentos de fragilidade, sem receio de ver-se diminuída. Ao fazer isso, pode integrar os sentimentos e sentir-se no controle de uma vida previsível, no convívio social mostra uma expectativa positiva.

Para entender a formação da relação de apego na infância é importante compreender que a possibilidade de ser compreendido e acolhido, mesmo durante a raiva ou no momento de fraqueza, permite estabelecer o sentimento de certeza, de segurança sobre seu valor e do amor que lhe é de direito. Mas o grau em que essas características afetivas podem ser retomadas e ampliadas ao longo da vida, seja por meio de novas experiências com outras figuras de apego, seja por meio de um eventual processo psicoterapêutico, pode depender do grau com que esse padrão de apego se estabelece frente às primeiras experiências infantis, do ambiente em que a criança vive e dos traços de personalidade individual.

Capítulo 3 A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

A palavra personalidade tem origem no termo latino persona, que significa máscara. A personalidade é então o conjunto de padrões duradouros do comportamento do indivíduo face à multiplicidade de situações. A personalidade encerra aquilo que torna o indivíduo diferente de todos os outros. A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da nossa vida e é um processo dinâmico em que intervêm diferentes fatores.

As teorias da personalidade são tentativas de interpretar, descrever e explicar o modo como os indivíduos se distinguem no seu estilo geral de comportamento, naquilo que os torna únicos e por isso os distingue.

Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de nos  tornar únicos em nossa maneira de ser e de desempenhar nosso papel social. Quando falamos, então, em elementos constitucionais da personalidade, estamos falando das características dessa personalidade que se formaram a partir dos genes herdados e das experiências particulares vividas.

3.1 A influência genética

A influência da hereditariedade, do meio social e das experiências pessoais têm uma grande importância no comportamento e desenvolvimento dos seres humanos. No entanto, a influência desses fatores é diferente em cada indivíduo e nas fases diferentes do ciclo de vida.

O patrimônio genético do ser humano define sua singularidade fisiológica e morfológica. A hereditariedade humana transmite traços específicos não só de natureza física, mas também de temperamento de base e também nos dons intelectuais. O meio social desempenha um papel importante na construção da personalidade. É impossível interpretar a conduta do indivíduo sem fazer intervir o meio social ou os meios sociais que exercem sobre ele as suas solicitações e suas determinações.

Ao lado das Tendências Naturais, capazes de identificar todos nós como pertencentes à mesma espécie, vamos encontrar as peculiaridades próprias e particulares com as quais cada um se apresentará e se relacionará com o mundo. Estas diferenças funcionais de cada um através de suas considerações sobre os TRAÇOS PESSOAIS, verdadeiros arranjos pessoais e constitucionais determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor intensidade, resultariam numa característica psíquica capaz de particularizar um indivíduo entre todos os demais de sua espécie.

Entende-se os traços herdados como possibilidades de vir a ser e não como uma certeza de que será. Há uma quantidade enorme ainda pouco delimitada pela genética, de traços possíveis de transmissão hereditária, porém, apenas parte desses traços se manifestarão no indivíduo. Esta maneira singular da pessoa interagir com seu mundo, decorrente de seus traços pessoais, pode ser chamada de DISPOSIÇÃO PESSOAL.

Existem evidências sólidas em estudos de grande escala, metodologicamente convincentes, de que os genes influenciam a personalidade adulta. Surpreendentemente, o mesmo não é verdadeiro para a hipótese do papel preponderante da criação pelos pais. Uma revisão crítica da literatura mostra pouca evidência conclusiva quanto ao ponto de vista de que eventos específicos do período de infância são os verdadeiros responsáveis pela arquitetura da personalidade adulta.

Segundo Marco Montarroyos Calegaro, psicólogo evolucionista, no artigo "Psicologia e Genética - O que causa o comportamento", de acordo com um estudo feito na Dinamarca, um país onde as adoções e também os registros criminais são feitos meticulosamente, todos os meninos adotados em Copenhage em 1953 foram acompanhados. Descobriu-se com base nos registros criminais dos pais (biológicos e adotivos) e dos filhos quando adultos que somente cerca de 11-12% destes cometia crimes se o pai biológico, doador de 50% dos genes, nunca houvesse cometido um crime. Isso tanto para crianças adotadas pôr pais adotivos criminosos ou não. Ou seja, não houve diferença significativa na criminalidade pela influência de ser criado por um pai adotivo criminoso.

No entanto, de modo geral podemos dizer que, se de um lado temos pouca evidência convincente sobre a influência de eventos atribuíveis às interações com os pais durante a infância na personalidade adulta, por outro temos estudos apontando que gêmeos idênticos são muito mais semelhantes um com o outro quando adultos do que gêmeos fraternos criados juntos, e isso acontece mesmo que os gêmeos idênticos sejam criados em continentes diferentes, experienciando culturas diversas, diferentes sistemas religiosos, estrutura social, tipo de alimentação e outros fatores ambientais. Essas semelhanças foram verificadas em características como habilidades e deficiências cognitivas, depressão, raiva, bem estar subjetivo, otimismo, pessimismo e mesmo traços como religiosidade, autoritarismo, satisfação no trabalho e muitos outros.

Como argumento adicional, foi possível observar que os filhos adotados não crescem com personalidade semelhante aos seus pais adotivos, na verdade, são muito mais parecidos com seus pais biológicos, embora muitas vezes não tenham sequer os conhecido.

É evidente que os fatores não genéticos são muito importantes, e é a genética comportamental que oferece substrato a essa afirmação. Mas, novamente, um exame desapaixonado das evidências aponta conexões causais diferentes do senso comum. É importante lembrar que as influências ambientais, ou não genéticas, incluem fatores que incidem desde a concepção até o nascimento, influências fetais de níveis hormonais por exemplo, e a totalidade dos estímulos do meio durante o desenvolvimento da pessoa após o nascimento.

3.2 A influência do ambiente

As experiências traumáticas precoces, também passam a fazer parte integrante e importante da personalidade em desenvolvimento. Portanto, contribuirão significativamente para a constituição da pessoa. Isso quer dizer que o termo "constitucional" não se refere exclusivamente ao que é genético, mas à interação entre o potencial genético e a influência ambiental precoce.

Se uma pessoa teve a sorte de crescer em um bom lar comum, ao lado de pais afetivos, dos quais pôde contar com apoio incondicional, conforto e proteção, consegue desenvolver estruturas psíquicas suficientemente fortes e seguras para enfrentar as dificuldades da vida cotidiana. Nestas condições, crianças seguramente apegadas aos seis anos são aquelas que tratam seus pais de uma forma relaxada e amigável, estabelecendo com eles uma intimidade de forma fácil e sutil, além de manter com eles um fluxo livre de comunicação (Bowlby, 1984).

Ao definir a sua teoria do amadurecimento pessoal, ou teoria do desenvolvimento emocional do ser humano, Winnicott, pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista, enfatizou que esta inclui a história total do relacionamento individual da criança até seu meio ambiente específico. É uma história que compreende o crescimento emocional do bebê e da pessoa cuidadora desse bebê, daquela que atende às suas necessidades específicas, ou seja, da mãe como "ambiente suficientemente bom" – a pessoa responsável pelas condições facilitadoras para que o crescimento do bebê se efetive. Deste modo, essa teoria acaba por compreender, também, o que acontece diante das interferências que dificultam ou impedem a suficiência do ambiente e, conseqüentemente, o crescimento do bebê.

Desde muito cedo, Winnicott já verificava que, ao se estudar o adoecimento psíquico de uma pessoa, o curso da enfermidade ficaria compreensível como uma expressão das dificuldades próprias da vida, quer sejam nas tendências herdadas, quer sejam na influência do ambiente, quer sejam na interação de ambas.

De acordo com Rico, psicólogo citado por Juliana Alencar de Souza, especialista em psicologia da saúde, em "A formação do vínculo afetivo", podemos dizer que com o decorrer do tempo, a experiência de desconforto transforma-se em emoção e tem início a formação de idéias sobre as intenções maternas em relação a si mesmo. Desta maneira, se a mãe for amorosa e tiver uma relação afetiva rica com seu bebê, contribuirá para que nasça uma criança confiante e segura de si. Assim também, mães deprimidas ou ambivalentes que, por uma razão qualquer, privam o feto de seu amor e apoio, certamente favorecerão o estado depressivo e a presença de neuroses na criança, que podem ser constatados após o nascimento, pois sua personalidade foi estruturada num clima de medo e angústia.

Para Winnicott, não é possível pensar em trabalho isolado com a criança, ou estudar a etiologia de uma doença, tendo como objeto de estudo apenas o indivíduo afetado pelos sintomas da doença. É preciso também um estudo de seu ambiente e das suas relações com este ambiente, para compreender a natureza do problema e desenvolver um trabalho alterador das condições da criança. Para ele, o ambiente, no início, devido a dependência extrema do bebê, deveria adaptar-se totalmente ás suas necessidades, e, a medida em que o bebê for amadurecendo, o ambiente deve desadaptar-se, de acordo com a capacidade crescente do bebê de utilizar seus próprios recursos. Ao cometer falhas, esse ambiente seria capaz, então, de repará-las em tempo hábil, num tempo que o bebê poderia suportar sem viver uma agonia insuportável para o seu psiquismo.

De acordo com os psicanalistas Winnicotte Lebovici , citados por Juliana Alencar de Souza no artigo "A formação do vínculo afetivo", certos fatos se destacam com muita clareza; um deles é que quanto menor for a criança, maior será o perigo de separá-la de sua mãe, pois quanto mais jovem for a criança, menor será sua capacidade para manter viva em si mesma a idéia de uma pessoa. A criança não se recupera facilmente do trauma de separação de sua mãe. Com isso, é importante esclarecer que a qualidade do vínculo influencia diretamente o desenvolvimento físico e emocional do bebê, formando, assim, uma base para um posterior pregresso adicional.

3.3 A função materna

Atribui-se cada vez mais importância aos estágios de desenvolvimento da infância na construção da personalidade. A relação mãe/filho é um dos aspectos que mais têm sido estudados. As características desta relação, no primeiro ano de vida, vão ter um grande peso no desenvolvimento futuro da criança. A complexidade das relações familiares vai influenciar as capacidades cognitivas, lingüísticas e afetivas, processos de autonomia, de socialização, de construção de valores das crianças e dos jovens.

As fases que propõe como sendo organizadoras do psiquismo, incluem uma etapa do desenvolvimento no qual o eixo psicológico é a separação-individuação da criança em relação à mãe. A evolução normal ou patológica da criança seria conseqüência da forma como se configurariam as etapas anteriores e, principalmente, esta última fase do desenvolvimento mental.

Mahler, psicóloga do desenvolvimento , citada por Anelise Hauschild Mondardo da Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul no artigo "Ilustrando a importância do vínculo materno para o desenvolvimento da criança", destaca que os três primeiros anos de vida da criança possuem importantes tarefas estruturantes, cujo alcance e passagem são determinados por dois fatores: primeiro, a dotação genética do bebê, que o impulsiona para o vínculo com o meio ambiente, permitindo perceber e aceitar os cuidados proporcionados pela mãe; e, segundo, a maternagem, ou seja, a presença de uma mãe que verdadeiramente proporcione esses cuidados.

3.4 A totalidade do ser

O "determinismo genético" postula que certos aspectos de nossa personalidade e nosso comportamento seriam definidos por nossos genes, de modo inescapável. Porém, sabemos hoje que todo comportamento depende, em maior ou menor grau, de fatores genéticos e de fatores ambientais, interagindo de maneira extremamente complexa. A palavra determinação deve ser substituída por expressões como tendências, propensões ou influências genéticas. Os genes definem tendências, mas são as experiências individuais que, sempre, as modulam. Qualquer gene precisa, para haver a chamada expressão adequada, de determinadas circunstâncias externas, sejam bioquímicas, físicas ou fisiológicas, ou ambientais.

Discute-se se existiria uma personalidade mais imune às vivências traumáticas ou, por outro lado, se o apoio social e familiar seria o fator decisivo para essas crianças se recuperarem, impedindo assim uma conseqüência mais patológica do trauma. O que se vê na clínica e na vida em geral, embora não seja "politicamente correto", é que as conseqüências psicológicas das vivências parecem depender muito mais da personalidade sobre a qual agem essas vivências do que das próprias vivências em si. Isso corresponderia a dizer que as reações dependem muito mais do agente "agredido" do que do agente "agressor". Entre as variáveis potenciais que determinam as conseqüências dos traumas vividos por crianças e adolescentes em longo e médio prazo, devemos considerar fortemente as eventuais psicopatologias e predisposições preexistentes nessas pessoas com Transtornos da Personalidade.

A idéia de buscar fora da pessoa os elementos que explicassem seu comportamento e sua desenvoltura vivencial teve ênfase em teorias segundo as quais era a sociedade quem corrompia o homem. Outra concepção acerca da Personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e, às vezes, às malformações físicas, mas também, determinaria às peculiares maneiras do indivíduo relacionar-se com o mundo, seu temperamento, seus traços afetivos, etc.

Podemos considerar a totalidade do ser humano como sendo um balanço entre duas porções que se conjugam de forma a produzir a pessoa tal como é:

1- uma natureza biológica, tendo por base nossa natural submissão ao reino animal e nossa submissão também às leis da biologia, da genética e dos instintos. Assim sendo, os genes herdados se apresentam como possibilidades variáveis de desenvolvimento em contacto com o meio (e não como certeza inexorável de desenvolvimento);
2- uma natureza existencial, suprabiológica, conferindo à Personalidade elementos que transcendem o animal que repousa em nós. A pessoa, ser único e individual, distinto de todos outros indivíduos de sua espécie, traduz a essência de uma peculiar combinação bio-psico-social.

O psiquiatra Geraldo José Ballone, no artigo "Teoria da Personalidade", disponível no site psiqweb, diz que

[...]A idéia de Personalidade poderia ser esbouçada da seguinte maneira: "PERSONALIDADE É A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DOS TRAÇOS NO INTERIOR DO EU, FORMADOS A PARTIR DOS GENES PARTICULARES QUE HERDAMOS, DAS EXISTÊNCIAS SINGULARES QUE SUPORTAMOS E DAS PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS QUE TEMOS DO MUNDO, CAPAZES DE TORNAR CADA INDIVÍDUO ÚNICO EM SUA MANEIRA DE SER E DE DESEMPENHAR O SEU PAPEL SOCIAL[...]".

Segundo ele, o ser humano não pode ser considerado como um produto exclusivo de seu meio, tal como um aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de qualquer força mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode, tampouco, ser considerado um punhado de genes, resultando numa máquina programada a agir desta ou daquela maneira, conforme teriam agido exatamente os seus ascendentes biológicos. Se assim fosse, passaria pela vida incólume aos diversos efeitos de suas vivências pessoais. Sensatamente, o ser humano não deve ser considerado nem exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes disso, uma combinação destes dois elementos em proporções completamente desconhecidas.

Capítulo 4 QUANDO O AMBIENTE FALHA

Segundo a teoria do amadurecimento, elaborada por Winnicott, pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista inglês, todo individuo humano é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento. Mas, que apesar de inata, trata-se de uma tendência, e não de uma determinação. Para que a tendência venha a realizar-se, o bebê depende fundamentalmente da presença de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons. Segundo essa mesma teoria, o amadurecimento começa em algum momento após a concepção, e quando não há incidentes pelo caminho, não cessa até a morte.

Segundo ele, as psicoses, assim como a tendência anti-social, são resultado do fracasso ambiental na sua tarefa de favorecer a continuidade dos processos de amadurecimento nas etapas mais primitivas em que impera a dependência. Esses distúrbios apontam para falhas na estruturação da personalidade e do caráter.

Diz Winnicott (1993), que

[...]as psicoses são distúrbios relacionadas ao fracasso ambiental na sua missão de facilitar as conquistas dos estágios iniciais – que começam em algum momento da vida intra-uterina e vão até o estágio do EU SOU, que ocorre, em geral, por volta de um ano ou um ano e meio. Se o ambiente falha, repetidas vezes – ao modo de um padrão estabelecido –, em se adaptar às necessidades do bebê durante a etapa de dependência absoluta, e mesmo relativa, ocorrem traumas e o processo de amadurecimento pessoal é interrompido, nesse momento primitivo em que estão sendo constituídos os alicerces da personalidade. Isso dá origem a um distúrbio psicótico[...].

4.1 As falhas ambientais e as falhas na estruturação da personalidade

A chamada Teoria do Vínculo, ou da Ligação Afetiva , diz respeito à necessidade de amor materno, ou algo bem parecido com isso, para as crianças se desenvolverem bem emocional e cognitivamente. Essa ligação criança-mãe precisa, segundo especialistas, de uma importante continuidade de cuidado efetivo para ser eficaz.

Segundo Winnicott (1993),

[...]é no útero materno que biológica e fisiologicamente surge o ser humano, e durante esse estágio, já se estabelece uma relação interpessoal fundamental entre o filho e a mãe, produzindo trocas não só fisiológicas, mas também afetivas. Os processos clínicos de pesquisa indicam uma relação entre o comportamento pré e pós-natal de uma criança e a atitude de aceitação ou rejeição que a mãe assume em relação ao filho[...].

Quando examina-se o processo de desenvolvimento, descobre-se que ele só ocorre de maneira saudável, ao se estabelecer uma relação de afeto com as figuras parentais. Ao se compreender essa dinâmica, descobre-se a necessidade de a criança ser recebida dentro de um clima de aceitação e de afeto. A afetividade se desenvolve nas relações interpessoais com as figuras parentais. Esse afeto não tem origem na ligação genética., mas nas relações que resultam da satisfação das necessidade básicas de sobrevivência.

A criança constrói seu afeto, inicialmente, em direção ás pessoas que preenchem suas necessidades básicas indispensáveis para o seu crescimento. É ao longo da convivência que o afeto se expressa num mecanismo de troca.

Em suas pesquisas, Bowlby identifica que não é qualquer separação que vai provocar distúrbios de personalidade, mas são aquelas que causam privação à criança que vão causar consequências prejudiciais - porque constituem uma experiência em que a criança não chega a desenvolver um vínculo real.

Acredita-se que se a situação de privação não se reverter, o desenvolvimento afetivo destas crianças poderá ficar comprometido e até mesmo ser configurado em psicopatologias, distúrbios de conduta como delinqüência e dificuldade na formação de vínculos com outras pessoas no futuro - conseqüências possíveis, principalmente por não vivenciarem uma experiência afetiva gratificante na primeira infância.

Ainsworth, citado por Cecília Casali Oliveira no artigo "O apego infantil", define privação materna como tendo três diferentes dimensões: insuficiência ou ausência de cuidados maternos, cuidados distorcidos como ocorre na negligência ou hostilidade materna, e descontinuidade nos cuidados maternos, como ocorre nas separações.

Bowlby enfatiza que "variável alguma tem mais profundos efeitos sobre o desenvolvimento da personalidade do que as experiências infantis no seio da família: a começar dos primeiros meses e da relação com a mãe". Enquanto que Winnicott diz que as conseqüências da falha ambiental para a saúde psíquica da criança podem ser relacionadas de acordo com o momento em que a falha acontece, na linha da evolução, que parte da dependência absoluta rumo à independência. Se o bebê é bem cuidado, ele amadurece recursos próprios que vão lhe permitindo uma dependência relativa. Se houver fracasso do ambiente nas fases iniciais, o resultado poderá ser uma predisposição a distúrbios afetivos e tendência anti-social. Na fase em que a criança já é capaz de cuidar de si mesma e o ambiente já está internalizado, se houver fracasso do ambiente, este já não será tão desastroso, do ponto de vista da estrutura da personalidade.

Segundo Winnicott (1993),

[...]a delinqüência é uma busca de solução por intermédio de uma tentativa de retorno à época em que as coisas corriam bem, para voltar a usufruir da posse do objeto primordial, de sua confiabilidade, e reconquistar a segurança e autoconfiança, graças às quais a criança podia manifestar sua destrutividade. Por meio de sua conduta delinqüente, diz Winnicott , é como se a criança estivesse compelindo a sociedade a retroceder com ela à época primordial e a testemunhar e reconhecer suas grandes perdas. A criança, segundo o referido autor, antes de se preocupar em não fumar, não vagar pelas ruas, não fazer isto ou aquilo, preocupa-se em não trair seu próprio eu – esta é sua moralidade precoce. E o seu "eu" inclui seus impulsos primitivos, construtivos e destrutivos[...].

A origem da enfermidade mental estaria, pois, nas dificuldades encontradas pela criança para realizar a tarefa determinada por cada uma dessas fases, isto é, no autismo normal, na simbiose normal ou na separação-individuação. Essas falhas podem ter sido provocadas por: defeitos inatos, incapacidade do ego para neutralizar as pulsões agressivas no estabelecimento do vínculo com a mãe; defeitos na relação mãe-filho: seja por patologia materna ou pela ausência real do par simbiótico e/ou traumas: doenças, acidentes, hospitalizações ou outros eventos que alterem a estabilidade emocional com a mãe ou a auto-imagem do indivíduo.

A intensidade e a precocidade dessas situações podem provocar importantes falhas no desenvolvimento infantil e, embora muitos autores definam diagnósticos de personalidade somente após o período evolutivo da adolescência, Palácio, psicólogo citado por Anelise Hauschild Mondardo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul no artigo "Ilustrando a importância do vínculo materno para o desenvolvimento da criança",fundamenta a importância e os critérios com os quais é possível identificar, do ponto de vista estrutural, organizações psíquicas já mesmo na infância. O apego emocional e o comportamento de ligação estabelecidos nos primeiros anos fornecem um modelo internalizado das relações em que a figura de ligação assume um caráter único e insubstituível, sua permanência proporciona segurança e conforto para o indivíduo, a separação provoca estress e sua perda permanente causa sofrimento. O modo como cada pessoa aprende a se vincular emocionalmente com os primeirosobjetos de amor cria um modelo que serve de base para os vínculos emocionais posteriores, para o estabelecimento do significado da vida no futuro e para o modo como enfrenta as mortes de pessoas queridas ao longo da vida.

Winnicott estabeleceu, baseado em suas pesquisas com crianças afastadas de seus pais durante a segunda guerra mundial, que a relação mãe-criança tem uma importância fundamental e que separações precoces podem ser prejudiciais para o desenvolvimento das crianças e eram, em última análise, prejudiciais também para a sociedade.

Segundo a teoria de John Bowlby, a privação prolongada de cuidados maternos para uma criança muito nova pode causar efeitos de graves conseqüências no caráter, efeitos esses que podem se prolongar por toda a sua vida futura. E isso tanto se relaciona à crianças de orfanato, àquelas que sofrem separações dos pais, ou mesmo para aquelas que, apesar de viverem em seus lares, são abandonadas por negligência ou omissão. Este último caso é quando a mãe se encontra fisicamente presente e emocionalmente distante.

4.2 Quando procurar ajuda

Segundo a Dra. Bacy Fleitlich, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, citada por Gabriel Attuy no artigo "Psiquiatria: infantil é ignorar", publicado na Revista Espaço Aberto, da USP, no mês de março de 2003, a psiquiatria infantil ainda é encarada por muitos como exclusiva para crianças altamente problemáticas, com deficiências sérias como esquizofrenia ou depressão. "Esses são os problemas mais raros e os últimos na lista de crianças e adolescentes", diz a doutora Bacy Fleitlich, que realizou um estudo que produziu uma estimativa dos transtornos psiquiátricos mais comuns em crianças de 7 a 14 anos.

O transtorno de comportamento foi o problema mais comum, encontrado em 7% das crianças. "Ele consiste em uma série de comportamentos graves o suficiente para que a criança receba um diagnóstico médico", explica Bacy. Esse problema pode ser identificado a partir do momento que essas condutas passam a interferir na sua vida social, na escola e nas relações familiares.

O psiquiatra infantil avalia como a criança está em relação ao seu comportamento e suas emoções. E, assim como não é necessário esperar que alguém tenha um enfarte para levá-lo ao cardiologista, não é preciso esperar uma criança ser expulsa de três escolas para levá-la para fazer uma avaliação com um psiquiatra infantil", comenta Bacy. Por isso, a atenção e preocupação dos pais são importantes. Quando o comportamento da criança começa a prejudicar a sua vida escolar, seus relacionamentos ou o ambiente familiar, talvez seja a hora de considerar uma avaliação por um psiquiatra infantil.

Os transtornos infantis podem evoluir para problemas sérios na vida adulta se não forem tratados. Cerca de 1/3 das crianças com transtornos de comportamento têm risco de evoluir para um transtorno de personalidade anti-social (novo nome dado aos psicopatas).

Segundo o estudo, a desinformação e o preconceito são a principal causa que faz com que crianças com transtornos demorem muito mais do que o necessário para procurar ajuda médica e começarem a se tratar.

Segundo a Dra. Bacy Fleitlich, não existe no Brasil nenhum dado completo e atualizado sobre os principais transtornos infantis. E que o resultado disso é a desinformação e o preconceito, que faz com que as crianças com transtornos demorem muito mais do que o necessário para procurar ajuda médica e começarem a se tratar.

 Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, no artigo, "Quando se deve buscar tratamento psiquiátrico em crianças e adolescentes", é grande a dúvida na população e, às vezes, mesmo entre médicos de outras especialidades, sobre a necessidade de se recomendar ou procurar um tratamento psiquiátrico.

4.3 Crianças institucionalizadas

Goldstein, mestre em antropologia social, no trabalho com crianças que passam pela descontinuidade das relações, como aquelas que esperam pela adoção, citados porElisângela Boing, da Universidade Federal de Santa Catarina, no artigo "Os efeitos do abandono para o desenvolvimento psicológico de bebês e a maternagem como fator de proteção", descrevem os efeitos da separação até os 18 meses. Para os bebés, a mudança do cuidador "afeta o curso do seu desenvolvimento emocional", as alterações do familiar para o não familiar "causam desconforto, sofrimento, atraso na orientação do bebê e na sua adaptação ao meio". Ressaltam, ainda, as conseqüências a longo prazo, no sentido de que as ligações emocionais destas crianças "se tornam cada vez mais superficiais e indiscriminadas. Elas tendem a crescer como pessoas que não têm calor em seus contatos com seus semelhantes".

Segundo Susane Rocha de Abreu, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, num estudo com Crianças e adolescentes que moram em orfanatos, essas crianças e adolescentes têm seis vezes mais chance de desenvolver transtornos psiquiátricos do que as que vivem com suas famílias. A psiquiatra infantil ressalta, no entanto, que o fato de a criança morar numa instituição não pode ser considerado a causa dos transtornos psiquiátricos. A história de vida anterior deve ser levada em conta.Segundo ela,

[...]"Não se pode culpar a instituição ou o fato de a criança estar nela como causa dos problemas psiquiátricos. São crianças com história de vida difícil, marcada por adversidades, maus tratos e abandono. A instituição marca o final dessa série de eventos"[...].

Bebês que são submetidos a institucionalização e privação afetiva por tempo prolongado podem ter sua personalidade seriamente comprometida no futuro e esta preocupação vai além do campo psicológico, atingindo o campo social, podendo gerar psicopatologias graves ou perversões e delinqüência social.

4.4 Crianças adotadas

Conforme o artigo "Criança adotada e de orfanato", de Geraldo José Ballone, há grande probabilidade das crianças adotadas com mais de seis meses de vida terem experimentado momentos de negligência e abandono materno, os quais,poderiam resultar em seqüelas indeléveis e definitivas na constituição dessas crianças. Portanto, o medo de adotar-se uma criança que mais tarde apresentará severos problemas comportamentais e psiquiátrico é bastante sensato.

É incontestável que a primeira reação, consciente e inconsciente, da criança adotada em relação à mãe biológica, é a de sentir-se rejeitada. Essa situação desencadeia uma série de alterações de comportamento que são, na realidade, mecanismos de defesa no intuito de compensar a desarmonia e os desequilíbrios internos.

Rejeitada pelos pais biológicos, a criança é levada a esperar a possibilidade de uma rejeição posterior. O sentimento de rejeição pode se revelar em um comportamento hostil, que se direciona, geralmente, as pessoas que a tenham desprezado, revelando-se em comportamentos hostis dirigidos aos pais adotivos, por esses serem os representantes simbólicos daqueles que o rejeitaram.

4.5 Sintomas de problemas emocionais em crianças e adolescentes

A delinqüência infanto-juvenil pode ser compreendida como busca de solução a uma história de conflitos, frustrações e privações, incluída aí a privação emocional das relações com as figuras parentais, mais especificamente com a figura da mãe.

Uma outra forma de delinqüência, aliás mais explícita e por todos reconhecida como tal, são as condutas anti-sociais propriamente ditas: furtos, roubos, agressões, depredações etc.

Winnicott reconhece na tendência anti-social duas direções ou motivações básicas, que não necessariamente se excluem: para o furto e para a destrutividade. Na motivação para o furto (na qual poderíamos incluir os delitos contra o patrimônio ou que visam à posse de objetos, de dinheiro, de bens materiais), o que se tem é a procura obsessiva de "algo", de forma insaciável, de "algo" que nunca se encontra e que é exatamente o objeto primordial perdido. Tem-se aí a compulsão libidinal. O furto expressa a privação do objeto.

Na destrutividade, na qual poderíamos incluir os crimes contra a vida, contra a integridade física e moral, contra o ambiente, os atos de vandalismo, o que se tem é a procura dos limites, do controle externo, da continência dos próprios impulsos, já que a criança, por si própria, não está sabendo como lidar com eles, como contê-los, como administrá-los.

É a procura do ambiente estável e indestrutível (que ela perdeu um dia) que suporte sua tensão, sua mobilidade e excitação. E, conforme a criança, ou o adolescente, vai se frustrando nessa procura, ela continua buscando um suprimento ambiental cada vez mais amplo (compulsão agressiva). Ou seja, dos pais para o lar, do lar para os parentes próximos, dos parentes próximos para a escola, da escola para a sociedade.

O desenvolvimento emocional fica muito comprometido em crianças com distúrbios de personalidade, uma vez que seu limitado repertório de emoções para conviver com outras pessoas priva-as de trocas emocionais que promovem o crescimento.

As crianças com transtorno de caráter, muitas vezes, projetam nos outros seus defeitos não aceitos, sua agressão e sua carência.

Entre os elementos a serem observados incluem-se os comportamentos, as condições ambientais e existenciais adversas, os problemas nas relações sociais e no trabalho (ou escola), as alterações do sono, da alimentação, o abuso de álcool ou drogas, a expressão exagerada das emoções, as dificuldades em lidar com questões cotidianas, alterações da atenção e da adaptação, etc. Enfim, está em jogo a maneira de ser dessa pessoa, quando diferente morbidamente dos demais ou diferente morbidamente de como vinha sendo.

Sintomas mais comuns e sugestivos de um possível problema emocional em uma criança de mais idade ou adolescente, segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, no artigo "Quando se deve buscar tratamento psiquiátrico em crianças e adolescentes":

1. – Redução significativa no rendimento escolar.  
Um fator que pode comprometer o rendimento escolar na adolescência,infelizmente, são os surtos psicóticos, comuns nessa faixa etária. Nesse caso muitos outros sintomas farão parte do quadro e não apenas o baixo rendimento escolar

2. - Abandono de certas atividades, amigos ou familiares 
Essa é uma mudança brusca no comportamento do adolescente que merece toda atenção.

3. – Alterações do sono 
Nos casos de psicose o sono desaparece completamente, e surgem outros sintomas, assim como desleixo pessoal, apatia, estranheza...

4. – Alterações do Apetite 

5. - Agressões freqüentes, rebeldia, atitudes de oposição ou reações violentas.  
A agressividade na adolescência é um problema complexo. Terá maior valor quando surgir na vida do jovem de um momento em diante, ou seja, ser uma novidade em seu comportamento e não um traço característico de sua personalidade.

Pode resultar de modismo ou como comportamento desejável no meio social do adolescente. Pode, não obstante, refletir um conflito emocional íntimo e/ou um quadro depressivo, felizmente de fácil tratamento, ou ainda, um sinal de abuso de drogas, infelizmente de difícil tratamento e, finalmente, pode representar um Transtorno de Conduta, sem tratamento.

6. – Provocar dano a si mesmo  
Isso pode acontecer nos Transtornos do Controle dos Impulsos, como na Tricotilomania, na Auto-Escoriação da pele, nas atitudes de Bulimia. Trata-se dos Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo.

Transtornos de Personalidade, notadamente histérico e borderline, ambas com início na infância e adolescência, proporcionam comportamento teatral de auto agressividade e ferimentos auto-provocados com propósitos de manipular o entorno.

7. - Pensamentos de morte e/ou suicidas  
Pensar na morte não é mesma coisa que pensar em suicídio. Pessoas deprimidas podem pensar que preferiam estar mortas, mas não pensam em se matar. O suicida, por sua vez, pensa em matar-se.

A depressão é a principal patologia relacionada à idéia de morte ou pensamento suicida. Não obstante, as psicoses também podem levar ao suicídio.

8. - Comportamentos destrutivos (vandalismo, incendiarismo, delitos, etc.) 
Normalmente esse quadro é típico das sociopatias (ou psicopatias) mas, no adolescente recebe o nome de Transtorno de Conduta.

9. – Comportamento sexualizado excessivo  
O Transtorno de Conduta é a condição mórbida mais associada ao comportamento hipersexualizado, em seguida vem o Transtorno Afetivo Bipolar do adolescente, na fase de euforia, também relacionado ao aumento da libido.

10. – Mentiras, fugas, embuste 
Essas atitudes costumam aparecer no Transtorno de Conduta.

4.6 A criança afetada emocionalmente

Não se sabe, exatamente, se pode-se dizer que a "marginalidade" é transmitida geneticamente, mas muito se sabe sobre ao componente genético do caráter, portanto, pode-se falar em concordância familiar para os transtornos sociopáticos (psicopáticos) da personalidade.

E isso nem a ONU contesta, já que, tanto a CID.10 quanto o DSM.IV falam em antecedentes familiares nos sociopatas ou de pessoas com Transtornos Anti-Sociais da Personalidade. Acredita-se hoje que essa possibilidade existe sim e, é sempre bom não confundirmos conhecimento científico com preceitos de caridade universal. Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, no artigo, "Crianças adotas e de orfanato", é um erro gravíssimo negar os conhecimentos científicos em nome daquilo que seria politicamente correto.

Algumas crianças com transtorno da personalidade, em particular os transtornos da personalidade anti-social e narcisista, tentam fortalecer seus frágeis sensos de self engrandecendo seus atributos e externalizando todas as qualidades negativas nas outras pessoas.

Se algum distúrbio psíquico já estiver presente na criança, o saber acerca do distúrbio pode contribuir para um tratamento mais eficiente, uma vez que muitos casos requerem o fornecimento adequado do que faltou ao paciente num determinado tempo.

As conseqüências da privação emocional irão variar em virtude da idade em que se deu a privação. Para se analisar as conseqüências dessa privação, há que se levar em conta o desenvolvimento e a maturação da vida psíquica da criança quando dessa privação.

Crianças com história de privações emocionais significativas nos primeiros meses de vida poderão sofrer sérios prejuízos na constituição de seu psiquismo. No entanto, como a criança, já desde o início da vida não experienciou satisfatoriamente o afeto, o apoio e a segurança, no lugar de tornar-se revoltado e hostil, poderá tornar-se apática, indiferente perante a vida, enveredando pelo caminho do luto e da depressão. Por outro lado, a criança que, depois de ter vivido uma relação satisfatória e gratificante com a mãe no início da vida, vem a sofrer posteriormente privações emocionais significativas, poderá apresentar comportamentos hostis, anti-sociais e, futuramente, desenvolver condutas delinqüentes, bem como tornar-se resistente a se entregar a novas experiências de relações afetivas, dada a experiência de perda que sofreu.

Nas crianças anti-sociais, a ausência de controle interno associada à insensibilidade é bastante diferente da que encontra-se em histórias de outras crianças, as quais também apresentam dificuldades de controle, mas conseguem expressar arrependimento e culpa verdadeiros.

As crianças anti-sociais não possuem um melhor amigo ou amizade duradoura. Eles perdem os amigos em função de sua exploração, de sua coerção e de sua falta de empatia.

As histórias evolutivas das crianças com transtorno de personalidade anti-social mostram sua incapacidade de estabelecer vínculos com outros indivíduos, manifestado por suas ligações fugazes e espúrias com estranhos e pela facilidade com que substituem uma pessoa por outra.

Embora a ênfase maior seja dada aos comportamentos externalizantes, é preciso ressaltar que os comportamentos internalizantes são também muito freqüentes na infância e na adolescência. Os problemas extenalizantes são evidenciados com os comportamentos de agressividade, impulsividade e delinqüência, enquanto que os problemas de intenalização estão ligados a manifestações de depressão, ansiedade, retraimento social e queixas somáticas.

Os pais de crianças anti-sociais tendem a experimentar o luto e até mesmo a culpa, à medida que colocam em pratica abordagens que visam a proteger a família.

A delinqüência infanto-juvenil pode ser compreendida como busca de solução a uma história de conflitos, frustrações e privações, incluída aí a privação emocional das relações com as figuras parentais, mais especificamente com a figura da mãe.

As crianças anti-sociais demonstram uma capacidade extraordinária de adivinhar as intenções e os pensamentos dos outros, muitas vezes calculando suas atitudes, a fim de manipular as situações.

O tratamento de crianças com transtorno de personalidade anti-social ou transtorno de conduta, pode ser dificultado pelo falso sentido de melhora do comportamento, o que significa que a criança aprendeu as regras do jogo e esta dançando conforme a música.

O fato de crianças com transtorno de personalidade anti-social não se beneficiarem de recompensas e punições para corrigir e controlar suas interações e seus comportamentos constitui um obstáculo especial no contexto.

Uma regra importante no trato com crianças anti-sociais é enfatizar o que a criança faz, e não o que ela relata que faz ou que não faz.

Capítulo 5 -A PSICANÁLISE COMO VIA DE TRANSFORMAÇÃO DO PSIQUISMO

Segundo Winnicott, o conceito de saúde implica na maturidade do desenvolvimento emocional de acordo com a idade do indivíduo, ou seja, a maturidade tem como referência um processo evolucionário. A teoria do desenvolvimento construída no decorrer de suas experiências como pediatra, observando bebês e suas mães, e como psicanalista, no atendimento dos "casos fronteiriços", é a base que sustenta os procedimentos da clínica que realiza e que, em alguns aspectos, difere da clinica freudiana. Winnicott considera que a clinica desenvolvida por Freud aplica-se àqueles que foram adequadamente tratados na infância e constituíram-se como pessoas totais, capazes de relacionar-se com outras pessoas totais.

Para esses, a proposta terapêutica orienta-se pelos conflitos e ansiedades que fazem parte das relações interpessoais e a análise deve se basear na compreensão das conexões inconscientes do material apresentado e sua comunicação ao paciente por meio de palavras, situação que ocorre em um determinado setting. Mas, para aqueles cuja estrutura pessoal ainda não está fundada de forma segura, a interpretação e o manejo se inscrevem em outras bases, na oferta ao paciente de um ambiente em que ele possa experimentar uma maternagem suficientemente boa, de modo a ter a sensação de "um novo sentido de self". Nestes casos há um descongelamento da situação de fracasso ambiental e, a partir da nova força do ego, o indivíduo pode vivenciar a raiva do ambiente, que não pode ser experimentada. Para Winnicott as dificuldades vividas por tais pessoas se inserem muito mais num fracasso de adaptação ambiental original do que num fracasso pessoal, em um momento anterior ao da sua constituição como indivíduo total e antes que eles possam assumir seus instintos e desejos como pessoais. Essa compreensão é fundamental no atendimento às pessoas com distúrbios emocionais.

A descrição das falhas que podem transformar-se em fracassos ambientais, causando distúrbios ao ser em desenvolvimento, traz complicações especiais aos indivíduos que têm uma condição orgânica peculiar. Winnicott considera a doença psíquica como uma defesa organizada do ego para a proteção do si mesmo, ameaçado por invasões ambientais para além do limite e do tempo que o ego do indivíduo é capaz de suportar. Essas falhas, que se constituem em intrusões ao ser em desenvolvimento pela não satisfação às suas necessidades, podem ocorrer tanto por ações extemporâneas, como pela ausência daquilo que deveria acontecer, mas não ocorreu, causando uma ruptura em seu continuar a existir. A ocorrência de invasões ambientais, seja pela ocorrência de uma ação inoportuna seja pela não satisfação das necessidades do indivíduo, ocorrem com freqüência na interação entre um ser com deficiência e o ambiente que o circunda. Dificuldades que podem ser observadas desde as primeiras interações mãe-bebê, no estágio da primeira mamada teórica, e que se repetem nas inumeráveis interações experimentadas pelas pessoas com deficiência em diferentes momentos de sua vida, quando há uma dependência relativa e quando o individuo já caminha rumo a independência. Essas ocorrem tanto nas relações familiares como no contato com amigos, com professores, com colegas, e até nas relações profissionais.

O trabalho analíticowinnicottiano se distingue pela consideração do ambiente. Enquanto a psicanálise tradicional limita seus estudos aos fatores internos, Winnicott enfatiza a relação entre ambiente e amadurecimento pessoal. No processo de análise, ele diz que o analista deve garantir ao paciente um ambiente semelhante ao que a mãe suficientemente boa fornece ao filho. Segundo ele, o analista deve dispor de toda a paciência, tolerância e confiabilidade da mãe devotada ao bebê, deve reconhecer que os desejos do paciente são necessidades.

Segundo Winnicott, o trabalho na análise se destina a criar uma condição especializada, na qual a pessoa acometida por problemas poderá retomar seu processo de amadurecimento. Antes de encontrar boas interpretações, o pacietne deve encontrar um ambiente que substitua o ambiente desfavorável, par aque possa retomar seu processo de amadurecimento pessoal.

Para que isso aconteça, é necessário que o trabalho na análise possa propiciar as condições que faltaram nos momentos das falhas ambientais, levando em consideração que cada estágio do amadurecimento requer condições diferentes.

Winnicott diz que o trabalho com os distúrbios é um trabalho não analítico, porque não está relacionado ao trabalho interpretativo, mas principalmente está relacionado à atitude do analista. Quando alguém sofre de falhas ambientais graves que resultam em sério distúrbios emocionais, precisa encontrar no analista um ambiente favorável que possa ser curador, no sentido de permitir abandonar sua organização defensiva.. Encontrando no analista um ambiente favorável, o paciente pode reviver as situações traumáticas sem necessidade das organizações defensivas patológicas e retomar o processo de amadurecimento.

Para atender os casos relativos aos distúrbios anti-social, o trabalho analítico se modificou, incorporando novas técnicas, uma vez que a interpretação clássica não atende às necessidades desses pacientes. Essas necessidades dizem respeito ao relacionamento com o ambiente e não à resolução de conflitos inconscientes.

Os pais de crianças anti-sociais tendem a experimentar o luto e até mesmo a culpa à medida que colocam em pratica abordagens que visam a proteger a família.

A delinqüência infanto-juvenil pode ser compreendida como busca de solução a uma história de conflitos, frustrações e privações, incluída aí a privação emocional das relações com as figuras parentais, mais especificamente com a figura da mãe.

No decorrer do seu amadurecimento pessoal, a criança vai fazendo outras exigências ao seu ambiente. Temos de conhecê-las para procurar oferecer um ambiente facilitador ao seu desenvolvimento emocional, o qual não coincide necessariamente com o crescimento biológico.

As crianças anti-sociais demonstram uma capacidade extraordinária de adivinhar as intenções e os pensamentos dos outros, muitas vezes calculando suas atitudes, a fim de manipular as situações.

O tratamento de crianças com transtorno de personalidade anti-social ou transtorno de conduta, pode ser dificultado pelo falso sentido de melhora do comportamento, o que significa que a criança aprendeu as regras do jogo e esta dançando conforme a música.

O fato de crianças com transtorno de personalidade anti-social não se beneficiarem de recompensas e punições para corrigir e controlar suas interações e seus comportamentos constitui um obstáculo especial no contexto.

Uma regra importante no trato com crianças anti-sociais é enfatizar o que a criança faz, e não o que ela relata que faz ou que não faz.

Por se situar no terreno das relações mais precoces, aquelas comprometidas com a constituição do ser, a análise do paciente borderline exige uma resposta na realidade, sob a forma de medidas ativas, pelo fato que serão tomadas como pessoas reais e não como figuras do objetos primários. O que se torna impossível é o analista tomar o risco psíquico da despersonalização, em que esbarra a interpretação da transferência.

No contato com terapeuta, qualquer mudança positiva que comece a aparecer não deve ser reconhecida como tal até que a criança tenha mantido o comportamento consistentemente, sem recaídas, por diversos meses.

Na verdade, as mudanças devem ser enfrentadas com uma certa descrença até que a própria criança possa mostrar e provar sua mudança.

CONCLUSÃO

Compreender que o homem é o resultado de influências recebidas de múltiplas direções, e a importância dessas influências nas várias fases de seu desenvolvimento e ao longo de toda a sua vida, é um ponto de partida para a compreensão de suas angústias e das origens dessas angústias.

O homem deve ser levado a adaptar-se em dois sentidos diferentes, tanto à vida exterior quanto às exigências vitais de sua própria natureza. Se houve negligência em relação a qualquer uma dessas ne­cessidades, poderá surgir a doença.

A interação mãe-bebê é hoje conhecida como um processo ao longo do qual a mãe entra em comunicação com o bebê enviando-lhe certas mensagens, enquanto que o bebê, por sua vez, responde à mãe com a ajuda de seus próprios meios. A interação mãe-bebê aparece assim como o protótipo primitivo de todas as ulteriores formas de troca.

Hoje é sabido que as falhas ambientais trazem como conseqüências distúrbios emocionais que são capazes de moldar o modo de ser e de funcionar do sujeito, moldando também o seu modo de se relacionar com o mundo ao seu redor.

Se pretende-se desenvolver uma clínica que veja o homem como um ser bio-psico-social,, é preciso pensar na necessidade do paciente em cada momento de seu amadurecimento pessoal, já que da necessidade primeira de existir surgem todas as outras necessidades.

Dessa forma, é necessário que se busque aperfeiçoar astécnicas que valorizam as fases do desenvolvimento pessoal e que buscam encontrar meios de transformar as conseqüências provocadas pelas falhas sofridas durante essas fases.

 


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Autor: Gilson Tavares


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