E o sexo “frágil” foi à luta



Quem vê as mulheres brasileiras ocuparem os mais diversos cargos, não imagina o quanto esta realidade demorou a acontecer. Apesar de todas as conquistas, as mulheres ainda recebem cerca de 30% menos dos valores pagos a nós homens, quer seja nas empresas públicas ou privadas, quer no mundo dos esportes. È com o objetivo de melhor entendermos esse caminho, que nos propomos a analisar dois pontos principais: Quando essa luta começou? Como a sociedade altamente machista e patriarcal, viu, ouviu e opinou sobre isto? È o que veremos a partir de agora. As primeiras mudanças ocorreram no fim do séc. XIX e nas primeiras décadas do séc. XX (1890-1930), época onde até então, a condição feminina estava atrelada aos serviços domésticos e familiares (cuidar dos filhos), enquanto ao esposo, cabiam-lhe o trabalho e o “bem estar da família”. O movimento feminista brasileiro teve como modelo a um grupo de senhoras americanas, lideradas por Lucretia Mott e Elizabeth Stanton, que exigiam através de um manifesto já no distante ano de 1848, igualdade de direitos, oportunidades iguais de trabalho, livre acesso à educação e trabalho remunerado para todas as mulheres. A “arma” utilizada era a imprensa, haja vista que nesse primeiro momento as feministas em sua maioria eram mulheres com nível superior de ensino (já a grande maioria das mulheres eram analfabetas), bem como, eram casadas com homens de renome no âmbito social, como Abgail Adams, esposas de John Adams, um dos fundadores da República dos Estados Unidos da América (quatro de julho de 1776). Tal estratégia revelou-se eficiente, pois facilitou a união de mais mulheres que passaram a aderir ao movimento e a formar novas associações feministas em todo o mundo. No Brasil, a paulistana Bertha Lutz, que acabara de chegar (1918) de sua formatura em Ciências Naturais na conceituada Universidade de Sorbonne na França, ficou indignada com um artigo de um colunista do Rio de janeiro que afirmava “(...) as brasileiras não iriam sofrer nenhuma influência da luta pelos direitos femininos na Inglaterra”. Bertha não só respondeu tal ofensa, como fundou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, em 1922, ano em que representou o Brasil na assembléia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos Estados Unidos, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Todavia, é interessante notar, que a condição feminina era legitimada e justificada pela ciência da época, onde os filósofos diziam existir uma inferioridade na razão das mulheres com relação aos homens “(...) Cabendo a elas apenas cultivá-la na medida necessária ao cumprimento de seus deveres naturais: obedecer aos maridos e cuidar dos filhos”. Os médicos iam mais além, como italiano Cesare Lombroso (que também era um conceituado criminologista), afirmava ele: “as mulheres mais perigosas eram as que possuíam uma predestinação para a intelectualidade, sendo estas as criminosas de amanhã”, pois utilizavam a inteligência para distanciar-se da função materna e biológica da mulher e ordem social de dona de casa e obediente ao marido. Para contrapor o avanço das idéias de emancipação da mulher, os jornais passaram a atacar e ridicularizar as novas mudanças exigidas pelos grupos feministas. O meio mais direto para atacá-las e chamar atenção, foi através das charges (desenhos com comentários) “engraçadas” , como o objetivo claro de deturpar e desencorajar as demais mulheres de “boa família” a juntar-se a este “tipo de feminista”, chamada por eles de “Miss Alma”. Apesar dos ataques e tentativas de difamação (afetar a imagem), as feministas foram avançando nas conquistas de seus direitos, sob a liderança de Bertha Lutz, que incansavelmente levou as exigências das mulheres brasileiras em congressos em todo mundo, até conseguir vinte anos após a fundação Federação Brasileira para o Progresso Feminino em 1932 (governo de Getúlio Vargas) a aprovação do novo código eleitoral, legalizando as mulheres o direito ao voto, dando acesso a elas não somente a escolha de candidatos, bem como a possibilidade de se candidatarem a cargos públicos.
Autor: Roberto Dantas


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