Lula e seus lulismos



O presidente Lula e sua incrível capacidade de nos surpreender.

Assim como o Bolsa Família, o Mensalão e o PAC, o Governo Lula será marcado pela sua indelével contribuição ao vocabulário de expressões que acabaram por marcar a vida dos brasileiros. O "lulismo" é uma delas.

Nunca ouviu falar?

Ora "lulismo" é o nome que se dá a alguma palavra ou expressão que "sem querer, querendo" nosso querido presidente acaba usando em um de seus discursos feitos de improviso e que acabam virando história.

No dia 26 de março tivemos mais um momento memorável por conta disso.

Lula, com a classe que lhe é característica,  colocou a culpa pela crise financeira atual na irracionalidade de "gente branca e de olhos azuis", durante a entrevista coletiva que encerrou o seu encontro oficial com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, no Palácio da Alvorada e na presença da delegação visitante. Os negros, os índios e os pobres, insistiu ele, são as maiores vítimas de uma turbulência que não engendraram. O raciocínio foi apresentado espontaneamente por Lula durante a entrevista.

Ao ser indagado se essa lógica não exprimia um preconceito ideológico, o presidente tentou emendar. Mas acabou reforçando sua tese, ao relatar que não conhecia banqueiro negro ou índio. "Esta é uma crise causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise pareciam que sabiam tudo e que, agora, demonstram não saber nada", afirmou Lula.

Como sei que nosso querido presidente não acompanha muito de perto o mercado financeiro mundial, vou fazer minha pequena contribuição a cultura geral "lulística".

A crise não escolhe cor de pele ou de olhos e, mais que isso, tem entre seus protagonistas banqueiros das mais diversas raças e credos. Uma das primeiras estrelas de Wall Street a perder a cadeira de ouro dos bônus, por exemplo, foi justamente o primeiro afro-americano a chegar ao cargo mais alto de uma poderosa instituição financeira: Stanley O’Neal estava à frente da Merril Lynch quando os prejuízos de US$ 8 bilhões com a compra de títulos hipotecários podres provocaram sua queda em outubro de 2007.

De executivo mais bem pago do mercado, recebendo cerca de US$ 46 milhões anuais, O’Neal levou uma indenização de US$ 159 milhões antes de chegar ao board da Alcoa. A partir dali, a base da pirâmide de cartas foi desmanchada.

A Fannie Mae, que ao lado da Freddie Mac é uma das principais instituições financeiras especializadas em hipotecas dos EUA, inundou o mercado com os títulos tóxicos. E era presidida por Franklin Raines, o primeiro afro-americano a comandar uma empresa listada na Fortune 500. Ele deixou a companhia. Até a Standard & Poors, agência de classificação de risco que não soube avaliar os reais perigos desses títulos, tem o indiano Deven Sharma no comando.

Também passou despercebido de Lula outro dos símbolos da antiga pujança econômica americana. O Citigroup, que acumulou US$ 28,5 bilhões de prejuízo por 15 meses consecutivos, precisou convocar o indiano Vikram Pandit para salvar o barco avariado no final de 2007. No conselho do banco – e com voz bastante ativa hoje que o Citi se encontra no olho do furacão – está o conceituadíssimo ex-CEO da Time Warner Richard Parsons.

E a bandeira de cartões de crédito American Express, que traz a emblemática figura do centurião, tem como principal executivo Kenneth Chenault, que ocupa a posição desde 2001. Exemplos não faltam em bancos de investimento e gestoras financeiras. John Rogers, sócio-fundador do Ariel Investments, administra US$ 4,4 bilhões em ativos financeiros. Nenhum deles tem pele branca ou olhos azuis.

Portanto, além de racista e simplista o mais recente "lulismo" ainda está incorreto.

De fato, todos sabemos que na hora da crise é mais fácil encontrar culpados do que respostas. E sabemos que "caça às bruxas" é uma das nossas especialidades.

Bibliografia:
Jornal O Estado de São Paulo, edição 42.164 de 27 de março de 2009
Revista Isto É Dinheiro, edição 600 de 08 de abril de 2009


Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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