O TEMPO E SEUS VALORES



O Tempo passa rápido. Uma breve reflexão sobre esse tema intrigou o meu amigo Antônio Neto e minha resposta acabou gerando o artigo abaixo.

 

Realmente essa questão do tempo é intrigante. Fico espantado que o ser humano o tenha criado e depois tenha se tornado escravo dele. Concordo com o meu “xará” que diz que “O tempo é o ponto de vista dos relógios”... Mas essa sensação de “urgentismo”, de nunca se conter com o já realizado, isso faz parte da natureza do ser humano.

 

Nossas vidas são uma eterna busca insatisfeita de propósitos, especialmente nos nossos dias, quando os valores estão totalmente voltados para o “ter”: Buscamos possuir bens de consumo numa escala progressiva em relação a seus valores; começamos quando crianças, sonhando em ter uma bicicleta... e quando a temos, e crescemos um pouco, passamos a querer uma mobilete... depois uma moto, depois um carro, depois um iate, depois um avião e quiçá uma nave espacial, para alçar vôos mais longos...

 

Tenho a sensação que sentiríamos menos sofrimento e inquietações se conseguíssemos o equilíbrio para racionalizar o grau de importância que esses bens de consumo representam em nossas vidas... Então surge o inevitável questionamento: Por que trabalho, para mim ou para os outros? Vejamos: Você usa tudo que você possui? Dê uma olhada em sua casa, no seu armário... você realmente utiliza tudo que compra? Necessita do que compra ou compra apenas para satisfação do seu Ego? Experimente quando se encontrar numa situação de “compra eminente”, se questionar: Preciso realmente disto ou posso viver sem? Talvez você descubra que boa parte do que adquire é desnecessário. E na luta do “ter” em detrimento do “ser” acabamos por não valorizar o tempo tão precioso; acabamos desperdiçando-o na busca de subsídios para “ter”...

 

É claro que existem algumas ocasiões peculiares quando sinto que o tempo está passando depressa. Parece que foi ontem que um menino de dois anos e meio começou a freqüentar a escola, e isso aconteceu há exatos 35 anos atrás. Há três anos, minha sobrinha nascia e hoje já briga com meu irmão para tirar o cinto de segurança quando saem de carro numa viagem longa. Revendo algumas fotografias, me pego emocionado com algumas passagens da minha vida. E revivendo essas passagens, constato realmente que o tempo está voando. Me sinto num presente que não me permite mais ser quem eu fui, ou ainda pior, não me permite vivenciar emoções ocorridas no passado, da mesma maneira... Uma lufada de ar que não se repete.

 

Em contrapartida, sinto que ainda tenho muito tempo para realizar muita coisa... e se isso parece ser uma ilusão, digo que não, pois observando pessoas de minha idade e por que não dizer, pessoas mais velhas, concluo que eles não comungam mais desse “urgentismo” que os jovens vivenciam... Não me sinto observando o tempo passar de uma janela, a não ser é claro, quando recordo o passado como fiz à pouco... mas também não me sinto num avião supersônico vivendo todos os momentos como se fosse morrer amanhã... Essas duas situações se permutam de maneira sutil, e me permitem sentir que vivencio isso tudo como acho que se deve: com a comprovada aceitação de que estou sim ficando velho, mas não uma velhice desperdiçada. E essa aceitação não me faz sentir opressão, desânimo ou qualquer sentimento negativo; ao contrario disso, me apraz! É como se o físico não acompanhasse o intelecto; como se a mente inconsciente se recusasse a acompanhar o envelhecimento do corpo e me pregasse peças. É engraçado isso. Uma mente mais jovem que o corpo. Sim, os sinais já começam a aparecer. Então já me pego a questionar o passado como se fosse a maior parte da minha vida e quando isso acontece tomo o susto que o meu amigo Antônio Neto tomou... De outra vez, me pego a vislumbrar as possibilidades do meu futuro, os meus possíveis projetos e também me assusto do mesmo jeito.

 

Bem, o meu amigo Neto, cita em seu e-mail que acha que o tempo está passando muito rápido, que não vai ter tempo para tudo o que espera do futuro, o que o obriga a ser extremamente seletivo e procurar fazer no presente o que realmente é prioritário. E questiona: “O que é realmente prioritário no presente? Será que são coisas universais?... Ou o que é prioritário é único pra mim, porque tem haver com meus sonhos e pra você porque tem haver com os seus?”

Meu caro amigo, esqueça os valores universais! Eles são apenas referências... O que vale é você, é como você os interpreta e os vive. Imagine o delírio de priorizar esses valores universais... Não, creio que o ser humano já evoluiu o bastante para acreditar no coletivo sim, mas não esquecendo que nossos objetivos, nossos sonhos são como “molas propulsoras” que nos fazem viver efetivamente. Aqueles que não sonham ou não tentam realizar seus sonhos, vivem pela metade. E viver pela metade é não viver; por conseguinte, é desperdiçar o tão precioso tempo.

 

 

Mário R. Mendes Júnior


Autor: MARIO R. MENDES JUNIOR


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