Bairro da Liberdade: símbolo maior dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil



Bairro da Liberdade: símbolo maior dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil

Um bairro da cidade de São Paulo que se "fez oriental"

Rogério Dezem (2008)


Mais conhecido como "Bairro Oriental", devido ao grande número de japoneses, chineses e coreanos, que lá residem ou trabalham, o bairro da Liberdade no coração e no imaginário de cada paulistano se conforma, principalmente, como o "bairro japonês". Na realidade, o bairro não nasceu oriental, mas se "fez oriental". Atualmente ele se configura como um dos maiores bairros étnicos asiáticos do mundo.

Quase cem anos separam a chegada dos primeiros japoneses à Liberdade, fato ocorrido em 1912. Alguns vinham do interior de São Paulo, outros da cidade de Santos indo habitar os minúsculos porões na rua Conde de Sarzedas, marco zero dos japoneses no bairro. Segundo o memorialista e artista plástico Tomoo Handa, foi por volta de 1914, que começaram a surgir as primeiras pensões e mercearias japonesas na região. A primeira delas foi a Pensão Ueji, na esquina com a rua Oliveira Monteiro e que depois mudou-se para rua Bonita (depois Tomás de Lima, atual Mituto Mizumoto) n° 111.

Ao longo das décadas de 1920 a 1940, os japoneses que vinham do interior se dirigiam para rua Conde de Sarzedas e arredores, onde se hospedavam em pensões japonesas e faziam compras em mercearias, inicialmente localizadas nos porões, onde os mais variados produtos japoneses eram comercializados, como por exemplo, as pastilhas para hálito "Jintam", pasta de dente "Laion" ( do inglês lion), como também algas marinhas e ovas de arenque.

No início da década de 1930, cerca de 600 japoneses moravam na rua Conde de Sarzedas. Outros moravam nas ruas Irmã Simpliciana, Tabatinguera, Conde do Pinhal, Conselheiro Furtado, Tomás de Lima. Os japoneses trabalhavam em mais de 60 atividades, mas quase todos os estabelecimentos funcionavam para atender a coletividade nipo-brasileira.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a região do bairro da Liberdade, por concentrar um grande número de japoneses e descendentes foi considerada área estratégica, vigiada diuturnamente por agentes do DOPS. Com a entrada do Brasil na guerra em 1942, a primeira região do país a receber ordem de evacuação foi a da rua Conde de Sarzedas e arredores no início de fevereiro de 1942. Os japoneses (isseis) tinham o prazo de dez dias para deixar a região, essa ordem de evacuação foi repetida novamente em 6 de setembro do mesmo ano. Apenas os nisseis permaneceram no bairro que só voltou ao "normal" a partir do final de 1945, dando início a uma nova fase.

Fase esta marcada pelo surgimento de jornais (São Paulo Shimbun, Jornal Paulista entre outros), pelos cinemas (Niterói, Nippon, Jóia e Tokyo), livrarias (Casa Sol), o Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa), a Associação de Confraternização dos Lojistas do Bairro da Liberdade (atual ACAL - Associação Cultural e Assistencial da Liberdade), além de uma série de lojas e restaurantes (o primeiro restaurante japonês, o Asahi, data de 1945).

O bairro na década de 1960 passou a ser mais "cosmopolita", chineses e coreanos passam a se instalar na Liberdade, abrindo jornais, restaurantes, casas comerciais entre outras atividades.

A nova feição do bairro fez com que umplano de orientalização da Liberdade (de autoria de Randolfo Marques Lobato) fosse anunciado em 1969.

Lobato era jornalista e presidente de uma comissão de chineses, coreanos, japoneses e vietnamitas radicados ou estabelecidos no bairro. A idéia principal do projeto era transformar a Liberdade em atração turística, a partir dos modelos como Chinatown existentes em Nova Iorque e São Francisco nos Estados Unidos. Daí a construção de um grande tori (portão), das suzurantos (lanternas japonesas) e dos jardins, que dão um charme nipônico ao bairro, cumprindo até os dias de hojeo ideal do projeto inicial. No final da década de 1970, o bairro da Liberdade possuía 53 lojas de artigos variados, 38 lojas de confecção, 48 casas noturnas, 3 cinemas e 63 restaurantes.

Para comemoração do centenário da imigração japonesa a prefeitura de São Paulo planejatrocar as lanternas instaladas na década de 1970. As peças, que antes eram de vidro, estão sendo substituídas pelas de polietileno - mais resistentes e que deverão ser mantidas. Pelo novo projeto, as lâmpadas já existentes serão substituídas por lâmpadas de vapor metálico. Além disso, existe um arrojado projeto de revitalização do arquiteto Márcio Lupion, para transformar a Liberdade em uma espécie de "Memorial do Japão". Aguardemos...

Bibliografia Consultada:Laís de Barros M. Guimarães, História dos bairros de São Paulo – Liberdade. Vol. 16.São Paulo, 1979. Tomoo Handa, O imigrante japonês no Brasil. São Paulo, T.A. Queiroz/CENB, 1987. Site: www.culturajaponesa.com.br/htm/historiadaliberdade.html (acessado 10 de março de 2008)


Autor: Rogério Dezem


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