Diagnóstico Histopatológico de infecção crônica por Hepatite C



Eduardo Marins do Nascimento

Introdução

A infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) é um problema de saúde pública em todo o mundo, inclusive no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que em torno de 3% da população brasileira estaria infectada por esse vírus. No Brasil, estima-se que há mais de um milhão de portadores crônicos do vírus C, de acordo com dados recentes da Sociedade Brasileira de Hepatologia, apresentando distribuição relativamente homogênea entre as diferentes regiões.

A aquisição da infecção pelo HCV ocorre mais eficientemente por exposição parenteral, como transfusão sangüínea, de hemoderivados, transplante de tecido ou órgãos de pacientes infectados e o compartilhamento de agulha infectada por usuários de drogas ilícitas injetáveis.

A transfusão de sangue, inicialmente importante forma de transmissão, tem se tornado cada vez mais raramente implicada, após a obrigatoriedade do uso de testes sorológicos para a detecção do anti-HCV nos bancos de sangue, no início da década de 90. Atualmente, as principais formas de transmissão são o uso intravenoso de drogas de abuso e a exposição sexual. Outras formas relatadas de transmissão são acupuntura, piercing, tratamento dentário, tatuagem, hemodiálise e atividade profissional na área de saúde.Em cerca de 40 a 60% dos casos, entretanto, não é possível identificar a forma de aquisição da infecção pelo HCV, o que caracteriza a forma esporádica da doença.

Após a infecção pelo vírus da hepatite C, 50 a 80% dos pacientes cronificam. Destes, 20 a 40% eventualmente desenvolvem cirrose após 20 a 30 anos.

A análise histológica da biópsia hepática auxilia na avaliação da gravidade da doença, na indicação do tratamento e no monitoramento da evolução da infecção crônica. Embora não possua característica histológica específica, a hepatite provocada pelo HCV possui três achados freqüentes: esteatose, agregados linfóides e lesão de ductos Biliares.

Biópsia Hepática

A análise histológica do tecido hepático é fundamental na avaliação diagnóstica e prognóstica dos pacientes com infecção crônica pelo Vírus da Hepatite C.

O conceito de hepatite crônica ao realizarem a descrição clássica da hepatite lupóide, hoje denominada hepatite autoimune. A partir de então, uma série de critérios de classificação das hepatites crônicas tem sido adotada.

A primeira classificação de Degrooteet al., em 1968, teve como critério fundamental a integridade da placa limitante lobular; dois anos após, Boyer e Klatskin (1970) observaram a importância da lesão parenquimatosa lobular e da necrose hepática em ponte na progressão da hepatite crônica para cirrose; em 1971, Popper e Schaffner introduziram na classificação da descrição histológica da atividade da doença, as lesões lobulares.

O índice histológico de atividade da hepatite crônica, que foi graduado, segundo critérios semi-quantitativos: a necrose periportal, necrose intra lobular, inflamação portal e fibrose.Este critério vem sendo utilizado até hoje no diagnóstico, prognóstico e monitorização terapêutica dos pacientes. Uma nova classificação, baseando-se na etiologia, no grau de atividade portal e periportal, grau de estadiamento e atividade lobular, que passaram a ser analisados separadamente.

A histologia na hepatite crônica pelo HCV pode variar de alterações discretas inespecíficas até cirrose, associada ou não ao carcinoma hepatocelular. Sua avaliação histológica está baseada na extensão da fibrose e desenvolvimento de cirrose.

Embora não tenha sido descrito nenhum marcador histológico etiológico patognomômico até o momento, há três achados freqüentes e característicos da hepatite pelo HCV: esteatose hepática, lesão de ducto biliar e agregados ou folículos linfóides.

A biópsia hepática está indicada antes do tratamento, para avaliar a extensão da doença, permitindo análise prognóstica e também para afastar outras patologias associadas. Quando a atividade for mínima, ou o tratamento não estiver indicado, sua repetição deverá ser feita a cada três a cinco anos.

A biópsia tem auxiliado no monitoramento do tratamento observando-se, nos pacientes respondedores, melhora da necrose, da lesão acinar e da inflamação portal.

Os linfócitos são as células do sistema imune mais comuns no fígado infectado pelo HCV. No espaço porta, encontra-se principalmente linfócito CD4, enquanto que no lóbulo, linfócito CD8. A quantidade de linfócitos se correlaciona com níveis de níveis de alanina aminotransferase e com o grau histológico da doença, sugerindo que eles promovem lesão hepática.

Os linfócitos CD4 são encontrados principalmente nos folículos linfóides, onde ocorre a apresentação dos antígenos do HCV ao linfócito B.

Os CD4 intra-hepáticos secretam principalmente citocinas Th1, as quais estão elevadas na hepatite crônica C, correlacionando-se com a severidade da inflamação e da fibrose hepática.

Referência Bibliografica

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Autor: Eduardo Marins do Nascimento


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