LINGUÍSTICA DE CORPUS E LINGUÍSTICA APLICADA: O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA



UNIVERSIDADDE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

DEPARTAMENTO DE LETRAS – DL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUISTICA APLICADA – CELA

Resenha Crítica

LINGUÍSTICA DE CORPUS E LINGUÍSTICA APLICADA: O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

MANOEL NILSON DE LIMA

Pau dos ferros – RN

2009

MANOEL NILSON DE LIMA

LINGUÍSTICA DE CORPUS E LINGUÍSTICA APLICADA: O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Lingüística Aplicada do Departamento de Letras do CampusAvançado "Profª. Maria Elisa de A. Maia" – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), como pré-requisito de avaliação da disciplina Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas, sob a orientação do Prof. Nilson Roberto.

Pau dos Ferros – RN

2009

RESENHA CRÍTICA

SARDINHA, Tony Berber. Lingüística de corpus e lingüística Aplicada: o ensino de língua estrangeira. In: Lingüística de Corpus. Barueri – SP: Manole, 2004. p. 251 – 296.

1 CREDENCIAIS DO AUTOR

Professor associado do Departamento de Lingüística e do programa de estudos pós-graduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC-SP, bacharel e licenciado em língua e literatura inglesas pela PUC-SP, Mestre em Lingüística Aplicada pela PUC-SP, PHD pelo Departamento de Inglês da Universidade de Liverpool (Inglaterra) e pesquisador do CNPq. Atua na área de Lingüística de Corpus há mais de 10 anos.

2 INTRODUÇÃO

O texto aqui resenhado apresenta vários aspectos da Linguística de Corpus e suas implicações para as teorias lingüísticas, corroborando para o entendimento da língua em uso, bem como a descrição da língua em estudo, no caso a língua inglesa, e a freqüência para a descrição, comparação de duas línguas e para a tradução. Nessa perspectiva, a Lingüística de Corpus apresenta mecanismos e materiais favoráveis ao ensino de línguas estrangeiras possibilitando ao professor e ao aluno o acesso à tecnologia computacional, seja dentro ou fora de sala de aula.

3 RESUMO

Na verdade, o interesse pelos estudos baseados em corpora não é algo tão recente o quanto se pensa, no começo do século XX até meados da década de 1980, surgem os primeiros relatos de aplicação de lingüística de corpus no ensino. Sendo que os primeiros estudos de corpora eram feitos manualmente e mesmo assim resultou na publicação de General Service Lists de palavras, tendo como escopo a preparação de materiais de ensino.

Há cerca de 80 anos, Edward Thorndike lança a primeira versão de sua obra Teacher's Wordbook (1921), tendo como base um corpus de 4,5 milhões de palavras, impulsionando grandes mudanças no ensino de línguas estrangeiras e maternas.

25 anos depois, Thorndike em parceria com Irving Lorge, revisa sua obra inicial, em um corpus de 18 milhões de palavras. Em 1953, Michael West publica o General Service List of English Words, com base nos trabalhos de Thorndike, Lorge, Palmer e Hornby.

Esses trabalhos faziam parte do Reading Moviment que tinha como meta a produção de matérias para ensinar e testar a leitura. Tendo como foco principal o vocabulary control, ou seja, as palavras contidas nos materiais deveriam ser controladas pela informação presente na lista de freqüência do corpus.

Graças a esses pesquisadores, hoje podemos realizar trabalhos grandiosos em menos tempo, no que diz respeito à descrição, tradução e comparação no ensino de línguas. Vale salientar que hoje contamos com o apoio fundamental do computar para a realização desse tipo de pesquisa, mais precisamente com as ferramentas do WordSmith Tools.

Nesse sentido, os corpora no ensino podem ser resumidos em quatro áreas de concentração: a) descrição da linguagem nativa; b) descrição da linguagem do aprendiz; c) transposição de metodologias de pesquisa acadêmica para a sala de aula; d) desenvolvimento de materiais de ensino, currículos e abordagens.

Na primeira área de concentração (descrição da linguagem nativa), seja uma descrição da fala ou da escrita, é uma pesquisa de cunho acadêmico e, por essa razão está tão distante da sala de aula, ou seja, os profissionais de ensino não teem uma ligação direta com o mundo acadêmico que viabilize essa descrição da linguagem baseada em corpus.

Nessa perspectiva, as pesquisas baseadas em corpora veem quebrando uma série de mitos que até então eram aceitas como verdade, tais como léxico e gramática. Os recursos da Lingüística de Corpus como a concordância, já ocupa lugar de destaque em publicações recentes em desenvolvimento de matérias, pois a posição da Lingüística de Corpus é que não devemos sobrecarregar os alunos com vastas quantidades de informação sintática e/ou lexical.

Uma critica bastante pertinente a esse ponto é a sua limitação, uma vez que, seja qual for o recurso de material utilizado em uma dada pesquisa estamos expostos aos seus limites na derivação de matérias a partir do corpus.

A segunda área de concentração (descrição de linguagem do aprendiz) tem como escopo a produção escrita ou falada de alunos de língua estrangeira, registrada em corpora de aprendizes (Learner Copora), a partir de textos ou transcrições de fala de não-nativos, surgindo assim várias questões de pesquisa sob o paradigma da análise de erros:

► Quais características lingüísticas da língua-alvo são empregadas como mais (sobreuso) ou menos (subuso) freqüência em comparação com falantes nativos?

► Qual a extensão da influencia da língua nativa (transferência) na produção dos aprendizes?

► Em que áreas eles tendem a usar estratégias de evitação deixando de explorar a fundo o potencial da língua-alvo?

► Em que áreas eles tendem a demonstrar desempenho nativo ou não-nativo?

► Quais são as áreas nas quais os aprendizes de um dado país parecem necessitar de mais ajuda para desenvolver sua produção na língua-alvo?

A terceira área de concentração (transposição de metodologias de pesquisa acadêmica para sala de aula), utiliza em sala de aula os recursos de concordância e de listas de palavras do WordSmith Tools. Uma concordância consiste de uma listagem dos cotextos (palavras ao redor) nos quais um dado item (palavra isolada, composta, estrutura, pontuação) ocorre. Os tipos de concordâncias mais comuns são o KWIC (Key Word In Context) e o KWOC (Key word Out of Context).

Nesse tipo de instrumento no emprego de corpus no ensino traz consigo alguns problemas, quais sejam: a carência de professores devidamente treinados para a utilização desse material e a conscientização dos alunos no que diz respeito às instruções de uso desse recurso.

A quarta área de concentração (desenvolvimento de matérias de ensino, currículos e abordagens), objetiva a criação de metodologias ou abordagens de ensino com base em corpora ou nos conceitos de Lingüística de Corpus. Mais precisamente no desenvolvimento de Currículo Lexical, Abordagem Lexical e o Ensino Movido a Dados.

O Currículo Lexical, também conhecido como Lexical Syllabus foi desenvolvido por Dave Willis, é uma proposta que utiliza os conceitos e a metodologia da lingüística de Corpus. Esse material é uma série de livros didáticos Collins Cobuild English Course, lançada nos anos de 1990, para o ensino de inglês. O material foi baseado em um corpus de 7,3 milhões de palavras. Segundo Sinclair o léxico era o centro, e assim, os pesquisadores do Currículo lexical provaram que na pratica, as palavras mais freqüentes na linguagem formam bem utilizadas na freqüência do vocabulário dentro dos três níveis (tokens e types) do Collins Cobuild English Course. Poisao final desses três níveis, os alunos teriam um vocabulário correspondente a 80% das palavras da língua inglesa, ou seja, os alunos seriam capazes de utilizar e compreender oito em cada dez palavras do inglês.

A Abordagem Lexical ou Lexical Approach também é baseada nos conceitos da Lingüística de Corpus, foi formulada por Michael Lewis. O escopo desse recurso de ensino de línguas é também o papel central que o léxico desempenha no conteúdo e na metodologia, com ênfase na colocabilidade do léxico. Contudo, há diferença entre o Currículo Lexical e a Abordagem Lexical. Esse enfatiza o caráter composto do léxico por meio das noções de porção, polipalavras e colocação; aquele entende o léxico como palavra isolada.

O Aprendizado Movido por Dados ou Data Driven learning, defendida por Tim Johns, é uma abordagem essencialmente indutiva e tem como sua principal característica desenvolver no aluno à habilidade de descoberta e o professor tem a incumbência de orientar e propiciar meios para que os alunos adquiram estratégias de descoberta. E assim fazer com que os alunos se tornem pesquisadores.

4 CONCLUSÃO E APRECIAÇÃO CRÍTICA

Isso posto, não há a menor sombra de dúvidas de que o ensino de línguas baseado na Lingüística de corpus rende bons frutos, uma vez que o mesmo se propõe a extração de textos e contextos visando o desenvolvimento das atividades e habilidades de descrição, tradução e comparação de línguas estrangeiras e/ou maternas.

É claro e evidente que assim como qualquer outro método ou abordagem de ensino de línguas, o ensino com base na Lingüística de Corpus tenha vantagens e desvantagens.

Poderíamos considerar como vantagens a grandiosidade dos corpora, que nos proporciona uma imensa riqueza sintática e lexical de uma determinada língua estrangeira e/ou materna, bem como a capacidade e habilidade de aprendizado através dos recursos e ferramentas computacional que facilita o desenvolvimento de um corpus, e a mensuração dos níveis de proficiência lingüística dos aprendizes no que diz respeito à freqüência e aos paradigmas de erros.

E como desvantagens, as limitações de qualquer corpus e as dificuldades de acesso a esse tipo de método e abordagem lingüística, em razão do distanciamento entre as academias e os profissionais de ensino, diga se de passagem, das escolas públicas, no caso de nossa realidade enquanto brasileiros. Pois mesmo que se trabalhasse com a Lingüística de Corpus em sala de aula não teria muito sucesso pelo fato de que não há uma disponibilidade para a preparação dos profissionais desenvolverem esses tipos de métodos e abordagens de ensino de línguas, bem como a conscientização dos aprendizes.


Autor: MANOEL NILSON DE LIMA


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