O Novo Vestibular e a Ineficácia de Nossos Governantes



Ensino Médio: incentivado por muitos educadores, mas não obrigatório perante as representações legais. Portanto aquele que queira oficializar a sua preguiça juvenil poderá, baseando-se em parâmetros legais, abdicar-se da freqüência em um banco escolar. Apenas o Ensino Fundamental é tornado obrigatório. Se não quero freqüentar ao Ensino Médio não há necessidade. Engano o seu. Aposta barata e dotada de muita ignorância. Devemos lutar para burlar mais uma lei neste País, de muitas, mas com pouca eficácia. Devemos sim, incentivar nossos jovens a voltarem às escolas, escolherem os melhores cursos, tomarem o gosto pela leitura.

Vivemos uma época de muitas competições, não só as esportivas, mas aquelas que encaminharão o futuro adulto ao mercado de trabalho. E nesse meio a rivalidade é enorme. "Olho por olho, dente por dente". O companheirismo foi deixado a um passado arcaico e pueril.

O vestibular é uma das etapas decisivas na vida de um jovem, que apesar da pouca idade tem que decidir o seu futuro apenas em uma prova, durante cinco horas. É o mundo passado em alguns minutos. É apenas naquelas poucas horas que o vestibulando terá a oportunidade de demonstrar o conhecimento adquirido naqueles anos de bancos escolares. Ali está o melhor aluno? Nem sempre. Aposta-se no jovem que se preparou para aquela oportunidade, muitas vezes isentado do "peso" de ter sido o melhor aluno da classe durante onze anos (tempo médio de freqüência do aluno em uma Unidade Escolar). USP, Unesp, Unicamp são as universidades estaduais mais procuradas e, portanto, as mais concorridas. É lá que o futuro profissional, ou seja, o jovem vestibulando, enxerga o seu futuro profissional. São dessas universidades públicas que, geralmente, saem os pensadores e profissionais mais importantes desse País (sempre lembrando que não é a Universidade que faz o aluno, mas o aluno é quem faz a Universidade), está aí nossa preocupação. Cotas e outros elementos que acabam deixando tudo mais fácil são empecilhos nesse campo competitivo. Investimentos no Ensino Básico não se faz, e é do Ensino Básico que saem os nossos vestibulandos, seres instruídos e aptos a uma competição. Sem falar no aspecto humano, que muitas vezes é deixado de lado, formam-se máquinas. Seres tapados. Treinados apenas para competir. Não são esses que queremos. Desejamos Homens competitivos, mas que tenham incorporado à sua formação aspectos típicos do caráter humano. Infelizmente o vestibular da maneira que era feito não ressaltava essas características implícitas de que cada ser humano é capaz de adquirir. O vestibular assemelhava-se à tortura. Mas como não dotá-lo de elementos inacessíveis se o Ensino afrouxou suas rédeas? Progressão Continuada? Piores resultados em Matemática e Língua Portuguesa? Como adentrar a uma Universidade sem os quesitos básicos que um estudante possa ter? Sair da escola sem compreender um texto de poucas linhas ou saber expor minha opinião através de simples argumentos que não sejam os monossilábicos sim ou não? Convenhamos, o governo errou. Durante anos aprovou esses cidadãos para o mundo e, também, não trabalhou aspectos essenciais à dignidade humana. Formaram-se seres vazios. E agora querem questionar a organização dos vestibulares? Não poderia ser assim, não deveria, mas tinha que ser, pois ao governo que foi atrelada a responsabilidade pelo nosso ensino, ele nada fez. Deixou à vida a responsabilidade pela formação de nossos jovens, que órfãos de famílias (pois esta se dilacerou), não conta com a ajuda dos donos da Educação. A Universidade era o único órgão que exigia um mínimo de saber por parte daqueles que as freqüentavam. Tinha que ser rígido. E a rigidez foi imposta através de seu mecanismo de entrada. Memorização? Sim. Reflexão? Não.

Hoje olhamos e podemos afirmar que as mudanças surgem, desde o alicerce educacional com políticas como o FUNDEB, igualdade salarial docente, capacitação de professores, infraestrura às nossas escolas. Necessitamos de mais. E o vestibular está mudando, também. A aproximação na caracterização dos vestibulares da USP, UNESP e UNICAMP acaba demonstrando essas reformas (que ainda não são as ideais), mas não pense o estudante que tudo ficará mais fácil. Decorar apenas não está nos planos, pelo contrário, o pensamento será mais exigido. A reflexão estará em jogo, e aqueles que melhor se prepararem, apostando em leituras, interpretação textuais, investindo na interdisciplinaridade, estes sair-se-ão vitoriosos. E com o novo ENEM, turbinado, acontecerá o mesmo: um número maior de questões implorando pelo raciocínio e a reflexão.

As chances são maiores aos alunos do Ensino Público? Acredito que só o futuro poderá nos revelar. Mas enquanto não se investir na base de nosso sistema educacional nada será mudado. E facilitar para alunos do Ensino Público é facilitar para alunos do Ensino Privado. As escolas particulares sabem que podem exigir mais de seus alunos, assim, também, deveria fazer os nossos governantes com os estudantes do Ensino Público, pois eles são capazes. Apenas uma questão de investimento.


Autor: Sergio Sant'Anna


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