Quem ganha mais?



Quem ganha mais?

                                                                                         Themis Groisman Lopes*

 

            O poder do dinheiro foi o tema da redação no meu vestibular para medicina, e neste momento, em meio ao turbilhão em torno do tema, me vem à tona o assunto. Ao abordá-lo, não gostaria de submergir ao lugar comum, que classifica o dinheiro, ora como mola mestra do mundo, ora como vil metal. Qual o significado real do dinheiro, em nossa sociedade? .Nas épocas mais primitivas, quando não havia moeda, o escambo era praticado sempre na base da troca do necessário pelo necessário. As grandes navegações e com elas as grandes descobertas ocorreram pelo desejo expansionista de novas conquistas, visando o lucro que poderia ser obtido através de muita selvageria.  Junto com o lucro, o poder. Esta é uma constante associação. No liberalismo econômico, surgem inúmeros estímulos ao consumo, gerado de todas as formas possíveis. Pensando no valor do dinheiro, em determinados instantes, ele parecia ser a solução para tudo. Surge a pergunta: a chamada classe média brasileira como vive? Vive de seu trabalho, não é herdeira milionária e luta muito para adquirir qualquer bem e sabe quem ela é. Não podemos negar a importância do ganho necessário para uma sobrevivência mais digna. Por exemplo, não possuir um plano de saúde num país como o nosso, é ficar inúmeras vezes; horas, meses, anos, em intermináveis filas do SUS e até morrer nas mesmas, antes de qualquer atendimento. É uma barbárie! Nesse momento surge a tristeza pela desigualdade sócio-econômica, que privilegia alguns e prejudica tanto a outros.  Afinal, o dinheiro compra tudo ou quase tudo? Que satisfação seria retornar à época do escambo! Como isto é um sonho utópico, não podemos fugir à dura realidade de que quem tem o dinheiro consegue de várias formas o poder e o domínio. Inúmeros são os indivíduos que vivem exclusivamente em busca desse único objetivo. Outros ganham tanto, que insaciáveis e vorazes procuram acumular cada vez mais. Seria o maquiavelismo soberano, operando no mais amplo sentido, sem escrúpulos, utilizando todo e qualquer meio para conseguir o objetivo. Explode a corrupção, o suborno, a prevaricação, os crimes de colarinho branco, o incremento da violência. Que necessidade primitiva e instintiva de obter satisfação, acumulando!  Retorna a indagação: o dinheiro compra tudo? Podemos observar pessoas e famílias bem estruturadas, realizadas, por poderem trabalhar e assim manter suas necessidades básicas Já estive em aldeias de pescadores, que ao trazerem peixes para casa, vibravam ao ver o sorriso de felicidade nos olhos de seus filhos. A pergunta não se satisfaz, continua. Ganhariam mais os afortunados financeiramente, que pisoteiam sem piedade, em sua desenfreada ambição? Também não podemos generalizar. Todos nós conhecemos pessoas bem aquinhoadas, mas que vivem tranqüilas, sem ganância, sem prejudicar ninguém e até auxiliando os mais necessitados.

             Tudo é uma questão de posicionamento muito pessoal, tanto a respeito do significado do dinheiro, como de tantos outros quesitos em nossas vidas. Parece que o válido realmente, não pode ser tocado, nem visto, mas sim vivenciado. Se pensarmos no passado, não podemos refazê-lo, amanhã será sempre uma incógnita, que depende do que formos capazes de fazer hoje. Agora, é o presente e como tal deve ser vivido. Não será mais econômico aproveitar o que temos e viver assim intensamente? .Seremos sempre os que ganham mais, se tivermos paz de espírito, honestidade, solidariedade e principalmente afeto. Não importa se vivermos mais ou menos, com mais ou menos dinheiro, nossas vidas não terão sentido, se não sensibilizarmos as pessoas e nos sentirmos tocados por elas.  

Alguém já comprou isto?        

                                                                                                                  * Psiquiatra

 

 

 

                                                          

 

 

 

                   


Autor: Themis Groisman Lopes


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