FLORA DA CAATINGA: ILHA MASSANGANO, RETRATO DE UM BIOMA EM DEGRADAÇÃO



Wilma de Souza Barbosa1, Noelma Cecília Pereira Costa1, Katia Lisane1, Patricia Pâmela1, Maria de Fátima Landim1 & Carlos Alberto Batista Santos2

1Alunos do Curso de Especialização em Educação Ambiental – UPE – FFPP

2Professor Orientador

1.INTRODUÇÃO

O bioma caatingacompreende uma área de aproximadamente 800.000 km²,ocupando cerca de 12% do território nacional e 70% da região nordeste estendendo-se pelos Estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais. Nas regiões da caatinga predominam o clima quente, com prolongadas estações secas, deixando a vegetação com aspecto seco e esbranquiçado por quase todo o ano, o que lhe rendeu o nome (caa = mata / tinga = branca) oriundo do tupi.

É considerado como único bioma exclusivamente brasileiro, sendo que, grande parte do seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Sua vegetação é composta por plantas xerófitas, ou seja, plantas que desenvolveram mecanismos para sobreviverem em ambiente com poucas chuvas e baixa umidade, sendo comum espécies vegetais de porte pequeno, arbustos e plantas com espinhos que reduzem a perda de água pela transpiração. Os cactos são muito representativos da flora desse bioma, contudo existe uma variedade de outras espécies, como: mandacaru, coroa-de-frade, xique-xique, juazeiro, umbuzeiro, aroeira, entre outras.

Nas últimas décadas as alterações ocorridas em 59% nesse ecossistema brasileiro, em virtude das intervenções antrópicas, provocaram uma série de impactos ambientais - degradação do ecossistema, redução da biodiversidade - que comprometem o funcionamento da cadeia ecológica. Somando-se a isso a contaminação biológica pela introdução da algaroba (Prosopis juliflora) que se disseminou e se estabeleceu em determinados sítios da caatinga, ocupando grandes extensões de terra devido, dentre outros fatores, à facilidade de adaptação da espécie na região.

É neste contexto de degradação e de preocupação ecológica que se buscou investigar o nível de conservação do estrato arbustivo-arbóreo do bioma caatinga no recorte espacial da Ilha Massangano localizada no Rio São Francisco no município de Petrolina (PE).

2.METODOLOGIA

O estudo efetivou-se através de pesquisas bibliográfica visando a fundamentação teórica sobre o bioma e a Ilha; e de campo com o objetivo de coletar informações fundamentais para o diagnóstico da área em estudo e compreensão de sua transformação.Realizou-se um levantamento da flora, registrada em fotos, seguida da realização simultânea de entrevistas com amostra da população, em cuja transcrição se utilizou a metodologia êmica.

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

O percurso percorrido no Rio São Francisco para se chegar até Ilha Massangano, que fica a 15 km da cidade de Petrolina, revela a intervenção humana ao longo de suas margens, através de áreas de lazer ali instaladas.

Adentrando a Ilha a percepção do processo de antropização observado durante o trajeto de acesso, foi ratificado. Habitada atualmente por uma comunidade de descendentes de quilombolas e imigrantes de outras localidades, a Ilha, que teve seu povoamento iniciado há dois séculos atrás por negros e índios, apresenta uma certa infra-estrutura com ares de urbanidade.

No que concerne à observação da flora, há evidências de que esta se encontra em avançado estágio de degradação, conseqüência do projeto de agricultura irrigada nela implantado (favorecido pela disponibilidade de água em abundância) e agravado pela contaminação biológica da algaroba Prosopis juliflora, planta invasora, presente em quase toda a Ilha.

Corroborando com essa constatação, dona Teresinha moradora da Ilha há mais de 40 anos e ex-lider comunitária, quando entrevistada assegurou que, "antes não havia algaroba, existia o marizeiro que foi derrubado pra plantar arroz. Quando esbarraram de plantar arroz a algaroba apareceu, as aroeiras morreram na cheia de 1969 ela ficou muito destruída".

Seu Raimundo, um dos moradores mais antigos, que vive na Ilha há mais de 60 anos, foi categórico: "Tinha palma, xique-xique, mais foi tudo derrubado pra fazer plantio. Plantaram cebola, arroz, feijão. Quando cumeçou o plantio foi preciso derrubar os pé de pau tudo".

A devastação tem sido motivo de preocupação para os moradores da Ilha. A exemplo de dona Bertolínia, nascida e criada na Ilha a 40 anos, que falou da preocupação já existente em relação à revitalização da vegetação nativa da Ilha, "Não tem mais Turquia e um monte de pranta, mas o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA, a Associação de Moradores, a Escola e o Pró-Rural, tão fazendo muda com a ajuda dos morador e quem dá as mudas é a Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária - EMBRAPA". Seu Bartolomeu, outro morador acrescentou,

"As planta foram arrancada pra fazer roça, baraúna tem um ou outro pé, e o marizeiro e a aroeira não tem mais, talvez tem uns cinco pé. E quando instigado sobre o plantio de mudas de plantas nativas, foi enfático em sua simplicidade e sabedoria ao dizer: "Se plantar e num moiá num vale nada, a planta tem que cicatrizar, por isso num pego pra plantar. Aqui tiã tudo da caatinga, mais foi tudo derrubado pra plantar".

Entretanto, contrastando-se com as áreas desnudas, apresentam-se diversas estratificações de plantas coloridas de um verde, típico da caatinga, que teima em sobreviver em meio a tanta adversidade.

Da vegetação nativa da ilha resta muito pouco, encontrando-se enclaves do bioma. São verdadeiras relíquias fincadas em terras de seu Zé do Alho (27 ha), comerciante de alho que chegou a Ilha há 25 anos, e procurou manter a vegetação encontrada, destinando apenas alguns hectares para a criação de animais e para plantio. Questionado "porque" ele foi enfático ao dizer:

"Gosto muito de pranta, pra cortar um pé de pau é um sacrifício, penso muito". Contrastando com o espírito seu preservacionista nos deparamos com muitos pés de algaroba em suas terras e ele se justificou "Eu conseuvo a algaroba porque serve de ração pro animal e a bagem é muito cara". O último pé de umburana o rio matou, deu uma cheia e ela já tava veia".

4.CONCLUSÕES

A disponibilidade de recursos hídricos na região do semi-árido tem se colocado como vantagem local para a implantação de diversos empreendimentos agrícolas, ampliando a disponibilidade de áreas para serem exploradas com agricultura irrigada sendo comum a sua devastação para o plantio, cultivo e comercialização de diversas culturas. Nesta perspectiva a Ilha Massangano tem sido alvo da exploração agrícola, cujos impactos ambientais são irreparáveis.

A agricultura irrigada além de degradar a área, não trouxe o desenvolvimento para Ilha e tampouco melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, que quando não aposentados ou proprietários de bares ou restaurantes, buscam fonte de renda na cidade de Petrolina.

Por outro lado, percebe-se que a degradação da Ilha vem suscitando a reflexão do problema ambiental ali instalado, já que, está sendo encaminhado o processo de revitalização através do plantio de mudas nativas da caatinga, viabilizada pela parceria entre a comunidade, instituições e órgãos públicos interessados em minimizar os impactos ambientais, cuja dimensão social não pode ser ignorada.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBIENTE BRASIL. Disponível em: <www.ambientebrasil.com.br>, acesso em janeiro de 2009.

ECODEBATE. Disponível em <http://www.ecodebate.com.br/2008/06/06/bioma-caatinga-ja-perdeu-59-de-sua-area/> acesso em janeiro 2009.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Disponível em <http://www.pernambuco.com/diario/2001/09/17/revistatv7_0.html>, acesso em janeiro 2009.


Autor: Carlos Alberto Batista Santos


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