A Presença da Diferença e da Diversidade no Contexto da Classe Hospitalar



Jacyara Coy Souza Evangelista - Graduada na UNEB. Pedagoga,Especialista em Educação Inclusiva ,pela Faculdade da Cidade, professora da Rede Municipal de Educação de Salvador atua como professora de classe hospitalar no Projeto Vida e Saúde, nas Obras Sociais Irmã Dulce, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador. ([email protected]).

Resumo:A educação no contexto do ambiente hospitalarainda é um tema novo e pouco discutido entre os educadores. Considerando as variáveis que lá se instalam, procuramos neste estudo evidenciar como as diferenças e a diversidade existentes na classe hospitalar podem contribuir para a construção de conceito ampliado de inclusão. Apresenta a heterogeneidade a as interações dos atores envolvidos: pedagogas, alunos/pacientes, familiares e funcionários ,em um complexo sistema de inter-relações de ensino-aprendizagem. Observou-sedurante o estudo que o ato de aprender nessa escola possibilita a geração de novos conhecimentos, enriquecidos pelas trocas de experiências com os mais diversos grupos sociais , respeita e valoriza as diferenças.

Palavras-chave: Diferença , Diversidade; Interações,

Resumen: La educación en el contexto del hospital es todavía una nueva y poco debatido tema entre los educadores. Teniendo en cuenta las variables que se pueden instalar, este estudio intenta mostrar cómo las diferencias y la diversidad en la clase hospital pueden contribuir a la construcción de la expansión del concepto de inclusión. Muestra la diversidad y las interacciones de los actores involucrados: profesores, estudiantes y pacientes, familiares y funcionarios en un complejo sistema de inter-relación de la enseñanza y el aprendizaje. Se observó durante el estudio que el acto de aprendizaje en la escuela permite la generación de nuevos conocimientos, enriquecido por el intercambio de experiencias con diferentes grupos sociales, respeta y aprecia las diferencias

Palabras clave: diferencia, la diversidad, las interacciones.

Introdução

As relações pessoais que se dão entre os atores da escola hospitalar – professores, alunos/pacientes, acompanhantes, profissionais da área de saúde e outras denotam a diversidade de fatores , como estranheza ao ambiente e desconforto, que contribuem na formação das variáveis que interferem neste espaço.

A hospitalização, vista como uma experiência complexa, compreende também um processo de inter-relações, onde os profissionais de saúde, pacientes e suas acompanhantes e familiares estabelecem um elo de fortalecimento nos diálogos , atitudes, gestos, olhares e nos silêncios, revelando toda a intensidade subjetiva que perpassa uma situação de risco (Ortiz e Freitas 2007 p. (43)).

Dentro darealidade vivenciada na classe hospitalar, o educador nesse contexto busca em sua prática, estratégias que norteiam seu trabalho pedagógico como : o olhar mais sensível ao estado emocional do aluno/paciente, a escuta mais aberta para compreensão da sua singularidade, diferenças e integralidade a fim de favorecersua aproximação, aspectos esses que auxiliam a ação educativa, no momento tão delicado na vida dessas crianças e jovens .

A escuta pedagógica, nesse ambiente surge como metodologiapara acolher a ansiedade e as dúvidas das crianças e jovens hospitalizados como também, criar situações coletivas de reflexão sobre eles, e colaboram dessa forma,para a construção de novos conhecimentos, no entendimento de sua existência , no favorecimento do seu estado de ânimo.

Ao escutar os alunos/pacientes atentamente, percebemos uma variedade culturalbem distinta, pois estes são na sua maioria oriundos dasmais diversas localidades do Estado da Bahia, até de outros, identificada muita vezes pela variedade lingüística, que ora desperta a curiosidade e estranheza no grupo, o que requer muitas vezes , mediação do professor para não privilegiar uma cultura em detrimento de outra.

As diferenças eas diversidadesimbricadas na classe hospitalar

Os grupos culturais que se imbricam na escola do hospitalpodem ser identificados pela etnia, gênero, idade, locação geográfica, renda, classe social, ocupação, nível de escolarização, e credo. Dessa forma, essas diferenças culturais se consistemem um bom viés para a troca de saberes eno processo de ensino e aprendizagem.

Uma vez que há necessidadeem adaptar a educação escolar à diversidade da educação hospitalar , Ceccim e Fonseca (1999, p.36), ressaltam que:

Os espaços e tempos da aprendizagem para crianças ou adolescentes hospitalizados seguem regularidade e intensidade diferentes da escola comum e atendem, além das demandas intelectuais, às necessidades de pertencimento a uma comunidade afetiva e de inclusão sociointerativa.

Como em qualquer sala de aula, é comum entre outras, a diferença no nível de escolarização entre os alunos, no entanto, faz-se necessário respeitar os ritmos , o tempo de execução das atividades propostas, as diversas histórias de vida, que são relatadas na sala de aula, sem perder de vista os diversos papéis da equipe multidisciplinar , atendendo sempre para o quadro patológico da criança.

Quanto aos aspectos didádico-pedagógicos que instrumentalizam o educadorem sua prática docente no ambiente hospitalar, são de grande relevância, a sensibilidade em saber lidar com situações em que haja conflitos, cautela na atuação com as diferenças, a criatividade , a disponibilidade e a capacidade de adaptar-se as peculiaridades da dinâmica e rotina do hospital.

Como vimos, a escola no hospital é um espaço compartilhado onde os alunos/pacientes e seus acompanhantes/responsáveis e educadores se encontram para trocar experiências, saberes , afetos, e também para falar sobre seus desejos, sentimentos de angústia, tristeza, medo, revolta, dores, solidão e incertezas.

São vários os fatores que chamam aatenção nesse lugar , um deles diz respeito ao credo. Como as incertezas são constantes, a devoção conforta as pessoas nos seus sofrimentos, e não é raro, vê-las e ouvi-las rezando ou lendo a Bíblia, juntamente com seus familiares, visitantes e seus filhos enfermos.

As representações e manifestações de religiosidade, sejam por meio de símbolos ou práticas, também, estão presentes no cotidiano escolar, expressas pelos educandos e seus responsáveis em suas falas, em suas produções escritas, seus desenhos, demarcando assim, sua cultura, independentemente da opção religiosa, o trabalho educativo na classe hospitalar das Obras Sociais Irmã Dulceprocura exprimir valores e idéias como o respeito e a tolerância à diversidade de credo.

Como salienta Paula (2004) , a escola no contexto de classes multisseriadas, além de representar a garantia do direito da criança e do adolescente hospitalizado continuar estudando, é também um espaço de socialização para os enfermos (...) um local de trocas de experiências multiculturais (,,,) um espaço de construção de conhecimento para os professores que aprendem a lidar com a diversidade.

Èsabido que, a escola é um lugar constituído por uma população com diversos grupos étnicos com seus hábitos e costumes. Na escola do hospital não são raras a presença de crianças indígenas, ciganas, e aquelas que assumem suas características afro-descendente, despertando muitas vezes, preconceito e discriminações.

Trindade (1994) nos chama atenção quando diz:

"é bom sinalizar que qualquer caminho trilhado no sentido de lidar com as diferenças no cotidiano educacional não é neutro, nem ideal. Todos nós estamos marcados por nossas visões de mundo, por valores incorporados ao longo da nossa existência, por idéias e ideais constituídos ou apreendidos, por concepções a respeito da vida e de mundo, È bom lembrar que a vida, no singular e no plural, é muito mais abrangente que nossa condição humana pode captar, compreender, capturar".

Compartilhando esse pensamento, no que se refere à escolaridade dos educandos/pacientes o quadro também é bemdiverso, há muitas crianças e adolescentes das escolaspúblicas e privadas, queapresentambons índices de aprovação e desempenho e se mostram interessados em dá continuidade aos seus estudos,muitos levamatividades das suas escolas de origem para serem realizadas durante seu período de hospitalização.

Há um contingente dealunos/pacientesque recebem acompanhamento no horário oposto ao atendimento pedagógico em sala de aula , são crianças que abandonaram a escola por motivo de doenças crônicas e que tiveram sucessivas reinternações; outras porque trabalham;outraspela discriminação que sofremem relação a sua patologia e/ou síndrome; ou deficiência física ; há aquelas que aindanão tiveram a oportunidade de freqüentar uma escola, além de tantas outras, que apresentam doenças degenerativas com comprometimento, e prejuízos cognitivos, motores e intelectuais.

Assim também, os que se encontram em situação de risco e/ou abandono, moradores de rua, dependentes químicos, os que residem em instituições, e não muito raros, os com necessidades educativas especiais, que na sua maioria não estão sendo acompanhados por uma instituição especializada. Nesses casos, a intervenção pedagógica é feita através de um planejamento direcionado e específico de modo que venha atendê-los individualmente e nas suas prioridades, e ao receberem a alta hospitalar é feita uma observação diagnóstica , seguida de um encaminhamento, protocolado,para a matricula numa escola regular e/ou especial, quando esses são residentes da Capital (Salvador).

No que concerne ao atendimento pedagógico do aluno hospitalizado existe toda uma sistematização individualizada das atividades desenvolvidas, do tempo de permanência, conteúdos estudados, registros em pareceres, para efeitos legais de garantia a assiduidade e o aproveitamento do mesmo, que será enviado para sua escola de origem. Toda a rotina de atendimento do escolar/enfermo pós-alta hospitalarserá arquivada para quaisquer esclarecimentos e/ou dúvidas que advenham de solicitações de outrem, e para futuros levantamento de dados estatísticos, de números de crianças atendidas durante o ano em decurso , que poderão ser contabilizados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC)e peloProjeto Vida e Saúde das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) .

Algumas Considerações

Nesse complexo e diversificado quadro da classe hospitalar, pode-se perceber que o trabalho especifico do pedagogo que atua nesse espaço,exige além da sua formação pedagógica e especializada, equilíbrio emocional e muita maturidade, mesmo por que as circunstâncias e o ambiente podem exercer influências no comportamento e maneira de ver e sentiro outro .

Como em qualquer contexto não é fácil a tarefa de ensinar e aprender , e especificamente numhospital. Decerto que as atribuições designadas ao pedagogo hospitalar não são as mesmas dos profissionais de saúde que lá atuam, porém o trabalho comprometido implica em contribuir efetivamente para fluir a atividade educacional, mesmo tendo que conviver com todas as incertezas e variáveis que permeiam essa modalidade de educação.

Referências

CECCIM, R. B. Classe Hospitalar: buscando padrões referenciais de Atendimento Pedagógico - Educacionalcriança e ao adolescente hospitalizados. Revista Integração. Brasília, v.9, n.21,p.31-40, 1999.

FONSECA, Eneide. Simões D. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. MENON, São Paulo, 2003.

ORTIZ, Leodi Conceição Meireles; FREITAS Soraia Napoleão. Classe Hospitalar: Caminhos pedagógicos entre a saúde e educação. Santa Maria: Ed. UFSM, 2005.

.PAULA, E.M.A.T. Educação, Diversidade e Esperança: A Práxis Pedagógica no Contexto da Escola Hospitalar. 2005. 300fls. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade. UFBA, Salvador,2005.

TRINDADE, A. L. da. O racismo no cotidiano escolar. Rio de Janeiro: FGV//IESAE. Dissertação. Mestrado. 1994.


Autor: Jacyara Coy


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