Corte na SELIC: devagar e sempre



Ainda não foi desta vez que inauguramos a "Era da economia de 1 dígito".

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) diminuiu o ritmo de queda da taxa de juros, ao anunciar em 29 de abril uma nova redução da Selic de 1 ponto percentual, de 11,25% ao ano para 10,25%.

Com juro real (descontada a inflação do período) de 5,8%, o Brasil ocupa a terceira colocação na lista, atrás respectivamente de China (6,6%) e Hungria (6,4%), de acordo com cálculos da consultoria Uptrend.

Em termos nominais, o Brasil fica atrás apenas de Venezuela (17,10%), Islândia (15,5%) e Rússia (12,5%). Entre as grandes economias, a crise derrubou as taxas para patamares próximos de zero. É o caso dos EUA (entre 0,25% e 0%), União Europeia (1,25%), Coreia (2%) e Austrália (3%).

O corte de quarta-feira representou a terceira redução seguida da taxa básica, que estava em 13,75% ao ano no início de 2009. Em janeiro, o Copom reduziu a Selic para 12,75%, e em março para 11,25%. Desde o fim de 2003, no início do governo Lula, o BC não promovia uma sequência de cortes de juros dessa magnitude. Os diretores do BC só voltam a se reunir nos dias 9 e 10 de junho.

Em linha com as expectativas do mercado financeiro
O corte de 1 ponto percentual já era esperado pelo mercado financeiro.  Os primeiros sinais de recuperação do crédito doméstico, da atividade econômica e os chamados efeitos defasados da política monetária - que demoram até seis meses para se materializarem - já indicavam uma desaceleração no ritmo.

De acordo com a pesquisa Focus, realizada pelo BC com o mercado financeiro, os economistas esperam agora mais dois cortes seguidos nos juros: para 9,50% em junho e 9,25% em julho. Depois disso, a taxa só voltaria a cair em 2010, para 9% ao ano.

Para as próximas reuniões do Copom - são cinco até o final do ano - há consenso quanto à existência de espaços para uma maior flexibilidade da política monetária, reforçado com o comunicado de 29 de abril. O câmbio tem se apreciado. Só este ano, o dólar acumula queda de 6,56%, negociado ontem a R$ 2,17. A expectativa inflacionaria tanto para este ano quanto para 2010 está em 4,30%, abaixo do centro da meta de 4,5%. Além disso, a expectativa de crescimento econômico para 2009 é negativa ou muito inferior ao PIB potencial do País, hoje próximo de 4,5%.

Mas na direção oposta do setor produtivo
Empresários e sindicalistas esperavam a manutenção do ritmo de queda das duas últimas reuniões, que decidiram por quedas de 1,5 ponto percentual da taxa.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, considerou a redução positiva, mas cobrou cortes mais incisivos para mitigar os efeitos da crise mundial.

A Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) cobra do governo medidas paralelas ao corte da Selic para forçar a queda dos spreads bancários. Em nota, o presidente da Associação, Paulo Godoy, justifica que os spreads encontram-se no maior patamar desde o início da década.

A Fecomércio-RJ afirma, por sua vez, que o país deixa de economizar R$ 3 bilhões no serviço da dívida indexado à Selic, ao não reduzir a taxa básica em 1,5 ponto percentual na reunião de quarta-feira. De acordo com cálculos da entidade, que representa o comércio no estado do Rio, a redução de 1 ponto vai proporcionar economia de R$ 8 bilhões para os cofres públicos. Se caísse 1,5 ponto, a economia chegaria a R$ 11 bilhões.

Logo após a decisão de ontem, grandes bancos como Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil (BB), Caixa e HSBC - criticados pelos spreads elevados - comunicaram que estão reduzindo suas taxas de juros. Já para os cofres do governo, o corte de um ponto na Selic permitirá a economia de R$ 7,07 bilhões nos próximos 12 meses, segundo cálculos da Austin Rating.

Qual é a estratégia do BC?
O BC quer reduzir o ritmo de queda da Selic para prolongar o processo de redução dos juros. Ao invés de fazer um corte maior rapidamente, a redução seria estendida pelos próximos meses.

Trata-se de um jogo combinado com outros setores do governo. A ideia é dar tempo para que se possa mexer nas regras de remuneração da caderneta de poupança. Se a remuneração da caderneta ficasse mais atraente que a dos títulos públicos e de fundos de investimentos poderia haver uma grande migração de recursos. As novas regras para a correção das cadernetas já estão praticamente definidas.

Bibliografia:
Jornal O Estado de São Paulo de 30 de abril de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 30 de abril de 2009
Jornal do Brasil de 30 de abril de 2009
Jornal Zero Hora de 30 de abril de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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