A mãe em jogo



Hoje, quando acordei pela manhã, ainda o dia insistia em sair, mas algumas pessoas, moradoras no mesmo prédio em que resido, já se aprontavam para comemorar mais um Dia das Mães. Desde muito cedo escutei panelas sendo areadas ao tanque com aquele jato muito forte de água emitido pelo SAAET (a companhia de água e esgoto aqui de Taquaritinga – cidade onde nasci e voltei a morar com minha família). As janelas um pouco velhas do apartamento ao lado são abertas com um barulho que lembra à sua velhice. Algo que há muito tempo não recebe um tratamento, e olhe que merecem. Ao menos um óleo para evitar o barulho causador do arrepio. Minha filha resmunga quando o barulho surge do vizinho, minha esposa titubeia para acordar. Não acorda. O pai passa a mão em seu rosto pequeno e moldado – feito à base do mais puro amor, daí sua beleza genuína. Beatriz volta a dormir.

Levanto, tomo meu banho e lá está minha filha, Bia, a chamar. Priscila, minha esposa, dialoga com a pequena, que aprende às primeiras palavras. Saio do banheiro eufórico pelo beijo em Priscila pelo seu primeiro Dia das Mães. O presente já lhe foi dado no sábado, assim também presenteei minha sogra, minha mãe e minha única avó (uma grande mãe que tive e ainda tenho). Visitamos minha mãe que mora em frente ao nosso prédio, abracei e beijei minha sogra e não deixei de visitar minha vovó, a quem levei o seu presente e que muito me contou. Histórias de um passado distante, que merece um livro por tanta batalha vencida; exemplo aos jovens de hoje que a qualquer pedra no caminho de Carlos Drummond de Andrade já querem desistir. Lá fora no rádio meu avô Wylly ouve atento ao jogo decisivo do time da cidade, que busca uma vaga na Primeira Divisão do Campeonato Paulista do próximo ano. A briga é pela vitória, mas ao final nosso time cede o empate. As chances são remotas, mas a esperança não morrerá enquanto apontarem-nos uma luz ao final do túnel.

É desse jogo que me bate a lembrança das mães desses jogadores, atletas que lutam pelo acesso de um time muitas vezes desconhecido. Que simplesmente paga o seu salário para ser servido de seu futebol. Como a mãe de muitos desses garotos e adultos que os abandonam ao vento e desabrigo e são acolhidos por uma bondosa alma. De fato não pôde, os atletas, usufruírem o almoço maternal nesse domingo especial. A federação, quem marca os horários e os dias das disputa poderia utilizar-se do bom senso e ter marcado esses jogos no sábado, um dia antes do Dia das Mães. Garanto que os seus representantes maiores estavam lá, mesmo que no cemitério depositando flores às falecidas. Enquanto isso nossos atletas, jogavam. Mas, também, não reivindicaram, garanto se houvesse um mínimo de amor teriam bradado contra. Parece que o amor materno não saiu vitorioso neste domingo, pelo lado dos atletas e dos representantes da federação.


Autor: Sergio Sant'Anna


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