Benditas catástrofes ou da crise para a gripe



Para nós que as enfrentamos ou sofremos suas conseqüências, as crises, catástrofes, cataclismos, tragédias, ou grandes acidentes – depende de como as queiramos denominar – não são bem vindas. Mas as tragédias são o prato principal, do qual se nutre a imprensa e são esperadas ou buscadas – ou fabricadas – para deleite do sensacionalismo, principalmente televisivo.

Exemplo típico está ocorrendo agora.

A crise econômica era o prato do dia, mas azedou quando surgiram os primeiros casos da tal "gripe suína" alardeada como prenúncios de uma pandemia. E assim a crise econômica foi abafada por uma crise febril, entrecortada com alguns fleches das enchente do norte-nordeste, como bem o apregoara Antonio Conselheiro dizer que "sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão"

Uma pessoa de bom senso, neste momento, pode se perguntar: qual o motivo da imprensa dar tanta ênfase ou buscar tantas catástrofes para serem noticiadas? Pode se perguntar por que a tragédia é tão anunciada pela imprensa enquanto as coisas boas quase não aparecerem nos noticiários? E pode se perguntar, também, porque é que nós, diante dos noticiários de graves problemas, nos fazemos mais atentos às noticias?

Comecemos com uma afirmação importante: coisas boas não dão lucro! Boas notícias não mobilizam as emoções das multidões! O sangue e a tragédia aguçam os sentidos, além de serem lucrativos. A história da humanidade não se fez nem está marcada por amenidades, mas por tragédias. Os grandes nomes da história nem sempre são de pessoas sensatas, comedidas, mas de grandes sanguinários. Hitler tem mais credibilidade, ou mais páginas, nos livros de história do que Gandhi: Gandhi ensinou o caminho não violento para as conquistas políticas, mas Hitler mobilizou o mundo com um mar de sangue que começou com os judeus e envolveu grande parte da humanidade – claro que hoje o governo judeu faz o mesmo com os palestinos; e ninguém percebe porque os noticiários se posicionam contra as vítimas e a favor dos algozes; os noticiários não contam, nos dias atuais que a criação do Estado de Israel foi uma violência contra os palestinos que, simplesmente reagiram... dando inicio à atual rivalidade entre os dois povos.

Mas, também isso é um prato cheio para a mídia, pois essa rivalidade provoca explosões! Devemos notar que, além de ser um excelente banquete para as empresas produtoras de armas e cimento e ferro e outros materiais de construção... a guerra, como a gripe, são excelentes fontes de notícia... e de dividendos. A guerra é tremendamente lucrativa, ao ponto de podermos dizer que se descarta a paz para semear o lucrativo império da guerra.

Mas nossa questão aqui, não é analisar a lucratividade da beligerância, mas recordar que antes da gripe havia uma crise econômica anunciada, alardeada e apresentada como grande problema para a população mundial; anunciada e noticiada como tão catastrófica como havia sido aquela de 1929. Mas tudo isso, num passe de mágica desapareceu: A crise econômica, que atrofiadora da economia, foi esquecida pelos noticiários tão logo os primeiros espirros da nova gripe surgiram. E as empresas de noticia esperam, ansiosos, o anúncio de mais um caso, para alardearem a ampliação da catástrofe. E, com isso, assegurar, ou segurar, a atenção da população ao redor dos noticiários.

É claro que entre um espirro e outro são dadas outras notícias: enchente no norte-nordeste, desabrigando milhares de pessoas, vendaval em São Paulo, arrancando árvores e assustando as pessoas; e o tom sensacionalista da notícia mostra dois operários balançando ao sabor do vento que os arremessa contra a parede do edifício. Mas nada disso ofusca o brilho da catástrofe suína. Ressalta-se até mesmo o tom heróico da ciência brasileira: "estamos preparados para enfrentar a gripe suína", diz um noticiário; "o Brasil vai fabricar vacina contra gripe suína"... no desenrolar da notícia se percebe que os mecanismos de defesa são os mesmo no mundo inteiro, e o Brasil só fabricará a vacina cerca de seis meses após receber amostras do vírus, para, só então, começar a fazer os primeiros estudos e testes...

O que podemos perceber, com isso é que as catástrofes são muito bem vindas e que, por vezes as notícias são fabricadas, de forma sensacionalista. No dia em que se encerrava o campeonato paulista de futebol, ocorreu, ao vivo, a fabricação de uma notícia sensacionalista. Um apresentador de programa de televisão convidou a platéia a ficar em pé para aplaudir a próxima atração. Ato contínuo entrou no ar os repórteres esportivos, entrevistando um famoso jogador que havia desenvolvido papel importante para seu time ser campeão. O apresentador, com sua costumeira verboloquencia, atropelava os repórteres chamando a atenção do jogador e dos repórteres para o detalhe da platéia estar aplaudindo em pé – mas estavam em pé, a seu pedido. Pior ainda: no dia seguinte, na mesma emissora, num programa esportivo do meio dia, a mesma cena, já editada é mostrada. E os apresentadores do programa esportivo elogiam a participação daquele jogador, dizendo que a platéia do programa, no dia anterior havia aplaudido em pé ao craque. Mas não ressaltam que a platéia estava em pé a pedido do apresentador.

E é assim que as coisas são feitas. Fatura-se com as catástrofes e se elas demoram muito a acontecer, fabrica-se a notícia. Nada importa, nem a ética nem a verdade dos fatos, apenas o aprisionamento das atenções do público.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

Leia mais: <http://falaescrita.blogspot.com/>; <http://ideiasefatos.spaces.live.com>;

<http://www.webartigos.com/authors/1189/NERI-P.-CARNEIRO>; <http://www.artigonal.com/authors_51301.html>; <www.brasilescola.com.br>


Autor: NERI P. CARNEIRO


Artigos Relacionados


Paródias

O Ciclo Do Nitrogênio E A Camada De Ozônio

As Pontuais Mudanças Trazidas Pela Lei 11.689/08 = Júri

Empreendedorismo No Brasil

Para AlguÉm Que EstÁ SÓ

País De Duas Faces

O Que Ofuscou A Crise Econômica