COMO BUSCAR A FELICIDADE?



O tema é de todo movediço... Tão difícil quanto entender o que é "felicidade", é entender como devemos buscá-la. Mesmo sem nos atermos a definições ou conceitos, carregamos em nosso âmago a noção de que almejamos um estado de alma pleno, em que as inquietudes não mais existam. As inquietudes, enraízem-se em necessidades físicas ou espirituais, são o contraponto da Paz a que a alma eterna anseia. Vemos que a felicidade, mesmo não sabendo exatamente o que seja, é a água que sabemos existir ante a presença de uma sede constante que nada consegue aquietar completamente.

Buscar a felicidade depende de nossa atitude diante da Vida.

Meditemos.

Quando nos referimos ao amor da mãe por seus filhos, é certo que temos em mente um sentimento elevado, absorvente, incondicional, um sentimento de grande pureza e que vibra no tom fundamental da proteção plena à prole. Nesse contexto, quando dizemos "Mãe Natureza", creio, buscamos ver na Vida a presença desse mesmo amor protetivo. Afinal, quem não desejaria estar eternamente no colo de uma mãe tão carinhosa quanto protetiva?

Mas as coisas não acontecem na Natureza exatamente desse modo...

Todas as formas de vida estão em constante luta por sua sobrevivência. A Natureza, aliás, tem efetivos mecanismos de preservação da espécie, em si, e não do espécime, individualmente considerado. Equivale a dizer que o ser não é importante mas sim o ente coletivo. A Natureza é uma mãe que se preocupa em fazer com que os seus filhos, esses entes coletivos, ganhem mais e mais caracteres de maior adaptação ao meio e, portanto, maiores chances de sobrevivência.

Para que os filhos da Mãe Natureza possam evoluir, pequenas porções de seres são expostos à experimentação das mutações genéticas. De fato,o eventual sacrifício de alguns indivíduos, caso a mutação resulte em adaptabilidade menor, vale o risco de beneficiar-se a espécie com uma modificação que venha a torná-la mais eficaz na busca de alimento e reprodução.

Bem, mas então, a bem da verdade, a Mãe Natureza não tem aquele "amor" materno nem mesmo por seus "filhos coletivos". Se um espécime modificado mostrar-se mais adaptado, é bem provável que todo o ente coletivo estará fadado a ser substituído em sua composição individual por espécimes gerados pelo ser modificado e mais adaptado.

Os ocultistas costumam saber que a Mãe Natureza é "fria como uma tábua de mármore".

Pois bem.

Antes de nos lançarmos a um indignado repúdio a essa concepção devemos pensar no quanto realmente desejamos que a Mãe Natureza seja "boazinha" e nos proteja. Mais do que isso, desejamos ardentemente que Deus seja, de fato, bondoso e misericordioso. Porque sabemo-nos imperfeitos e com falhas decorrentes, muitas vezes, de nossa livre opção.

Mas considerar a existência de um Deus de infinita bondade e misericórdia costuma confundir as pessoas. O ideal de Justiça Divina tem que se amoldar ao pressuposto de uma misericórdia infinita. Rapidamente o conceito de "bondade" torna-se o mesmo, ou muito próximo, do conceito de piedade.

Como haver plena e absoluta justiça se deve haver infinita piedade e misericórdia? Como podemos imaginar uma condenação, resultado legítimo de um Julgamento Divino, se a "bondade", atributo essencial ao Criador, exige a equidade sublime do perdão incondicional?

Ora, talvez a nossa noção de Deus esteja mais próxima da idéia que fazemos de uma bondosa "Mãe Natureza".

Segundo Pascal a Natureza tem perfeições para mostrar que é a imagem de Deus; e tem imperfeições para indicar que é somente sua imagem.

Como a Natureza tem mecanismos nem um pouco misericordiosos, por certo a imagem de Deus, com as imperfeições da Natureza, não implica na concepção de que esses mesmos mecanismos sejam contrários à Bondade do Criador. Pelo contrário, pode-se dizer que as confirmam. A confusão advém do fato de que, nos processos naturais, o "Bem" é alcançado através de processos e fenômenos que a razão imatura do homem teima em classificar como o "Mal".

Quase toda a base das concepções místicas do mundo ocidental partem da premissa de que existe um Deus de Bondade e Amor e um ser tenebroso cuja natureza é essencialmente maligna, o Diabo. A partir dessa dualidade absoluta, o homem passou a considerar tudo sob a ótica de um Deus de Amor a que se antepõe o Adversário, o Mal, o Príncipe das Trevas, cognominado Impostor, Pai da Mentira etc.

As tradições milenares dos povos, à exceção do mundo religioso cristão, não colocam o "Mal" como um opositor independente do Criador. O "Mal", da mesma forma que os mecanismos da Natureza, não é fruto de um "Anjo Decaído" e devotado eternamente à perseguição dos homens e combate à Obra de Deus. Lúcifer não aparece, seja qual for o nome conforme a cultura, senão como um símbolo para as conseqüências naturais que os processos e mecanismos de evolução comportam, quase sempre concebidos sob a ótica assustadora da violência, da morte, da luta incessante e estafante pela sobrevivência, da angústia que acompanha os desejos, enfim, do medo.

O homem ocidental é que julgou inconcebível tais aspectos da Natureza como parte de Deus. O Deus "bonzinho" e superprotetor é concepção humana. O homem criou sua religião e seu Deus à sua imagem e semelhança, com suas limitações e, principalmente, com sua visão acerca das dores do mundo.

Vale insistir, para o homem tornou-se inconcebível que as dores do mundo adviessem do mesmo Criador a quem rotulava como "infinitamente misericordioso e bondoso". Enquanto na simbologia arcaica do oriente era comum a identidade de aspectos "bons" e "maus" na mesma divindade, para o ocidental isso tornou-se uma hedionda heresia.

A Queda, esse fenômeno que o ocidental simboliza em um Anjo, o mais iluminado de todos, que se precipitou no pecado por desejar ser Deus, não foi concebida considerando a essência e a origem do próprio Anjo, filho do mesmo Pai Eterno e ao qual estaria, de qualquer forma, eternamente vinculado, sob pena de não existir o caráter absoluto do Criador. O homem ocidental passou a acreditar que há um Deus Absoluto, mas que há também um Adversário Absoluto. Admite o Diabo como um Anjo que, por ter-se tocado de vaidade, devotou-se à mais absoluta e irremediável maldade, sem quaisquer finalidades senão guerrear pelo domínio das Trevas.

Não é um símbolo consistente.

A Queda, com muito mais propriedade, é vista, seja qual for a designação, por culturas antigas como a entrada do sopro de Vida do Criador no mundo material. A Luz Sublime do Pai Eterno vem ao barro e amolda o homem. O pecado original do homem, diga-se, foi desejar o conhecimento. Pecado? Bem, essa é apenas uma palavra. Se nos afastarmos ao menos um pouco da dualidade absoluta do homem ocidental acerca do Bem e do Mal, veremos que não houve propriamente um crime, um pecado, ou ato ilícito. Da mesma forma que um tigre não comete crime ao devorar uma presa, o homem desejou conhecer. A Serpente que inoculou o "veneno" do "pecado" original, tão-somente é um mecanismo da natureza que despertou no homem a capacidade de aprender.

Novamente a Mãe Natureza. Seus mecanismos. Deus em atuação.

Então, qual deve ser nossa atitude diante da Vida para buscar a felicidade?

Se tirarmos o Diabo de nossas considerações, devemos entender que toda a maldade que reina no mundo sejam mecanismos da Natureza?

Sim. Devemos aceitar rapidamente que todos nós somos, sempre e sempre, irrestritamente responsáveis por tudo o que fazemos e deixamos de fazer. Tudo de ruim que aconteça é fruto das ações nossas e dos que estão à nossa volta.

Não cogitamos de "culpa", mas sim de responsabilidade. Responsabilidade no sentido de haver respostas a tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, em relação a nós e a todos os que estão conosco, do mesmo modo em relação a eles entre si e em face de outrem.

De tempos em tempos, para que o homem possa continuar sua jornada perante a Mãe Natureza, é posto à experimentação de mudanças que o Pai Eterno imprime na Vida de todos.O eventual sacrifício de alguns confortos e conveniências do homem vale o acerto das rotas evolutivas. É o Pai Eterno, em sua efetiva e real bondade e misericórdia, atuando na Vida de todos como a Providência Divina.

É necessário algum Diabo? Duvido muito.

Creio que a melhor atitude de busca da felicidade é estarmos cientes de que somos senhores de nossos destinos.


Autor: Marco Aurélio Leite da Silva


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