O carvão está garantido



O carvão está garantido

 

Há um ano na fila, aguardando uma entrevista com o Presidente Lula, alguns artistas da TV Globo, associados à ONG Amazônia Para Sempre, decidiram realizar uma vigília ─ a chamada Vigília dos Artistas ─  em defesa da floresta. Foi um trabalho notável.

 

Notável também merece chamar-se o desempenho paralelo de Miriam Leitão que, de sua tribuna televisiva, forneceu  ao movimento o preciso contraponto  histórico,     revelando  ao publico, de um só golpe, a relação dos mísseis que o governo e o legislativo têm engatilhados para disparar  contra o nosso precioso bioma.  Projetos de Lei, Medidas Provisórias, gestões do BNDES, um sortido arsenal de maldades, desfilaram em praça púbica, ao comando da ilustre jornalista.   

 

Ficou bonito de ver a harmonização dos esforços em prol de uma causa tão nobre, uma causa assentada em razões de extrema lucidez, e estruturada sobre tema de vultosa e crucial relevância.

 

Criou-se, destarte, entre os mentores da Vigília, a expectativa de que a autoridade questionada, no caso o Presidente Lula, reagiria no mesmo tom do clamor; de que sairia pessoalmente ou de viva voz ao encontro dos manifestantes, como, por muito menos, costuma fazer em suas andanças; de que mostraria na defesa da floresta a mesma determinação, a mesma presteza que o orientam, por exemplo, na política dos juros e na  preservação do Bolsa-Família.  

 

Mas ─ ledo engano ─ quem apareceu foi o ministro do Meio-Ambiente, de gravata verde, insinuado entre os manifestantes, para  anunciar algumas alquimias. Disse ele textualmente:  “Nosso compromisso é transformar toda essa esperança, toda essa força em medidas concretas que impeçam que a Amazônia vire carvão.”

 

Dito e feito. Mal Sua Excelência acabou de falar, a Câmara concretizou a  primeira alquimia. Conforme anunciara o ministro,  energias foram transformadas em medida concreta. A Câmara dos Deputados acabava de aprovar a Medida Provisória que permite o avanço do desmatamento.  

 

Bem, não dá para esconder que a alquimia saiu às avessas, e que o carvão está  garantido.  

 

De todos os modos, os mentores da Vigília não  devem esmorecer.

 

Enquanto aguardam a audiência com o Presidente Lula, marcada para junho, terão tempo de reavaliar os seus cabedais.

 

Antes de mais nada, será preciso reconhecer que a Vigília dos Artistas desenha um perfil romântico, incompatível com a índole beligerante da situação.  Guerra é guerra, e “vigília”  é um nome frouxo.  Vigiar é esperar que aconteça. Não foi isso o que ensinou Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

 

O primeiro passo, portanto, será transformar a “Vigília” em protesto, e logo em greve de fome, de tal forma que já à audiência com o Presidente, todos compareçam com as caras pintadas, refratários a salamaleques, tensos como os bravos, altivos como os justos.

 

O passo seguinte dependerá do que se decidir na audiência. Se as reivindicações forem atendidas, o episódio estará encerrado. Caso contrário, os insatisfeitos terão de sair à cata de alternativas.

 

Tirante o alvitre de ir às últimas consequências na greve de fome, francamente, só enxergo duas saídas higiênicas: regressar ao casulo romântico ou figurar como enredo numa escola de samba.

 


Autor: Osorio de Vasconcellos


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