Aula Particular



Numa das salas de aula da N.G.B., entre um copo de suco e outro, quatro indivíduos discutiam suas situações, o assunto era: a dificuldade de relacionamento com os demais, pelo poder do sentido que tem de cada um dos envolvidos.

Na mesa ao lado, um estudante, de primeiro grau, ávido em bisbilhotar as conversas alheias, "ser todo ouvido" era o seu intento.

Dizia então o Verbo Transitivo Direto e Indireto:
- Eu não gosto do meu papel na sintaxe, porque me chamam de verbo pobre, simplesmente pelo fato de precisar de dois objetos: um direto e outro indireto, para me completar o meu sentido. Isto é muito desconfortável. Eu sou um verbo importante, ninguém ousa me descartar da oração. Caso o façam, ela perderá o sentido!

O verbo Intransitivo não pode conter um riso irônico no canto da boca, observado pelo Verbo Transitivo Direto. Este argumentou:
-Você ri da desgraça alheia, porque sua situação é cômoda, confortável. Você não tem problemas, é rico em sentido, não depende de complemento!

Ele, vexado, ainda com um riso amarelado do flagrante, tratou de reorganizar-se, e defender-se:
- A minha situação não é diferente, ás vezes sinto na pele a invasão do predicativo do Sujeito em meu predicado, saturando o saco no meu espaço e dividindo comigo a importância nuclear, transformando o meu predicado em Predicado Verbo-Nominal, que até então, era Predicado Verbal!

O calor da discussão amenizou quando entrou na porta o Verbo de Ligação, todo sorridente e bem trajado. Os outros o olharam com desprezo, porém com uma ponta de curiosidade, tanto que um deles jogou uma pergunta no ar:
-Qual seria o motivo da alegria desse bisbórria!?

Não suportaram a curiosidade e com uma outra pergunta agora mal educada o inquiriram num coral bem afinado:
- Porque um tonto fica alegre?!?

Sem perder o humor respondeu com classe e sabedoria:
- Como sempre o assunto de vocês deve ser o poder, a importância dentro do sistema da língua! Pois eu lhes digo e afirmo, não me preocupo com o poder, mas sim com o efeito que produzo com minha presença na oração e até mesmo com a minha ausência na oração. Na presença ligo o substantivo ao adjetivo, dois amigos inseparáveis e os deixo felizes. Na minha ausência colaboro com o estilo do autor... Concordam?

O Verbo Transitivo Indireto pensou na sua condição de precisar sempre de apoio da preposição para ligá-lo ao objetivo indireto, O mesmo aconteceu na cabeça do Verbo Transitivo direto em relação ao seu objeto direto, não diferente com o verbo Intransitivo. Continuou o Verbo de Ligação:
- Sou importante ou não, depende do meu leitor, pois o significado não está no TER sentido, mas no SER sentido!

Os quatro entreolharam-se sem entender... Ao sair disse que o faria, por ter hora marcada com um Predicado Nominal e que na mesma hora, teria um compromisso com uma ausência em um Predicado Verbo-Nominal.
Ouvindo isso, os outros verbos murcharam a bola e foram trabalhar em suas orações. O estudante, que assistira entusiasmado um tratado de Sintaxiologia, saiu animado para uma prova de Análise Sintática.

( ADEMAR OLIVEIRA DE LIMA )
Autor: Ademar Oliveira de Lima


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