Os artigos religiosos são produtos religiosos?



A resposta a essa pergunta parece ser óbvia: sim, os artigos religiosos são produtos religiosos. Porém, se analisarmos mais profundamente o significado dessas expressões, poderemos encontrar resposta diferente. Com efeito, os artigos religiosos são “objetos de devoção”, que ajudam nossa relação espiritual com a devoção. Eles fazem a “ponte” entre aquilo que é visível e aquilo que é invisível; entre aquilo que é material e aquilo que é espiritual. Eles “materializam” aquilo que não vemos. Já os “produtos religiosos” são os objetos produzidos, vistos sem a sua conotação espiritual, ou seja, vistos apenas como “produtos” que, por acaso, são religiosos. Aqui, o fato de ser “religioso” é apenas uma designação de diferenciação do produto.

 

Essa “pequena” diferença pode representar uma enorme distância entre um e outro. Posso, por exemplo, pegar um escapulário apenas como um produto religioso. Nesse caso, ele será, para mim, nada mais do que um objeto produzido para fins religiosos e comercializado nos meios religiosos, mais precisamente nos meios católicos. Ele perde toda a conotação simbólica e espiritual que carrega quando o vejo apenas como produto religioso.

 

Por outro lado, quando vejo um escapulário como “artigo religioso”, enxergo, além do objeto, todo o simbolismo e força espiritual que ele tem: um símbolo de consagração a Maria Santíssima cujo ato de usá-lo exige compromisso com a fé, com a moral cristã, com um comportamento cristão, com a busca da oração e da participação na Igreja, além de todo o ensinamento dado pela própria Virgem Maria a respeito do uso dos escapulários. Aqui, o fato de o objeto ser religioso faz toda a diferença para a compreensão desse “artigo”.

 

Depois dessa análise mais aprofundada, podemos dizer que, na verdade, os artigos religiosos não são produtos religiosos. Os artigos religiosos são objetos de devoção, de oração, de contemplação, de respeito, de reverência. Eles tem um significado profundo. Eles nos lembram das coisas do céu, nos lembram daquilo que é transcendente.

 

Já os produtos religiosos são os objetos fabricados, normalmente, para usos religiosos, porém, vistos apenas como objetos, deixando de lado sua conotação simbólica e espiritual.

 

Dependendo da situação, tratar os objetos de devoção como produtos é até imprescindível, como, por exemplo, numa indústria de objetos religiosos. Na hora da produção em grande escala, da comercialização, eles tem que ser vistos como objetos para que se possa fazer os devidos controles de qualidade, quantidade, estoque, remessas, logística de entrega, etc. Nesses momentos, claro, é preciso tratá-los como produtos, que fazem parte de um negócio, de uma indústria.

 

Porém, quando esses objetos religiosos são criados, isto é, no ato da criação de cada objeto religioso, antes de se começar a sua produção industrial, é preciso pesquisar e buscar sua origem religiosa, simbólica e espiritual. Se isso não for feito, corre-se o risco de se fabricar e comercializar “produtos” que não remetem ao que ele deveria remeter, ou seja, à fé, à religião, à força do simbolismo e da transcendência. Nesse caso, o “produto” nunca vai deixar de ser um mero “produto”, sem força simbólica, sem transcendência e só será usado por quem não conhece a sua origem.

 

Vários artigos religiosos tem uma característica muito especial. Eles são “instrumentos de oração”. Como exemplo disso, posso citar os terços, dezenas, rosários, genuflexórios (aqueles objetos feitos de madeira, que servem para que nós nos ajoelhemos sobre eles). Eles são artigos “usados para rezar”, durante a oração e que fazem parte da oração. Isso é muito interessante porque, além do significado simbólico e transcendente que eles tem, esses objetos “fazem parte” da própria oração. Claro, eles não são indispensáveis para que se possa rezar. É possível rezar o terço ou o rosário contando as Ave-Marias nos dedos; é possível rezar sem se ajoelhar, etc. Porém, esses objetos de devoção ajudam muito durante nossa oração.

 

Essa característica desses “instrumentos de oração” encontra ressonância nos corações dos fiéis há séculos. A maior prova disso é que há muito tempo eles são produzidos em larga escala. Aliás, nem é possível se estabelecer quando e onde se começou a produção desses artigos em larga escala. É um fato que acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos. Faz parte da natureza humana.

 

Por outro lado, a produção dos objetos religiosos alcançou hoje um grau de beleza e perfeição nunca visto. Com a evolução da ciência e da indústria, hoje é possível se produzir em grande escala, verdadeiras joias religiosas, joias católicas, com uma qualidade incrível e com uma grande fidelidade à origem do objeto e àquilo que ele representa.

 

Isto significa trabalho, geração de empregos em várias camadas: desde a pesquisa da idéia, da criação, da produção até chegar aos vendedores finais. Milhares de empregos são gerados neste processo. Milhares de famílias são sustentadas através dessa indústria. Significa também que, ao longo dos séculos, o ser humano não mudou num item muito importante de sua natureza: a fé em Deus e a religião.

 

Muitos tentam negar essa realidade. Porém, ela faz parte da natureza humana. É uma irracionalidade querer negar a sede de Deus que existe no coração do homem. Precisamos de Deus. Viemos de Deus e vamos para Deus. E, nesse caminho, os artigos religiosos tem o seu lugar. Eles não são mais importantes do que o próprio Deus, do que fé; não são mais importantes do que o amor que devemos ter com o próximo e não são mais importantes do que as pessoas. Porém, eles nos ajudam na oração, na lembrança do transcendente, na simbologia que faz parte de nossa natureza.

 

Os artigos religiosos são produtos religiosos? Sim e não. Depende de como você olhar para eles. Depende de como você lida com eles. Depende do momento em que você lida com eles. Assim é a vida, assim somos nós seres humanos. Atribuímos valores a objetos que encontram eco dentro de nossos corações. Porém, às vezes, precisamos deixar esse eco de lado para lidar com eles mais profissionalmente. Em outros momentos, deixamos este “lado profissional” e lembramos de nossa devoção, daquele amor indiscutível que existe em nosso coração e os usamos religiosamente. Somos humanos. Criados por Deus assim.

 

Que Deus nos dê sabedoria para lidarmos com os objetos de devoção da maneira certa, na hora certa. Que Deus nos dê sabedoria para lidarmos e usarmos os artigos religiosos da maneira certa, na hora certa. Que Deus nos dê sabedoria para lidarmos com os produtos religiosos da maneira certa, na hora certa, fazendo tudo bem feito e ajudando na construção deste mundo.


Autor: Vicente Paulo


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