A FORMAÇÃO DE FORMADORES DOCENTES PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR



Autor: José Carlos dos Santos Gonçalves 1
Orientador: Adriane Menezes Sales2.

1 Faculdade Ipiranga/Curso de Docência do Ensino Superior, [email protected]

2Faculdade Ipiranga/Dep. Pós-Graduação, Curso de Docência no Ensino Superior, [email protected]

Resumo-A formação de formadores docentes, quanto a importância da educação de qualidade exigida pela sociedade e o contexto cada vez mais sólido da globalização, fomenta discussões acaloradas entre especialistas da área, membros da sociedade e políticos, pois, o reflexo da formação, se baseado nos resultados dos exames nacionais e internacionais de curso, não apresenta, como reflexo, a qualidade e a quantidade positiva que se espera, dominem, os formandos da Educação Superior. Esse baixo rendimento, é fruto da má atuação do professor e sua prática prumada em seu teorismo? Ou do aluno por sua negligencia?

Palavras - chave:FORMAÇÃO. EDUCAÇÃO. FORMADORES. SUPERIOR. DOCENTE.

Área do Conhecimento: EDUCAÇÃO

Introdução

Ao optar por escrever um artigo sobre a formação de docentes para a Educação Superior, considerando a opinião dos formandos sobre o curso que freqüentam, infere ao leitor, inicialmente, um posicionamento ambíguo ao resultado, tendo em vista que, por conta da condição de atores e públicos no processo, podem contribuir para um resultado tendencioso.

Entretanto, se intenciona provocar a reflexão sobre o peso do teorismo ideológico e do teorismo prático exercido pelos docentes formadores e, conseguintemente, sob o prisma imparcial e neutro que rege uma pesquisa, isentando-se de corporativismo, verificar a importância dada pelos discentes à sua própria formação e à aquisição de conhecimentos que os tornem qualificados à formação de profissionais que privilegiem a qualidade da educação seja ela pública ou privada.

A importância do trabalho consiste em levantar informações e dados sobre a configuração como se processa a formação de docentes a partir da ótica dos discentes que pretendem trabalhar na formação de novos docentes, verificando, inclusive, o quanto eles contribuem para a mesma. O objetivo consiste na ampliação do conhecimento e do debate que se tem sobre o assunto formação de formadores e, dessa forma, prover reflexões que provoquem intervenções que culminem no aprimoramento do curso de pós-graduação em Docência do Ensino Superior destinado à formação de formadores de professores tanto na rede privada quanto na rede pública do Estado do Pará.

JUSTIFICATIVA

Obedecendo, conforme Gil (p. 17, 2002) "a procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos", no caso a reflexão sobre o peso do teorismo ideológico e do teorismo prático exercido pelos docentes formadores e, conseguintemente, a importância dada pelos discentes à sua própria formação e à aquisição de conhecimentos, esta pesquisa, segundo Gil (p. 17, 2002), é "desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos".

Essa sistematização é necessária para que o desenvolvimento da pesquisa conceda informações e dados confiáveis que permitam a compreensão contextual em que se desenvolve o curso de Docência do Ensino Superior da Faculdade 'Y' destinado a formação de formadores docentes.

Embora a temática da pesquisa não seja original, não houve dispensa do rigor cientifico, pois, a analise das respostas captadas através de questionário, tendo por base a opinião dos discentes que freqüentam o curso, objetivou saber, quanto a conscientização dos professores formadores de formadores docentes, a importância dada à participação docente na elaboração do planejamento e execução de suas práxis. A partir da questãose pretende provocar areflexão dos gestores de instituições de Ensino Superior quanto a necessidade de balanço constante do andamento – produtividade e qualidade – dos cursos que oferecem à clientela e a compreensão da realidade em que se desenvolve o curso tornando a prática pedagógica dos formadores e o desenvolvimento do curso mais dinâmico e atrativo.

A pesquisa foi realizada no final da primeira quinzena de novembro de 2008, quando se consultou, através de questionário composto de dez perguntas, a opinião de onze, dos dezesseis discentes regularmente matriculados no curso de especialização em Docência do Ensino Superior de uma Faculdade 'Y' localizada na Cidade de Belém no Estado do Pará.

Justifica-se por se tratar de um estudo sobre a formação de formadores docentes para a Educação Superior, refletindo as opiniões discentes sobre posições teóricas e práticas quanto ao exercício dos formadores, a partir da opinião dos discentes. Pela necessidade que se tem de verificar junto a clientela que opta pela matricula e freqüência a modalidade de ensino e ao curso, o grau de satisfação com a qualidade deste entre os discentes e a seu compromisso à sua própria formação.

Surgiu como estudo em face das constantes reclamações veladas e abertas feitas a coordenação do curso quanto a qualidade formativa do curso freqüentado pelos discentes, entre as quais destacavam a postura apática, acrítica, autoritária e dicotômica entre teoria e prática por parte de muitos dos formadores do curso.

Por "fundamentar-se no desejo de aprofundar o estudo de uma questão; no interesse particular ou profissional" (ANDRADE, 2001, p. 141) o estudo que deu origem a este artigo se propôs identificar a percepção dos discentes sobre a práxis dos professores e o objetivo do curso e com o resultado provocar ações por parte dos envolvidos que propiciem o aprimoramento da qualidade da formação de formadores, bem como a edificação de conhecimentos, práticas e a conscientização da importância de valores éticos, morais, sociais, políticos, científicos e culturais que contribuam para a valorização da educação, em qualquer nível de ensino.

Outro fator que justificou a pesquisa, é o dinamismo com que a sociedade contemporânea, em qualquer Estado, vive a dinâmica globalizante que diminui a distância entre os espaços e amplia a quantidade de fronteiras a serem conhecidas em face do volume de informações e comunicação entre as sociedades em todos os setores sociais. Sob os contextos político ou econômico, essa dinâmica globalizante, exige, cada vez mais e melhor, mão de obra poli-qualificada à execução de serviços, inclusive na educação, forçando instituições de Ensino Superior, particulares ou privadas, a assumirem um perfil formacional docente dinâmico ou, como diz PIMENTA (apud Cavallet p, 106, 2002) com capacidade profissional em conceber e implementar novas alternativas, diante das crises e dos problemas da sociedade.

Em suma, um profissional educador crítico intelectual reflexivo de sua participação no contexto social humano.

FUNDAMENTO TEÓRICO

O referencial teórico da pesquisa é baseado na filosofia educacional pedagógica crítica reflexiva de Pimenta, buscando situar e vincular a importância da formação de formadores docentes conscientes de que, segundo Pimenta (p, 110, 2202) "as condições concretas de efetivação das mudanças devem ser buscadas e produzidas. Uma vez percebidas, discutidas e processadas as alterações necessárias, os docentes que se dispuserem a assumi-las devem contar com o apoio institucional apropriado".

Por Freire (1996), quando afirma que "não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino", logo, por mais micro que seja o objeto dessa pesquisa, as informações e dados coletados, após serem tratados, analisados e confrontados à luz dos teóricos, será de grande valia à reflexão do fazer da prática pedagógica dos formadores de formadores, bem como da importância de participação desse profissional no planejamento do curso, na elaboração da ementa de sua disciplina e na postura do fazer pedagógico.

Metodologia

Essa pesquisa, baseada na coleta de campo, analisou sistematizadamente a opinião discente sobre a postura acadêmica dos docentes no exercício de sua práxis ao curso? Qual a importância da participação do formador docente na elaboração do currículo e/ou da ementa do curso que ele freqüenta e que atribuiu nota numa escala de 1 a 10, quanto ao comprometimento dos formadores do Curso em Docência do Ensino Superior para com a qualidade dos formandos?

No ato da pesquisa, perguntou-se que elementos curriculares o discente considera importante de serem abordados e/ou trabalhados pelos formadores docentes de seu curso? Se as disciplinas, de maneira generalista, contribuíram positivamente à sua formação como futura formador docente? Se positivo, como? Se houve dicotomia entre a teoria e a práxis dos formadores do curso de Docência do Ensino Superior freqüentado pelos entrevistados e o que justificaria sua existência ? Que conhecimentos teóricos e/ou práticos o aluno esperava obter dos formadores docentes?

Resultados

O resultado da pesquisa, baseada na coleta de dados, quanto a opinião discente sobre a postura acadêmica dos docentes no exercício de sua práxis ao curso, mostra que a dicotomia entre teoria e prática é o maior destaque entre os formadores na opinião dos alunos. O fator infere ao formador uma identidade confusa quanto a sua ação de formar formadores, pois, o discurso teórico contrasta com a práxis utilizada em sala de aula.

Nesse quesito, há destaque, também, quanto a postura acadêmica dos formadores ser autoritária e, por dois outros entrevistados, dessa postura dicotômica docente ser coerente à função formativa de formador docente.

Do ponto de vista geral, é possível subentender que:

a)De acordo com os discentes entrevistados, as posturas acadêmicas empregadas pelos formadores são inadequadas à objetividade do curso de formar formadores críticos, pois, "muitas vezes o que se percebe é a prática sem reflexão, não tendo relação entre teoria e prática" (Aluno A). Contrapondo-se com a necessidade de desenvolver, nos alunos, segundoLIBÂNEO (apud Pimenta, p. 70, 2005) "simultaneamente três capacidades: apropriação teórico-crítica das realidades em questão considerando os contextos concretos da ação docente; de apropriação de metodologias de ação, de formas de agir, de procedimentos facilitadores do trabalho docente e de resolução de problemas de sala de aula [...] e, a consideração dos contextos sociais, políticos, institucionais na configuração das práticas escolares".

b)Não há uma abordagem socializada à realidade, talvez, por isso se tenha obtido descompromisso, falta de criticidade e postura confusa como resposta.Contudo, SACRISTAN (apud Libâneo, p. 55, 2005) diz que "o problema da relação teoria – prática não se resolve na educação a partir de uma abordagem que conceba a realidade – a prática – como causada pela aplicação ou adoção de uma teoria, de certos conhecimentos ou resultados da investigação. (...) Tão pouco estamos seguros de que a teoria válida seja aquela que se gera nos processos de discussão ou de investigação – ação entre os que estão na prática".

Quanto a importância da participação do formador docente na elaboração do currículo e/ou da ementa do curso, nove dos onze pesquisados, disseram ser de máxima importância essa participação. Mesmo assim, alguns observam que não há a materialização dessa participação na práxis e tão pouco no discurso. Não há vivencia dessa participação. DEMO (apud Barbosa, 2000) comenta que "os professores separam totalmente a teoria da prática: ao mesmo tempo em que imaginam saber defender a idéia do projeto pedagógico, não o colocam em nenhum lugar prático, onde tenham que aplicá-lo". Em síntese, ocorre o materialismo do teorismo ideológico e do teorismo prático.

Quanto à média atribuída em escala de 1 a 10,ao comprometimento dos formadores do Curso em Docência do Ensino Superior para com a qualidade dos formandos e a justificativa da nota, percebe-se que:

I.Nove dos onze participantes deram nota entre cinco e nove ao comprometimento, porém, ao justificar a nota, três apontam o autoritarismo e três o descomprometimento como fatores positivos.

II.Dois preferiram não responder;

III.Os outros três partícipes deram respostas confusas impossíveis de se chegar a um fim.

Diante dos posicionamentos positivos ao comprometimento dos docentes à formação e à justificativa contraditória, conclui-se que os participantes da pesquisa:

a)Não fizeram associações entre as perguntas;

b)Não entenderam o enunciado das questões ou

c)Não levaram a sério a pesquisa.

Refletindo as respostas dicotômicas e as hipóteses que justificariam o motivo da dicotomia entre as resposta, é possível presumir que não houve por parte dos discentes consultados compromisso à formação acadêmica o que remete a Charlot (p.96, 2005), quando conclui que "a questão central de tudo isso é a prática do aluno, não é a prática do professor." Será que Charlot conceberia como negligente a postura acadêmica dos formandos à sua própria formação?

Adiante, quando questionados sobre os elementos curriculares considerados importantes de serem abordados e/ou trabalhados pelos formadores docentes de seu curso, tem-se a nítida certeza do descompromisso à qualidade da formação acadêmica por parte dos formandos, tendo em vista que dos onze consultados, três não responderam e quatro deram respostas confusas demais para serem aproveitadas e, somente quatro, de maneira distinta, apontaram técnica, relações interpessoais, coerência entre prática e teoria e currículo como fundamentos importantes a serem abordados.

Equívoco? Despreparo? Ou como diz OLIVEIRA (p. 1140, 1978), "os trabalhadores docentes se sentem obrigados a responder às novas exigências pedagógicas e administrativas, contudo expressam sensação de insegurança e desamparo tanto do ponto de vista objetivo – faltam-lhe condições de trabalho adequadas -quanto do ponto de vista subjetivo".

Ao questionamento quanto a contribuição das disciplinas à sua formação como futuro formador docente, os entrevistados em número de sete afirmaram que sim, três responderam que "às vezes" e, um respondeu de forma confusa. A conotação positiva à contribuição das disciplinas à formação acadêmica parece estabelecer saldo positivo ao curso, porém, sob o prisma discente, inconscientemente, talvez, a resposta tenha por objetivo premiar seu próprio esforço. Parece refletir o pensamento: "contribuiu, sim, mas pelo meu esforço". Essa conclusão, hipotética, claro, tem por base a análise das respostas anteriores e a vivência do pesquisador junto à turma.

Sobre a possibilidade de dicotomia entre a teoria e a práxis dos formadores do curso de Docência do Ensino Superior freqüentado pelos entrevistados, oito dos onze entrevistados, responderam que sim, há, e três que, às vezes. Essa informação já era concreta, foi apontada como fator negativo na postura acadêmica dos docentes no exercício de sua práxis e, aqui, há o reforço da existência desse fenômeno na práxis.

Quanto aos conhecimentos teóricos e/ou práticos que esperavam serem desenvolvidos no curso pelos formadores docentes, seis dos onze informantes, deram resposta extremamente confusa, impossíveis de serem respostas concernentes; dois esperavam o fundamento teórico e, os restantes, conseqüentemente, didáticos, tecnológicos e estágio. Esse panorama criado pelas respostas, principalmente considerando a inutilidade das respostas da maioria dos consultados, reforça a idéia de negligencia discente à formação ou, em tese, descomprometimento a função de formadores docentes e a especificidade do curso a que freqüentaram.

Discussão

Pimenta (apud Novoa, p. 112, 2002) diz que "na construção da identidade docente, três processos são essenciais: o desenvolvimento pessoal, que se refere aos processos de produção da vida do professor; o desenvolvimento profissional, que se refere aos aspectos da profissionalização docente; e o desenvolvimento institucional que se refere aos investimentos da instituição para a consecução de seus objetivos educacionais." Empregando-os como parâmetros se percebe uma postura acadêmica, tanto dos docentes, quanto dos discentes do curso e, mesmo da instituição, estruturada num processo de produção que não privilegiou a profissionalização, pois, se apóia no tosco teorismo ideológico e prático exercido por base num nível de graduação elevado como se esse fosse o segredo para a formação de formadores docentes qualificados à docência.

Conclusão

O resultado da pesquisa denuncia uma postura acadêmica dos agentes envolvidos, docentes, discentes e, também da instituição, estruturada na produção de profissionais repletos de teorismo ideológico e prático, portanto, como o curso visa o desenvolvimento de competências práticas e teóricas, além de didáticas, cabe-nos segundo Guedin (apud Pimenta p. 397, 2004) repensar a formação dos professores e professoras numa perspectiva crítica. Isso implica rever as tradicionais dimensões política, científica e técnica da formação e da construção da identidade profissional do professor.

Por fim, a análise do resultado da pesquisa, considerando a formação de formadores docentes qualificados à docência leva a concordar culminantemente com Guimaraes (apud Pimenta, p. 118, 2002),quando diz "que enquanto agirmos em nossos cursos de formação e em nossas instituições escolares, contentando-nos com baixos níveis de profissionalidade ( traduzido em qualificação mínima, descompromisso com a atualização, mesmice da profissão, pacto com a autodesqualificação) e de profissionalismo (traduzido em aceitação pacífica do insucesso escolar, má qualidade das experiências de aprendizagem dos alunos, rotina, desencanto), a profissionalização vai ser uma retórica necessária somente para quem a faz, porque, efetivamente, como está, estará bom".

Referências

-DEMO, Pedro. Ironias da educação – mudanças e contos sobre mudanças. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

-FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 27ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

-PIMENTA, Selma Garrido. Docência do Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002. – (Coleção Docência em Formação)

-_____. (org.) Professor reflexivo no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.

-OLIVEIRA, D. A. A reconstrução do trabalho docente: precarização e flexibilização. Campinas, Cedes: Cortez, 1978)


Autor: carlos gonçalves


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