MEU MONUMENTO DE PEDRAS



O MEU MONUMENTO DE PEDRAS

 

 

Esta noite dormi e sonhei... Sonhei estar numa longa estrada e andando no meio da mesma... Ao redor desta estrada, nas suas margens haviam muitas pessoas... pessoas de todas as classes sociais, de todas as profissões, raças e religiões... reconheci todas elas... eram amiguinhos da escola, amigos da minha adolescência, da minha juventude, amigos antigos, recentes e atuais... tinha vizinhos de todos os lugares em que residi, tinha colegas de trabalho, de todas as empresas que trabalhei, diretores, gerentes, serventes... tinha amigos do peito, desafetos,  confidentes... também tinha parentes distantes, próximos, “ emprestados “ e até irmãos das igrejas que freqüentei...

A estrada era por demais longa e atravessei-a com muito esforço, sol-a-sol, chuva-a-chuva... por vezes escurecia de repente e ficava nublada... quantos temporais, raios e trovões enfrentei...

Durante minha exaustiva caminhada, todas aquelas pessoas expressaram os mais diversos sentimentos sobre mim.. algumas me ovacionavam, outras me vaiavam e outros tantos até me ofenderam.. alguns me julgavam injustamente, outros me condenaram, mas uns poucos me defenderam... alguns me jogavam flores ao caminho, muitos... muitos...  me lançaram pedras...

A jornada era dura... mas eu continuava a andar... andei por kilômetros e kilômetros... não foram poucas as vezes que me peguei chorando... muitas destas como se criança fosse... mas houveram também momentos que sorri e até gargalhei bastante.. mas a estrada... ah ! esta estrada...

A estrada nem sempre foi de asfalto novo... enfrentei todos os tipos de piso... barro duro, barro escorregadio, pedras e até mato... precisei entrar em buracos, pular ondulações... quantas vezes tropecei e caí... mas sempre, sempre me levantei...

Num impulso, parei... refleti, peguei algumas tábuas e rodinhas e fiz um carrinho... e com o carrinho passei ajuntar todas as pedras e flores que me lançavam durante a caminhada, também anotei em um caderno tudo o que era dito sobre mim... as ruins e as boas, as injustas e justas...

Com o passar do tempo, passei a sentir o peso das pedras que carregava, meu corpo doía, meus olhos lacrimejavam,  “ derretia-me com o suor... e neste momento olhava para o alto e clamava ao Senhor Deus...   Ele ? Ah ! Ele me ouvia e me dizia: _ “ Siga em frente, não olhe para trás. “ ... e eu seguia, mais forte e vigoroso que nunca.

Apesar de tudo que andei e que passei... de tudo que sofri e que senti... dos sofrimentos, das feridas feitas pelas pedras, o cheiro suave e agradável das flores me aliviava...

Recostei-me debaixo de uma árvore... descansei um pouco... era a primeira vez que eu conseguira parar e descansar... revi mentalmente os bons e maus momentos que passei andando.. agradeci a Deus  e, com as pedras que recolhi... comecei a trabalhar... trabalhei sem parar... pedra por pedra, todas que me lançaram durante a minha jornada...

Com estas pedras ergui um enorme monumento e os dediquei a todos os me apedrejaram na minha caminhada... pintei uma placa e escrevi:

“ MONUMENTO À TODOS AQUELES ME LANÇARAM ESTAS PEDRAS E QUE HOJE ESTÃO ENVERGONHADOS POR NÃO TEREM CONSEGUIDO IMPEDIR A MINHA CHEGADA ! “

Aproveitei as flores, ainda viçosas e perfumadas e, em frente ao monumento ergui um altar... novamente pintei uma placa:

“ ESTE ALTAR DEDICO A DEUS QUE ME SUSTENTOU DURANTE TODA A CAMINHADA E TAMBÉM AOS QUE ME LANÇARAM ESTAS FLORES , POIS OS CONSIDERO UM LOUVOR E UM TRIBUTO MERECIDO AOS MEUS MELHORES AMIGOS. “

A minha vida é igual a sua... a minha caminhada é a de todos... pelo caminho que seguimos durante a vida não faltaram os que nos apedrejam, mas também não faltaram os que nos lançam flores... haverão os que te enjuriarão e te injustiçarão... mas também haverão os que, te conhecendo te defenderão e “ morrerão por ti “ ... mas lembre-se sempre... sejas justo e confie em Deus... só ele conhece o teu coração e ao final, junte tudo e, sem culpas... erga um monumento bem no meio da estrada e convide a todos para a inauguração do primeiro dos melhores dias da tua vida !

 

Luiz Tamburro

Maio / 2009

   

 

 


Autor: Luiz Tamburro


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