Real valorizado: o pesadelo dos exportadores



O dólar em queda é motivo para dor de cabeça entre os exportadores brasileiros, que culpam a política de taxa de juros do Banco Central pela oscilação da moeda americana.

Até agora havia uma sensação de que o Brasil voltava a uma situação pré-crise, com os bancos emprestando dinheiro e o desemprego caindo. Infelizmente, o inesperado ritmo do real no primeiro semestre, que já motivou projeções de que o dólar poderá retroceder a R$ 1,85 ainda este ano, também serve de combustível para cobranças ao governo por  intervenções mais contundentes do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, além de redução mais rápida da taxa básica de juros (Selic). Os exportadores também fazem reivindicações mais heterodoxas, como o controle do câmbio e a proteção principalmente contra as importações da China.

– Com certeza o dólar nesse patamar nos obriga a ser mais rigorosos com a China – adverte o diretor de Comércio e Relações Externas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ricardo Martins, ao advertir para a necessidade de maior rigor na relação com o parceiro chinês, em uma atitude que, segundo o empresário, deveria excluir até o empréstimo de US$ 10 bilhões daquele país para a Petrobras. – A dependência do capital chinês reduz o poder de barganha do Brasil nas mesas de negociações sobre práticas anticoncorrenciais no comércio.

Uma sondagem da Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos (Abinee) constatou diminuição dos embarques, só no mês de abril, em 28% das empresas ouvidas. De janeiro a abril, revelou o levantamento, a baixa ocorreu em 27% das indústrias do setor. Além dos embarques de eletroeletrônicos de consumo, como televisores e aparelhos de som – que têm como destino principalmente os países do Mercosul – o mau desempenho também atingiu as exportações de equipamentos para infraestrutura, cujo maior destino é a Europa.

Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), explica que as exportações de commodities ainda têm sido prejudicadas de forma limitada pelo atual patamar do câmbio. Justifica que, por terem cotações internacionais como referência – diferente dos manufaturados – o impacto se dá mais pela diminuição da lucratividade das companhias do que propriamente pela perda de mercado. De qualquer forma, vê com preocupação a valorização do real, diante do atual momento de crise. Agora, justifica a entidade, é hora de as exportações reagirem. E o câmbio valorizado só atrapalha.


Outras medidas a serem tomadas
Além de reduzir a taxa básica de juro, o governo deveria cuidar dos tributos que incidem sobre as exportações, que levam muito tempo para serem reembolsados em forma de crédito para os exportadores. Segundo estimativas do setor , só de Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) calcula-se que há entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões em estoque nos cofres estaduais que não foram usados pelos exportadores.

 
Visão do Banco Central
A insistente queda na cotação do dólar e o retorno do fluxo cambial positivo refletem apostas favoráveis dos investidores externos na economia brasileira. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou em 21 de maio que "o mercado internacional já começa a apostar que o Brasil sai antes da crise".

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o mercado precisa evitar euforia desnecessária e ter cuidado com excessos, quando perguntado, ontem, sobre o forte ingresso de dólares no Brasil, o que está gerando uma gradual recuperação da cotação da moeda nacional: "Nossa preocupação hoje é o contrário. Temos alertado contra excesso de euforia, contra excessos de movimentos de precificação de ativos e de riscos. Participantes do mercado e empresas já tiveram no passado prejuízos importantes por excesso de euforia por apostarem em tendências de uma forma exagerada. Temos alertado contra esse risco."

Segundo o presidente do BC, essa tendência de ingresso de moeda estrangeira traz efeitos benéficos para o governo, pelo menos no que envolve a recomposição das reservas internacionais: "O Brasil está mais uma vez tirando partido de movimentos em determinados momentos para fortalecer a sua economia, está voltando a recompor as suas reservas", declarou Meirelles.

Meirelles destacou que o país continua a apresentar "fundamentos fiscais sólidos" , devendo crescer acima da média dos demais países, apesar de o governo, agora, prever uma expansão econômica de apenas 1% em 2009.

A reação dos mercados, lembrou o presidente do BC, são rápidas. "Não é surpresa que o desempenho do Brasil comece a ser reconhecido pelos mercados" , disse. O mercado procura se antecipar. "Quando começa a haver consenso, o mercado começa a se mover e em grande velocidade" , notou.

Meirelles afirmou que "o Brasil, mais uma vez, está tirando partido" do movimento dos mercados e aproveitando para "fortalecer a economia, reforçar a capacidade de crescer, de produzir e de gerar empregos no futuro".

Ao ser questionado se a queda no preço do dólar americano não preocupa o governo, ele destacou que o BC está aproveitando para recompor as reservas internacionais a níveis anteriores à crise global, agudizada em setembro de 2008.


A desvalorização do dólar é mundial
O dólar está em baixa.

Agora que o otimismo mundial retorna lentamente, os investidores que buscaram na moeda americana um porto seguro durante a recente turbulência do mercado começam a colocar dinheiro em aplicações mais arriscadas, particularmente as moedas de grandes exportadores de commotidies que se beneficiariam do crescimento mundial.

O dólar se desvalorizou em relação ao euro - atingindo em 21 de maio a menor cotação dos últimos quatro meses e meio. Os investidores de olho nos primeiro sinais de expansão econômica estão tirando os dólares do colchão e mandando-os para lugares mais arriscados, valorizando as moedas desses países, como no caso do real. Os investidores também temem que a próxima rodada de emissões de títulos do governo americano possa depreciar ainda mais o dólar.

Investidores aplicaram pesado no dólar durante a crise financeira, apostando que era a moeda mais segura do mundo e derrubando as previsões de que a política do Federal Reserve, o banco central americano, de ampliar a oferta monetária enfraqueceria a divisa. Juros em vários países também criaram menos incentivos para abandonar o dólar.

Agora a situação está se revertendo.

A pressão sobre o dólar foi aumentada ainda pela preocupação com grandes ofertas de títulos do Tesouro que devem chegar em breve ao mercado, além da perspectiva de que a própria nota AAA dos EUA seja colocada sob suspeita.

Muitos analistas cambiais prevêem um declínio ainda maior do dólar. O Deutsche Bank espera que o euro se fortaleça para US$ 1,50 nos próximos meses. O Standard Bank prevê cotação de US$ 1,55 daqui a um ano. O JP Morgan Chase & Co. prevê o euro a US$ 1,45 em dezembro.

Quem viver, verá.

Bibliografia
Jornal Gazeta Mercantil de 22 de maio de 2009
Jornal Valor Econômico de 22 de maio de 2009
Jornal do Brasil de 22 de maio de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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