CONCEPÇÕES DE DEUS NA IDADE MÉDIA E NO ILUMINISMO



Adriana Soares de Souza[1]

RESUMO

A Idade Média teve inicio na Europa, no século V. Nesse período ocorreu a divisão do Império Romano Ocidental e do Império Romano Oriental. Essa época estendeu-se até o século XV. A Idade Média foi marcada pela economia ruralizada, enfraquecimento comercial e a supremacia da Igreja Católica. O Iluminismo surgiu na França no século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão Teocêntrica que dominava a Europa na Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.

Palavras-chave: Deus; Homem; Razão.

1 INTRODUÇÃO

Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual influenciava no modo de pensar e agir das pessoas, na política e na organização social, além de deter o poder econômico. Alguns pensadores, que posteriormente serão citados, defendiam a existência de Deus através da fé e da razão. Porém, com o passar dos tempos, surge o pensamento iluminista que por sua vez tem por objetivo entender e organizar o mundo a partir da razão, ou seja, o Homem como centro do universo (Antropocentrismo) e não mais Deus como o centro de todas as coisas. (Teocentrismo).

2. CONCEPÇÕES DE DEUS NA IDADE MÉDIA E NO ILUMINISMO

Então, quais seriam as concepções de Deus para os pensadores da Idade Média e os pensadores do Iluminismo? Em que eles divergem? Por quê? Como responder essas indagações sem buscarmos respostas na história da humanidade? Impossível. Assim, partimos de um pequeno contexto histórico para melhor entendermos essa dualidade entre os pensadores mais influentes do período da Idade Média e os pensadores do período do Iluminismo.

Nos primeiros tempos da Era Cristã, em reação ao gnosticismo[2], desenvolvem-se duas linhas na antropologia, sendo que, uma das linhas coloca em evidência a unidade e a globalidade do homem, enquanto que a outra aceita o dualismo antropológico. Ao lado dessa concepção de unidade humanística, a concepção dualista encontra-se, entre outros, por Agostinho. No início, Agostinho, pregou que "a alma determina o ser do homem enquanto ela é parte da própria vida divina." Conquanto Agostinho admitisse "em teoria a bondade tanto da alma quanto do corpo, desvalorizava, no entanto, o corpo do ponto de vista ético." [3]

Para corroborar o trabalho, de acordo com o Urbaneski (2008, p. 28), Agostinho aponta que

Deus é o Bem Supremo e este, sendo bondade não cria o mal. Deus criou o mundo e desde o princípio vigora o bem. Além disso, o mundo foi criado de forma perfeita em sua totalidade. Quanto ao mal, Santo Agostinho diz que este é a privação do bem. Neste sentido, o mal é a privação do bem, e o homem, por sua vontade, pode distanciar-se de Deus, e assim afastar-se do bem. A vontade é criadora e livre, e é pela vontade que o homem deixa o corpo dominar a alma e chegar à degradação e, conseqüentemente, afastar-se do bem.

A época Medieval foi marcada pelas mais férteis demonstrações da existência de Deus. Para São Tomás de Aquino, um dos grandes pensadores da época, "Deus é bondoso para com os homens, e Deus orienta nas suas pesquisas, mas cabe ao filósofo não falhar com a razão"[4]

Tomás de Aquino expõe cinco provas da existência de Deus, partindo da realidade sensível: Deus, primeiro motor imóvel do universo em movimento e causa eficiente desse universo; ser absoluto em relação às coisas que apresentam apenas graus de perfeição; ordenador e fim supremo do Universo. Dando, dessa maneira, sentido e finalidade ao universo.

Embora Santo Agostinho e São Tomás de Aquino tivessem suas diferenças e contradições em seus pensamentos, ambos acreditavam e defendiam a existência de Deus, o que vai ao encontro com os pensamentos iluministas que, por sua vez, defendiam a idéia de progresso e perfectibilidade humana, admitindo assim que os seres humanos estão em condição de tornar o mundo em algo "melhor". Dessa forma, os iluministas foram substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que segundo eles, bloqueavam a evolução do homem, isto é, o homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até em tão, eram justificadas somente pela fé.

Mas o que é iluminismo? Segundo Urbaneski[5] (2008, p. 71), para Kant à resposta para esta questão é simples:

O iluminismo é a saída do homem do estado de menoridade que ele deve imputar a si mesmo. Menoridade é a incapacidade de valer-se de seu próprio intelecto sem a guia de outro. Essa menoridade é imputável a si mesmo se sua causa não depende de falta de inteligência, mas sim de falta de decisão e coragem de fazer usos de seu próprio intelecto sem ser guiado por outro. Tem a coragem de servir-te de tua própria inteligência! Esse é o lema do iluminismo.

A razão passa a ser o centro do conhecimento humano. É como se o homem precisasse de uma autoridade que o guiasse e o norteasse num labirinto a ser conhecido ou desbravado. A razão é apartada do sentimento, da emoção, conquanto, o homem possui o senso daquilo que é certo ou errado. Mas o que seria o certo ou o errado? Entre verdades e mentiras, Nitzsche[6] (1996, p. 53) aponta que "os animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da "história universal": mas também foi somente um minuto."

Mas o que é verdade? O filósofo Descartes, embora tenha vivido num período transitório do iluminismo, defendia a existência de Deus através do pensamento racional, ou seja, que poderia ser explorada racionalmente. Na verdade, Descartes escolheu à filosofia como caminho para a procura da verdade. Assim como para Tomás de Aquino, Deus representava o Supremo Bem, para Descartes a verdadeira felicidade, o Bem Supremo, consiste na conquista da verdade. Esta verdade postulava a idéia de que a razão deveria permear todos os domínios da vida humana. Entendendo que, o pensamento, para Descartes, é uma propriedade essencial da alma e enquanto o corpo é a extensão, podendo a alma existir sem o corpo. Para o filósofo, mente, espírito, alma e razão têm a mesma significação. Já o corpo será conhecido pela extensão.[7]

Sobre a existência de Deus e o conhecimento da essência Divina, De acordo com Zilles (apud. URBANESKI, Vilmar, 2008, p. 60), Descartes não só acredita na existência de Deus como abre caminha para uma prova racional.

Se Deus fosse enganador, não poderia ser perfeito, diz Descartes. Engano é sinal de imperfeição. A idéia inata de Deus não deriva, pois do mundo sensível. Chega-se à certeza do mundo a partir da certeza de Deus. Ele garante a confiança na razão criada. O espírito humano distingue a essência das coisas. Essas são determinadas pela extensão enquanto o espírito o é pelo pensamento.

Ao contrário da filosofia cartesiana, a nova racionalidade científica nega o conhecimento do senso comum, à sabedoria, ao misticismo, à fé e à metafísica, pois estas são consideradas ilusórias. Por outro lado, é total a separação entre a natureza e o ser humano. Como observa Bacon, a ciência fará da pessoa humana "o senhor e o possuidor da natureza." [8]

3. CONCLUSÃO

A ciência alcançou um desenvolvimento exponencial em todas as suas áreas. Não obstante, no mundo moderno, urge buscar novos modelos capazes de enfrentar realidades humanas cada vez mais complexas. A constatação de que o homem na sua magnitude, de poder e de saber, é um ser incompleto, pois só o infinito pode satisfazê-lo, embora esteja condenado a um progresso contínuo.

4. REFERÊNCIA

DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2006.

NIETZSCHE, Friedrich. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

OLIVEIRA, A. Serafim et al. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Editora Vozes, 1985.

SANTOS, Baoventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

URBANESKI, Vilmar. Filosofia da religião. Indaial: Ed. ASSELVI, 2008.




Autor: Adriana Soares de Souza


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