Meio Ambiente e Desenvolvimento: A Desordem na Natureza



(by Lucia Czer)

A idéia universalizada de desenvolvimento está na idéia de dominação sobre a natureza, significando que ser desenvolvido é ser urbano e industrializado. Só somos considerados urbanos se estivermos longe da natureza, próximos do que o homem constrói. Devido a essa idéia, incivilizados são todos os povos que convivem de maneira quase primitiva no seu habitat.

Por essa visão, os ambientalistas são comumente acusados de querer o retorno ao estado primitivo, ao estado de natureza, enfim, de serem contrários ao desenvolvimento, ao progresso e à tecnologia.

Segundo a sociedade, dita moderna, todos devem ter o direito, não a opção, ao desenvolvimento. Traduz-se aí o conceito de igualdade. Essa idéia parece ser contemplada apenas através do desenvolvimento, não se refere aos diferentes modos de sermos iguais, diferentes culturas e povos. Temos aqui o padrão cultural europeu e norte-americano. Nesse sentido,igualdade é estabelecer protótipos de desenvolvimento, seguindo os padrões das oligarquias financeiras e industriais do Primeiro Mundo atrelada aos setores das burguesias nacionais desenvolvimentistas do Terceiro Mundo. Como decorrência das lutas contra a miséria e a injustiça social, os ambientalistas abrandaram as críticas contra o desenvolvimento e passaram a dialogar sobre ecodesenvolvimento e, mais tarde, com a idéia de desenvolvimento sustentável. O desafio posto é: buscar alternativas ao desenvolvimento e não de desenvolvimento.

À medida que os recursos naturais dão sinais de esgotamento, começa o ambientalismo a ser reconhecido e a interrelacionarcionar-se com as perspectivas técnico-científicas e as questões político-culturais. Passa-se à convicção de que é necessário impor limites ao crescimento. A natureza demonstra a lógica da ação-reação e já não é necessário lutar contra a natureza, mas sim, contra os efeitos da intervenção humana na natureza. Há limites para o crescimento exacerbado ou todo o planeta e toda a humanidade colocam-se em situação de risco: menos para os ricos, mais para os mais pobres. Concretamente, a igualdade é desigual. Não há como universalizar o estilo de vida como o american way of life.

A homogeneização é contrária à vida tanto no sentido ecológico quanto cultural. A globalização de uma mesma matriz de racionalidade, imposta pela lógica econômica em sentido restrito, conduz a uma nova ordem: da escassez de recursos naturais. Menos água, ar, minerais, energia e solo. Estabelece-se a desordem natural. A humanidade está em risco sob o comando de ações determinadas por alguns e em benefício de poucos. O homem destrói com um simples aperto de botão, em segundos, toda a energia acumulada num tempo geológico de milhões de ano, sob o efeito de um motor à explosão.

Todavia, não é possível julgar "culpada" a técnica, atrás da técnica existe sempre a mente humana. O desafio é usar a técnica a favor do homem e da natureza. A técnica sem uso é um absurdo lógico. Um exemplo do uso racional da técnica é a captação de água em grandes profundidades que tornou possível a agricultura em regiões antes ocupadas pelos cerrados. Ainda que seja necessário estimular-se o debate sobre o modo de produção e o estímulo ao acúmulo de riqueza virtual que põe em risco a riqueza da terra, da água, do solo, da vida em sua concretude.

Não podemos deixar de reconhecer o paradoxo de nunca termos visto tanto debate sobre o problema do meio-ambiente e assistirmos a imensa devastação do planeta. Não é possível deixar de perceber que a criação de políticas ambientais, são criadas a partir de uma ótica mercantilista, uma globalização econômica que leva à desnaturalização da natureza e seus recursos, como à transmutação tecnológica da vida. A racionalidade e os princípios ecológicos ficam à mercê dos interesses econômicos.

Se política é a arte de definir os limites, é essencialmente político o desafio ambientalista. É preciso buscar um outro modelo de sociedade que não julgue "diferente" o modo de vida do camponês, do indígena, das tribos espalhadas pelo planeta. É preciso que se respeite a diversidade biológica e cultural, na igualdade e na diferença. E é nesse âmbito que os ambientalistas devem convergir para uma justiça social e sustentabilidade ecológica.

Referência:

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os porquês da desordem mundial- O Desafio Ambiental. 1949


Autor: lucia czer


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