O PSILÍDEO DA GOIABEIRA



O PSILÍDEO COMO PRAGA-CHAVE DA GOIABEIRA

Atualmente os psilídeos (Triozoida limbata Enderlein,1928, Hem.: Psyllidae) são apontados como a praga-chave da goiabeira Psidium guajava L. São insetos pequenos, com 2 mm de comprimento, de coloração parda ou verde. Atacam as folhas da goiabeira, que passam a apresentar sintomas caracterizados por enrolamento dos bordos do limbo foliar, que posteriormente se torna amarelado, quebradiço ou necrótico. No final do ataque frequentemente as folhas caem. As formas jovens dos psilídeos apresentam-se recobertas por uma secreção cerosa de aspecto floculoso, entre gotículas de substância açucarada e esbranquiçada (GALLO et al.2002). Os insetos adultos geralmente localizam-se ao longo da nervura principal da folha e são facilmente observados por lupas manuais de campo. A poda escalonada da goiabeira, visando a produção de frutas durante todo o ano, tem sido apontada como fator preponderante no aumento considerável da população do psilídeo no Estado de São Paulo, considerando-se que os insetos precisam constantemente de folhas novas para a sobrevivência (GALLI, 2003).

CONTROLE QUÍMICO

Os psilídeos podem ocorrer durante todo o ano no Estado de São Paulo, mas têm ocorrência mais acentuada nos meses de setembro a maio. Atualmente o controle químico é a única alternativa para o produtor de frutos em larga escala, com a pulverização de inseticidas fosforados, tais como fenthion, malation ou neonicotinóides, aplicados a partir de setembro após um meticuloso monitoramento do nível de infestação. Normalmente a pulverização é feita a alto volume, sempre que a infestação chega a ocorrer no nível de dois a três ramos por planta(valores médios). A quantidade de inseticidas atualmente registrados para psilídeo em goiabeira é bastante reduzida e este é mais um problema enfrentado pelo agricultor. Diversos testes de produtos estão sendo elaborados justamente com diversas estratégias de controle dentro de princípios de manejo integrado de pragas. Os inseticidas imidacloprid, thiacloprid, disulfoton e triadimenol estão sendo testados e já demonstram eficiência, porém ainda são necessários testes de seletividade com relação a entomofauna benéfica, e estudos de persistência tóxicacom análises de resíduos.

NÍVEIS DE DANO E NÍVEIS DE CONTROLE

Na prática agrícola da região produtora de goiaba do Estado de São Paulo observa-se que o excesso de pulverização para o controle dos psilídeos tem conduzido a um controle indireto das moscas das frutas Anastrepha spp, que até ha poucos anos eram consideradas as pragas-chave da goiaba. As pulverizações freqüentes também eliminaram as populações altas de gorgulhos e de percevejos furadores. Existe atualmente uma preocupação coerente em relação ao excesso de uso de produtos químicos nos pomares. Neste sentido, o aperfeiçoamento dos atuais níveis de dano econômico e de controle é objeto de estudo de fitossanitaristas e de produtores atentos a novas tecnologias. O nível de controle de dois ou três ramos atacados por psilídeos precisa ser reavaliado em função do grau de dano no pomar. É sabido que a condição de praga para uma população de insetos em uma cultura depende de sua densidade populacional e da injúria na planta. Muitas vezes a injúria na planta (por exemplo, desfolha ou enrolamento dos bordos do limbo foliar) conforme o grau de ocorrência não acarreta danos qualitativos ou quantitativos significativos à produção. Nessas condições, as pragas são denominadas como indiretas. O psilídeo é um bom exemplo de praga indireta. Algumas variedades podem tolerar um certo nível de injúrias no sistema foliar sem afetar significativamente a produção.Estudos deste tipo, relacionados com o ramo da ciência Entomologia Econômica, precisam ainda de diversos experimentos de confirmações para os principais cultivares comerciais de goiabeiras. Por outro lado, danos provocados por algumas pragas nos produtos que são objetos de comercialização, afetam diretamente a produção. É justamente o caso dos danos nos frutos ocasionados pelas moscas-das-frutas e por percevejos, por exemplo, sendo tais insetos denominados pragas diretas, que já foram bastante consideradas como pragas-chave na região. Muitas pesquisas nesta linha ainda serão necessárias para a solução do problema do psilídeo na goiabeira. Presume-se que parte da solução esteja relacionada com o aprimoramento dos níveis de controle e também melhorias nas técnicas de monitoramento para o manejo integrado das pragas.

INSETICIDAS E MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

A indústria e o mercado de frutas frescas demandam por goiaba o ano todo, motivando o agricultor a produzir goiaba fora da safra. Para conseguir tal intento, os produtores têm inserido a cultivar Paluma com projeto de irrigação e com sistema de podas freqüentes (GALLI et al.,2008). Essas mudanças levaram a um incremento considerável da população do psilídeo, tornando-o uma das principais pragas da goiabeira (LEMOS et al. 2000; BARBOSA et al.2001; GALLI, 2003). O Triozoida ataca as folhas novas, que estão sempre brotando em consequência das podas e da irrigação. Assim, os produtores que adotam o método convencional, pulverizam os pomares num período de 14 a 21 dias, na tentativa de proteger as folhas novas. Os inseticidas utilizados são concentrados emulsionáveis sistêmicos nem sempre seletivos aos inimigos naturais.

Uma das formas de minimizar esses problemas é a adoção de programa de manejo integrado de pragas (MIP). Segundo a Instrução Normativa 012 MAPA/SARC, de 29 de novembro de 2001, que contém as definições e conceitos para os efeitos da PIF (Produção Integrada de Frutas), MIP é a consonância da utilização de métodos de controle com os princípios ecológicos, econômicos e sociais e apóia-se basicamente nas três seguintes atividades: a) avaliação do ecossistema; b) tomada de decisão; c) escolha do sistema de redução populacional (Kogan,1980, citado por CROCOMO,1984).

ESTRATÉGIA DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Diversas estratégias de MIP em pomar de goiaba foram comparadas por PAZINI (2005) que empregou as táticas de monitoramento e utilização de inseticida seletivo, em diversas doses. Para tanto, os inseticidas foram aplicados somente quando a infestação média atingiu cerca de 30% das folhas com a presença de ninfas vivas do psilídeo. A pesquisa também objetivou: a) Investigar a espécie de psilídeo que ocorre na região; b) Verificar a eficiência de inseticidas adequados ao MIP; c) Estudar a flutuação populacional de artrópodes associados à goiabeira e verificar a influência dos fatores meteorológicos sobre os mesmos. A pesquisa foi conduzida durante 2003 e 2004, em pomar comercial de goiaba no município de Vista Alegre do Alto-SP, e no Laboratório de Seletividade Ecológica da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista-Unesp, Câmpus de Jaboticabal-SP.

PAZINI (2005) aplicou diversas estratégias de manejo integrado de pragas incluindo-se táticas de monitoramento de pragas e de inimigos naturais e a utilização de inseticidas seletivos. As conclusões obtidas para pomares de goiaba da cultivar Paluma foram as seguintes: a) Triozoida limbata é a principal praga da goiabeira; b) É possível produzir goiaba mais saudável, diminuindo-se o número de aplicações de inseticidas e utilizando inseticidas menos agressivos ao ambiente e ao homem, com a adoção de algumas táticas preconizadas pelo manejo integrado de pragas; c) Os inseticidas, nas doses em g i.a./hL, imidacloprid 4,0; imidacloprid 5,0; imidacloprid 10,0; imidacloprid + deltametrin 2,5 + 0,3; imidacloprid + betacyfluthrin 2,5 + 0,3; acetamiprid 4,0 e fenpropathrin 15,0, são eficientes no controle de T. limbata; d) Psyllaephagus trioziphagus parasita T.limbata, na macroregião de Jaboticabal-SP; e) Scymnus sp. É o mais freqüente dos inimigos naturais de T.limbata; f) As densidades populacionais de Scymnus sp. estão associadas com as densidades populacionais de T. limbara; g) As densidades populacionais de T. limbata e de Scymnus sp. não são afetadas pelos fatores meteorológicos temperatura e precipitação pluviométrica; h)As densidades populacionais do complexo de inimigos naturais,Scymnus sp., Coccinella sanguinea Linnaeus, 1763(Col.:Coccinellidae),Eriops connexa (Gemar,1824)(Col.Coccinellidae), Azya luteipes Mulsant,1850(Col.Coccinellidae), crisopídeos, Polybia sp.,Brachygastra sp. e complexo de aracnídeos capturados nas armadilhas adesivas amarelas apresentam correlações positivas com as densidades populacionais de T. limbata e não são influenciadas pelos fatores meteorológicos; i) Aplicações de inseticidas na parte aérea da goiabeira têm pouca influência sobre os inimigos naturais que habitam o solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, F.R.; SOUZA,E.A.;SIQUEIRA,K.M.M.; MOREIRA,W.A.; ALENCAR,J. R.,HAJI,F.N.P. Eficiência e seletividade de inseticidas no controle do psilídeo (Triozoida sp.) em goiabeira. PESTICIDAS:Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, Curitiba, v.11, p.45-52, 2001.

CROCOMO,W.B. O que é manejo de pragas, in: CROCOMO,W.B.(Ed.) Manejo de pragas- curso de extenção universitária; Botucatu;FEPAF-UNESP,1984.

GALLI,J.C. Psilídeo da goiabeira exige atenção constante. Copercitrus, Bebedouro, v.17, n.199, p.24, 2003.

GALLI, J.C.; BAPTISTA,A.P.M.; PAZINI,W.C.; PEDROSO,E.C.Monitoramento de insetos em pomar de goiaba.In; ARAUJO,ES. et al.(Eds) Tópicos em Entomologia Agrícola- curso de extenção universitária; Jaboticabal; Maxicolor Ed./UNESP, p. 71-83, 2008.

GALLO,D.; NAKANO,O.; CARVALHO,R.P.L.; BATISTA,G.C.; BERTI FILHO,E; PARRA,J.R.; ZUCCHI,R.A.; ALVES,S.B.; VENDRAMIN,J.D.;MARQUINI,L.C.; LOPES,J.R.E.; OMOTO,C. Entomologia Agrícola, Piracicaba, FEALQ, 2002. 920 p.

LEMOS,R.N.S.; ARAÚJO,J.R.G.; SILVA,E.A.; SALLES,J.R.J. Ocorrência de danos causados por Triozoida sp.(Hemiptera: Psyllidae) em goiabeiras no município de Itapecuru-Mirim-MA. Pesquisa em foco, São Luiz, v.8, n.11, p. 165-168, 2000.

PAZINI,W.C. Estratégias de manejo integrado e influência dos inimigos naturais e de fatores meteorológicos sobre Triozoida limbata(Enderlein, 1918) (Hemiptera:Psyllidae) em goiabeira. 111 p. Tese de doutoramento. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Jaboticabal-SP, 2005.


Autor: Julio Cesar Galli


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