O BOI



O BOI

de Romano Dazzi

 

Estava tudo correndo muito bem, naquele ano.

Eu tinha entrado na quarta série pela porta da frente, com notas boas e feliz da vida.

E ai, de repente – prova de italiano.

Eu era um craque, tinha uma fantasia invejável – naquele tempo.

Pegava um assunto qualquer, e fantasiava, escrevia facilmente, tecia e bordava.

Mas  desta vez, com este assunto, eu empaquei – como todos os outros, de resto 

A professora tinha escrito na lousa : “O BOI”.  O boi ! O boi ? o BOI ! O BOOOOIIII !!!!

- E o que tem ele , professora? 

- Escrevam a respeito dele. E podem pegar sugestões no soneto que estou distribuindo.

De quem era o soneto ? de Pascoli ? de Leopardi ? de Carducci ?

de algum sádico impiedoso, com certeza, que só queria nos atormentar. .

A professora, outra sádica, não admitia reclamações. Era o boi, ou o boi. Fim..

Então, tentamos entrar no clima. Seja o que Deus quiser!

Para começar, analisamos o boi. É um quadrúpede malcheiroso, mamífero, ruminante, vegetariano, com dois chifres, um rabo comprido, sempre acompanhado por uma nuvem de moscas. Com certeza Deus deu-lhe aquele rabo para ele poder  espantá-las.

Tem porte volumoso e pode pesar até 800 quilos. Quando é novo, sua carne é tenra . mas a sua maior utilidade está no uso que se faz de sua força física. Pode arrastar um arado de três discos, e não pára o dia inteiro, conseguindo arar até um alqueire.

Não se queixa, não reclama,  não pertence a nenhum sindicato.  

Tem cores variadas, pode ser branco e preto, bege e marrom, cinza e cinza...

Tem olhos profundos, azulados,muito expressivos. Ooops!, nesta exagerei......

O boi não e um animal natural; é um touro transformado; é artificial.

Falta-lhe alguma coisa,  que lhe foi retirado a força, tornando-o um boi (em lugar do touro que era antes)  Assim como falta alguma coisa aos eunucos, guardiões do harém - e eles também ficaram mansos, submissos, sensíveis; única razão que lhes permite o acesso ao  harém.

Nunca vi um eunuco de perto – confesso que não sinto a menor curiosidade  -  mas o boi, sim; e tenho visto que, às vezes, ele chora: seus olhos ficam molhados, luzindo e de repente formam-se umas lágrimas enormes, que lhe correm pelo focinho.

Como não pode ser dor física – em uma semana ou duas a recuperação é completa – só pode ser uma mágoa, uma tristeza que vem da sua condição.

Ou serão lágrimas de crocodilo?

Considerando tudo isso, o boi é merecedor de carinho e reconhecimento; nunca poderemos recompensá-lo pela perda daqueles acessórios tão importantes, que o transformaram  de vigoroso lutador em trabalhador pacifico, resignado e paciente.

Mas a humanidade comete destes crimes há séculos; por outro lado, se tivéssemos  que enfrentar uma manada de touros soltos, assustados  e enfurecidos, como em Pamplona, muitos de nós já teriam sido furados impiedosamente. Portanto, antes eles que nós....

 

Bem, a minha composição sobre o boi terminou ai.

Uma semana depois, a nota chegou: zero! Não tinha tratado o assunto seriamente.

Revoltei-me e me escapou, entre os dentes um :”Vaca!” 

Ela soltou um mugido em resposta.

Um mês de suspensão.

 

 

 


Autor: Romano Dazzi


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