Conceito de Cultura e Civilizações



Conceituar cultura e civilizações torna-se uma tarefa bastante difícil haja vista que, vários fatores contribuem para essas diferenças e principalmente, os diferentes pontos de vista de cada povo que tentou conceituá-las.

A partir do século XVI, o conceito de cultura passaria a articular-se, ora positiva ora negativamente, com o conceito de civilização pois, inicialmente, o conceito de civilização referia-se, de um lado, ao civil, correspondente ao homem educado e polido, e do outro lado, à ordem social, derivando daí o conceito de sociedade civil. Mas, com o tempo, civilização passou a designar um estágio ou etapa do desenvolvimento histórico ocidental ligado ao progresso. Desde então, ao aproximar-se do conceito de civilização, cultura passou a exprimir os aspectos do desenvolvimento material da sociedade moderna que via como civilizado o homem moderno, polido, erudito sendo tudo isso uma construção, etnocêntrica, de franceses e ingleses que servia para confirmar a consciência que os ocidentais tinham de si próprios.

O conceito de civilização, de certa forma, era usado com o objetivo de minimizar a diferença entre os povos já que, esse conceito era utilizado como artifício de expansão e colonização de outras terras e também da confirmação da identidade dos povos colonizadores. Estabeleceu-se então, o conceito de identidade que estava relacionado a esse caráter expansionista e colonizador daqueles que foram além de suas fronteiras.

Em contrapartida, para os alemães Kultur (cultura) é um conceito com maior expressão pois, determina os aspectos intelectuais, artísticos, religiosos, técnicos, morais, sociais e acima de tudo a realização no próprio Ser. Para eles, o conceito de cultura não tem o mesmo significado do conceito de civilização, estabelecido pelos ingleses e franceses, pelo fato desse conceito estar relacionado à produção humana como no caso, de obras filosóficas, obras de arte, obras literárias, ou seja, a particularidade desse povo. Ressaltando que, cultura para os alemães está ligada à cultivo já que, as várias civilizações germânicas eram agricultoras.

Portanto, a idéia de identidade para o povo alemão é intrinsecamente particular pois, a construção da mesma se baseia no historicismo, na sua trajetória histórica e cultural, como também das diversas indagações que eles fizeram ao longo do tempo: o que era ser inglês? o que era ser francês? e, principalmente, o que era ser alemão? Sendo assim, o alemão pode nascer em qualquer parte do mundo que ele será sempre um alemão.


Segundo Huntington, vários pensadores como Max Weber, Emile Durkheim, Oswald Spengler, Arnol Toynbee, Fernand Braudel, dentre outros, escreveram volumosas obras que destacam diferentes conceitos sobre civilizações todavia, existe uma concordância generalizada sobre as sugestões que dizem a respeito de natureza, identidade e dinâmica das civilizações.

Braudel contradiz a concepção de pensadores alemães que sustentaram a idéia de que civilização e cultura não se entrelaçam, sendo assim, civilização é igual a cultura visto que, as duas envolvem os valores, as normas, as instituições e os modos de pensar numa dada sociedade. Para Durkheim e Mauss "a cultura é um tema comum em praticamente todas as definições de civilização" (HUNGTINGTON, 1996, P.46).

A partir deste estudo, fica perceptível que o processo civilizador é um processo de uma classe dominante que está se consolidando e irá definir um todo, notadamente, a construção da identidade. É a partir daí, que tanto para o inglês quanto para o francês a palavra civilização é uma palavra discriminatória, ou seja, o que não é civilizado (outros povos) é selvagem e precisa ser civilizado. E, para o alemão é também discriminatória, a partir do momento em que ele passa a conceituar ou conceber cultura através da sua particularidade, da sua individualidade.

Conclui-se então que, ambas as concepções são, relevantemente, uma construção etnocêntrica de sociedades dominantes que se voltaram apenas para o seu progresso, olhando apenas para si próprios, subjugando e ignorando a cultura dos outros povos que para eles eram considerados inferiores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ELIAS, Norbert. Sociogênese da diferença entre "Kultur" e "zivilisation" no emprego alemão. IN_: O Processo Civilizador Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p.23-64.

HUNTINGTON, Samuel P. As Civilizações na História e na Antiguidade. IN_: O choque de Civilizações. São Paulo: Objetiva, 1996, p.44-64.


Autor: Elizangela MG


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