DPGE: alívio para os bancos médios



Em vigor desde o início de abril, a oferta de uma cobertura maior pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) aos depositantes de pequenos e médios bancos está, efetivamente, contribuindo para dar fôlego a essas instituições. Segundo o Banco Central, até dia 25 de maio, os Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), cujo prazo mínimo é de seis meses, proporcionaram a esse segmento do sistema bancário captar cerca de R$ 6 bilhões. Desse total, um terço (R$ 2 bilhões) foram depositados pela clientela a partir de 15 de maio, portanto, em apenas dez dias.

A cobertura normal dada pelo FGC aos depósitos bancários está, atualmente, em R$ 60 mil por cliente/banco. Especificamente para quem depositar a prazo em pequenos e médios bancos, no entanto, o Conselho Monetário Nacional (instância governamental reguladora do sistema financeiro nacional) autorizou o FGC a cobrir até R$ 20 milhões, na hipótese de a instituição ter dificuldade de honrar resgate.

A decisão foi tomada no final de março, no contexto de medidas de combate à crise internacional de liquidez e de crédito, que, no caso das instituições bancárias brasileiras, atingiu com mais gravidade justamente as menores.

Por causa do nicho onde mais atuam, o problema atingiu em cheio também as empresas não financeiras de médio e pequeno porte, que se viram em maior dificuldade do que as grandes para obter crédito, para giro e para investimentos. Também pesou o fato de que, ao ver fechadas as linhas internacionais, as grandes empresas acabaram tomando o espaço das menores nas linhas de crédito dos bancos de maior porte, que também se reduziram.

Com o atual cenário de estabilidade da inadimplência, os grandes bancos começaram a ampliar prazos e reduzir mais fortemente os juros. Agora, com o fim da crise de liquidez e o do resgate antecipado do novo depósito a prazo, as instituições de médio porte também começam a preparar medidas para ampliar a competitividade no mercado de crédito.

Para reforçar a utilização da DPGE, no dia 28 de maio, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou que os Depósitos a Prazo com Garantia Especial não poderão ter resgate antecipado. Isso deve permitir uma melhor gestão da carteira dos bancos e, consequentemente, um alongamento dos prazos de empréstimos.

Um bom exemplo de redefinição de estratégia é o Banco Mercantil do Brasil que desde o inicio de abril já havia elevado os prazos de 36 meses para até 48 meses. O banco acredita que nos próximos meses, novas revisões poderão ser feitas, voltando aos 52 meses operados antes da crise: "Fazemos monitoramento diário. No início do ano verificamos uma perda no poder aquisitivo. Mas entre abril e maio já houve uma retomada. Também nos adequamos à demanda".

Esse movimento de flexibilização no crédito para atrair de volta a clientela começou gradualmente em março e se consolidou com os primeiros sinais de desaceleração da alta da inadimplência e da melhora do cenário econômico. De acordo com dados do Banco Central, o prazo médio das operações para pessoas físicas apresentou recuo desde o agravamento da crise. Em março voltou a subir. E em abril chegou a 491 dias, em média, bem próximo da máxima atingida em outubro do ano passado.

O pontapé inicial foi dado pelos grandes bancos. O primeiro foi o Itaú Unibanco, que voltou a operar financiamento de veículos em 72 meses. Em seguida, foi a vez do Santander adotar o limite de seis anos para veículos e também para o consignado. Na semana passada, o Banco do Brasil ampliou o limite das linhas para pessoas físicas enquanto o Bradesco estendeu o crédito imobiliário para 30 anos e o financiamento de veículos para 80 meses, com queda dos juros.

Agora, os bancos médios se preparam para seguir a tendência. No caso das instituições de menor porte, o que permite a retomada do crédito é a volta das captações por meio de depósitos a prazo. De acordo com dados da Cetip, já foram lançados mais de R$ 6,5 bilhões em DPGE - o estoque total de CDB supera os R$ 755 bilhões.

A maior parte das emissões do novo DPGE, 42%, está concentrada na faixa de até um ano de vencimento. Mas uma parte relevante, 23%, vence em até dois anos e mais de um terço do total (35%) tem prazo acima de três anos, compatível com a carteira desses bancos.

Segundo o BMG, num primeiro momento o banco não fez muitas captações com o DPGE, que completa dois meses de vida, por conta dos prazos, que estavam muito curtos. Agora com a decisão do CMN, o produto passa a ser bastante interessante: "Nossa carteira média gira em torno de dois a dois anos e meio e além dos depósitos a prazo podemos balancear isso com cessões de crédito", disse, lembrando que começam a surgir sinais de abertura também no mercado externo.

Os papéis oferecem retornos que variam de acordo com os prazos de vencimento e o apetite dos bancos. Oscilam entre 108% e 130% do CDI - com uma média em torno de 115%. Em cima disso, o banco tem de pagar um percentual ao FGC, por conta da garantia.

Prova da alta demanda pelo DPGE é que o HSBC montou um fundo apenas para comprar esses títulos. Já foram captados R$ 140 milhões e há outro fundo aberto para captar mais R$ 90 milhões: "A garantia não é Tesouro, mas é risco próximo de soberano. É uma boa oportunidade porque paga taxas interessantes", segundo o banco.

Outro exemplo é o Banco do Brasil (BB) que lança nesta semana uma família de fundos de renda fixa que comprará apenas DPGE.A família, batizada de Estratégia, será formada por cinco fundos: dois serão para o private, dois para o segmento de varejo de alta renda Estilo e um para institucionais. Todos serão fundos fechados. O investidor terá um período de aplicação e só poderá sacar o dinheiro após dois anos. A ideia do banco é captar R$ 100 milhões em cada um. A aplicação mínima no private e no Estilo será de R$ 10 mil.

A expectativa é que as emissões possam superar os R$ 30 bilhões nos próximos meses com a entrada dos grandes investidores institucionais. E os fundos de pensão já começaram a comprar papéis, afirma a consultoria RiskOffice. Segundo ela, as taxas dos tradicionais Certificados de Depósitos Bancários (CDB) foram reduzidas após período de alta em 2008 e o DPGE apareceu como uma boa oportunidade. As fundações têm 23% da carteira de renda fixa alocada em crédito privado e, desse total, mais da metade (53%) é depósito a prazo, cerca de R$ 30 bilhões.

Bibliografia:
Jornal Valor Econômico de 28 de maio de 2009
Jornal Valor Econômico de 01 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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