QUE SE DESPEDESTALIZE O AMOR!



Ah, o Amor! L’amour toujours l’amour! O que falar do amor que já não tenha sido dito, declamado ou cantado? Buda, Maomé ou Dalai Lama... o que já não foi dito por eles sobre o amor: a base de tudo, a esperança para a alma humana. A raposa de Saint-Exupéry sutilmente sinaliza o caminho das pedras: "cativa-me".

Cantado em versos e decantado em prosa, o amor é objeto de estudo de quase todas as especialidades – da Neurolinguística à Psicologia, passando pela Literatura –: amor paternal, amor filial, amor erótico, amor fraternal, amor sublime amor.

Fragorosamente marca posição oposta à solidão: prima pobre despojada, descamisada e sem-teto no reino das musas da mitologia. Execrada e colocada a prêmio, foi exilada, mas insiste em se fazer presente na vida do ser humano.

Enquanto o amor simboliza a eternidade e a pujança, a solidão faz calçar sapatos de chumbo o homem para mantê-lo com os pés bem plantados na realidade de que ele está de passagem.

Como o tempo urge, faz-se necessário então buscar o eterno, o que é belo, o que é aceitável, o que é neurótico... É arrebatador deleitar-se nos braços do amor e acreditar que se pode voar e assim mudar o curso da história como um super-herói (ou super-heroína). É ilusório! Tal promessa esvai-se.

A solidão não é tão cruel quanto aparenta ser, não precisa ser combatida ou aniquilada. A solitude nos faz realizar que somos seres humanos e finitos e que, por isso, devemos prestar atenção no que vale a pena: na delícia turquesa de um dia de sol; nos carneirinhos de nuvens tangidos suavemente pelo vento; na garoa fina que lembra a cena de um filme qualquer; na tempestade que ribomba sua fúria entre relâmpagos, trovões e ventania; na tristeza suave das folhas caídas numa tarde de outono sopradas ao léu pelo vento.

Pode haver algo que mais evoque a solidão do que o vento?

Procure relembrar os momentos em que se sentiu só ou se lembrou da solidão em sua vida. Com certeza sempre há a presença do vento: desde uma brisa gélida até um vendaval.

O vento evoca também a transitoriedade, pois ele está aqui e depois não mais. Pode estar em todos os lugares, de diversas formas sem pedir licença depois deixa de o ser.

É a solidão que nos redime e nos traz para a realidade. Despedestalizemos o amor como o conhecemos e o queremos. Façamos um amálgama dele com a solidão, que detestamos e execramos. Talvez daí nasça algo novo, sem desesperança e sem desestruturação.

Um amor especial que não escravize, que não seja orgulhoso, que não limite, que não responsabilize em demasiado e que conheça a finitude da natureza humana.


Autor: Luzimar Paiva


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