E a GM brasileira?



O pedido de concordata feito pela General Motors não deve afetar a produção da montadora no Brasil. Essa é a versão oficial divulgada pela companhia norte-americana. A GM do Brasil não quis comentar o assunto.

A assessoria de imprensa da empresa informou que as explicações sobre os negócios nacionais e possíveis reflexos da concordata serão dadas pelo presidente a GM no Brasil, Jaime Ardilla, no dia 02 de junho, mas é certo que o executivo repetirá o que vem dizendo há meses: que o processo na Justiça americana não afeta a operação no país.

A GM não divulga números sobre faturamento ou lucros da operação local, apenas informa que a subsidiária brasileira responde por mais de 40% dos resultados da divisão chamada GM LAAM - que reúne 22 fábricas distribuídas entre países da América Latina (exceto o México), África e Oriente Médio.

A direção da subsidiária mexicana da GM informou que as operações naquele país e no resto da América Latina não serão afetadas. Nas semanas anteriores, a diretoria da GM vinha repetindo que as operações no Brasil são independentes e não seriam atingidas.

O presidente da General Motors, Fritz Henderson, afirmou que o pedido de concordata e a reestruturação da companhia valem apenas para o mercado norte-americano, conforme a documentação e planos entregues à corte de Nova York.

Ele disse ainda que a empresa continuará operando em "bases globais", mas também terá "automóveis específicos" para cada mercado, como as picapes mais pesadas nos Estados Unidos. Henderson afirmou que os países emergentes, onde a demanda tem crescido acima da média mundial, continuam sendo um "importante foco" da GM. Ele não citou especificamente o que pode acontecer no Brasil, mas, em relação à China, disse que o mercado no país "é parte importante da nova GM".

A concordata da GM aumenta as incertezas sobre o futuro da montadora americana no Brasil. Especialistas advertem que, com as vendas no país já afetadas desde o fim do ano passado pelos rumores de quebra daquela que já foi o símbolo do capitalismo americano, a filial brasileira da centenária montadora deverá sofrer, nos próximos anos, com a redução dos recursos para novos investimentos e do número de lançamentos no país.

Na semana passada, o presidente da Fenabrave (associação dos concessionários), Sérgio Reze, afirmou que o consumidor pode ser induzido a uma "atitude irracional em função das notícias que vêm de fora", o que pode ser traduzido em queda nas vendas.

Mas, por enquanto, porém, os concessionários dizem não sentir resistência no mercado.
Para o presidente da Abrac (Associação Brasileira de Concessionárias Chevrolet), Armando Boscardin, se as vendas da GM tivessem de ser afetadas pelas notícias vindas de fora, já teriam sido. "Faz mais de seis meses que se fala das dificuldades da montadora."

O professor de mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI), Edson Esteves, afirma que o consumidor já está com o pé atrás desde que começaram os rumores de concordata da GM por temer que os investimentos que viriam para o Brasil sejam reduzidos, e novos modelos não sejam lançados, gerando um desaquecimento na empresa e um sentimento negativo no mercado.

Outra consequência para a GM no Brasil, segundo Wong, é a redução de recursos: – Provavelmente a matriz deverá sofrer com a necessidade de drenagem de capital da subsidiária, tirando caixa da unidade brasileira, deixando-a, portanto, com menor capacidade de investimento. Em uma decisão anormal, a GM americana pode optar por um modo intervencionista e interromper a remessa de dividendos para o Brasil – afirma.

Em maio, a GM vendeu 47.884 veículos, um acréscimo de 1,65% ante o mesmo mês de 2008, conforme a Abrac.

Além da concordata nos EUA, a GM do Brasil acompanha com atenção a venda da divisão europeia Opel, para a fabricante de autopeças canadense Magna International. É que os carros de passeio Chevrolet fabricados no Brasil têm projetos importados, ou modificados, a partir de tecnologia dos modelos Opel. Essa ligação começa em 1968, com o lançamento do Opala brasileiro (versão nacional do Opel Rekord alemão) e vem até hoje, com modelos como Corsa, Zafira, Astra e Vectra. Dos Estados Unidos, veio apenas a picape S10.

Embora sejam desconhecidas as condições de venda da Opel à Magna, os analistas acreditam que a tecnologia já transferida ao Brasil seja preservada. Há alguns anos a subsidiária brasileira tornou-se um dos cinco centros mundiais da marca para criação e desenvolvimento de novos projetos.

Segundo a GM do Brasil, a venda da Opel para a Magna não afetará os projetos com a marca Chevrolet no país. Os acordos de desenvolvimento de novos produtos estão assegurados por um acerto entre as empresas - a GM permanece com 35% das ações de seu antigo braço europeu.

À espera de informações novas sobre o futuro das operações no Brasil, sindicalistas afirmaram ontem que não vão aceitar o corte de funcionários ou a redução dos investimentos já programados para ajudar a fechar o rombo da matriz. Para eles, seria inevitável o impacto da concordata na administração brasileira da montadora.

Bibliografia
Jornal Correio Braziliense  de 02 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 02 de junho de 2009
Jornal do Brasil de 02 de junho de 2009
Jornal O Globo de 02 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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