O exermplo da borracha



 

 

O EXEMPLO DA BORRACHA

De Romano Dazzi

 

Pode parecer prosaico e arcaico, mas alguns anos atrás,  ganhávamos (eu e os meus patrões) um bom dinheirinho,  trabalhando com borracha. 

Borracha natural, rígida como sola, de uma cor amarelada indefinível, esticada em lençóis irregulares e mal-acabados, extraída das seringueiras no fundo das selvas encharcadas da Tailândia.

Por tortuosos caminhos, elas chegavam até nós, e era um sacrifício,  um problema, uma luta demorada, para se conseguir todos os carimbos, para atravessar as fronteiras pelo Sul.

Interpretando leis ambíguas, instruções contraditórias e portarias obscuras, conseguíamos finalmente os desejados fardos de borracha, que vendíamos a peso de ouro.

A luta era difícil, mas o ganho compensava.

 

Um dia, finalmente, li no jornal uma notícia maravilhosa: o Governo tinha decidido eliminar toda a tralha de leis que atrapalhavam o nosso comércio, liberando a importação  do produto.

Corri feliz, para contar isso ao  chefe; e recebi a maior ducha fria.

- “Você está louco? Esta é a pior notícia da nossa vida! 

- Tanto tempo, tanto esforço  para montar e fazer funcionar este negócio, e agora esses palhaços  vêm e arrebentam com  tudo!”

 

No momento não entendi; mas depois, atinei com a desgraça.

Nosso negócio tinha ido para as favas! 

Qualquer um poderia fazer uma importação, de maneira simplificada,  ninguém teria que dançar nas brasas,  correr atrás de carimbos e vistos e selos, pagar despesas “extra”, pedir, chorara, implorar, tentar por todos os meios possíveis e impossíveis,  convencer uns funcionários desinteressados, que não davam a mínima para nenhum tipo de argumentação.

 

Imaginei o mercado  inundado de  borracha, os preços despencando, nossa pequena companhia arruinada, em menos de dois meses.

 

E foi o que aconteceu.

 

Bom, a conclusão é simples: se não tiver nada para atrapalhar, o comércio morre.

Ele precisa de  leis confusas, fiscais armados de bíblias,  complicações de todos os tipos.

É isto que faz prosperar o negócio.

 

Agora pense bem: sua vida também é assim; o melhor de você aparece quando você tem problemas insolúveis,  preocupações imensas,  paredões altíssimos para escalar, sem corda, sem ganchos, sem mosquetões e carregando nas costas uma tralha pesada.

Pode crer: este é o seu melhor momento!  


Autor: Romano Dazzi


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