Hamsters



HAMSTERS

De Romano Dazzi

 

A linguagem atual do cinema e - em conseqüência - da televisão, da publicidade e de toda a imprensa eletrônica, está atingindo frontalmente a nossa capacidade de ver, de escutar, de entender e de raciocinar.

Não me conformo, e nunca vou concordar, com a sucessão desordenada de imagens, que se amontoam e se sobrepõem no vídeo, em razão de cinco, seis por segundo.

Elas trazem e sublinham o caos mental que assola o mundo “civilizado” e que nos amarra todos, em uma grande manada de bois, empurrando-nos apressadamente para lugar nenhum.

Tudo o que você vê, olha, lê e observa tem a sua razão de ser, tem a sua forma de existir, tem o seu tempo de permanecer.

Você tem o direito de ficar observando, estudando, aprofundando, a partir dos olhos, aquilo que realmente as imagens querem dizer.

A técnica de apressar as imagens, de acrescentar sons e levar-nos ao paroxismo é absurda, é doentia.

Somos obrigados a lê-las “dinamicamente” olhando-as por um quinto ou um décimo de segundo; forçam-nos a tentar inutilmente captar seu sentido (que frequentemente elas nem possuem) num exercício cansativo.

Você não tem tempo de refletir sobre o que está sendo mostrado; não examina os “por que”, os “como”, os “onde”, os “quando”.

Passar velozmente pelas coisas, sem ter tempo de entender o que significam , não lhe ensina nada, não traz nada, não constrói nem acrescenta nada.

E talvez por contra, destrua algo que existe.  O seu equilíbrio interno.

Infelizmente, este é mais um sintoma de uma doença cada vez mais profunda: uma pressa inútil, uma insatisfação incontida, uma agitação nervosa, como a de um hamster que, preso em sua gaiola, corre até a loucura, até a morte, naquela trágica roda em que se resume toda a vida dele – toda a vida nossa, queria dizer.

Temos entre os nossos objetivos, viver mais tempo; durar não mais 40 anos, como nas gerações passadas, mas 80, 100 anos.

E para quê ?

Para ficar embasbacados, em estado de pré-coma, induzido por aquele quadradinho que não nos traz nada, nem mesmo um pouco de paz?

É um alívio quando tiro o som, uma alegria quando desligo e abro um livro.   

 


Autor: Romano Dazzi


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