Solidão, Dicotomia, Seres Quase Mitológicos e Armistício



Se a solidão fosse uma pessoa ou, pelo menos, a personificação de alguém, ela diria que sou dicotomia, que estou subdividida em duas partes... Dois seres antagônicos, quase mitológicos, conseguem subverter a minha ordem unida.

Em meu interior estão – e labutam entre si – a Calmaria e a Tormenta. Como seres diametralmente opostos podem se fixar em um mesmo lugar e ao mesmo tempo?

Segundo o dito popular, após a tempestade sempre vem a bonança; porém não é o que vejo na incomensurável imensidão azul do meu oceano particular.

A ausência de ventos demonstra-se por saber-me sozinha e não dependente de ninguém, ou, grosseiramente, por não poder contar com ninguém, além de mim mesma. A falta de movimento das ondas perpassa a sensação de alívio, pois de certa forma esse "mundo" sofre mutações ou alterações que são perfeitamente controláveis. Estar só é algo confortável, porque há controle, organização... Impostos, mas existem!

A Calmaria fica a olhar sua imagem refletida no espelho das águas e, por vezes, tenta tocá-la sem sucesso, como se fosse Narciso – louco enfeitiçado que queria possuir-se a qualquer custo e definha em flor... Triste destino!

A agitação advém de nunca poder descansar, repousar e baixar a guarda. É estar sempre em alerta, à espreita. Isso é inervante e cansativo. As tentativas de soltar o leme foram infrutíferas, causando insegurança e desconforto. Houve o reforço para se postar ao lado do cabo da nau. Respirar nessa posição não é permitido; sorrir, relaxar, quase um insulto. "Não, não solta! Você vai se dar mal!" – grita a Tormenta – "Depois você vai vir chorando arrependida de que não devia ter feito etc., etc."

A Tormenta é irônica e chega a ser má, às vezes. Julga-se forte e perspicaz, porque faz muito barulho, ribomba sua voz aos berros tal qual Zeus, senhor do todos os deuses, que tem o relâmpago na mão. Tal atitude é maçante. Ingenuamente acredita proteger os tesouros arduamente conquistados, que estão de algum modo depositados no fundo desse mar profundo. O temporal violento os colocou lá!

De que adianta ricos tesouros que não são admirados por outros? É o objeto sem finalidade, sem sentido...

A saída para a loucura da dicotomia é o cessar-fogo, o armistício, a busca da paz. Tão inerente ao ser humano quanto essa luta interna, que o segue desde o surgimento da Humanidade sobre a Terra, é a busca do equilíbrio. E é nela que devemos nos concentrar para amenizar os estragos causados por essa guerra!


Autor: Luzimar Paiva


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