O movimento dos bancos após o corte da Selic



Os maiores bancos do país anunciaram cortes nos juros de suas principais linhas de crédito, logo após a divulgação da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) tanto do consumidor como das empresas. A intenção é repassar a queda de 1 ponto porcentual na taxa Selic para as operações de crédito, a fim de impulsionar a economia nos próximo meses.

O Itaú-Unibanco, por exemplo, vai cortar em 0,08 ponto porcentual as taxas máximas mensais do crediário e do cheque especial para as operações contratadas a partir da próxima quarta-feira. Segundo a instituição, a redução nas taxas mensais, válida tanto para o consumidor como para empresas, é proporcional à redução de 1 ponto porcentual na taxa Selic, que é anual.

Já o HSBC informa que, a partir do dia 12 de junho os juros dos financiamentos ao consumidor e para empresas serão menores. O repasse varia de 50% a 100% do corte na taxa Selic. No cheque especial, por exemplo, a taxa máxima cai de 9,34% para 9,3% ao mês; para desconto de duplicatas, os encargos caem de 3,14% para 3,06% ao mês; e para capital de giro, o recuo é de 3,72% para 3,64%.

O Santander Real focou os cortes no segmento pessoa física. No cheque especial, os juros caem de 9,5% para 9,42% ao mês e, no crédito pessoal, de 6,15% para 6%. "Essas reduções, aliadas ao alongamento dos prazos, devem reaquecer o consumo", diz o presidente do banco no Brasil, Fabio Barbosa.

No Bradesco, o novo nível de juros passar a valer a partir de sexta (12 de junho). O corte nas taxas ocorreu tanto para as pessoas físicas como para empresas.

No Banco do Brasil, as reduções vão vigorar a partir de segunda-feira (15 de junho) e a redução está concentrada no crédito a pessoas físicas.

As reduções das taxas de juros seguindo os cortes na Selic têm sido uma prática feita pelos cinco maiores bancos brasileiros ao longo do ano.

Desde janeiro, Banco do Brasil, Caixa, Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander acompanharam as quatro reduções da Selic e anunciaram cortes nos juros do crédito ao consumidor.

Além de mexer nas taxas, os bancos ampliaram o prazo para financiamento de veículos para 72 meses. No caso do Bradesco o financiamento foi estendido para 80 meses.

O Banco do Brasil também ampliou o limite de crédito para a pessoa física no fim de maio. Já o Santander estendeu o prazo para empréstimos consignados para 72 meses.

Simulação feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) confirma que a redução da Selic tem efeito modesto sobre o crédito ao consumidor. A taxa média dos empréstimos em bancos e financeiras, até ontem de 7,33% mensais (133,7% ao ano), passa a 7,25% (131,62%), um recuo de 1,09%. A maior queda, segundo a Anefac, se dará no CDC, de 2,88% ao mês (40,6% anuais), para 2,80% (39,29%), um recuo de 2,78%. No caso dos cartões de crédito, campeões do juro alto no país, a taxa média recua de 10,68% mensais (237,9% ao ano), para 10,60% (235%).
Reflexos da queda da Selic nos bancos

A queda na taxa Selic desde janeiro tem se refletido de formas diferentes no custo do crédito. Na média, o maior impacto ocorreu nos financiamentos para pessoas físicas, segmento em que os juros cobrados pelos bancos caíram numa velocidade superior à dos cortes do BC.

Neste ano, até a primeira quinzena de maio, a taxa Selic – usada nas operações de curto prazo entre BC e bancos- recuou em 3,5 pontos, passando de 13,75% ao ano para 10,25%. No período, a taxa média para pessoas físicas recuou dez pontos percentuais, de 57,9% ao ano para 47,9%, segundo o BC.

Proporcionalmente, a Selic caiu mais que os juros bancários: a queda de 3,75 pontos corresponde a uma redução de 25%, enquanto a queda no custo dos empréstimos foi de 17%. Em termos nominais, porém, a situação é inversa.

Não há dados mais detalhados sobre o custo dos financiamentos de maio até a metade de junho, mas as estatísticas entre janeiro e abril mostram que a queda nos juros para pessoas físicas ocorreu em todas as modalidades.

No primeiro quadrimestre, a taxa do crediário (para bens como móveis e eletrodomésticos) caiu de 73,8% ao ano para 60,4%. No crédito pessoal, foi de 60,4% para 48,8%.

O movimento pode ser explicado pela maneira como a crise financeira afetou, de formas diferentes, os bancos. De forma geral, os grandes sofreram menos, pois conseguiram contornar melhor a desconfiança dos investidores e continuaram a captar dinheiro no mercado.

Como é dos grandes bancos que vem a maior parte do crédito para pessoas físicas, a concorrência ficou um pouco mais acirrada: com clientes mais receosos em se endividar por causa da crise, eles têm optado por cortar juros e aumentar prazos.

Para empresas, o cenário é diferente. Nesse segmento – especialmente companhias de pequeno e médio porte-, boa parte dos financiamentos é oferecida por bancos menores, mais atingidos na crise. Assim, os juros médios para as empresas têm caído pouco. Até a primeira metade de maio, passou de 30,7% para 28,8%, menos do que a Selic no período.

Os números ajudam a explicar o comportamento do PIB no primeiro trimestre, em que a forte queda nos investimentos -reforçada pela dificuldade de crédito das empresas- foi, em parte, compensada pela recuperação no consumo das famílias, mercado em que o crédito não caiu tanto.
 
Bibliografia  
Jornal O Estado de S. Paulo de 11 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 11 de junho de 2009
Jornal O Globo de 11 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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