Allan Kardec, O Semeador de Esperanças



 "Nascer, morrer, renascer e progredir sem cessar, tal é a lei".
Allan Kardec

Allan Kardec não vivenciou o encurtamento das distâncias e do tempo proporcionado pela invenção do automóvel (1885) e do avião (1906) que dirá o advento da internet e mesmo do celular, que nos conectam a tudo e a todos. Não contou com a força da propaganda e da imprensa de massa, no entanto, sua figura perpetua-se na história da humanidade, lúcida e atual como poucas, destacando-o como um dos maiores divulgadores de idéias paradigmáticas de todos os tempos. Ao deparar-se com os fenômenos tidos como paranormais constatou ter entrevisto “a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro”, e até a solução do que havia “procurado toda a sua vida”, afirmaria. A morte, o aniquilamento, a punição eterna cedem lugar à conquista intermitente do espírito imortal em busca do seu próprio aperfeiçoamento a caminho da redenção.

Ele não conheceu o telefone (inventado em 1876 e implantado efetivamente em 1892) nem desfrutou do conforto proporcionado pela luz elétrica (1879), sequer estava aqui quando as primeiras ondas do rádio (1895) fizeram-se ouvir, enchendo o ar de notícias e música, muito menos conheceu o fonógrafo (1877), não podendo, portanto, deleitar-se com a música transportada das salas de espetáculos para os ambientes domésticos. De certo, não chegou a conhecer a máquina de escrever (1870) nem os benefícios que, certamente, lhe proporcionariam durante a tarefa que tinha a empreender. Não conheceu a televisão (uma invenção da década de 1920) e sua magia de teletransportar gente. Não vivenciou o encurtamento das distâncias e do tempo proporcionado pela invenção do automóvel(1885) e do avião (1906) que dirá o advento da internet e mesmo do celular, que nos conectam a tudo e a todos.Não contou com a força da propaganda e da imprensa de massa, no entanto, sua figura perpetua-se na história da humanidade, lúcida e atual como poucas, destacando-o como um dos maiores divulgadores de idéias paradigmáticas de todos os tempos.

Sem mesmo dar-se conta da amplitude e repercussão de suas pesquisas, Hippolyte Léon Denizard Rivail (nascido em 04 de outubro de 1804) iniciou a gestação de Allan Kardec e da própria Doutrina Espírita em 1855, ano em que decidiu dedicar-se com seriedade ao estudo dos fenômenos psíquicos, para os quais fora convidado a participar como mero observador. A partir dessa curiosidade não levaria mais do que dois anos, para lançar sua primeira, das cinco obras que deram luz a uma nova doutrina - Espírita (termo cunhado por ele para dar conta da nova ciência) - introduzindo também um novo personagem na história do pensamento humano. Com sua obra, o emérito educador francês, dileto discípulo de Pestalozzi, e já consagrado escritor, membro da Academia Real d'Arras - autor de inúmeros livros de cunho didático – recolher-se-ia para sempre, dando lugar ao surgimento de Allan Kardec[2], pseudônimo com que passaria a assinar suas produções literárias. Ele teria pouco mais de quinze anos para dedicar-se àqueles incompreendidos, inexplorados e mesmo deturpados fenômenos, até então considerados sobrenaturais - anteriormente esposados por Sócrates e Platão, apregoados e vivenciados em toda sua significativa amplitude por Jesus – realizar seu trabalho e registrar a mensagem de esperança que com clareza e precisão, ecoando do Plano Espiritual, propugnava um novo paradigma para a concepção do mundo e da própria vida.

Tal como concebida em meados do século XIX, o corpo doutrinário que Kardec reuniu, organizou, interpelou e codificou alcança com extrema lucidez ao homem deste Terceiro Milênio, tão atual como no passado, reverberando ao longo do tempo uma sólida mensagem de esperança. Concretizada em sucessivas edições, sua mensagem revela desde o dia 18 de abril de 1857 - quando foi lançada em Paris, a primeira edição de O Livro dos Espíritos - as implicações resultantes de sua descoberta sobre a inequívoca existência – e predominância - de uma realidade imaterial.

Um novo paradigma

Afirmam alguns estudiosos que um novo paradigma não resulta de um processo linear e acumulativo. Seu surgimento decorre de um evento inusitadamente inesperado, como uma explosão entrópica, que altera todo o curso anterior do que antes se tinha como verdade, assinalando o fim de algo que está sendo superado e a abertura para novas possibilidades. Talvez um instante de desvelamento de verdades preexistentes e apenas ocultas, que de repente abre-se à percepção, reorganizando o que, antes, aparentemente já se achava convencionalmente organizado. Mas, é bom que se diga: um novo paradigma não se valida repentinamente, convencendo seus oponentes, antes é rejeitado, já que traz em si uma nova forma de concepção do real. E para que isso ocorra, é necessário que o paradigma dominante já não satisfaça mais as inquietações subjacentes e seus postulados, antes inquestionáveis, estejam sendo colocados agora em cheque. É nessa brecha que as novas idéias florescem, mas é preciso que se tenha um espírito livre e questionador do status quo para que se esteja preparado para se entrever a ruptura, captar a mudança e acolher o novo enunciado.

Sob essa perspectiva, a obra do Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec, subsidiaria um momento entrópico de mudança paradigmática, pois, é inegável que, a partir do corpo de conhecimento doutrinário-filosófico-científico nela contida pode-se conceber (enxergar) uma nova forma de interpretar uma mesma realidade sob novos decodificadores interpretativos que dirão respeito a tudo e a todos, ontem, hoje e amanhã.

Contudo, Allan Kardec não foi somente um pesquisador visionário, mas, antes de tudo, foi um autêntico semeador do Bem, proporcionando à humanidade uma sólida opção alternativa entre duas correntes filosófico-religiosas: o ateísmo[3] e o agnosticismo[4]. Redimensionando a concepção antropomórfica que se tem de Deus, auxiliou, a partir de então, o próprio homem a tecer fio a fio as vestes da esperança em um futuro venturoso, conquistado individualmente, palmo a palmo, na trilha da imortalidade.

Organizando, primeiramente, cerca de cinqüenta cadernos que lhe foram entregues e cujos conteúdos registravam cinco anos de relatos sobre os fenômenos, até então, considerados paranormais, pouco a pouco, foi-lhes dando forma e, com a complementação trazida pelos Espíritos, acompanhada de suas elucidações, Kardec estrutura toda a base filosófica-científica-religiosa da Doutrina Espírita.

Utilizando-se do método científico-experimental, cuja disciplina impunha a observação dos fenômenos, a comparação e a dedução lógica, antecedentes à generalizações, Kardec debruçara-se sobre fatos relegados - por ele, também inicialmente desconsiderados - ao âmbito do sobrenatural, e, apenas depois de estar convencido das deduções daquelas revelações proporcionadas pelo intercâmbio comunicacional entre os dois planos da vida, investiga-os minuciosamente, legando a humanidade uma nova doutrina coerentemente lógica, racional e consoladora. Após a divulgação dos resultados do seu meticuloso trabalho de pesquisa junto aos Espíritos imortais que se comunicavam pela intermediação de médiuns e da lógica de suas deduções nem a Filosofia, ou a Ciência, ou, ainda, a Religião seriam mais as mesmas. A semente consoladora da imortalidade, antes anunciada pelo Evangelho de Jesus estaria definitivamente consolidada na alma humana e, com ela, a vitória da vida sobre a morte estaria determinada.

Fundamentada em constatações indiscutíveis, disponibiliza um corpo de conhecimentos que trará respostas aos mais corriqueiros questionamentos, elucidando o grande enigma existencial humano, ou seja, de onde viemos e para onde vamos, bem como, traçando-nos uma segura metodologia para a escolha de caminhos mais dignos e conscientes diante de uma única existência imortal. Ao deparar-se com os fenômenos tidos como paranormais constata ele haver entrevisto "a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro", e até a solução do que havia "procurado toda a sua vida", afirma então[5].

Ao vaticinar ser preciso "nascer, morrer, renascer e progredir sem cessar, (pois) tal é a lei", Allan Kardec formula e registra, sim, um novo paradigma científico, tal a grandiosidade da sua enunciação. Somos seres únicos e imortais, em permanente processo de autoaperfeiçoamento, destinados à felicidade, responsáveis que somos por nosso passado, nosso presente e nosso futuro.

Com o estabelecimento dos princípios básicos sobre a imortalidade, o livre-arbítrio em consonância com a lei de causa e efeito correlacionada à tese da reencarnação, a esperança passa a habitar os corações e mentes libertas do medo, da superstição e do dogmatismo religioso. Sua obra fértil dirige-se, desde então, ao homem livre de todos os tempos, destinado, antes de tudo - mais do que às provações e aos resgates - à felicidade e à perfectibilidade. A morte, o aniquilamento, a punição eterna cedem lugar à conquista intermitente do espírito imortal em busca do seu próprio aperfeiçoamento a caminho da redenção.

Desde o lançamento de sua obra até seu desencarne, em 1869, a par das mais variadas deduções filosóficas e surpreendentes descobertas científicas, nenhuma das constatações ali contidas sofreu qualquer correção, mantendo-se tão atual e conseqüente quanto à época de sua edificação. Semeando esperança, formulando um novo paradigma filosófico-científico para a Humanidade, Allan Kardec permanece vivo em sua magnífica obra, a qual, sucessivamete reeditada, mantém-se atual, vibrante e acessível ao espírito empreendedor que, tal como ele, de posse de sua liberdade de pensar, busque novos paradigmas decodificadores de uma realidade aparentemente incompreensível, e, considere, tal como ele, não haver mais qualquer possibilidade de se manter uma fé inabalável, senão pelo escopo da razão, em todas as épocas da Humanidade.

Ao tomar para si a responsabilidade de desmistificar a religião, a filosofia e a ciência, evidenciando os elos espirituais que amalgamam a grande corrente da vida, apresentando o encadeamento holístico intrínseco a essas grandes vertentes do conhecimento, o professor Hippolyte Leon Denizard Rivail – Allan Kardecassume um lugar definitivo na corrente de pensamentos que tem buscado auxiliar o homem no entendimento da vida, perpetuando-se na história humana.

Durante o período de 2003 a 2004, os espíritas do mundo inteiro estarão reverenciando o espírito imortal deste semeador de esperanças, comemorando o Ano do Bicentenário de sua última reencarnação como o íntegro e um dos mais lúcidos propagadores da mensagem renovadora cristã propugnada pelo Mestre Jesus, há mais de dois mil anos.

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Autor: maria angela mirault


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