Leitura explosiva



LEITURA EXPLOSIVA

 

          Jonas era gordo. Era gordo de dar dó. Andava de pernas abertas e bem devagar. Para se sentar tinha que  ser bem devagar. Não que ele se  machucasse, mas  quebraria as  cadeiras.

          Na escola ocupava os últimos lugares,num canto da parede que formava um ângulo de 90. Assim ele estaria seguro de todo lado e não tinha perigo de se esborrachar no chão.

          Além de gordo Jonas tinha  graves    defeitos. Não   estudava,  não sabia   nada, era mais burro que burro xucro. Brincava o tempo todo. Pinicava um, cutucava  outro,  falava mal de um e de outro, jogava papelzinho em um e em outro.

          O terror de Jonas era a aula de português. A professora era  uma  velhota  de   50 anos, áspera, carrancuda. Na aula dela ninguém piava. A  classe  era  um  cemitério e  Jonas  ficava como uma estátua de banha lá no final da sala.

          E a professora começava: hoje vamos falar sobre adjunto adnominal.

          Na aula dela ele copiava a matéria, estudava as lições, mas a calamidade  era a  leitura. Não sabia ler e ainda por cima era gago.

         - Ad ad adjunto ad ad adnominal.

         - Adjunto significa que vem junto, adnominal - quer dizer que vem junto  do  nome -explicava a professora.

         - Pedro, pedia ela - no exemplo: casa bonita, por que bonita é  um   adjunto  adnominal?

         - Porque "bonita" é um adjetivo, professora, e está ao lado de um  substantivo que é

um nome, portanto é um adjunto adnominal.

           - Muito bem, Pedro, é  isto  mesmo. Jonas, me  explique  o  exemplo: O boi é feio. Por que o O é um adjunto adnominal?

          - E...e...eu, fessora?

          - Você mesmo, Jonas, não tem outro Jonas aqui.

          - O bo bo boi - o boi.

          - É claro que é o boi...

          - Na na não sei, fessora,

          - Porque é artigo, Jonas. O artigo ao lado do substantivo tem valor  de   adjunto adnominal.

          Ele lá sabia o que era artigo, nada. Só sabia que já  tinha respondida,  ou  melhor, tinha sido chamado e nesta aula a professora não o chamaria  mais, pois era seu costume só chamar o aluno uma vez. Agora ele podia respirar e continuar sua malandragem.

          As redações de Jonas eram eletrizantes. Além de  erros, riscava,  borrava,  rasurava e entregava um verdadeiro bagulho.

          Jamais tirou um dois em redação. Mas o pior de tudo  era  a  leitura e  foi  num  dia desse que a professora resolveu fazer uma leitura em  sala de  aula. Ninguém  escaparia de ler. Jonas já começou a ficar impaciente, azul, amarelo, verde.

         O texto para ser lido era EPISÓDIO de Carlos Drummond  de Andrade. Muitos  alunos leram o texto antes de Jonas  até que chegou a sua vez:

         - Jonas, comece a ler o texto.

         Ele inspirou, respirou, fez pluft,ploft. Abriu o livro, folheou,olhou uma página,olhou a outra, começou a se levantar, a cadeira caiu, pegou a cadeira, afastou  a  carteira, depois de 5 minutos começou:

                                   Mamamanhá cedo papapassa

                                   à mimiminha porta um boboboi

                                   de onde vevevem ele

                                   se nananão há fazendas?

         A gurizada caía na gargalhada. Ele ficava roxo, fulo de raiva, mas não falava  nada e continuava:

                                    Vevevem chechecheirando o tempo

                                    entre nononoite e rosa

                                    papapára à mimiminha porta

                                    sususua lelelenta máquina.

          - Veja se lê um pouco melhor,  Jonas - dizia  a  professora. Leia  bem  devagar, não

se importe com os outros.

          Jonas roxo, preto, grogue fica nervoso, revira de um lado  e outro, quer  fugir  dali, se enfiar no cobertor da mãe e não acordar nunca mais, mas é obrigado a continuar.

                                    Alhealhealheio à popopolícia

                                    aneanteanterior ao tratratráfego

                                    ó boboboi,mememe conquistas

                                    papapára outro, teteteu reno.

          Novos risos, novas gargalhadas. A professora pedia silêncio e ele  continuava, mais morto que vivo.

                                    Sesesegura teteteus chichichifres

                                    eis-me tratratransportado

                                    sososonho em cococompanhia

                                    ao papaís proproprofundo.

         Com um sacríficio dos diabos ele chega  ao  fim.  A  classe  virou  um  hospício. Ninguém parava de rir. A professora séria brigava  com  um  e  outro  aluno, mas a barulheira era demais até que:

         - Booooommmmm!

         Ouve um estrondo enorme. Todo mundo olhou para traz.

         - Pronto!  O gordo estourou.

         Um fogo enorme avançou pela janela da escola. Só se via  aluno  esguaritando  pela porta e pela outra janela.

         Não se sabe como o gordo conseguiu sair da sala  e    foi  encontrado  duas  horas  depois, embaixo da cama da mamãe. Ainda tremia muito.

         - O que foi, Jonas? Perguntou a mãe.

         - O mundo está acabando lá no colégio.

         Daí a pouco passou a polícia e o corpo de  bombeiros. Um avião teco-teco tinha caí do no pátio da escola e explodido.

 

 

 

 


Autor: Henrique Araújo


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