As Nanomáquinas



Por: Dimas A. Deleo

Sinopse

Numa época, não muita a frente do nosso tempo, a obstinação de dois cientistas e empresários faz surgir uma tecnologia microscópica capaz de se auto duplicarem, de se regenerarem e de se agrupar em uma configuração plana. Esta nova tecnologia é usada para a construção de um grande tecido capaz de cobrir uma enorme área ao redor do Sol. Este tecido, construído de nanomáquinas e com a espessura de alguns átomos, portanto de uma molécula, é capaz de absorver energia solar e transmiti-la para a Terra.

No final da construção o personagem principal (Martin Foster Pierre) acaba sendo sequestrado por uma organização que supostamente defende o meio ambiente, para tentar deter o inicio do funcionamento da grande teia, mas tudo se resolve sem maiores problemas.

A energia em abundância, trazida pela grande teia solar de nanomáquinas, faz aparecer outras tecnologias interessantes ao homem.

Índice

Sinopse.......................................1

Índice..........................................2

1 – Energia em abundância...........3

2 – A nova maravilha do mundo....12

3 – O Sequestro.............................16

4 – A Aurora da nova era................39

Capitulo 1: Energia em abundância

Martin Pierre Foster já estava trabalhando a muitas horas em seu laboratório, ele era o cientista chefe da Academia Brasileira de Nanociências, sentia-se exausto, mas não estava, de modo algum, com vontade de parar de trabalhar, a instituição de pesquisa era uma das mais renomadas na área em todo o mundo, importantes passos foram dados, nos últimos anos, com relação à autonomia das nanomáquinas, a Europa havia conseguido grandes resultados, mais precisamente a Alemanha com suas pesquisas aplicadas na área de tecnologia microscópica, nesta área a física aplicada conseguia seus melhores resultados em muitas décadas. O professor Pierre queria dar outro grande passo importante, ele queria fazê-las replicantes, ou seja, a partir de alguns elementos ou moléculas básicas e energia, uma destas nanomáquinas poderia ir absorvendo tais moléculas e produzindo outras nanomáquinas, como uma bactéria que engloba algumas substâncias e depois se duplica. Porem as nanomáquinas não usariam a energia contida nas moléculas orgânicas para obter sua energia, os cientistas haviam criado outras moléculas inorgânicas capazes de absorver energia diretamente do sol, mas os protótipos em testes ainda eram bem limitados quanto as qualidades que queriam desenvolver e tinham dimensões maiores que uma bactéria, talvez se parecessem mais com as algas fotossintetizantes.

O ser humano vinha num consumo crescente de energia desde os tempos remotos, somente em poucas oportunidades o consumo caiu, mas por curtos períodos de tempo, quando o número de habitantes da Terra era reduzido abruptamente por grandes guerras ou por pestes e doenças, o consumo de energia caia naturalmente, mas a estabilidade política mundial e o controle das doenças levaram ao crescimento progressivo da população mundial, desde o século vinte, e estas populações consumiam cada vez mais energia, geração após geração. As novas tecnologias tinham chegado ao ápice, porque dependiam direta ou indiretamente da energia que chegava do Sol, havia um ponto de estagnação e o ser humano estava prestes a alcançá-lo. A fissão nuclear em grande escala, revelou-se muito dispendiosa, por produzir muito lixo radioativo, a fusão nuclear a frio não havia se afirmado como promissora. Restava então recolher mais energia do Sol, somente uma pequena fração da energia que atinge a Terra é absorvida, a grande parte dela é refletida para o espaço novamente, agora esta era a aposta dos homens, a nova diretriz para a nova matriz energética do mundo. Então a ambição do professor Pierre era desenvolver um processo que pudesse ser utilizado para absorver mais energia do Sol, coletores convencionais eram caros e pesados, para ter resultados práticos, a tecnologia pretendida pela Academia Brasileira de Nanociências deveria contemplar e utilizar as descobertas feitas a pouco, concomitantemente com descobertas ainda por fazer-se.

O professor Pierre queria construir uma espécie de teia coletora de energia, usando suas nanomáquinas, se ele conseguisse êxito nas suas experiências na busca por novas nanomáquinas, uma nave cargueiro deveria ser enviada na região do espaço onde se queria construir a teia e lá as nanomáquinas seriam liberadas. Como a área a ser coberta era de grande dimensão totalizando uma superfície muito maior que a Terra, as nanomáquinas teriam que ser replicantes e se auto-organizarem num tecido extremamente fino de algumas centenas de nanômetros de espessura, ou seja, as nanomáquinas não poderiam se sobrepor.

Num congresso realizado na Alemanha com vista a divulgar as novas descobertas realizadas sobre a reprodução das nanomáquinas, João Mathias fora mandado pela Academia de Brasileira de Nanociências para acompanhar o que já era considerado um dos maiores avanços na área em todos os tempos. O professor Pierre iria segui-lo assim que pudesse, pois sua curiosidade só não era maior do que sua responsabilidade e havia uma reunião com o secretário da ONU para a ciência, Jimmy Andrews. A reunião seria em Bruxelas a pedido do próprio professor Pierre, pois assim seria mais conveniente para o senhor Jimmy, que estava na Europa e para o professor, que depois da reunião iria para o congresso da Alemanha.

A tecnologia de replicação era considerada pelo professor como o grande obstáculo para tal projeto, já que as nanomáquinas capazes de absorver energia luminosa e converte-las em energia elétrica estavam disponíveis, elas eram células fotovoltaicas microscópicas e tinham aplicações em inúmeras áreas da indústria humana.

O projeto do professor Pierre, para se concretizar, necessitava de outra condição, a capacidade que as células deveriam ter de se auto-organizarem, elas deveriam se distribuir em um plano de milhões de quilômetros quadrados e esta capacidade ainda não possuíam, conseguiram desenvolver tecnologias para que as células se agrupassem em três dimensões, mas em duas dimensões as barreiras a serem transpostas eram muito grandes, a energia necessária à formação de um plano de nanomáquinas é muito maior do que para um corpo tridimensional, este tecido deveria ser formado tal qual um filme plástico, mas sem a ajuda de uma máquina extrusora e em condições extremamente adversas. Era esse desafio que a Academia Brasileira de Nanociências estava disposta a superar.

A reunião com o secretário da ONU Jimmy Andrews se fez às nove horas da manhã e o pesquisador João Mathias saíra da Alemanha e fora participar da reunião, depois ele voltaria ao congresso acompanhado por Pierre.

A sala do secretário era ampla, possuía uma mesa de mogno e a frente duas cadeiras aguardavam os visitantes, o professor Pierre cumprimentou o secretário e já foi logo elogiando suas instalações enquanto este apertava a mão do físico Mathias.

― Como vai senhor Andrews, este é o professor Mathias, bela sala a sua, esta mesa é magnífica.

― Como vão, esta mesa é de madeira brasileira, da época em que se permitia comércio de madeira da Amazônia, ela deve ter mais de cento e cinqüenta anos. ― Um inglês com sotaque australiano saltou de sua boca.

Depois de agradecer ele perguntou sobre o motivo da reunião.

― Ao que devo a ilustre visita dos dois brasileiros.

Na realidade o secretário já sabia do que se tratava, mas queria descobrir o quão obstinado era o professor Pierre. O secretário já tinha até uma opinião formada a respeito. Muito dinheiro seria necessário para implementar tal projeto e somente um órgão mundial com recursos provenientes de inúmeros países teria condições de fomentar as ambições do professor, mas que, com as limitações ocorridas no desenvolvimento da humanidade, tornava também as ambições de todo o mundo. Talvez não houvesse nem um outro órgão público ou privado no mundo com tanta capacidade de gerar recursos financeiros como investimento de retorno garantido ou mesmo a fundo perdido, nem mesmo os países que no passado eram absolutos no financiamento de pesquisas científicas não conseguiam arrecadar tantos recursos como a fundação da ONU. Esta mudança se deu por conta das seguidas crises graves que ocorreram no século passado, principalmente relacionadas às mudanças climáticas, o século vinte um foi, além do período das maiores crises climáticas já enfrentado pelo homem, o século das mudanças de paradigmas no que se refere à mudança de pensamento do enriquecimento individual para enriquecimento coletivo. A ONU, já no final do século passado, era o órgão internacional mais forte e mais democrático.

O professor começou expondo suas idéias e repetiu tudo o que havia escrito na carta enviada meses antes, acrescentando novas informações e excluindo outras por esquecimento ou por acreditar serem irrelevantes. Logo após o professor Mathias se pôs a falar.

― Senhor Andrews temos dificuldades seculares na obtenção de combustível para as nossas viagens espaciais, se conseguirmos sucesso com nosso projeto, poderíamos pensar em outros modos de acelerarmos nossas naves, o acesso mais rápido às colônias marcianas e talvez as estrelas são os maiores sonhos de inúmeros homens.

Mathias explicou para Jimmy Andrews que absorção de energia do Sol em grande quantidade poderia viabilizar a construção de uma imensa bobina, dentro da qual caberiam grandes naves, por ela circularia uma corrente elétrica produzida pela energia absorvida pela teia solar, esta bobina ficaria atrás do tecido de nanomáquinas, portanto estaria protegida da luz do Sol e permaneceria a baixas temperaturas, permitindo altíssimas correntes elétricas, o número de voltas que ela teria seria imenso e seu comprimento de centenas de quilômetros, assim enormes velocidades poderiam ser atingidas, não importando a massa da nave, o desenvolvimento de novos materiais supercondutores possibilitava estes tipos de aplicações. Esta idéia era do professor Mathias e ele achava que se o projeto das nanomáquinas fosse adiante, não só as pessoas da Terra e as pessoas das colônias da Lua e de Marte teriam sua oferta de energia aumentada, como também o ser humano poderia realizar sua primeira viagem interestelar.

Havia problemas técnicos graves a serem superados, o primeiro dizia respeito às nanomáquinas, cujo modo de agir precisavam fazê-lo de maneira inteiramente nova, varias formas de aglomeração de moléculas artificiais eram conhecidas e dominadas, porem o aglomerado planar não era de trivial formação, ainda mais com as nanomáquinas autônomas, teriam que obrigá-las a se ligar a outra apenas em um determinado ponto. A auto-reprodução Pierre e Mathias esperavam ter resolvido, era somente escolher as substâncias certas e isolá-las numa câmera com condições controladas e algumas centenas de nanomáquinas seriam bilhões em questão de horas, outro problema era criar as condições para que a formação ocorresse e estas condições deveriam ser a encontradas lá no espaço diante do Sol e as nanomáquinas deveriam se auto-regenerar. Quanto ao uso da energia para acelerar as naves, havia questões importantes também para serem levantadas, a mais polêmica era a questão da força que a nave iria fazer sobre a bobina na hora do lançamento, os dois cientistas ainda não sabiam ao certo como anular esta força determinada pela lei de Newton (ação e reação). Pensavam em lançar uma nave atrás da outra, em sentidos opostos, mas para isso a comunidade mundial deveria organizar duas missões ao mesmo tempo e assim que uma fosse lançada outra deveria ser preparada para o lançamento, de modo que a força realizada pela primeira nave fosse anulada pela segunda. Mas ainda assim havia uma questão, a bobina já teria se deslocado muito alem do ponto de absorção de energia e teriam que colocá-la no ponto inicial. Mathias tinham grande confiança que à medida que a construção fosse sendo realizada e aprimorada, encontrariam uma saída para o “contra peso” da bobina e além do mais não era este a principal proposta de construção.

O professor Pierre pretendia carregar algumas nanomáquinas em imensas naves com os ingredientes em câmeras separadas, assim que chegassem ao local estabelecido, as substâncias seriam acrescentadas às nanomáquinas e elas dariam inicio à reprodução, as naves liberariam ao espaço, em pontos estrategicamente escolhidos, as nanomáquinas que, com o calor do Sol, estabeleceriam a formação planar em uma área eqüidistante do maior astro do sistema solar. Se conseguissem montar este tecido mais próximo possível do Sol, uma porção maior dele seria coberta, mas a radiação mais concentrada poderia destruir as pequenas células fotovoltaicas e o acesso ao local seria muito mais difícil pela distância e pela maior proximidade do Sol, os custos da implantação subiriam ainda mais.

A forma com que transmitiriam a energia do grande tecido para a Terra já era dominada, feixes de lasers ou microondas seriam apontados para a Terra e aqui a energia seria convertida em energia elétrica. O secretário da ONU, ao término das explanações dos professores Pierre e Mathias, revelou seu voto a favor, mas os avisou de que a opinião pública mundial poderia influenciar os votos dos outros membros do conselho a votarem contra, pois alguns cientistas vinham tecendo comentários na mídia sobre as conseqüências negativas de incrementar significativamente a incidência de energia proveniente do Sol sobre a superfície da Terra. Então o professor Pierre disse:

― Pura especulação, pois a energia a mais que estamos tentando trazer à Terra não ficará presa na atmosfera trazendo de volta os problemas do efeito estufa, que tanto lutamos para minimizar, ela será usada e as energias dissipadas nos processos são refletidas para o espaço, se não houver a barreira de gases que as impeça.

A reunião acabou com o senhor Andrews pedindo mais detalhes do imenso acelerador de naves que estavam planejando. O professor Mathias, dono da idéia falou a respeito.

― Pela imensa bobina passará uma corrente elétrica muito grande, o que promoverá a criação de um campo magnético de grande intensidade, a bobina poderá ser construída com nanotubos de carbono, do tipo supercondutor, a baixa temperatura permitirá esta característica à bobina. A nave geraria um campo magnético, através de outra bobina enrolada em sua fuselagem, porem com a corrente elétrica em sentido oposto, estes campos magnéticos em sentidos opostos, fariam a nave acelerar por todo o interior da bobina e até depois de deixá-la, grandes velocidades poderiam ser alcançadas. A tecnologia para a construção da bobina já existe e é barata, ela deve ser construída na Lua ou na estação espacial para ser, de fato, viável.

― Gerar um campo magnético na nave é relativamente trivial. ― Continuou Pierre. ― Depende somente de acrescentarmos alguns equipamentos à sua planta, as empresas que constroem foguetes já dominam esta tecnologia, somente deveremos fazer algumas adaptações. O problema maior é fazê-lo fora, com uma grande bobina, são desafios completamente novos, temos, além da dificuldade arquitetônica e logística, a questão do equilíbrio de forças, não queremos que a bobina e o grande tecido, depois de infindáveis esforços para a sua construção, seja atraída pela gravidade da Terra ou do Sol, mas estamos falando do segundo projeto sem considerar o sucesso ou fracasso do primeiro projeto. Mas se não for este o modelo para impulsão de naves, devemos escolher outro que também usará a energia excedente do grande tecido, talvez aquele que funcione com velas solares e que está engavetado, imagine quanto de energia poderemos concentrar sobre a vela da nave e numa freqüência bem definida. ― O professor Pierre sabia que usar os campos magnéticos para acelerar naves seria um projeto difícil de ser levado adiante, mas tinha que tentar, pois conhecia muito bem a genialidade de seu amigo e aquelas dificuldades, a qualquer momento poderiam ser transpostas.

― Sim. ― Concordou o secretário. ― Devemos primeiro nos concentrar nas nanomáquinas e depois começarmos a pensar em outras aplicações e uso da energia.

Mathias continuou.

― Com o que vi na Alemanha, acredito que temos como implementar este projeto, se juntarmos a tecnologia que dominamos com a que desenvolveram, estaremos muito próximos de realizarmos estas nossas ambições, poderá levar décadas, mas teremos êxito, o que vai determinar se faremos rápido ou lentamente será o volume de recurso que conseguirmos levantar.

― Vocês estão me afirmando que já podem começar testes neste sentido?

― Ainda não temos algo concreto para testar, mas com ajustes e pesquisas estaremos aptos aos primeiros protótipos em dois ou três anos. ― Falou Pierre.

― Se conseguirmos os recursos financeiros necessários estaremos somente dependendo do tempo para concretizarmos as experiências. Mas a demanda por recursos será muito maior depois desta primeira fase, colocar as nanomáquinas nas órbitas apropriadas necessitará de grande volume de dinheiro e por isso não poderá ser feito por apenas um país, não procurei os órgãos de fomento à ciência do meu país para financiar a pesquisa porque o Brasil isoladamente não teria condições de bancar os custos de todo o projeto, e além do mais acredito que esta construção deva ser uma conquista de toda a humanidade, ainda é muito tímida a ação do homem no sentido de se construir projetos grandiosos como este, a criação deste órgão da ONU foi uma bela iniciativa, mas até agora, pelo que sei, foram financiados somente projetos de pequeno porte. Se eu fosse buscar recursos com um país ou outro estaria dificultando o financiamento final desta construção que, em virtude da grande soma de dinheiro para se concretizar, somente poderá ser realizado por uma entidade capaz de agregar o maior número de países.

― Professor Pierre você deve fazer este discurso aos outros membros do conselho, meu voto é favorável ao seu projeto. ― Disse o secretário.

― Não meu caro amigo, este não é meu projeto, eu gostaria que fosse de toda a humanidade, sei que alguns não aceitarão esta ideia, mas a grande maioria das pessoas deverá sim se sentir orgulhosa de fazer parte, pelo menos com uma pequena fração de seu horário de trabalho, para ajudar a construir esta obra, o ser humano precisa de grandes desafios para se unir, construções em apenas um país ou outro não trás a união, pois recursos são alocados de todos para beneficiar apenas um. Este projeto não é para um determinado país, ele beneficiará todas as nações do mundo, é o grande trunfo que nós temos para acabar, de vez por todas, com as intrigas que ainda permanecem entre algumas nações, e ele é apenas o primeiro, muitos outros devem vir, os órgãos científicos mundiais já realizam projetos envolvendo muitas agências há tempos, mas o envolvimento nunca ultrapassava os limites das agências destes países, agora temos a chance de aglutinar todos os países do mundo, inclusive aqueles com divergências com outros, em torno de um ideal e isso muda a mentalidade dos líderes, que acabam promovendo mais diálogos e a paz.

Por fim acertaram a data em que o professor Pierre e seus colaboradores fariam a explanação aos outros membros do conselho. O grande projeto deveria contemplar, além da grande cobertura que envolveria uma fração do Sol, unidades de usinas térmicas na Terra que absorveriam a energia vinda do grande tecido. Outra questão a ser levantada era a alternativa ao uso do excedente da energia, mas esta não deveria ser detalhada, queriam somente dar motivos a mais para os membros daquele conselho votar a favor.

Se as nanomáquinas formassem um tecido estável e a construção destes seres artificiais comprovadamente fossem baratos como queriam, poderiam, com mais dinheiro, fazer a cobertura do tamanho que convinha ao homem, poderiam até, nos próximos séculos, cobrir todo o Sol e assim usar toda a energia liberada pelo astro, teriam que construir imensas máquinas consumidoras de energia, talvez depois de realizada a maior façanha, a grande limitante no desenvolvimento do homem pudesse ser finalmente transplantada. Mas para isso, teriam que ser muito bons no planejamento e na arquitetura daquelas nanomáquinas, tinham que construí-las mais perfeitas possível.

A ligação química que faria uma nanomáquina se fixar à outra deveria ser tal que quando não houvesse mais capacidade de armazenamento de energia, as nanomáquinas de fileiras alternadas avançariam à frente aumentando consideravelmente as frestas e a passagem de luz. Mas estes problemas técnicos estavam todos, pelo menos aqueles que conseguiam prever, dentro das expectativas dos pesquisadores. As nanomáquinas, assim que chegassem ao espaço, teriam que se auto-regenerar, como um tecido vivo, o homem conhecia muito bem os processos biológicos que envolviam a regeneração de tecidos vivos e poderia aplicar estes conhecimentos a essa tecnologia, porem as condições eram extremamente adversas e adaptações deveriam ser feitas.

A empolgação tinha tomado conta dos professores Pierre e Mathias, quando estes deixaram a Alemanha tinham convicção de que com recursos financeiros e com novas pequenas descobertas estariam aptos a construir as mais incríveis máquinas, pois o que viram no congresso somado à tecnologia que dominavam, lhes deixavam em ampla vantagem em comparação aos mais renomados centros de pesquisas da área em todo o mundo. É claro que precisavam de algumas parcerias, mas os principais avanços eram dominados pelos brasileiros.

Além disso, o Brasil possuía um dos melhores locais de lançamentos de foguetes do mundo, o país havia inovado com a construção da mais alta estrutura da Terra, cujo objetivo era gerar campos magnéticos de altíssimas intensidades e elevar foguetes enormes a mais de mil metros de altura, o foguete gerava um campo magnético que interagia com o campo externo, então os grandes foguetes subiam e somente lá em cima os propulsores começariam a funcionar, este detalhe permitia grandes economias de combustível.

O mais alto edifício do mundo possuía mil metros de altura, em sua estrutura estava enrolado um cabo de eletricidade com características de supercondutor, este fio estava no interior da parede externa do prédio e nela o condutor era resfriado para se tornar supercondutor, formando uma enorme bobina, e era esta bobina que gerava o campo magnético necessário à elevação dos foguetes. Aquela estrutura arquitetônica era enorme, durante os lançamentos as pessoas deveriam evacuar o prédio, de modo a não sentirem os efeitos negativos de um campo magnético tão intenso, somente os tripulantes dos foguetes é que sentiriam estes efeitos, embora o tamanho do prédio fosse de grandes dimensões, não havia muitos trabalhadores no local. O prédio tinha formato de um cone com pouca inclinação, seu interior era livre e o diâmetro interno era tal que cabia, tranquilamente, os maiores foguetes da Terra, foi o grande marco na virada da liderança na exploração espacial no mundo pelo Brasil, o investimento permitiu tornar o país o grande lançador de foguetes no mundo. O prédio ainda tinha algumas centenas de metros construídos no subsolo, totalizando quase mil e quatrocentos metros de bobina.

Mathias se inspirou nesta estrutura para propor sua idéia da bobina espacial, porém a bobina construída no espaço seria muito mais longa, embora os anéis ficassem mais afastados um do outro, o número de voltas da bobina ainda seria muito maior do que no edifício, cujos anéis eram sobrepostos. Ainda não conseguiam estimar a intensidade do campo magnético que a bobina espacial geraria, mas se as previsões se confirmassem, seriam varias ordens de grandeza a mais, faltavam definir alguns parâmetros para poderem especular com menores chances de erros, como espessura do fio da bobina, material a ser utilizado, energia absorvida e liberada pelas nanomáquinas e o mais importante, encontrar uma maneira de anular a força feita pelo campo magnético gerado pela nave sobre a bobina e este era a grande questão que tirava o sono do grande cientista.

Na reunião com os membros do conselho de ciências da ONU, o professor Pierre levou uma equipe, além dos técnicos de sua confiança como o professor Mathias e quatro dos melhores alunos da pós-graduação, orientados pelos dois professores, acrescentou-se as estes, dois advogados especializados em relações internacionais, o professor Pierre considerava a presença destes profissionais um mal necessário e quando estava diante deles afirmava esta condição sem nenhum constrangimento. Mas os profissionais de direito internacional poderiam indicar os melhores caminhos quando uma situação de entrave legal ou burocrático aparecesse e assim seguiram à sede da ONU em Nova York.

Chegando ao aeroporto Pierre e seus companheiros foram parados por alguns jornalistas que queriam saber mais detalhes do projeto ou se havia mesmo necessidade de gastar tanto dinheiro em somente numa construção. O professor Pierre foi o único a responder as perguntas. Aquela construção de proporções inimagináveis deveria beneficiar todos os seres humanos e era isso o que aquele grupo, chefiado pelo professor Pierre queria provar.

― Doutor Pierre, não poderíamos gastar todo este dinheiro pesquisando fontes de energia mais baratas? ― Questiona um jornalista de uma famosa agência de notícias.

― Meu caro amigo já esgotamos toda as possibilidades de aumento na exploração de energia na absorção direta ou indiretamente proveniente do Sol, resta-nos a fissão nuclear que se mostrou suja demais e a fusão nuclear que é ineficiente, consumindo mais energia do que. Portanto só nos resta absorver mais energia do Sol e o preço desta grande obra deverá cair muito à medida que formos dominando totalmente a tecnologia e implantando o sistema, então teremos energia em abundância tanto aqui na Terra, como nas colônias e ainda sobras para as naves em suas manobras de aceleração.

Esta foi a resposta mais longa de Pierre, às outras não entrou em detalhes, pois tratava-se de questões mais técnicas das quais não podia se aprofundar, por ainda não ter as respostas ou por sigilo industrial.

A reunião demorou quase que o dia todo, houve uma palestra com ilustrações em três dimensões, mostrando detalhes incríveis de todo o projeto, hologramas permitiam rotações grau a grau dos desenhos e uma animação mostrava como os foguetes dispersariam as nanomáquinas num plano eqüidistante do Sol.

― Este plano é relativo, pois se olharmos distantes o bastante, e se fosse possível ver as nanomáquinas, veríamos que se formará uma fração de uma imensa esfera oca, com o Sol no centro. ― Disse Mathias na sua explanação.

Depois do almoço foi à vez do conselho se manifestar, todos os membros pediram a palavra, fizeram perguntas e algumas observações, sendo que alguns acrescentaram críticas em pequenos detalhes ao projeto, mas o professor Pierre as considerava normais e até positivas, pois muitos daqueles conselheiros eram técnicos renomados em suas áreas e as críticas podiam corrigir algum eventual problema, mas havia também críticas que estavam baseadas no egocentrismo de alguns conselheiros, que tinham dificuldades em aceitar um país ex-integrante da parte pobre do mundo sendo o protagonista principal na aventura da exploração espacial. Mas mesmo com todas estas críticas Pierre acreditava na aprovação do projeto.

No final da tarde já estavam prestes a realizar a votação quando um dos membros pediu um tempo para estudar algumas questões que pretendia aprofundar e a votação foi adiada. Um dos advogados explicou para o professor Pierre que isso era possível e que teriam uma semana para abrir nova votação. Pierre teria que segurar sua ansiedade por mais alguns dias.

Capitulo 2: A nova maravilha.

Uma cascata artificial despencava cerca de dez metros a partir de um enorme rochedo, a água da chuva era armazenada num reservatório que fora projetado por um amigo de Pierre, uma pequena barragem permitia o armazenamento de milhares de litros de água, a cascata era quase que permanente, já que no local chovia muito e demorava mais de uma semana para o reservatório secar completamente, mesmo com toda aquela água se precipitando. Da varanda de sua casa Pierre observava aquela queda d’água e isso tirava-lhe um pouco a ansiedade. Sua morada ficava nos arredores da cidade de Recife e sua mulher viera lhe servir um suco de caju preparado por ela mesma. Em poucas oportunidades da vida os dois tinham momentos tranqüilos como aquele. Como cirurgiã especialista em traumatismos cranianos ela tinha que dedicar muitas horas de seu dia ao trabalho e estas horas tinham o caráter aleatório, a qualquer hora do dia podiam ligar para o seu bip e Ruth Maira Fontes teria que correr para o hospital, acidentes de trânsito eram os principais causadores destes traumas, apesar da automação das estradas ter derrubado as estatísticas de acidentes a mais de oitenta anos, alguns destemidos às vezes se aventuravam na frente da direção de um daqueles carros autônomos e como as velocidades eram grandes, o número de carros enorme e as manobras, quando realizadas pelas máquinas rápidas e precisas, estas atitudes de tomar a direção destes resultavam, quase sempre, em acidentes com vítimas.

― Querido lhe trouxe um suco de caju.

― Obrigado amor, estou aqui pensando se existe algum ponto que justifique alguém votar contra o projeto das nanomáquinas.

― Ora querido, o preço não é astronômico? Isso não é uma boa justificativa?

― Mas Ruth o retorno será imenso, vamos ter energia em abundância, nunca mais teremos a falta de energia como uma justificativa para não levarmos adiante um projeto que demande quantidades grandes de energia e isso é um excelente motivo para aprovarem esta obra.

― Não fique tão confiante Pierre, o ser humano não gosta de investir suas economias em obras que envolvam algum risco, ainda mais se eles não se identificarem com a ideia. Embora eu concorde com você sobre os benefícios que o projeto trará a humanidade, depois de pronto, nem todos enxergam assim, inclusive entre os homens que deliberarão sobre a questão e são tidos como extremamente sábios. Estes homens também são pressionados pelas suas comunidades, se estas comunidades forem instruídas você tem grandes chances, se não forem acredito que este grande empreendimento não será aprovado.

― É isso que está me preocupando, o formato heterogêneo desta comissão, não se pode prever, com certeza, se teremos êxito.

A conclusão deque não teria como saber se o financiamento para as pesquisas e implementação da sua ideia seria autorizado, trouxe aos sentimentos de Pierre certo alívio.

Este alento não vinha somente do fato dele ter tomado consciência de que não podia fazer nada, senão esperar, aquela bucólica imagem da cascata e a presença carinhosa de sua mulher traziam tranqüilidade a seu coração.

A água que caia naquelas rochas verticais, percorria varias propriedades localizadas num patamar mais alto do que da propriedade dos Pierre, logo depois descansava no Oceano Atlântico e o primeiro terreno a ser beneficiado com aquelas águas era de Jeremias, um agricultor que plantava palmito e que, por causa daquele rio, que antes da barragem descia com vazão enorme e que durava apenas algumas horas, agora descia calmamente e o agricultor podia manter vários tanques de criação de peixes. Pierre cogitava a ideia de fornecer-lhe a represa da barragem também para esse fim. Estas preocupações com questões do cotidiano também ajudava Pierre no controle de sua ansiedade.

Ao amanhecer do dia seguinte ele ligou para Mathias, Pierre pode ver que quando este atendeu o telefone ainda estava de pijama, pois este usou a opção mais completa de transmissão de dados, aquela manhã de domingo, para muitos significava um descanso despreocupado, sem nenhuma lembrança do trabalho que veria nos dias seguintes, mas para estes homens era só mais um dia de trabalho, muitos não conseguiriam viver assim, pois não poderiam encontrar momentos de lazer em horários tão aleatórios como estes, mas para Pierre e Mathias, que gostavam mesmo do que faziam, momentos assim eram até prazerosos. Pierre queria discutir com Mathias a decisão da China de construir, da base até o topo de uma imensa montanha, uma enorme estrutura, acondicionando uma bobina muito longa para o lançamento de foguetes, essa bobina teria mais de sete mil metros de altura, seria da altura da montanha, seu comprimento superaria nove mil metros, dependendo da inclinação da estrutura. Na base da montanha seria construído o terminal de lançamento, uma máquina tuneladora especial estava sendo projetada na Europa, ela iria abrir um túnel, ligando a face da montanha com o terminal de lançamento, que ficaria a muitos metros de profundidade, talvez mais de mil, este túnel seria paralelo a face da montanha. A máquina tuneladora também abriria túneis na horizontal, ligando as estradas ao terminal de lançamento. Estes detalhes estavam estampados no jornal de domingo, depois de contar resumidamente sobre a notícia, Mathias apertou dois pequenos botões do seu papel jornal e a matéria passou a ser exibida na tela de Pierre, no canto esquerdo, embaixo. Assim que Mathias parasse de falar Pierre poderia aumentar a imagem e lê-la na integra ou abrir o seu jornal, nas páginas de divulgação científica.

Havia duas vantagens em relação à bobina brasileira, uma delas era o grande comprimento, esta característica dava a estrutura condições de elevar muito mais alto qualquer foguete, a velocidades muito grandes. Uma outra vantagem era que o lançamento fazia-se numa linha inclinada que acompanhava o desenho da montanha, assim o foguete ganharia também velocidade horizontal, porem as características daquela que seria a maior obra de engenharia de todos os tempos, engessava a ampla utilização da estrutura de lançamento, os foguetes seriam lançados somente num sentido e na mesma direção com relação ao plano da Terra. Mas ainda assim a economia de combustível nos lançamentos de foguetes, tornava aquela obra a grande concorrente do lançador de foguetes brasileiro. Acelerar naves e foguetes com campos magnéticos estava se tornando uma tendência, a decisão tomada pela China, apesar de a primeira vista ser ruim para o lançador do Brasil, não era visto assim pelos cientistas brasileiros, pois a Rússia, a China e outros países do oriente, quando tinham que fazer lançamentos, não recorriam ao Brasil, somente a Europa e Estados Unidos é que usavam a estrutura brasileira. Portanto a criação daquela enorme estrutura chinesa iria suprir outras demandas, o fato daquela bobina acelerar foguetes apenas num sentido restringia muito seu uso, apenas missões de longo alcance e com janelas bem restritas seriam contempladas, assim a construção chinesa era apenas uma complementação da brasileira.

A iniciativa chinesa de construir o maior acelerador de foguetes do mundo animava Pierre e principalmente Mathias que consideravam aquela política positiva a seus propósitos de construir um acelerador de foguetes no espaço, significava uma mudança definitiva de mentalidade na comunidade mundial. Este tipo de acelerador, usado juntamente com os propulsores convencionais, poderia levar o homem a lugares mais distantes e em tempos significativamente mais curtos.

Uma construção como a que a China estava planejando tinha que, para ser mais útil possível, levar à Estação Espacial Internacional, pelo menos uma vez por mês e, pelo que Mathias pode ler nas publicações especializadas, era esta a intenção dos empresários e cientistas chineses, apesar dos lançamentos à Estação Espacial serem de apenas vinte ou trinta por cento do total de lançamentos para as mais diversas órbitas.

Como cientistas, Pierre e Mathias viam com entusiasmo aquela nova ponte para as estrelas. Talvez quando começassem mandar as nanomáquinas para e espaço, pudessem usar este sistema de lançamentos, se o lugar escolhido para a construção do grande tecido assim o permitisse, mas era um entusiasmo descompromissado de alguém que queria ver as coisas evoluindo, pois a conquista do espaço, depois que se perdeu a hegemonia de um país na sua exploração, começou a se acelerar, de modo mais significativo, e havia muito a ser explorado.

Mathias terminou de contar as novidades a Pierre, novidades estas relacionadas à indefinição dos chineses quanto ao lugar da construção da grande bobina, eram três os lugares escolhidos a partir de centenas, até locais fora do território chinês foram avaliados, em vários países, mas para um destes ser o escolhido teria que possuir atributos melhores, em todos os quesitos, do que os três finalistas que situavam-se em território chinês, pois não iriam investir tanto dinheiro em outro país se não houvesse ampla compensação.

Não encontraram locais à construção daquela grande bobina tão melhores do que aqueles três escolhidos no seu próprio território, mas agora restava escolher dentre os três, qual era o melhor. Um deles possuía pouca inclinação, embora tivesse sua linha paralela ao movimento de translação da Lua e durante alguns dias do ano as linhas do futuro lançador e a linha da órbita da Lua se coincidiam. O segundo local possuía a maior inclinação de todos os três finalistas, possibilitando atingir alturas maiores, porem para alcançar a Lua, Marte ou a Estação Espacial, grandes modificações nas rotas deveriam ser tomadas, acarretando em elevados consumos de combustível. O último local possuía condições intermediárias aos outros dois locais, mas tinha ótimas janelas de lançamentos para a Lua e também oferecia janelas mensais para a Estação Espacial. Embora a China tivesse maior interesse na Lua, ela vinha se empenhando bastante no desenvolvimento e ampliação da Estação Espacial Internacional.

Todos os três pontos finalistas para a construção da grande bobina apresentavam-se com, segundo cálculos dos engenheiros, o mesmo desempenho quando se tratava de lançamentos mais longos, pois os períodos para as janelas de lançamentos eram próximos um do outro e distâncias tão longas podiam ter suas rotas facilmente corrigidas com consumos de combustível relativamente baixo.

Mathias e Pierre podiam apostar que o local escolhido seria o último, embora não tivessem condições alguma de saber detalhes sobre os terrenos destes lugares e assim mensurar melhor os desafios arquitetônicos a serem superados até o término da obra, conheciam muito bem a obstinação do povo chinês e não seria um terreno irregular de uma cordilheira que iria fazê-los desistir de seus planos. A demais o local que oferecia condições intermediarias de lançamentos era tido como bom para a China e também para os outros países, potenciais usuários do túnel de lançamento, o que aumentaria significativamente a procura pelo sistema a ser construído, e Mathias lembrou-se do ensinamento chinês, “siga o caminho do meio”.

A obra da grande bobina demoraria vários anos para ser concluída, o tempo exato era difícil precisar, pois aquela obra era inovadora e muitos desafios e obstáculos não podiam ser previstos, mas ainda que considerassem todos estes fatos, havia desafios muito maiores no projeto da grande teia, o coletor solar de nanomáquinas.

Capitulo 3: O sequestro.

No seu apartamento minúsculo o professor Pierre acompanhava todas as notícias relacionadas aos fatos que ele começara a protagonizar a quarenta e dois anos atrás, e agora estava por se concretizar, sua mulher não conseguiu ver a maior obra da humanidade finalizada, Ruth havia morrido dois anos atrás de causas naturais. O doutor Pierre, que havia perdido sua empresa no empenho daquele empreendimento jamais visto, também havia perdido sua casa levantando fundos para pesquisas no desenvolvimento de novas tecnologias. Ele agora vivia em um pequeno apartamento localizado próximo a Universidade de São Paulo.

O grande véu estava se formando, milhares de foguetes tinham sido lançados em direção a ele, uma pequena estação de monitoramento ficava bem no centro daquele gigantesco tecido, mas quando se enquadrava todo o contorno ficava impossível identificar as nanomáquinas, a menos que se olhasse contra a luz do Sol, não se podia nem, ao menos, ver a estação de monitoramento, olhando assim de tão longe. Aquela estação era pequena, mas podia abrigar quatro astronautas em eventuais missões de manutenção.

Dentro de alguns dias iriam iniciar o processo de captação de energia e transmissão para a Terra, num primeiro momento, a apreensão era grande, pois apesar dos inúmeros testes realizados, não realizaram nenhum em grande escala, com todos os módulos operando ao mesmo tempo.

Grandes evoluções técnicas foram consumadas pelo ser humano, desde o inicio daquela obra de engenharia, jamais imaginada antes e que agora se vislumbrava o fim. A maioria das descobertas científicas e tecnológicas foram financiadas pelos órgãos públicos mundiais, a fundo perdido e que, por isso, qualquer pessoa do mundo poderia tirar proveito, muitos destes processos e tecnologias foram incorporados à industria humana e trouxeram à humanidade um novo patamar de desenvolvimento, mas havia algumas descobertas pertencentes às empresas privadas participantes do consórcio de construção do grande tecido, uma delas era a empresa que antes fora de Mathias e Pierre, esta foi vendida a um grupo de empresários que viram nela um excelente investimento, já que ela possuía patentes de inúmeras descobertas e estava sendo vendida a um bom preço, a venda da empresa ocorreu logo depois da morte de Ruth.

Mathias ainda trabalhava na empresa, mas não possuía participação acionaria nenhuma, ele também se dispusera de todos seus recursos para realizar seus sonhos, agora era apenas um assalariado daquela enorme organização, a empresa fundada pelos dois professores era uma das gigantes na exploração espacial, além de dominar as técnicas relacionadas à nanotecnologias em diversas áreas, tinha participações em algumas empresas fabricantes de foguetes e naves espaciais. A insistência em construir um acelerador de naves no espaço, como os túneis magnéticos brasileiro e chineses, fez o prestígio de Mathias ficar abalado, ele arranjara o emprego em sua ex firma porque os diretores sabiam de sua genialidade. As pesquisas para acelerar as naves com a energia solar captada pelo grande tecido estavam a todo o vapor, inclusive as realizadas pela empresa que ele trabalhava, mas o método escolhido era outro, a nave seria acelerada com as ondas eletromagnéticas sobre uma espécie de vela fixada a estrutura da nave. Esta ideia era boa, pois a nave, apesar de ter baixa aceleração, podia ser acelerada até os confins do sistema solar. O grande problema seria a desaceleração, mas os cientistas já estavam pensando nisso e uma viagem tripulada para alguma estrela estava se viabilizando.

O lançador chinês tinha sido concluído a pouco mais de quinze anos e com êxito total, missões à Lua e Marte foram realizados e com grande economia de combustível, possibilitando carregamentos de carga útil recordes. A colonização destes astros finalmente se concretizou, entrando em uma nova etapa. O tempo de ida a Marte havia se reduzido, em média, à metade, mas existiam poucas janelas de lançamentos e em quase todas elas necessitava-se de ajustes, ainda assim seu uso era muito compensador. O lançador brasileiro também era muito utilizado, mas para missões nas proximidades da Terra e, às vezes, para a Lua.

Pierre agora era apenas um colaborador da empresa que ajudou a fundar, a dívida que contraíra com alguns bancos o fez vender toda sua participação acionária, mas a vontade de ver seus planos ainda estava latente, mesmo a morte da sua querida mulher não lhe tirou esta vontade, alguns recursos tinham sobrado e como ele levava uma vida simples, daria para viver bem até o fim da vida. Propostas haviam surgido para que fosse lecionar em algumas universidades espalhadas pelo mundo, mas sempre dizia que não queria, somente aceitava alguns convites para dar palestras. Pierre, depois que perdera sua mulher naquele fatídico dia, andava triste e não conseguia se entusiasmar com muitas coisas, Ruth havia morrido nova, tinha apenas setenta e um anos, seu coração parara de bater em um ataque cardíaco e como ela estava sozinha em casa, não pode ser socorrida, Pierre, às vezes, se sentia culpado por não estar em casa no momento do ocorrido, apesar de os cardiologistas insistirem que mesmo que estivesse presente, não poderia fazer nada, visto que, fora um ataque fulminante, ataques fulminantes no coração eram raros nestes tempos, os precisos exames que se realizavam em caráter preventivo, minimizavam os problemas de algumas doenças em números desprezíveis.

Na sede da empresa, localizada em São Paulo, o professor Pierre era bem conhecido e muito querido, ele era esperado pelos diretores da empresa para acompanhar os testes finais. Ao descer do seu taxi foi visto pelo guarda da recepção, mas assim que fechou a porta do carro, dois homens o agarram pelos braços e o arrastaram para um furgão que estava mais a frente, o guarda da recepção, observando tudo aquilo, seguiu em direção a porta do edifício e conseguiu ver os homens empurrando o professor Pierre para o interior daquele furgão preto. Um dos homens deu instruções ao computador do carro para que se aproximasse o mais perto possível do taxi e que saíssem juntos, deste modo não haveria identificação da placa do furgão, que obedeceu as ordens e com uma pequena ré e encostou no taxi. Os computadores dos dois carros se comunicaram e partiram ao mesmo tempo, quase que colados um no outro, como não havia motorista no taxi, esta manobra foi facilitada, pois ninguém questionaria as atitudes daqueles computadores, o porteiro, deste modo, não pode identificar, com maiores detalhes, o furgão.

A policia chegou em alguns minutos e ordenou uma busca, naquela região da cidade, a todo furgão preto, mas os raptores do professor planejaram meticulosamente a operação e mudaram de carro a algumas quadras dali, numa garagem subterrânea.

Mais tarde, o grupo já longe do alcance da policia, entrou em contato com os líderes da organização criminosa. Esta organização era formada por ativistas ultra-radicais, dissidentes de outras ONGs e até organizações governamentais que defendiam a natureza, ela se auto-intitulava Grupo Para a Salvação da Terra, GRUPAST, nascera há quase um século atrás, quando o mundo estava prestes a entrar em colapso e os governos de quase todos os países não tomavam atitudes nenhuma para reverter o quadro. Alguns integrantes de ONGs como Greenpeace, WWF e outras entidades, diante das grandes tragédias naturais que estavam ocorrendo, fundaram a GRUPAST. Este grupo começou a angariar mais dinheiro do que todas as outras ONGs juntas, pois a situação de degradação da qualidade de vida da maior parte da população do planeta levava as pessoas à procura de soluções rápidas e fáceis, não importando os meios usados para consegui-las.

Ações como o seqüestro do professor Pierre eram comuns naqueles tempos e a recém fundada GRUPAST era notícia garantida em todos os jornais do mundo, todos os dias, embora ações de seqüestros tivessem diminuindo, não raramente o grupo, quando não concordava com alguma política desenvolvimentista de governos ou empresas, promovia atentados com seqüestros ou sabotagens de indústrias supostamente poluidoras. Estas sabotagens, algumas vezes, podiam ser violentas, muitas vezes usavam explosivos que em muitos casos causavam maiores danos ao meio ambiente que a própria indústria e algumas destas ações causaram mortes de pessoas, muitos membros da GRUPAST foram presos principalmente nas primeiras décadas da sua fundação. Entretanto nenhum sequestrado fora morto pelo grupo e a policia ficava mais tranqüila para agir depois que soubesse quem tinha seqüestrado o doutor Pierre.

― Quem são vocês? ― Perguntou Pierre.

Durante todo o percurso de carro ele se calara, mas agora dentro daquele cômodo com alguns móveis e sem janelas o professor foi encontrando a calma e pode questionar os dois homens que o mantinha cativo.

― Somos membros da GRUPAST. ― O homem com o corpo menos musculoso respondeu.

Ele possuía um sotaque que aos ouvidos do professor não era estranho, mas não conseguia avaliar de onde aquele homem podia ter vindo. Embora fosse mais fácil a polícia encontrar um estrangeiro do que um brasileiro, que eventualmente cometesse algum delito dentro do Brasil, usando seu passaporte e informações deixadas na alfândega, aqueles homens estavam despreocupados quanto a esse detalhe, pois eles não possuíam visto, tinham entrado no país clandestinamente.

Pierre suspeitava que fossem de algum país do leste da Europa, ele conhecia vários alemães que falavam português, mas aquele sotaque era levemente diferente, conheceu também um húngaro e um polonês que falavam português, mas ainda assim seus sotaques não eram similares, não conseguia encontrar familiaridade nenhuma ouvindo aqueles homens falando.

― O que vocês querem?

― Queremos que mande parar todos os testes da grande máquina que você ajudou a construir. ― Respondeu o mesmo homem.

― Não tenho mais poder de decisão sobre nada relacionado à grande teia solar, mesmo que tivesse, as minhas palavras não teriam qualquer valor diante dos órgãos mundiais responsáveis pelo projeto.

― Pois bem então, usaremos o senhor, o seu seqüestro já deve estar na imprensa e logo a notícia se espalhará por cada canto do mundo, ai faremos as exigências.

― Você acha que depois de todos os investimentos feitos um simples seqüestro fará alguém da alta cúpula do governo mundial recuar? Você está sendo ingênuo.

― Eu acredito, agora descanse, depois o colocaremos em contato com nossos líderes.

O GRUPAST havia realizado inúmeros atentados contra o projeto das nanomáquinas, alguns tiveram sucesso, causando prejuízos e felizmente nenhuma vítima, mas a maioria dos atentados foram frustrados e acabaram desmoralizando a organização, que no passado ganhara reputação com maior violência e sem preocupação com a vida. Este último atentado representava um ato de desespero diante da impossibilidade de enfrentar a situação com maior racionalidade.

Cerca de duas horas se passaram, alguém veio abrir a porta do quarto onde o professor Pierre era mantido em cativeiro, ele pôs-se em pé imediatamente, pois não conseguia dormir, estava perdido em pensamentos especulando se alguém tinha realmente notado seu desaparecimento e o quão ignorantes eram aqueles indivíduos, atitudes como aquelas desmoralizavam completamente organizações sérias, que defendiam legitimamente o meio ambiente. Quanto ao fato de se alguém ter reparado se havia sido seqüestrado, sabia que era uma preocupação descabida, pois se ninguém houvesse reparado, eles fariam a informação chegar a todos.

― Professor Pierre, queira nos acompanhar. ― Ordenou um dos homens que havia lhe capturado.

― Aonde vamos? ― Embora nervoso, estava curioso para ver com quem falaria.

― Você vai conversar com um dos nossos líderes.

― Ele está aqui?

― Não, vocês conversarão pelo telefone.

― E onde ele está?

― Esta informação é sigilosa, não posso revelar mais nada, sinto muito.

Ao chegar à sala ao lado pode ver o telefone antigo que funcionava também como os velhos televisores de plasma, também era um editor de texto e continha programas de computadores antigos para navegação na internet, embora funcionasse totalmente com comandos de voz, aquele aparelho era bem arcaico.

Então Pierre pensou, “talvez eu consiga ver um dos líderes”.

Mas quando ligaram o sistema de comunicação pode ver a silhueta de uma pessoa sem, contudo identificar, de forma alguma, quem era, a pessoa cobria o rosto e a voz do homem não parecia familiar, com certeza não era ninguém importante que conhecia, então Pierre se pôs a escutá-lo.

― Boa tarde professor Pierre, estão lhe tratando bem?

― Ora faça-me o favor, vocês me mantém em cativeiro, contra minha vontade e ainda me pergunta se está tudo bem? Eu exijo que me soltem imediatamente, tenho coisas importantes para resolver.

― Que coisas doutor Pierre, acompanhar o início do funcionamento daquela construção monstruosa e descomunal? Vocês não deveriam ter gastado tantos recursos da humanidade naquela máquina bestial, que trará a destruição final à vida na Terra.

― É aquela história novamente senhor..., qual é mesmo seu nome?

― Não irei dizer o meu nome professor Pierre.

― Eu já expliquei tantas vezes que a energia transmitida para a Terra pelos defletores será utilizada pelas nossas máquinas e não trará conseqüências significativas ao nosso planeta.

― Consultamos muitos cientistas independentes e alguns deles acreditam que poderá haver nova reversão, para índices maiores, na taxa do aquecimento se este projeto for levado adiante.

― Vocês não devem ter conversado com gente séria, as máquinas, na maior parte das vezes, liberam a energia que não utilizaram, na forma de radiação infravermelha e se não houver as barreiras de gases na atmosfera, esta radiação será refletida para o espaço. Os ecologistas deveriam ser os primeiros a incentivar este projeto, será que vocês não percebem que é a nossa chance de aposentarmos, de vez, os combustíveis fósseis?

No século passado as crises ambientais fizeram o mundo diminuir sensivelmente o consumo de combustíveis fósseis, sob altos investimentos em energias alternativas e em infra-estrutura, houve grande sofrimento, porque além do mundo estar vivendo desastres naturais por todo canto, havia também o preço a pagar por ter se deixado tudo para última hora e teve-se que fazer tudo muito rapidamente, com todo este quadro, as novas tecnologias limpas ficaram muito mais caras do que mereciam estar. Inúmeros cientistas alertaram para que começassem antes, já na virada do século vinte, mas nada fizeram, depois de várias décadas de muitas mudanças, os níveis de carbono na atmosfera começaram a diminuir e permaneceu estável desde então, mas já existiam indícios de aumentos nas atividades predatórias e novamente os níveis de gases nocivos a estabilidade climática estavam aumentando.

― Não importa o que você nos disser professor Pierre, não mudaremos de posição. Além do mais, homens como o senhor não medem esforços em nome de suas ambições.

― Meu amigo, nesses anos todos de trabalho ganhei muito dinheiro, mas agora praticamente não tenho mais nenhum bem.

― Mas não existe somente bens materiais, o senhor luta em nome de ambições tendo o seu ego como ponto de partida, somente pensa em satisfazer suas vaidades.

― Sempre quis sim satisfazer uma ponta de vaidade, gostaria de ficar para a história como um dos homens que planejou e construiu a maior obra de engenharia de todos os tempos e que irá nos ajudar a chegar às estrelas, mas não como construtor de um monstro, um dos cavaleiros do apocalipse, deste jeito não estaria satisfazendo minhas vaidades.

― Todas estas palavras, doutor Pierre, não nos afetam em nada, não conseguirá mudar nossas opiniões de nenhuma maneira, esperava trazê-lo para nosso lado, mas pelo que vimos o senhor não mudará seu ponto de vista, assim como não conseguirá mudar o nosso. Vamos continuar com nossos planos e exigir que as autoridades cancelem os testes.

O homem saiu da frente da velha câmera e ficou longe do alcance dos sensores de voz do telefone, assim não pode ouvir a súplica do doutor Pierre.

― Exijo que me soltem imediatamente, seus desgraçados.

― Silêncio doutor Pierre. ― Falou o homem que o trouxera até ali. Este pegou Pierre pelo braço e o puxou em direção a porta.

O outro homem, que parecia ser o líder dentre os dois, aproximou-se do telefone e Pierre pode notar que o indivíduo com quem estivera falando apareceu novamente no telefone, ele parou diante da porta, o brutamonte que praticamente o arrastava para, de novo, ser trancado naquele quarto, também parou, pois estava tão curioso quanto Pierre.

― Peter, se não obtivermos sucesso com nosso trunfo, o doutor Pierre, teremos que seguir com o segundo plano e explodirmos as instalações do controle da grande máquina ai em São Paulo. Você deverá encontrar-se com nosso homem infiltrado e deixar a encomenda com ele.

― Sim senhor. ― Concordou o homem, cujo primeiro nome agora Pierre sabia.

― O que vocês pretendem fazer? Interferiu Pierre aos gritos.

― Vamos explodir o centro de controle. ― Disse o homem que acabara de desligar o telefone virando-se para ele.

― Vocês não podem fazer isso, o centro de controle estará sempre cheio de gente até a realização dos testes, mesmo de madrugada.

― Professor Pierre nós resolvemos que deveríamos retornar às origens, às atitudes que tínhamos quando nossa organização foi fundada, portanto algumas mortes são aceitáveis quando temos uma imensa batalha para conquistar.

― Vocês não podem fazer isso. ― Pierre começou a implorar e repetiu aquilo muitas vezes.

Os dois homens agarram-no pelos braços e o trancaram no quarto. Quando se acalmou começou a pensar. “Se pretendiam soltá-lo, não evitariam que soubessem seus nomes, e não deixariam que descobrisse seus planos, mas depois de um pouco de raciocínio chegou à conclusão de que Peter não era o nome daquele homem, pois ele não era, de forma alguma, anglo-saxônico. Aqueles homens não mudariam seus planos, de nenhuma forma, seus olhos refletiam uma frieza que havia visto poucas vezes em toda a sua vida. Teria que fugir dali e alertar as autoridades”.

Ficou muito tempo procurando uma maneira de fugir, não havia janelas naquele quarto nem no banheiro, a porta estava trancada e não via meios de destrancá-la por dentro. Depois de uns dez minutos o homem que falara ao telefone com seu líder, estava saindo, Pierre pode escutar quando ele conversou com o outro sujeito numa língua que não pode identificar qual era e bater a porta de saída localizada em frente a seu quarto, com certeza o bandido estava indo repassar as ordens e talvez até entregar a bomba ao indivíduo que trabalhava na empresa.

Pierre concluiu que ainda teria ainda um bom tempo, pois a organização iria protelar a decisão de explodir a sala de controles até o momento em tivessem certeza de que não teriam sucesso nenhum com suas exigências para soltá-lo, então já tinha tomado a decisão de como agir, iria esperar aquele homem lá fora vir lhe trazer comida, o acertaria na cabeça com algo, uma cadeira antiga de madeira foi desmontada por ele e tomou o maior pedaço daquela madeira maciça, colocando o restante no banheiro, agora era esperar o homem vir lhe servir. Para acelerar o processo gritou que precisava comer.

― Hein, estou com fome.

O homem veio até a porta e disse:

― Eu vou preparar alguma coisa para você, espere um instante.

Pierre deitou-se na cama com o pedaço de madeira escondido debaixo do lençol, ficou preocupado em não adormecer, pois estava exausto, mas logo descartou esta possibilidade, visto que estava muito tenso e sabia que não conseguiria dormir. Preferiu ficar sentado na cama, encostado na cabeceira, mas mediu minuciosamente sua posição, de modo que alcançasse a sua arma improvisada. Então se deu conta de que não conseguiria ser tão efetivo no golpe tendo o criado mudo do lado direito da cama, levantou-se e mudou o móvel para o lado oposto, esperava que o homem não percebesse a conspiração contra ele, a cadeira sumira e o criado estava noutra posição.

Aquela espera o deixava ansioso, mas procurou manter a calma, pois muita gente dependeria dele daquele momento em diante.

Passaram-se cerca de dez minutos desde que iniciou com seus planos, mas aos olhos dele pareciam dez horas, finalmente o homem estava abrindo a porta, Pierre ficou nervoso, mas logo recuperou a calma, do contrário iria denunciar seu plano. Quando este se abaixou, como havia planejado, desferiu-lhe um golpe na cabeça, este começou a cambalear e Pierre apressou-se em tirar a arma da cintura do homem, pois parecia que logo ele recuperaria os sentidos e não queria golpeá-lo novamente. O homem se sentou na cama e o sangue começou a escorrer pelo seu rosto, Pierre ficou preocupado com ele, começou a questionar sobre suas condições físicas.

― Você está bem? Quantos dedos você está vendo? ― Ele tinha a mão aberta na frente dos olhos do homem.

Ele demorou um pouco a responder, depois falou com a boca mole.

― Você me acertou.

Pierre insistiu com seu inquérito.

― Você está bem? Sua cabeça está sangrando, quero saber se foi somente um corte superficial.

― Fiquei meio tonto, mas já estou melhor, me devolva a arma.

― De maneira nenhuma, você vai fazer o que eu mandar, vá até o banheiro e pegue uma toalha para comprimir esse corte. Antes me dê a chave do quarto.

O homem fez o que Pierre disse, quando este retornou do banheiro ele já estava fechando a porta do quarto. Pierre começou a procurar sua carteira, ela estava numa gaveta no móvel que servia de suporte ao antigo sistema de comunicação, quando a abriu viu que seus documentos estavam todos, mas faltavam as notas de dinheiro e os cartões de crédito, na certa aqueles homens não estavam apenas defendendo ideais tão nobres quanto a natureza, eram também larápios que usariam seu dinheiro sem nenhum constrangimento. O telefone privado de Pierre não foi encontrado, deviam tê-lo jogado fora, pois sabiam que com aquele aparelho a policia teria rastreado sua localização.

Ele estava se sentindo muito inseguro naquele apartamento, pois não tinha certeza de como usar aquela arma, nem se teria coragem de usá-la, sabia que era uma daquelas letais e que seu uso faria aquele homem morrer, mas agora sua preocupação era sair dali imediatamente, pois o outro podia voltar a qualquer momento e queria encontrar algum policial para ampará-lo.

Quando chegou à rua começou a andar aleatoriamente, tentando identificar em que ponto da cidade estava, escolheu seguir o caminho da direita, ao chegar próximo à esquina identificou o sujeito que havia lhe raptado conversando com alguém, devia ser o empregado infiltrado na empresa e que colocaria a bomba lá na sala de controle. Pierre abaixou-se imediatamente atrás de um carro e ficou espionando, viu quando o homem entregou uma pasta para o outro, “devia ser a bomba”, pensou ele.

Depois de algum tempo apertaram a mão um do outro e seguiram em direções opostas. Pierre ficou um tanto indeciso neste instante, pois se aquele homem voltasse ao apartamento e descobrisse que tinha fugido, poderia antecipar o atentado. Por outro lado, se fosse tentar capturar o sujeito que o havia raptado, deixaria o homem da bomba fugir e perderia a oportunidade de interceptar aquele artefato maléfico, deixaria também de descobrir a aparência do individuo, se não conseguisse tirar a bomba dele, pelo menos deveria conhecer sua fisionomia para poder identificá-lo melhor junto a policia.

Resolveu então que seguiria o sujeito da bomba, no entanto, depois de alguns segundo pensou que se aquele homem tomasse um taxi seria grande a possibilidade de perdê-lo, e então seria tarde demais para apanhar o outro homem desprevenido naquele apartamento.

Pierre não tirava os olhos do homem, a escuridão da noite começava a esconder as cores do céu e mostrava as primeiras luzes celestes das estrelas longínquas, neste contexto ele perdia seu medo de ser avistado, e então viaja em pensamentos.

“Será que eu não conheço aquele homem? Pois se ele é funcionário da empresa é bem provável que tenha o visto lá algum, a vez”.

Logo após veio outro pensamento que mostrava mais insegurança.

“Será que não seria melhor ir a policia?”

Mas após alguns instantes de reflexão decidiu seguir com seus planos, assim teria mais subsídios quando encontrasse a policia.

Por sorte aquele homem pôs-se a andar e andou por mais de dez quadras, o movimento daquelas ruas do centro paulistano evitava que fosse descoberto pelo sujeito que seguia.

Mas a penumbra da noite tornava cada vez mais difícil manter o homem sob suas vistas, Pierre então decidiu segui-lo mais de perto, então o indivíduo percebeu que alguém o estava espreitando, deu alguns passos e usou uma vidraça para certificar-se que estava mesmo sendo seguido. A partir daí tomou um rumo diferente do que iria seguir, se enfiou numa rua sem movimento e Pierre foi atrás, quando contornou a parede do prédio a direita parou e ficou esperando Pierre, que levou um susto enorme ao dar de cara com aquele sujeito, esperava vê-lo a uns dez metros na frente, mas estava ali a meio metro, olhando para ele.

― Por que está me seguindo?

Na verdade aquele homem não o tinha reconhecido e não via nele alguém ameaçador, que pudesse lhe roubar ou agredir.

Pierre empunhou a arma, deixando-a nas vistas do sujeito e continuou a conversa.

― Você carrega uma bomba e vai cometer um atentado, como pode vir com este discurso de defender a natureza e, no entanto fazer uma coisa dessas?

― Quem lhe disse que vou cometer atentado?

― O que você carrega nesta maleta, não é uma bomba?

― Claro que não, você é da polícia?

― Não, não sou, mas tenho certeza que você fará alguma barbaridade nas próximas horas, abra essa maleta.

― Você não pode me obrigar a abri-la.

Pierre não hesitou e apontou-lhe a arma.

― Tudo bem, tudo bem, mas não atira.

Será que não haveria perigo em abrir aquela maleta, a bomba não possuiria algum dispositivo automático contra violação? Refletiu ele e então perguntou.

― A bomba não irá explodir ao abrir essa maleta?

― Do que você está falando?

Aquele homem ou dizia a verdade, que na maleta não existia bomba nenhuma, ou não sabia que cometeria o atentado contra a empresa, neste caso deixaria a maleta na sala de comando e outra pessoa, usando um mecanismo remoto a detonaria, isso ficou claro para Pierre, tamanha era sua sinceridade.

A maleta foi depositada no chão e com dois cliques estava aberta, Pierre abaixou-se para ver e realmente não havia bomba, por um momento ele sentiu-se aliviado, mas depois de recobrada a razão, conclui que a bomba ainda estava lá naquele apartamento e que poderia tê-la em mãos se tivesse dado uma busca mais minuciosa.

Naquela maleta havia somente dinheiro, uma boa quantia e alguns documentos, aquele sujeito não era o terrorista, era o falsificador de documentos.

Pierre estava chocado e por alguns instantes não sabia como agir, lembrou-se que seus raptores tinham tirado todo seu dinheiro e cartões, talvez para dificultar uma tentativa de fuga, na sua carteira somente estava seus documentos, então olhou aquele bolo de dinheiro e resolveu que se tirasse uma pequena parte, não faria mal nenhum, além do mais o dinheiro era sujo.

― Seu desgraçado, esse dinheiro é meu.

― Fique por satisfeito de eu não levá-lo a polícia.

Depois de ouvir aquilo o homem, que manteve-se de cócoras, desde que abriu sua maleta, a fechou rapidamente e se levantou, agarrando-a com toda a força, com as duas mãos, levou-a para junto do peito, depois pôs-se a seguir o caminho que fazia antes.

Pierre foi se afastando de costa até que o homem desce alguns passos, então virou-se e voltou pelo caminho que viera. Agora tinha que voltar rapidamente até o apartamento que estivera preso, com aquele dinheiro iria tomar um taxi, mas tinha que alertar a polícia. Quando seguia o falsificador avistou por duas vezes policiais, mas estavam do outro lado da rua e uma tentativa de comunicação faria o falsificador desaparecer, se seguisse pelo mesmo caminho que veio, com toda certeza encontraria policiais, apesar de estar cansado seguiu andando, viu um taxi disponível, mas deixou passar, lá na frente havia um ponto de taxi e poderia, se não encontrasse a polícia, tomar o taxi lá. Na certa a organização já sabia de sua fuga e os homens do apartamento, se ainda estavam lá, não o receberiam amistosamente. Pierre andava, andava e não encontravam nenhum policial, também não avistava nenhuma delegacia de polícia, não conhecia direito aquela região da cidade, então resolveu que não voltaria naquele apartamento sozinho, parou num daqueles bares que lembravam o século vinte e que em São Paulo havia muitos.

― Por favor meu senhor, onde fica a delegacia de polícia mais próxima?

O balconista, todo atencioso, deu a volta no balcão e foi até a porta do bar, com Pierre lhe acompanhando, explicou, com toda a atenção, como ele poderia chegar à delegacia do bairro.

― O senhor siga esta rua por três quadras e vira à esquerda, de lá conseguirá avistar a delegacia de polícia da região.

― Muito obrigado.

― O senhor foi assaltado, há alguma coisa que possa fazer para ajudá-lo? ― O balconista mostrou-se preocupado, pois viu o quão grande era a aflição de Pierre.

― Não, está tudo bem, obrigado.

Um homem fardado estava na recepção da delegacia, Pierre foi se apresentando e já começou a explicar o que ocorrera com ele.

― Doutor Pierre, queira me acompanhar. ― O policial disse, depois de ouvi-lo falar o começo da história e verificar que se tratava de um sequestro.

Levou-o então até outra sala, onde estava um investigador sentado, com os pés em cima de sua mesa.

―Senhor, acho que temos um caso de sequestro aqui.

O investigador pôs-se em pé imediatamente, foi estendendo a mão a Pierre e se apresentando.

― Sou José Manfred, sou o investigador chefe da delegacia, o senhor deve ser o doutor Pierre.

― Boa noite, isso mesmo.

― Recebemos a informação de que alguém com suas características havia sido sequestrado no meio do dia.

O investigador continuou e fez algumas indagações ao doutor Pierre, como ele tinha escapado, se tinha visto algum rosto, e Pierre contou tudo com detalhes. Decidiram então seguir para o apartamento onde Pierre ficara como refém. O investigador José Manfred pediu a dois policiais que fossem atrás em outra viatura.

No apartamento não acharam mais ninguém, os móveis estavam na mesma configuração, Pierre pode verificar este detalhe rapidamente, mas não havia mais nenhum objeto pertencente aos seqüestradores, até o pedaço de madeira que usara para acertar a cabeça do homem não fora encontrado, embora o restante da cadeira se encontrasse no banheiro, onde Pierre escondera, na certa ficaram com medo da polícia reconhecer os raptores por alguma marca de sangue que ficara na madeira, mas apesar da limpeza a polícia tinha esperança de encontrar alguma pista esquecida pelos bandidos, o investigador mandou chamar os peritos criminalistas.

― Vocês precisam alertar a segurança da empresa. ― Disse Pierre ao investigador José Manfred.

― Vamos mandar uma viatura para lá, eles farão guarda junto com os funcionários da empresa.

― Mas, senhor José Manfred, temos que ir para lá imediatamente.

― Doutor Pierre pode me chamar simplesmente de investigador Manfred, iremos assim que os peritos me entregarem o relatório preliminar.

― Isto vai demorar, eles nem chegaram ainda. Eu vou para lá sozinho e agora mesmo.

― Doutor Pierre, melhor não abusar da sorte, espere e iremos juntos, além do mais gostaríamos que desse uma olhada em algumas fotografias que temos de alguns falsificadores, talvez cheguemos a estes caras mais rapidamente usando esse sujeito que você descobriu ser o falsificador.

― Então vamos fazer isso agora mesmo, antes que a vagarosidade burocrática da polícia deixe algo ruim acontecer.

― Doutor Pierre, estamos fazendo o possível para resolvermos esta situação, já tomamos as providências cabíveis. Sei que está cansado, mas não precisa ser rude.

― Por que não vamos resolver estes detalhes lá na empresa? Seus técnicos poderiam ficar aqui fazendo uma varredura na procura de alguma eventual pista e depois eles podiam passar as informações pelo telefone.

― Infelizmente não poderei sair daqui até que saibamos algum detalhe a mais sobre a cena do crime.

Pierre olhou as fotos no equipamento eletrônico, que se comunicava diretamente com a rede independente de comunicação da polícia e que estava guardado no paletó do investigador. Não encontrou foto alguma que, ao menos lembrasse a fisionomia do suspeito falsificador.

― Tenho certeza que aquele homem que vi com aquele dinheiro e com os documentos falsos não está aqui.

― Na certa este sujeito que você encontrou ainda não foi fichado na polícia. ― Observou José Manfred.

― Eu vou seguir sozinho para a empresa, não tenho paciência em ficar esperando aqui.

― Então vá, mas tome muito cuidado.

― Não se preocupe, eles não estarão atrás de mim agora.

Os guardas da recepção não tinham muito que fazer naquele prédio enorme, o maior de toda a quadra e que abrigava a sede da maior empresa de alta tecnologia da América Latina, a segunda de toda a América e a terceira do mundo, mas agora a polícia tinha os alertado de que alguém tentaria entrar com uma bomba, os dois guardas que cuidavam da entrada dos funcionários estavam atentos. Ao chegar à empresa Pierre quis, ele mesmo, conferir se a segurança estava mais rigorosa e conversou com os guardas, explicando o que ocorrera e qual era a situação que preocupava, fez isso com os guardas da frente, depois repetiu todo o discurso com os funcionários do fundo.

Mas noutra saída do prédio, onde eram realizados os descarregamentos de inúmeros produtos usados pelos diferentes departamentos da empresa, estava acontecendo algo estranho, uma mochila preta fora escondida entre as caixas de produtos de limpeza. O funcionário que descarregava os produtos estava alheio ao objeto que se destoava entre as outras embalagens, não se podia saber se o sujeito era um dos cúmplices do atentado ou se realmente não conseguia, de fato ver aquela mochila, o homem estava sobre a máquina empilhadeira, o que dificultava observações mais detalhadas dos materiais que descarregava, a baixa intensidade de luz também dificultava e uma caixa estava bem na frente da mochila, ela somente poderia ter sido vista, quando o homem se aproximou, com a máquina empilhadeira, pelo lado direito da pilha de caixas, assim ele não seria um grande suspeito de fazer parte da organização que sequestrara o doutor Pierre. A empilhadeira subiu todas aquelas caixas e as colocou sobre o robô transportador, depois disso não havia mais como notar tal mochila. Aquela operação podia ser realizada integralmente com as máquinas, o homem trabalhando na empilhadeira era somente uma convenção entre as grandes empresas do mundo, por sugestão da Organização Mundial do Comércio e da Organização Mundial do Trabalho, todas as empresas de grande porte do mundo deviam manter funcionários humanos em todos os seus departamentos, em qualquer atividade, geralmente eram as atividades mais nobre, de menos esforço físico, mas ali na seção de descarregamento não havia outra atividade senão de algum esforço.

O robô carregador, assim que partiu com sua carga, já acionou o elevador, por meio de um sinal de rádio de ondas curtas, este veio ao andar térreo buscar os produtos, a operação toda automatizada, inclusive nos andares de descarregamento, permitia que aquela mochila entrasse no prédio sem nenhum percalço. Ela foi deixada no vigésimo primeiro andar, sobre a caixa de desinfetante, pois era neste andar que deveriam ficar os produtos de limpeza e de manutenção do prédio. Infelizmente as máquinas não estavam preparadas para descobrir coisas a mais que entravam no edifício, elas podiam descobrir produtos comprados e que eram entregues, mas uma mochila contendo uma bomba não estava no programa delas.

As duas entradas do prédio por onde todos os funcionários da empresa entravam, com o auxilio da polícia, agora estavam bem protegidas, Pierre observou o rigor com que os guardas revistavam as pessoas e ficou satisfeito. Qualquer objeto que representasse algo suspeito, como um recipiente capaz de acondicionar uma bomba, era cuidadosamente revistado, as pessoas que traziam lanches em pequenas bolsas ou cafés em garrafas térmicas, eram os mais visados, elas ficavam constrangidas num primeiro momento, mas depois de ouvirem as explicações dos guardas acabavam aceitando o infortúnio, algumas até agradeciam e se sentiam mais seguras com aquelas atitudes.

“Havia outro modo de um artefato explosivo penetrar no prédio?” Esta pergunta Pierre se fez e como conhecia aquele prédio como poucos, pois foi durante sua administração que foi construído, era o espaço necessário que precisavam diante a demanda que surgia diante do intenso crescimento daquela companhia, no ápice do envolvimento da empresa com o projeto do tecido de absorção de energia no entorno do Sol. Nesta época os recursos chegavam de todos os lados em grandes quantidades, ainda assim não eram suficientes, a necessidade de espaço para as decisões administrativas fizeram Pierre e seus diretores tomarem a decisão de construir aquele edifício enorme, afinal todas as grandes companhias multinacionais possuíam seus prédios donde eram tomadas as decisões importantes e se realizavam os principais comandos empresariais e técnicos. Lembrou-se então que os descarregamentos de produtos e equipamentos eram realizados em uma entrada independente, então apressou-se em seguir até lá, o funcionário que estava de plantão recebeu-o com grande entusiasmo, pois o reconheceu no mesmo instante.

― Doutor Pierre, que honra tê-lo aqui no meu humilde local de trabalho.

O rapaz estava sentado, pois naquele momento da noite não havia muito que fazer, exceto alguns descarregamentos esporádicos.

― Qual é o seu nome meu filho? ― O funcionário era novo, devia ter por volta de trinta anos.

Pierre não tivera filhos, por uma simples questão de opção, ele e a mulher, Ruth, achavam que o crescimento populacional deveria se estabilizar por algumas décadas, até medidas de impactos tecnológicos melhorassem as relações entre o homem e a natureza, a população tinha parado de crescer por várias décadas, no século passado, depois das terríveis desastres ambientais que se proliferaram pelo mundo, o crescimento populacional se estabilizou por várias décadas, mas havia começado a ser relevante novamente naqueles anos, embora o mundo estivesse à beira de uma solução definitiva para a principal questão ambiental de todos os tempos, que era a busca de energia, um desequilíbrio populacional poderia fazer o mundo inteiro se desestabilizar novamente, os jovens da empresa eram tidos por Pierre como filhos, assim tinha grande consideração por eles.

― Meu nome é Paulo Albuquerque.

― Posso simplesmente te chamar de Paulo?

― Claro senhor.

― Chegou algum carregamento nas últimas horas?

― Bom senhor, eu entrei às seis horas e desde então apenas um carregamento com produtos de limpeza chegou há alguns minutos atrás, foi só isso.

Pierre parou alguns instantes para refletir. “Eles não seriam tão organizados assim, de modo a colocar a bomba escondida naquele carregamento, teriam pouco mais de duas horas.” Mal sabia ele que a bomba tinha entrado numa mochila, evidenciando uma ação completamente amadora.

― Você notou algo diferente nele, Paulo?

Como não era ele que conferia as quantidades nas caixas e sim as máquinas, não prestou atenção na mochila que ficara atrás de uma destas caixas.

― Não vi nada diferente senhor.

― Nenhuma embalagem diferente, alguma sacola ou embrulho?

― Nada que pudesse notar. O que está havendo doutor Pierre?

― Temos uma ameaça de bomba, você já ouviu falar numa organização chamada GRUPAST?

― Já ouviu falar, às vezes aparecem no noticiário da televisão, é uma organização que defende a natureza.

Pierre já ia se preparando para questionar o conceito errado que Paulo fazia sobre o grupo que o sequestrara, não eram, de forma alguma, defensores da natureza, mas deteve-se, pois não havia tempo para tal coisa, fez somente um breve comentário.

― Sim eles são radicais mesmo, mas não defendem a natureza como dizem ao público, uma organização que pretende explodir uma bomba aqui, onde você e eu trabalhamos, não pode ser considerada defensora de princípios tão nobres como a defesa do meio ambiente.

― Uma bomba? Por que pretendem explodir uma bomba no prédio, doutor Pierre?

― Eles querem encerrar com o término da construção da grande teia, vão querer detonar a bomba num dos dois andares onde fazemos os controles de todo processo.

― São os dois últimos andares.

― Sim, o vigésimo quarto e o vigésimo quinto andares. Se você ver alguma coisa estranha acontecendo, algum pacote diferente, ligue para mim, ou para uma das duas recepções, há policiais nas duas entradas. Quantas outras entregas estão programadas para esta noite?

― Temos mais cinco entregas, senhor.

― Fique atento a alguma embalagem corrompida ou fora do padrão.

― Tudo bem doutor Pierre, vou ficar atento.

Não havia como garantir segurança completa, pois alguém em outra empresa que fornecia os produtos poderia esconder a bomba numa embalagem e somente a pessoa que fosse a cúmplice dos bandidos e que colocaria a bomba nos locais apropriados é que saberia onde encontrá-la, mas Pierre examinou esta possibilidade e concluiu que seria mínima a chance disto ocorrer, a organização teria que possuir gente infiltrada em mais de uma empresa. Mas ainda assim ele ficou preocupado e decidiu falar com os policiais quando tivesse a primeira oportunidade, uma forte intuição dizia a ele que seria por ali que tentariam entrar com o artefato, as máquinas não possuíam dispositivos capazes de localizar uma bomba, além do mais somente um funcionário trabalhando, aumentava as chances de eles terem sucesso com seu plano diabólico. Mal sabia Pierre que a bomba já estava lá dentro.

Quanto ao Paulo Albuquerque, o funcionário responsável pelos descarregamentos dos equipamentos e produtos, Pierre não teve dúvidas de que ele não era da organização, não aparentava ter uma índole má, capaz de detonar uma bomba e matar dezenas de pessoas, a não ser que não soubesse que iria fazê-lo, mas agora sabia e talvez se pertencesse ao GRUPAST, não mais deixaria passar a bomba.

Estaria Mathias acordado naquele momento, tão tarde da noite? Perguntou-se ele, apesar da exaustão que percorria o seu corpo, precisava conversar com alguém, de preferência seu melhor amigo, então subiu até o décimo primeiro andar, onde localizava-se os laboratórios nos quais Mathias trabalhava, ainda podia estar lá.

O laboratório principal era enorme, tomava três quartos do andar, Pierre podia ver todos os dias aquelas instalações, mas não se acostumava com o gigantismo que aquilo tudo representava, ele às vezes pensava na ironia das proporções envolvidas, usar equipamentos tão grandes para estudar máquinas tão pequenas, para um leigo era de difícil abstração, mas para ele, assim que recuperava a racionalidade e começava a pensar como um físico, tudo ficava mais claro em sua mente e as necessidades de todo aquele aparato se justificava.

Nem sinal de seu amigo, depois que se decepcionou com seu maior projeto, o acelerador de naves por uma bobina no espaço, usando um campo magnético, Mathias deixou de ser tão obcecado pelo trabalho, embora tivesse feito contribuições significativas ao projeto da teia solar, além do mais ele agora era mais velho e tinha que respeitar mais seu relógio biológico, também estava mais ligado à família, sua mulher quase que o deixou a vinte e dois anos atrás, quando seu filho era ainda uma criança, pois Mathias não parava em casa, ela argumentava que quando estava viajando tudo bem, mas quando estava na cidade, trabalhando na empresa, tinha que dedicar certa quantidade de tempo à família.

O telefone tocou na recepção principal, Pierre quis falar com os policiais que lá estavam, sobre a possibilidade da bomba entrar pelos fundos do prédio, junto ao fluxo de produtos e equipamentos que chegavam todos os dias a empresa.

Os policiais se mostravam preocupados com essa possibilidade, Pierre constatou, com a ignorância dos policiais sobre o fato, que não eram muito competentes, por que não perguntaram aos guardas se havia outra entrada no prédio? Ao final da ligação disseram a ele que entrariam em contato com o investigador para que ele enviasse mais um policial a fim de auxiliá-los na segurança integral do prédio.

Ouvindo aquilo Pierre sentiu-se mais tranqüilo e então resolveu descansar um pouco, no andar de cima, o décimo segundo, havia uma pequena sala com algumas camas, naquele andar havia também outros laboratórios, era uma extensão do andar de baixo. Ele lembrou com saudades das muitas noites que dormiu ali, quando trabalhava até tarde, na época que Ruth ainda estava trabalhando em Recife. Viam-se, no Maximo, somente uma vez por semana, chegaram há ficar um mês sem se ver, ela com as cirurgias de emergência no Hospital das Clínicas de Recife e ele com milhares de assuntos para tratar, no auge do projeto da teia solar. Depois de dois anos, com os dois insistindo nesse sacrifício, ela conseguiu transferência para o Hospital da Unifesp, na cidade de São Paulo.

Pierre começou há contar quantos anos não usava aquela sala para descansar e no meio de suas contas adormeceu, ninguém a dividiria com ele, pelo menos não naquele momento, um claro sinal de que os trabalhos nos laboratórios estavam com baixa demanda, talvez o pessoal do controle viesse ali mais tarde descansar um pouco, mas lá no vigésimo quarto andar havia uma outra salinha igual aquela, então talvez ficasse sozinho ali o resto da noite.

Pierre acordou assustado, o quarto estava repleto de luz natural, demorou um pouco até que recobrasse a consciência e descobrisse onde estava realmente, ao olhar as horas, levantou-se imediatamente, pois tinha muito que fazer, o relógio da parede marcava oito horas e dez minutos da manhã. Quando desceu ao andar debaixo, usando somente as escadas, antes de chegar ao patamar mais baixo, viu que algumas pessoas já trabalhavam, cumprimentou os que lhe olhavam, com um alegre bom dia e continuou andando até avistar o laboratório que imaginava encontrar o seu velho amigo, e de fato lá estava ele usando o microscópio mais potente da empresa e do mundo, existiam poucos daqueles, talvez apenas dez ou doze, a maioria em grandes universidades e três deles em mãos de empresas privadas, com aquele microscópio era possível saber quase todas as propriedades físicas e químicas conhecidas do material em estudo, também podiam fazer simulações trocando alguns átomos do material ou molécula isolada, de modo que se podia reduzir o tempo de estudo na busca por novos materiais, por exemplo. Uma imagem em três dimensões do material de estudo formava-se sobre uma base, um holograma colorido, o computador super-potente acoplado ao microscópio era o responsável pelas façanhas.

― Bom dia Mathias meu amigo, você ficou sabendo que fui sequestrado ontem?

― É eu soube, a imprensa policial está toda ai na frente, na porta do prédio, mas você está bem agora? ― Mathias mostrou-se bastante preocupado. ― Eu liguei para você por várias vezes, ontem à noite, depois que soube que havia fugido, mas ninguém atendia, nem no apartamento.

― Meu telefone foi roubado pelos bandidos e eu não fui para o apartamento, eu vim para cá, você sabe que existe uma ameaça de bomba para o prédio?

― Não sei não amigo.

A policia não alertou a população sobre a bomba para não começar um tumulto, mas era só questão de tempo até a notícia chegar à imprensa, depois de contar ao amigo os detalhes horríveis e de certo modo emocionantes do dia anterior, Pierre resolveu ir olhar os dois andares onde ficavam os depósitos do prédio, somente para ver se encontrava algo suspeito. “Talvez a bomba já tivesse entrado há muito tempo atrás, ela só estaria esperando alguém para levá-la ao local que queriam destruir e o momento adequado, assim diante de uma ordem dos lideres daquele grupo que se denominava defensores do meio ambiente, seria detonada”. Pensou ele.

Sua intuição estava parcialmente correta, mas ele ainda não sabia, quando ele entrou no depósito maior, onde guardavam os produtos de limpeza, viu um vulto de um homem, Pierre o chamou com um grito de “hein”, mas ele nem deu ouvidos, a indiferença do homem ao chamado de Pierre era muito suspeito, alguma coisa estava errada com aquele sujeito, mas não necessariamente era o portador da bomba, talvez estivesse apenas comendo escondido algo tirado do depósito de comida que ficava ao lado.

Seguiu-o até o corredor, mas ele já havia desaparecido, não viu quem era, parecia estar usando um uniforme da limpeza, não reparou se carregava algum pacote ou bolsa. Então voltou ao depósito e olhou com cuidado todas as caixas e embalagens das prateleiras, elas tinham mais de cinco metros de comprimento e iam até o teto, eram três no total, por isso Pierre ficou ali quase que meia hora.

Quando se deu conta do tempo que perdeu naquelas observações levantou-se e seguiu para os últimos andares do edifício, foi fazer o que devia ter feito no dia anterior e foi impedido pelos seqüestradores, o projeto da teia solar não dependia mais dele, mas Pierre gostava de acompanhar tudo bem de perto, era como ficar observando o crescimento do filho que nunca tivera. Embora, vez por outra, contribuía com alguma ideia relevante no desenvolvimento do projeto e às vezes ajudava em tarefas corriqueiras, era uma maneira de ocupar seu tempo, quando não estava viajando pelo mundo, ministrando suas concorridas palestras.

Pierre gostava de estar na sede da empresa, ele não era mais o dono de direito, mas se sentia como parte de tudo aquilo, os diretores também gostavam de tê-lo por perto e até pagavam a ele um bom salário para que ajudasse quando fosse possível, eles sabiam que a qualquer momento Pierre poderia aparecer com a solução de eventuais problemas que pudessem aparecer durante o desenvolvimento da grande teia solar. O contrato de trabalho não era nenhum pouco rígido, Pierre podia entrar e sair quando bem entendesse, sem precisar dar satisfação a ninguém, suas viagens, para as palestras, eram, muitas vezes, patrocinadas pela empresa.

Na sala de controle principal Pierre pode ver dezenas de pessoas trabalhando, a sala tomava todo o último andar, apesar das revoluções computacionais do século passado, rumo aos computadores quânticos, a sala parecia ter sido tirada de uma fotografia dos anos de 1980, tamanha era a quantidade de informação a ser processada, os terminais computacionais eram grandes e potentes, todos interligados a um servidor maior ainda. As inúmeras mesas que suportavam os terminais davam a impressão de que eram maiores ainda. Pierre estava com fome, tinha comido a última vez na delegacia de policia e fora somente um pequeno pedaço de bolo com café, isto porque havia alguém, uma senhora funcionária da delegacia e que fazia trabalhos burocráticos, que estava aniversariando, antes porém ele não comera nada durante todo o sequestro, o lanche que o seqüestrador lhe serviu, não conseguiu comer, devido ao nervoso de ter que nocauteá-lo e a presa de fugir do local.

No fundo daquela imensa sala havia um pequeno ambiente onde serviam lanches variados e sucos, era conveniente à empresa e também aos funcionários que quando houvesse algum problema mais complicado e complexo, que exigisse mais dedicação de todos e que precisassem virar turnos de trabalho, existisse algum lugar onde pudessem comer o mais próximo possível do trabalho, assim não perderiam tempo atrás de restaurantes na rua. Ele se apressou em seguir até lá, parecia que sua fome, que estava latente até então, agora o incomodava.

Quando voltou, alguns funcionários o rodearam, eram os curiosos que queriam saber detalhes do sequestro, ele contou o que lembrou e depois os avisou sobre a ameaça de bomba que pairava justamente sobre aquela sala.

― Portanto fiquem atentos a qualquer situação suspeita, como embrulhos e bolsas sem dono, agora voltem ao trabalho, estamos perdendo tempo. ― Estas foram as últimas palavras dele antes de começar a trabalhar.

O primeiro assunto que quis tratar sobre o trabalho, naquele dia que parecia prometer fortes emoções foi saber detalhes dos testes parciais realizados no dia anterior, cuja participação ele ansiava há muito tempo e os bandidos lhe tiraram esse direito. Eram os testes mais importantes antes do teste total, onde os equipamentos seriam todos ligados ao mesmo tempo.

Mas ele não precisava se preocupar, estava tudo perfeito, os números da planilha do papel eletrônico que o chefe do controle lhe mostrou, indicava que poderiam continuar com seus planos e ligar os equipamentos integralmente na próxima data marcada. Aquela era a melhor notícia que recebeu durante os últimos dias, e talvez somente suplantada pelo dia em que conseguiram fazer com que as nanomáquinas se alinhassem num plano, sob um campo gravitacional nulo.

Quando ele levantou sua cabeça, que se debruçava sobre as tabelas e os gráficos do papel digital, viu um homem com um uniforme do pessoal da limpeza sair da sala em direção ao elevador. Pierre levantou-se da cadeira imediatamente, com um gato ao ser atingido pela água fria, partiu em direção à porta, a imagem que viu do sujeito, era muito próxima, na aparência, com aquela que vira a pouco no depósito, quando avistou o elevador, a porta já estava fechada e não pode reconhecê-lo. Voltou então olhando cada canto a procura de algum objeto estranho, que não pertencesse ao ambiente da sala.

― Todo mundo, prestem atenção, olhem em volta de vocês se há alguma coisa estranha, algum objeto ou bolsa que não pertençam a vocês. ― Pierre falou mais alto que podia para que todos pudessem ouvir.

Todos pararam com suas atividades corriqueiras e alguns começaram a procurar o tal objeto descrito de forma vaga, sem nenhuma referência, os que já imaginavam ser o artefato explosivo o objeto da busca, passaram a ficar apavorados. Pierre observava em pé, no meio da sala e procurava algum local bom para esconder a bomba, mas havia muitos lugares para se esconder uma bolsa pequena, então viu que as buscas estavam sendo infrutíferas, lembrou-se de perguntar se alguém tinha reparado onde homem da limpeza, que saíra a pouco tinha estado.

― Eu vi, ele limpou minha mesa aqui em cima e depois limpou lá atrás. ― Respondeu um jovem rapaz.

Pierre se aproximou e entrou atrás da mesa, empurrou um pouco o móvel e viu uma bolsa vermelha, subiu um arrepio pela sua espinha, ele, sem pensar muito, abaixou-se rapidamente e pegou a bolsa, naquele momento nem passou pela sua cabeça que deveria chamar a polícia para lidar melhor com a situação. Quando se viu livre do aperto que enfrentava atrás daquela mesa, começou a pensar no que deveria fazer, assim que o sujeito, que plantou a bomba no prédio saísse, ele avisaria a organização, que estaria livre para detonar a bomba, ou o sujeito mesmo a detonaria. Pierre não poderia correr o risco ficou analisando e descobriu uma maneira de deter a explosão. Segurando a bolsa com extremo cuidado, saiu andando rapidamente em direção ao elevador. Alguém gritou:

― É a bomba que está ai nesta bolsa doutor Pierre?

― Acho que sim.

― O que o senhor vai fazer? ― A mesma moça perguntou.

― Vou tentar levá-la para um local seguro. ― Enquanto esperava o elevador continuou a falar. ― Avisem a polícia e falem que o sujeito que deixou a bolsa aqui, estava com uniforme de faxineiro.

Pierre entrou no elevador e desceu até um dos andares dos laboratórios, era o andar em que Mathias trabalhava, ao avistá-lo gritou:

― Mathias me ajude aqui, eu acredito que nesta bolsa está a bomba da qual lhe falei, vamos colocá-la naquela câmera de vácuo.

― Mas Pierre, é a melhor que temos, se isso ai explodir vai destruí-la totalmente. Coloque naquela antiga que fica lá no fundo.

Mathias não queria que destruíssem um dos seus principais instrumentos de trabalho, sua pesquisa ganharia um atraso de meses se aquilo acontecesse, além, é claro, dos recursos dos quais ele teria que correr atrás para conseguir outra máquina que substituísse aquela.

― Não há tempo Mathias. ― Pierre foi incisivo. ― Rápido abra a câmera.

Depois da insistência apavorada do amigo ele abriu no mesmo instante, aquelas palavras mostraram a Mathias que a situação era grave mesmo. A bolsa foi colocada com cuidado no interior da câmera e Mathias a selou. Aquele equipamento era enorme, cabia um homem em pé no seu interior, com espaço suficiente para movimentos laterais.

Com a câmera selada, Pierre comunicou-se com os policiais das portas do prédio para saber as providências que tinham tomado e saber se o investigador responsável havia sido avisado. Ele foi até um telefone que ficava numa mesa bem afastada da câmera. Os policiais tinham vetado a saída de qualquer pessoa do prédio e já avisado o investigador, Pierre finalmente teve motivos para elogiar os policiais, embora o investigador tivesse passado na empresa, durante a noite, apenas para dar uma olhada rápida na entrada principal do prédio, não teve a mínima coragem de perguntar da possibilidade de existir outra entrada no prédio, Pierre considerou que ele tivesse cansado e por isso não tinha muita capacidade de raciocínio naquele momento da noite.

― Mathias afaste-se daí. ― Pediu afobado ao amigo que estava tentando desconectar os sensores ligados ao computador, de modo que, se a bomba explodisse os prejuízos seriam mínimos.

Os pedidos dele eram ignorados, só se afastou quando viu que todos os equipamentos que podia salvar, estavam seguros.

― Desculpe Mathias, mas a bomba podia explodir a qualquer momento e seria pouco sensato ficar com ela não, mesmo que fosse por apenas alguns passos, além do mais, aquela câmera de vácuo lá atrás é muito antiga e talvez nem agüente uma explosão, talvez nem essa agüente, o que você acha?

As câmeras de vácuo são projetadas para suportar pressões externas elevadas, é a pressão atmosférica atuando contra a estrutura externa, enquanto a pressão interna cai a níveis quase nulos, no entanto quando ocorre uma explosão dentro da câmera, há uma enorme onda de choque empurrando as paredes internas da câmera para fora, durante alguns instantes a pressão interna suplanta em muito a pressão externa. Mathias respondeu às palavras do amigo.

― Tudo bem Pierre, eu fui um egoísta, não entendi de cara o que a situação representava, se aquela bomba explodisse estaríamos os dois mortos, quanto a câmera de vácuo agüentar, eu não posso dizer nada, depende do tamanho da bomba, qual é o peso dela?

― Talvez uns três quilogramas.

― Não é muito, mas se for um destes bons melhores explosivos químicos que existem, talvez a câmera não aguente. Você sabe qual é o explosivo Pierre?

― Não, não sei. Nem sabemos se aquela bolsa contém uma bomba, embora seja muito provável.

Mathias fez trabalhos como free-lancer para uma empresa de mineração durante uma temporada, logo que teve a grande decepção em sua carreira, o afastamento da empresa foi uma forma dele recuperar a energia e sua auto-estima, quando voltou já tinha pouca participação acionária. Nas atividades de mineração ele trabalhava com um geólogo fazendo cálculos e medidas para realizar explosões em rochas minerais. Mathias, a partir de então passou a conhecer muito bem, quase todos os explosivos existentes, somando ao fato de que ele usava muito aquela câmera de vácuo, era então, o melhor homem para dizer se a estrutura suportaria ou não a explosão.

― E se nós fizéssemos vácuo dentro da câmera, será que não haveria menor pressão durante a explosão? ― Sugeriu Mathias.

― Pode diminuir um pouco a pressão sobre as paredes internamente, haverá menos moléculas de gases lá dentro, mas, por outro lado, as moléculas geradas na explosão terão caminho mais livre para percorrer até atingirem as paredes da câmera. Portanto acho que não vai adiantar muito. Pode ser que o metal da câmera blinde o receptor para os sinais que vêem de fora, e os bandidos não consigam detoná-la.

Dois cabos ainda estavam ligados à câmera de vácuo, pois Mathias, intuitivamente achava que ia usá-los para retirara o ar lá de dentro, mas com as observações de Pierre, ele teve a convecção de que não faria mesmo, muita diferença, ter ou não ar dentro da câmera. Então ele se aproximou para desconectar os dois cabos, de repente uma compressão atingiu seu corpo, não ouviu nada, mas foi jogado para trás e caiu a uns três metros de distância, durante a queda seu ouvido sentiu um estrondo tão forte que imaginava ser um trovão, o mais forte que já ouvira, quando recuperou parte dos sentidos, viu que estava machucado, seu braço estava sangrando, era um corte profundo na parte externa do antebraço. Seu corpo doía muito, especialmente às costas, mas não tinha nenhum osso quebrado.

Os ouvidos de Pierre zuniam como se houvesse uma cigarra dentro, mas ele não se feriu.

A câmera de vácuo não suportou a pressão durante a explosão da bomba e se abriu em dois cantos, na mesma face, justamente no lado que Mathias se encontrava, mas a câmera conseguiu segurar a maior parte das ondas de choque, assim os prejuízos foram mínimos, somente uma mesa quebrada e, obviamente, a câmera de vácuo completamente destruída.

Muito provavelmente o sujeito responsável em plantar a bomba já estaria longe dali, concluiu os policiais, depois de impedir que as pessoas deixassem o prédio por horas. As investigações indicaram quem era o suspeito, fizeram uma busca à procura de todos os funcionários da limpeza que deviam estar trabalhando e somente faltava uma pessoa, depois assistiram as gravações realizadas por uma câmera de vídeo lá da sala de controle e descobriram que era o mesmo homem ausente, ele entrou na sala com a bolsa escondida dentro do uniforme, mas no vídeo aparecia o volume deixado pela bolsa e uma pequena parte dela. Quando a polícia chegou ao seu apartamento, lá estava ele, se preparando para fugir, no interrogatório disse que seguiria para o centro oeste do Brasil, numa cidadezinha próxima a Brasília.

O investigador José Manfred tentou retirar dele alguma informação sobre a GRUPAST, mas não conseguiu nada, sobre os dois seqüestradores ele disse que não sabia quem eram, nem onde estavam, talvez ele não soubesse mesmo, pois o sujeito não fazia parte da organização criminosa que se auto denominava defensora da natureza, a prova deste fato era a quantidade de dinheiro encontrado no seu apartamento. Buscas feitas em diversos aeroportos do país, exclusivamente para identificar os dois seqüestradores, com as informações fornecidas pelo doutor Pierre, cujo retrato falado de um dos criminosos havia ficado bem próximo à imagem real do homem, a outra porem, não representava a realidade, mas se eles quisessem passar juntos pelos guichês de algum aeroporto visitado pelos policiais, que deixaram cópias daqueles desenhos, o funcionário da companhia aérea identificaria um deles e a polícia seria avisada, talvez já estivessem longe do Brasil. As informações foram repassadas para a polícia de outros países e eles procederam da mesma forma, entregaram as imagens para diversos funcionários de empresas de transportes espalhadas pelo mundo e para as polícias locais, mas o tempo passou e ninguém nunca retornava com alguma informação, era muito importante que apanhassem os dois sujeitos, pois eram os únicos que podiam reconhecer os líderes da organização. As pessoas que cometiam crimes geralmente fugiam para pequenas aldeias, lá dificilmente eram reconhecidos, às vezes tinham até a conivência e a cumplicidade dos moradores locais, talvez estivessem em algum lugar destes e nunca mais seriam achados.

O falsificador que fornecera documentos aos dois seqüestradores também tinha sido preso, mas não forneceu nenhuma informação adicional relevante que pudesse levar a prisões de membros da GRUPAST.

O fracasso do atentado e posteriormente os resultados positivos conseguidos no projeto da teia solar, já no primeiro ano de funcionamento, levou a GRUPAST à uma crise existencial e o grupo perdeu força financeira e moral, era a maior crise enfrentada pelo grupo desde a sua fundação, neste contexto a polícia internacional tinha maiores condições de prender seus líderes, talvez até deixasse de existir em alguns anos, mesmo sem a repressão policial.

Capitulo 4: A aurora da nova era

Desequilíbrios ambientais pontuais ocorreram nos primeiros anos de funcionamento da grande teia solar, mas não estava evidenciado que a culpa recaísse sobre o aumento significativo da energia solar incidente sobre a Terra, eram fenômenos que não estavam descritos como padrões até então observados. Talvez o ser humano tivesse culpa, pois continuava a mudar, embora com critérios muito mais rígidos, os ambientes por todo o mundo, mas não havia nenhuma prova que fosse a grande teia a responsável, as tempestades em alguns lugares e as secas em outros, não estavam previstas nos simuladores, por isso muitos cientistas estavam preocupados, o número de habitantes da Terra agora voltava a aumentar, talvez esse aumento, que era significativo, estivesse contribuindo para os desequilíbrios ambientais, mas os aspectos positivos trazidos pela grande teia suplantavam qualquer suspeita que recaísse sobre ela.

Talvez estes pequenos desequilíbrios não fossem problemáticos, podiam ser, na verdade, um rearranjo nos padrões climáticos, o homem passou a ter grandes poderes com a energia em abundância, a face do planeta agora mudava muito mais rapidamente, mas as mudanças eram para o bem, mesmo que causassem os tais problemas locais. Muitos reclamavam que as mudanças eram assustadoramente rápidas e em muitos aspectos negativos, mas havia significativamente mais projetos positivos ao meio ambiente. Um deles contemplava a diminuição das áreas dos desertos, organizações governamentais e não governamentais montavam empresas que bombeavam água dos mares, dessalinizavam e a usavam para irrigar árvores plantadas nas margens de vários desertos ao redor do mundo, no último século os desertos cresceram dez por cento, em média, em quinze anos já haviam recuperado toda esta área e a estimativa era avançar sobre o deserto tomando metade deles verdes, com plantações de árvores silvestres e agro florestas, em cerca de cinqüenta anos.

Pierre já não trabalhava mais desde que o projeto da grande teia tornou-se realidade, exceto por algumas entrevistas e palestras esporádicas, passava o tempo viajando e visitando os amigos, numa destas viagens arrumou uma namorada italiana e casou-se, ela era trinta e três anos mais jovem que ele, o fato é que com a consolidação do projeto da teia solar, Pierre sentiu-se realizado e cheio de auto-estima, conseguindo superar, finalmente, a morte de Ruth Maira Fontes.

Já Mathias continuou a trabalhar na empresa, Pierre dizia que ele morreria trabalhando, mas depois de finalizar o projeto que trabalhava desde que a bomba explodiu ao seu lado, jurou que não mais pegaria no pesado, seu trabalho se resumiria a visitas esporádicas à empresa para saciar sua curiosidade sobre as novidades, dizia que faria o mesmo caminho que Pierre e sua nova mulher.

O projeto de Mathias tratava de uma questão antiga, relacionada à baixa eficiência dos transportes terrestres em geral, os carros, caminhões e trens desperdiçavam mais de sessenta por cento da energia, devido ao atrito da fuselagem do veículo com o ar, parecia bobagem e perda de tempo pesquisar um assunto como este diante da abundância de energia fornecida pela grande teia solar, mas a busca de tecnologias eficientes podia contribuir para surgimento de outras formas para o uso da energia sobressalente, estas eram as palavras de Mathias quando queria conseguir recursos com os diretores da empresa.

O problema da dissipação de energia pelo atrito com o ar seria resolvido com o uso de nanomáquinas na pintura das paredes externas dos veículos, as nanomáquinas eram tão minúsculas que o aspecto liso das pinturas permaneceria inalterado.

Mathias seguia duas abordagens diferentes, na primeira as nanomáquinas apenas interagiriam com as moléculas do ar atmosférico e a estrutura externa do carro, assim que ele começasse a se mover, a fuselagem ficaria com grande quantidade de carga eletrostática, uma segunda camada condutora, isolada desta por um material dielétrico, seria colocada logo abaixo. As duas camadas formariam um capacitor gigante, a diferença de potencial elétrico devido ao acumulo de cargas eletrostáticas na camada externa, provocaria uma corrente elétrica capaz de carregar baterias de alto desempenho.

Na segunda abordagem as nanomáquinas eram de outro tipo, cada uma delas comportava-se como um minúsculo gerador elétrico, todas elas alinhadas, de modo que, as moléculas de ar que colidissem com a fuselagem do veículo, movimentavam os pequenos geradores e uma tensão elétrica captada pelas extremidades da estrutura do veículo carregava a bateria.

Falar em economia de energia em tempos de abundância parecia bobagem, mas a busca de tecnologias eficientes podia contribuir para o surgimento de outras formas interessantes para o uso desta energia sobressalente, dizia Mathias.

A abordagem escolhida foi a segunda, as nanomáquinas mostraram-se, novamente, serem bastante versáteis e com larga vantagens sobre as outras tecnologias, a abordagem que usava as cargas eletrostáticas produzidas pelo atrito do veículo com o ar, mostrou-se menos eficaz.

Muitas indústrias de equipamentos de transportes ficaram interessadas na tecnologia e a empresa ganhou muito dinheiro com ela, Mathias também acabou ganhando um pouco de dinheiro e era mais um motivo para se dedicar mais a sua família e menos ao trabalho.

Cinco anos depois de terminada as pesquisas, todos os veículos saíam da fábrica com a pintura especial, a base de nanomáquinas, carros, trens, caminhões e ônibus aumentaram sua eficiência energética para mais de oitenta por cento.

Na Lua, em Marte, na Terra, as sociedades cada vez mais democráticas, no sentido mais amplo do termo, prosperavam de modo amplo, com todos participando dos benefícios trazidos pela expansão na oferta de energia. O aumento da população, na Terra, não significava mais um problema grave, pois a oferta de energia era aumentada com facilidade, além do mais, muitas pessoas mudavam para as colônias lunares ou marcianas, lá não havia problemas de espaços, embora as cidades fossem todas subterrâneas. A população de Marte era a que mais crescia, embora ele estivesse mais distante, as novas tecnologias de propulsão minimizavam as dificuldades para acessá-lo e as condições de habitação em Marte tornava-o mais atraente, ele tem a força gravitacional maior que a da Lua, o que torna a vida lá mais confortável.

Vencer a gravidade terrestre sempre foi o maior desafio para se chegar ao espaço, agora, porém existiam uma tecnologia muito eficaz para os lançamentos, as grandes bobinas podiam lançar foguetes e naves cada vez mais alto e com velocidades, tangenciais à Terra, expressivas, ou seja, faltava pouco impulso para as naves ou foguetes entrarem em órbitas estáveis. Além das duas bobinas lançadoras, a brasileira e a chinesa, mais duas foram construídas, uma na Europa e outra nos Estados Unidos, a européia era a mais longa, proporcionando alcances de altitudes maiores.

O Brasil, que possuía o lançador movido a campos magnéticos, mais antigo e menos eficiente, planejava construir outro, tamanha era a demanda para colocar naves e foguetes em órbitas, este novo lançador seria tão longo como o último construído na Europa, para se conseguir tal adjetivo para a bobina, teriam que escavar um túnel abaixo do subsolo, pela proposta apresentada, o túnel começaria com uma inclinação para baixo, até atingir uma grande profundidade, então sua inclinação iria diminuindo e mudaria de direção, num ponto de inflexão a mais de mil metros de profundidade, o túnel começaria a subir e a inclinação aumentaria gradativamente até um ângulo adequado. Também neste caso o fim do túnel seria no cume de uma montanha. O aspecto funcional do túnel não podia mudar muito, pois cada mudança implicava numa nova adaptação para as naves, se fossem feitas mudanças arquitetônicas significativas nos túneis, talvez tivessem que projetar novas naves, e isso tinham que evitar.

O local da construção já estava definido e a máquina tuneladora já havia sido adquirida, faltavam apenas alguns trâmites burocráticos, como definição de parcerias entre instituições privadas e estatais.

A facilidade cada vez mais evidente com que o homem deixava a Terra em direção à imensidão do espaço e o desenvolvimento científico e tecnológico, pouco a pouco, transformavam o antigo sonho humano de conquistar outros planetas em realidade concreta.

Depois de estabelecer colônias em Marte, que com o passar do tempo tornavam-se cada vez mais autônomas, o ser humano voltava-se sua atenção para o planeta Vênus. Mas como colonizar um planeta que orbita tão próximo do Sol?

Pierre e Mathias acompanharam, como meros espectadores, o surgimento de uma nova tecnologia, desenvolvida por inúmeras universidades espalhadas pelo mundo, capaz de retirar o planeta de sua órbita natural e levá-lo, com o passar dos anos, à uma órbita mais distantes do Sol.

O projeto foi desenvolvido com base num conceito antigo chamado arraste gravitacional, e seria viável somente com o uso intensivo de energia proveniente da grande teia solar. Não havia trivialidades para colocar este projeto em prática, visto que para se chegar até Vênus com equipamentos pesadíssimos era um desafio e tanto, Pierre morrera aos cento em trinta e nove anos, antes de ver a maior obra humana, depois da grande teia solar, começar a funcionar, Mathias morreu dois anos depois, aos cento e trinta e três anos. Os dois cientistas foram enterrados com honras de estado, tamanha a importância que tinham para a sociedade científica e para o Brasil.

Puxar um planeta com o arraste gravitacional somente poderia ser realizado usando-se um artifício muito engenhoso, num acelerador de partículas gigantesco, cargas elétricas, com massa atômica apreciável, portanto teriam que acelerar os prótons, seria colocado numa órbita de Vênus, lá ele funcionaria somente durante um arco de volta da sua órbita completa. O resultado é que quando o acelerador funcionasse, ele colocaria os prótons em velocidades relativísticas e a massa destas partículas, em altas velocidades, seria enorme, portanto deformando o espaço tempo sob o acelerador de partículas, assim o planeta cairia naquela direção. A energia necessária para o funcionamento de todo aquele equipamento viria da teia solar, esse imenso projeto confirmava a afirmação de Mathias, quando disse que o homem encontraria novas formas de usar a energia sobressalente, se encontrassem meios eficientes de usá-la.

A órbita do acelerador de partículas deveria coincidir com o mesmo plano da órbita de Vênus sobre o Sol, e ele seria acionado somente quando passasse pela frente do vetor da direção da velocidade do planeta, de modo que, Vênus ganhasse um pequeno incremento na sua velocidade a cada passada do acelerador de partículas e assim se afastaria do Sol. Porém existiam grandes obstáculos a serem transpostos, o mais grave a ser resolvido era que, cada vez que o acelerador fosse acionado, ele se aproximaria de Vênus, então teriam que corrigir a órbita a cada passagem. A questão era o que usar para realizar tal procedimento. O uso de foguetes convencionais era inviável, pois dependeria de carregamentos de combustíveis por períodos regulares, numa distância muito grande. O uso de partículas de luz não daria certo, porque a correção deveria ser rápida, ou seja, com uma grande aceleração, e o uso desta tecnologia fornecia pequenas acelerações. Então resolveram que deveriam usar reatores de fissão nuclear.

Os reatores de fissão nuclear não eram eficientes produtores de energia, pois são muito sujos, mas para propelir um objeto no espaço, serviram muito bem. Seriam colocados quatro propulsores em torno do anel, equidistantes um do outro, esta configuração na distribuição dos propulsores evitaria que houvesse rotação do acelerador de partículas, eles seriam acionados simultaneamente. O combustível nuclear seria de fácil transporte através da imensidão que separa a Terra de Vênus.

Assim como este, os outros problemas que apareciam eram superados com pouco ou muito esforço e depois de algumas décadas o grande acelerador de partículas pesadas girava numa órbita baixa em torno de Vênus, da Terra somente com os telescópios mais potentes é que conseguíamos vê-lo. Mas os novos arranjos planetários teriam que ser calculados com extremo cuidado, de modo que, o planeta Vênus não viesse a se chocar com nenhum outro, muito menos com a Terra, num futuro próximo.

O acelerador de partículas funcionaria de modo totalmente autônomo, mas dois astronautas permaneceriam lá fazendo manutenções preventivas, uma nave de fuga ficaria a disposição dos astronautas, caso ocorresse algum acidente grave, o tempo de permanência dos astronautas seria de três anos, mais dois anos da viagem de ida e volta, eles tomariam a droga que inibe a perda de massa óssea para evitar problemas musculares e com a estrutura óssea, esta droga vinha sendo usada a muito tempo, não se conheciam efeitos colaterais graves.

O ser humano agora via-se diante de uma nova grande revolução, em poucas ocasiões da história aconteceram mudanças tão significativas e importantes como a construção da grande teia solar. A evolução computacional mudou a face do mundo, trouxe ganho de produtividade para as empresas e instituições de pesquisas, a invenção da imprensa disseminou as informações mais democraticamente, a invenção da roda permitiu o surgimento de inovações tecnológicas em todos os setores da atividade humana, o surgimento da agricultura permitiu ao homem mais tempo dedicado ao pensamento, mas todas elas aconteceram lenta e gradativamente e não foram tão profundas como esta. A construção da grande teia solar somente se comparava a invenção da escrita, que permitiu ao homem arquivar os pensamentos que teve e transmiti-los às outras pessoas, em tempos e espaços diferentes. A escrita permitiram então que as outras revoluções se concretizassem, assim como a revolução trazida pela teia solar, cujo efeito foi a abundância de energia ao homem, permitiria que outras grandes revoluções acontecessem, portanto estas foram as duas maiores revoluções de todos os tempos. O ser humano estava dando outro grande passo na sua evolução cultural e tecnológica, o próximo grande feito seria chegar a uma estrela próxima.
Autor: Dimas Deleo


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